Enma chegou em casa exausta da última missão. Seu irmão não pode evitar questionar o motivo de seu inadmissível atraso, afinal, por mais independente que se achasse, para Takeo, ela nada mais era que uma garotinha inocente e refém dos perigos do mundo.

— Achei que não ia voltar mais Enma, então, qual o motivo no atraso dessa vez? Aliás, venho perguntando no bairro onde fica seu trabalho e todos me disseram que achava que você era uma ninja... Estranho não?

A menina não pôde evitar corar, pegou uma garrafa de água e correu o mais distante que podia do seu irmão, seja como fosse, ainda não se sentia preparada para revelar seu segredo, de fazer sair de sua boca a verdade amarga e indigesta. Chegou numa colina afastada de tudo e de todos onde, nas noites mais frias, costumava observar o sol partir para o outro lado do globo.

— Adeus sol... — dizia, ainda se sentindo uma criança. Agachou-se e abraçou as pernas, apoiando a cabeça nos joelhos e cochilando quando, por fim, foi acordada por um velho alto e gordo alimentando alguns gatinhos.

— Ei menininha! O que faz aqui? Está muito frio uma hora dessas.

— Já estou de saída.

— Tudo bem.

O homem sorriu. Ele vestia um colete típico dos jonin da aldeia e sua fala prepotente e arrastada apenas confirmava a tese da shinobi de que, aquele homem, era um dos ninjas de elite da aldeia.

— Posso treinar com você? — disse surpresa pela ansiedade que tinha pela resposta.

— Claro que sim. Vou treinar minha resistência, ou seja, minha capacidade de realizar diversos movimentos super difíceis sem me esgotar, esse, aliás, é um grande problema para ninjas como eu, já você, magrinha como é, deve ter muita energia!

Ela abaixou a cabeça e negou com a cabeça. O homem parou alguns segundo analisando os olhos da menina e gargalhou:

— Você parece alguém que eu conheço, de qualquer forma, vamos ao treino.

E assim realizaram um treinar intercalando o máximo que eles podiam correr de um ponto a outro, com a maior aplicação possível de suas forças contra objetos e alvos ao longo de todo o campo, até que a mão de ambos começassem a ferir.

— Quer descansar um pouco?

— Nem passar...

Ele sorriu e os dois continuaram o treinamento, dessa vez realizando movimentos acrobáticos, golpes, chutes e depois correndo de cá pra lá e de lá pra cá. A medida que o treinamento se prolongava, ao invés de cansar, Enma se sentia melhor, mais leve, mais esforçada, pronta para enfrentar Takeo e gritar no rosto dele:

— Eu sou uma ninja!

O velho virou e gargalhou com o grito agudo da menina.

— Tudo bem?

— Sim. — respondeu abaixando a cabeça, olhar sério e bochechas levemente coradas.

E continuou o extenso treinamento a ponto de quase cair no chão quando por fim, depois de um tempo maior que o comum, levou-se a exaustão.

O velho a levou para casa nas costas, quando chegou na porta de sua casa, depois de ter indicado todo o caminho, já estava dormindo. Takeo abriu a porta e viu a cena com espanto.

— Então como eu pensei, meu velho amigo Takeo.

— Sensei? Ahn... Enma! Ela está bem?

— Sim, não se preocupe, achei ela sozinha no lugar que eu costumo treinar. A menina estava muito assustada, contudo, é uma boa ninja, creio que tenha capacidades plenas de ultrapassar você.

— Tudo bem, pode me dar ela.

O jonin então passou a menina para as mãos do jovem Takeo. Que imediatamente a colocou na cama.

— Aceita alguma coisa?

— Não... Obrigado! Amanhã venho ver... Como era mesmo o nome? Enma! Isso mesmo, obrigado, amanhã volto para treiná-la.

No dia seguinte Jiro voltou, dessa vez com livro a respeito de treinamento e estratégias de combate. Até aquela tarde, Enma e Takeo não haviam trocado uma palavra, Takeo por não acreditar que a irmã era mesmo uma ninja, e Enma por pensar que seu irmão a dismerecia simplesmente por ser mulher.

— Ei vocês dois não façam essa cara! Takeo já está melhor, pode voltar a trabalhar e deixar sua irmã em paz e, Enma querida — disse num tom de voz mais doce e delicado revelando sua preferida — vamos treinar.

— Querem que eu saía de casa pra vocês dois ficarem fazendo coisas de...

— Ninjas. — respondeu Enma emburrada.

— Humpf... Ouviu alguma coisa Jiro-sensei?

— Sim, sua irmãzinha Enma.

Nervoso Takeo saiu rápido do local, indo em direção ao antigo campo de treinamento. Jiro sorriu para Enma e os dois começaram a estudar métodos de combate, histórias de estratégias militares, formas de se enxergar aberturas e fraquezas no adversários e meios de se lê todos as dificuldades impostas pelas entrelinhas.

O treinamento se estendeu por mais de cinco dias, se fundindo e misturando com o treinamento de cansaço físico dos combates. A medida que treinava acompanhado de Jiro, Enma se sentia pronta para combater até mesmo adversários que antes considerava inalcançáveis.

— Takeo-kun não fique assim. Sua irmã é uma boa ninja, evoluiu muito mais rápido do que você e qualquer um dos seus irmãos.

— Mesmo assim... O senhor conhece a maldição de nossa família — o jovem olhou para baixo — inclusive era o responsável da missão que matou dois dos meus irmãos.

Jiro abaixou o olhar antes confiante agora completamente desolado. O velho suspirou e, quando Enma voltou com chá, abriu um sorriso e cochichou para Takeo.

— Por você e por seus irmãos, farei de Enma uma ninja e não a deixarei cair sobre a maldição dos Saeki, eu prometo do fundo do meu coração!

Takeo se surpreendeu com a fala do velho e sorriu. Passou a tarde lendo junto com eles e aprendendo estratégias com Jiro, depois, até mesmo participou de pequenos combates entre ele e sua irmã, o qual venceu com muita dificuldade. Na manhã seguinte procuraria um emprego pois estava curado, a pior fase da vida de Takeo e Enma chegava ao fim.

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