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Aquela era uma noite infeliz. Não havia dúvida sobre aquilo, apenas afirmação. Todavia, quem diria que mesmo naquela situação, seu corpo se moveria para os famosos campos azuis nos arredores de Konoha em plena calada da noite? Sim, ali era seu refúgio mental e mais do que um simples campo, era onde ela poderia desaguar seus sentimentos e refletir sobre a própria existência das coisas. O motivo pelo qual a Gennin estava ali, sozinha, sentada embaixo de uma árvore era desconhecido para todos ao seu redor, mas em seu íntimo, o momento claramente foi necessário. Estava sentada ali, com as costas usando o casco irregular daquela grande árvore como um perfeito apoio a sua lombar, enquanto abraçava os joelhos em frente ao corpo, esquentando-se enquanto depositava a cabeça por cima dos joelhos, apoiando o queixo ali enquanto deixava os cabelos escorregarem sobre o rosto pálido e de feições vazias. Suas pernas estavam nuas por consequência de suas vestes negras e abertas na lateral, mas isso não era um problema, pois acreditava que dificilmente alguém iria importunar naquela situação.

― Para o inferno com esse plano idiota! ― Exclamou sozinha. Os olhos marejados contraíram-se, barrando qualquer lágrima de descer.

Naquele instante, a jovem tremia em meio a cólera em seu surto jovial adolescente que com certeza renderia a qualquer romancista uma cena clássica de desespero por uma paixão não correspondida, mas que no fundo, não era por esse amor que Tatsumaki havia sido rejeitada. Os dedos de ambas as mãos entrelaçaram-se uns nos outros, fechando ainda mais o abraço em torno dos membros inferiores, contendo-se em sua profunda agonia solitária. Não chorou, não choraria e, mesmo se eventualmente alguma lágrima caísse por teimosia, renunciaria de pronto o que seu corpo tentava expressar eloquentemente.

Marcas em seu coração traduziam seu desgosto, sua realidade servia apenas de álcool numa ferida aberta por seu progenitor. O mesmo que dizia a todos que ainda testemunharia a filha assumindo seus negócios e, futuramente, ela seria uma das mulheres mais ricas e influentes de todo o país do fogo. No entanto, não era esse o sonho daquela jovem. Ela almejava mais que dinheiro e influência, ela queria o mundo para si, o prestígio que nenhum dinheiro poderia comprar, ela queria ser reconhecida por todos como alguém além do legado, queria ser importante a uma causa maior do que riquezas. Naquela posição ela não se importava tanto com o frio, mas séria e olhando para o vazio, percorria o horizonte pelo campo de flores azuis, em busca de nada e ao mesmo tempo em busca do sentido de sua ambição.

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Um suspiro lento e agonizante foi disparado pelos lábios entreabertos da garota que olhava para o vazio. Seus seios, médios para sua idade e altura, sentiam a pressão imposta pelas pernas que eram puxadas contra o corpo por seus braços com mais intensidade à medida que a noite se transformava em madrugada e o tempo a castigava. Era tarde e logo esfriaria mais para o tipo de vestes que ela trajava. Quando se deu conta, o silêncio foi quebrado por uma voz que cortou o som até mesmo dos grilos ali perto, trazendo a adolescente de volta a realidade. Suas mãos de imediato puxaram seus panos, cobrindo a nudez de suas pernas com agilidade e precisão, mas no instante seguinte, enquanto desfazia aquela pose defensiva e melancólica, seu rosto corou de raiva e vergonha. A voz era máscula, portanto num primeiro momento achou que fosse algum homem qualquer que tinha segundas intenções com ela. Ao ficar em pé, quase de imediato, pode ouví-lo mais algumas vezes, iniciando aquilo que seria um diálogo, que apenas trazia a ela ainda mais certeza que ele a havia observado por no mínimo alguns minutos. Rápida, a garota moveu-se com sua velocidade máxima, saindo daquele ponto e indo parar na frente do garoto, só aquilo já era um sinal que ela era uma kunoichi.

― Como você ousa? ― Disse, respirando profundamente, enquanto seu rosto antes triste, tomava novas feições, completamente alterada. ― Você… ― Sua mão desta tremia de raiva, enquanto seu coração disparava ao olhar o mesmo ao lado de sua arma desembainhada.

Do mesmo modo que usou sua velocidade antes, a garota tornou a utilizá-la, visando chutar a arma para mais longe, apenas um metro mais distante, para impedir que este sacasse a mesma contra ela. Seus lábios róseos pareciam inquietos, visto que até mesmo neles era perceptível que ela estava tremendo. Não foi frio, foi de vergonha. Ele talvez a teria visto naquelas condições há pouco, demonstrando-se uma completamente fragilizada. Ao enfim encará-lo, seu rosto agressivo tornou-se mais calmo, avaliando o jovem que cobria o rosto com uma máscara qualquer.

― Você deve ser mais um dos empregados do meu pai, tentando me vigiar por todo os lugares. ― Afirmou a garota, cruzando os braços em frente ao seio e, por algum momento refletindo.

Não demorou muito para que a Gennin se curvava na direção dele, olhando-o de perto e tentando levar a mão até a máscara do rosto do rapaz, almejando remover aquele item idiota em seu rosto.

― Pelo menos tenha coragem de mostrar quem é, baka! Preciso ver o rosto do cara que meu pai mandou para ser demitido! ― Ordenou, tentando remover a máscara dele.

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O corpo da Gennin havia parado de progredir em direção ao outro, quando sentiu em seu pulso, a mão do rapaz lhe envolver, levando os dedos da garota para longe do rosto e consequentemente de máscara que este usava para esconder sua identidade. Pela primeira vez na vida, sentiu o amargo gosto de ter uma ordem completamente negada. Incrédula, ela respirou fundo, seus olhos voltaram-se para sua mão que a pouco havia sentido o calor dos dedos dele a tocando, enquanto dizia com todas as letras que ela não tinha direito de mandar nele. Seu coração disparou, assim como sua mente, que lembrou-se de todas as vezes que ouvia de seu pai que ela teria direito de fazer tudo, caso fosse poderosa o suficiente para exigir. ― “Eu NÃO tenho direito?” ― Repetiu em sua cabeça mais uma vez, tentando enfatizar e digerir aquela frase. Quando pensou estar sendo submetida a uma tortura mental, logo recebeu a segunda dose de choque. ― “Seu rosto NÃO me interessa?” ― Lembrou de todos os momentos que teve as vontades saciadas na vida, por todos os que a cercavam, desde antes de sua mãe vir a óbito. Seu semblante ficou diferente, escondendo a raiva que sentia por trás de uma expressão de dúvida e de insegurança que até então, não havia demonstrado em anos. Seus lábios se moveram em seguida, vociferando algo.

― Ficou curioso a respeito de mim? ― Os olhos antes virados para sua mão que já havia perdido o calor do toque dele sobre ela voltaram-se sobre os olhos dele.

As pernas da Kunoichi amoleceram aos poucos, seu corpo ficou pesado e enquanto ele se dizia disposto a sair dali, visto que ela o havia confrontado, logo a menina antes levemente curvada na direção dele, pouco a pouco começou a sentir que seus sentidos estavam sendo desorientados por algum mal estar que, posterior a alguns instantes, a fez ajoelhar de frente ao tronco da árvore que estava o rapaz, apoiando-se ao chão com a mão esquerda e joelhos. Enquanto começava a dobrar os joelhos para se sentar, sua mão destra foi de encontro ao tronco irregular da árvore, buscando apoio para não cair de uma vez. Quando ela finalmente se viu sem forças, ela procurou energias para falar algo antes de quase desmaiar por completo.

― Eu estou me sentindo muito m-... ― Não houve muito tempo para concluir e acabou caindo de costas sobre as flores naquele imenso tapete verde e azul no qual os dois estavam sobre. ― Me ajuda… ― Encostou a cabeça no chão, seus olhos se fecharam um pouco, mas ainda podia vê-lo de canto dos olhos, completamente indefesa diante de um desconhecido que parecia disposto a ir caso ela não o respondesse com algo que ele queria saber.

Enquanto deitava-se, seu rosto e corpo parecia ficar mais gelado, a temperatura não ajudava tanto, mas alguma coisa havia lhe feito mal de uma forma tão repentina, que nem mesmo ela podia descrever o que sentia. Seu estômago roncava com tanta intensidade que talvez o rapaz pudesse ouvir, ela estava muito tempo sem comer. Devida a tristeza de outrora,  ela não havia se alimentado tão bem e isso eventualmente a faria mal, assim como o fez no final.

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Poderia ela ser capaz de sobreviver ao mal súbito que acometeu sobre seu fragilizado corpo? Claro que sim. Dentre todas as missões que havia feito desde sua formação na academia, a segunda, em especial, teve o contato direto com uma experiência na qual a jovem de cabelos médios gostaria de tentar desenvolver. Na ocasião, Hikari, uma outra kunoichi de aproximadamente dezoito anos, a ensinou a como manipular os homens com alguns truques femininos e, eventualmente, naquela ocasião, Tatsumaki não tivera o mínimo de capacidade de repetir os feitos da parceira, passando vergonha em tudo que envolvesse esse tipo de interação. Desde aquele dia, a jovem pensou mais a respeito disso, talvez levando sua mente aguçada a encontrar formas de conseguir coisas e favores de outras pessoas usando mais do que argumentos para tal. Era hora de usar uma técnica nova: seu charme.

Enquanto seu estômago roncava, ela fingia perfeitamente como uma atriz, um mal-estar súbito e aparentemente grave, apenas para que o mesmo tivesse a guarda abaixada mais facilmente. Era fato que isso havia sido uma estratégia improvisada de última hora, visto que naquele instante, a fome realmente a atacava, mas não era algo que a derrubaria assim, mesmo tendo ficado sem comer por tanto tempo. No chão, seus olhos entreabertos notaram a figura do rapaz se aproximando, um certo desespero por parte dele a trouxe quase aos risos enquanto tentava manter-se fragilizada ao ponto de não levantar suspeita. Fez uso de inteligência e raciocínio rápido para manipular aquele jovem que a havia negado uma ordem, mas a que custo? Seu coração acelerava ao ver que a coisa caminhava para uma situação que ela não havia planejado, mas resolveu seguir seu plano.

No gramado, sentiu o calor do corpo do jovem ao envolvê-la em seus braços, tomando-a como se não pesasse nada para aquele rapaz. Seu corpo gélido se dava ao fato do frio ambiente a castigar pela opção de suas vestes inapropriadas para a estação, mas isso só parecia ajudar sua atuação a transmitir veracidade. Quando seus olhos abriram um pouco mais, sentiu imediatamente a aproximação do rosto do jovem contra o seu e então a kunoichi fez aquilo que estava esperando. — “Agora eu vou ver a cara do empregado que meu pai mandou dessa vez!” — Pensou. Quando sua mão foi levada a máscara dele, ela puxou sem pensar duas vezes. Ela aproveitou que ele a carregava com os dois braços e que sua aproximação do rosto para eliminar quaisquer chances de reação numa evasiva que ele pudesse tentar. Afinal, ele não a jogaria no chão e a machucaria, não é? Pelo menos ela pensou assim.

Ao ver enfim o rosto daquele jovem, seus olhos se arregalaram. Seu corpo imóvel e indefeso se debateu tentando se afastar o mais rápido do corpo dele, quase numa reação de defesa desesperada. Seu coração acelerou, seus lábios ficaram entreabertos enquanto suas mãos foram na direção do peito dele, tentando afastá-lo desesperada. Agora não era fingimento, era a mais pura verdade, Tatsumaki havia ficado surpresa.

— C-como? — Cerrou os dentes, incrédula, transmitindo uma raiva e constrangimento que ela normalmente não demonstraria a ninguém naquela situação. — Você não é empregado do meu pai! — Exclamou completamente furiosa. — Por que não me disse antes garoto idiota? Meu Deus… — Foi se acalmando enquanto seu rosto começava a corar, mas dessa vez não era de raiva. — Você é bonito… Espera! Quero dizer e-eu, vo-você... VOCÊ NÃO É BONITO! AHHHHHHHHHHHHHHHHH. — Não sabia mais o que falava, estava tão desconcertada que as frases saíam de seus lábios completamente sem sentido.

A verdade era clara, pela primeira vez, sua ambição em querer as coisas de seu modo e estar preparada para tudo, agora pregou uma peça nela. Estava tremendo de verdade, sendo de frio ou não, suas pernas pareciam não responder aos seus comandos mesmo ainda nos braços do rapaz. O que aconteceria? Ela havia ficado impressionada pela aparência dele instantaneamente.

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O coração dela parecia bater diferente do ritmo de uma caminhada matinal intensa, a verdadeira intenção por trás de cada batimento cardíaco ia além da compreensão de uma jovem tão inexperiente quanto ela, mas deixava claro que alguma coisa havia mudado sua percepção do que aconteceria caso se pegasse de guarda baixa como naquele momento. Talvez ela estivesse se apaixonando? Ele não cessava o olhar, mesmo sem a máscara, pois ele tinha o estranho hábito de enfrentá-la, mesmo sem soltar de seus lábios nenhuma palavra, nem a mais áspera fosse, nenhuma proferida pelo rapaz.

― Me põe no chão. ― Seus lábios disseram com convicção, enquanto seus braços antes no peito do rapaz agora enlaçaram-no pelo pescoço. ― Espera… ― A segurança não foi mais a mesma da frase anterior. Seus olhos se viraram para o céu, buscando olhar as estrelas por baixo de várias folhas da árvore que os cobria do luar. Estava confusa. ― É. Não preciso ficar no seu colo. ― Voltou a agir severa, ordenando-o.

Assim que ele a soltasse, ela trataria de arrumar novamente seu vestido e a gola que haviam ficado completamente abarrotados. Com certeza, nunca imaginou que aquilo acabaria daquela forma, mas por dentro parecia intimamente constrangida por ter se exposto daquele nível. Seus pés se firmaram no chão enquanto mais uma vez ela voltava sua atenção a ele. Quando foi arrumar o seu cabelo, notou que a máscara dele ainda estava em sua destra e então a gennin estendeu a mão para que ele a tomasse para si, se assim ele quisesse, senão ela jogaria o objeto para longe.

― Acho que isso te pertence. ― Olhava a máscara esperando que ele a apanhasse. Não sabia ao certo se ele a vestiria de novo, mas caso fosse, seu comentário a seguir entregaria seu ponto de vista a respeito dela. ― Um cara como você andando com uma máscara assim é a coisa mais ridícula que eu já presenciei essa semana. Primeiro que as pessoas não te reconhecerem nessa vila, o que por si só já é motivo suficiente pra te fazer um cara esquisito, outro motivo é que isso é muito fora de moda e não combina com seu estilo - nem com seu rostinho de bebê… ― Soltou o restante da frase quase tão baixo que ele só conseguiria entender algumas partes da sentença, por sorte.

O rosto queimava, aquecendo-a, mas isso não era o suficiente para que o frio do ambiente a poupasse de calafrios em sua pele clara e macia. Seu corpo inteiro tremia, enquanto seu estômago tornava aquecer-se de ira. Era fome. Porém, nem só de azar se pode fazer uma história e, graças a isso, felizmente ali perto, poderiam ser avistadas pouco mais abaixo um riacho de águas cristalinas e com macieiras refletidas sobre a superfície da água. Logo, se a fome se tornasse insuportável, ela poderia ir colher algumas maçãs e as lavar à beira do rio.

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O samurai da folha galgou rumo aos arredores em busca de algo para fazer, uma vez que estava completamente entediado dentro de casa. A caminhada do ninja findou num campo de flores de coloração azul, algo que nunca tinha avistado antes; um sorriso formou-se na face do jovem shinobi, uma vez que este encantou-se com a paisagem avistada. — Poderia vir para cá mais vezes aproveitar minha folga ninja. — O samurai dialogou consigo mesmo, estirando-se na relva verde ao passo em que observava o céu azul de Konohagakure.

Acho que isso te pertence. A voz de fundo chamou a atenção do ninja, que de súbito aplicou uma técnica base, porém útil para disfarçar-se. — Henge no jutsu! — murmurou o ninja da folha, tomando a forma de uma bela mulher. — Ei, vocês. — O ninja clamou os shinobis da folha, caminhando em sua direção enquanto estendia a destra num gesto amigável. — Oi, oi. Prazer, me chamo Miyamoto Musashi, sou uma ninja... e vocês, quem são? — Indagou Musashi, com um largo sorriso estampado no rosto. O jovem estava um tanto quanto receoso com o que acabara de ouvir, também. Um espadachim que escondia o rosto... Musashi pensou consigo mesmo, deixando o assunto de lado e focando-se nos jovens ali.

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Não havia nem uma hora que a garota o havia conhecido, mas seu peito parecia doer por ter na sua frente, algo que ela não sabia como lidar. Talvez ela fosse do tipo que se impressionasse fácil, mas também poderia ser o caso de ser a primeira vez que sentia uma paixão. Todavia, ela tentou não demonstrar mais, mesmo quando que por um instante a mais, ao vê-lo tomar a máscara de sua mão, pode sentir seu toque mais uma vez numa fração de segundos. A garota então se afastou meio passo, virando-se de costas para ele e olhando para o luar. Certamente ele havia passado por problemas no seu passado, era nítido em seus olhos e semblante sempre inexpressivo quanto a ela. Tatsumaki por sua vez o evitava por alguns instantes, pensando no tipo de pessoa que ele seria, pois tamanha era sua curiosidade acerca do rapaz. Seus dentes se apertavam contra o lábio, assim como seus punhos se fecharam fortemente, tanto que por um momento, no frio, seu sangue parecia ter dificuldades para voltar a tonalizar a palma de suas mãos para o corado natural. Por fim, voltou a olhá-lo enquanto ele terminava seu questionamento a respeito dela.

― Eu sou Tatsumaki. ― Ela disse seca, o olhando como se esperasse dele algo que pudesse transmitir alguma emoção. ― Sou da família Yoko, não uso meu sobrenome, mas sou a herdeira de uma família muito rica. Quando te confundi com um empregado de meu pai foi porque ele eventualmente manda seus subordinados à procura da filha, justamente para saber se ela não fugi do meu destino como senhora de seu legado enfadonho. ― Completou.

Os olhos verdes da garota se demonstraram frios e inexpressivo quanto ao que era dito, tanto que pela primeira vez, deixou de lado qualquer artimanha para contornar a situação e ludibriar o outro jovem ao seu bel prazer. Não era mentira, infelizmente. Seus braços se cruzaram no mesmo instante que o vento lhe soprou gélido em suas costas, trazendo novamente um arrepio não tão bom quanto o de outrora. A raivosa e irônica garota parecia mudada ao falar do assunto, tingindo seu rosto corado de antes com o mais tom pálido de uma pessoa constrangida por seu engano passado. Ela estava mais séria.

― No dia que eu conseguir simular o ronco do meu estômago pode ter certeza que conseguirei o que eu quiser. ― Ironizou, deixando subentendido que ela não tinha esse domínio preciso para simular uma ação inconsciente de seu corpo. Ela estava de fato com fome, mas não tanto quanto se imaginava ao ponto de simular um desmaio. ― Você é bem trouxa mesmo. Se eu fosse do tipo de garota que tenta tirar proveito de garotos como você, acredito que eu teria tirado até suas vestes para me cobrir e te mandado embora nu nesse frio. ― Sorriu de canto. Embora fosse grossa, no fundo ela só estava mau humorada por ter tido que tocar no assunto de sua origem e casta.

Quando finalmente o calafrio passou, o arrepio deixou sua pele, mas isso tornou a acontecer quando de repente mais uma terceira voz rompeu o campo de flores, pois agora estavam em um trio. Seu corpo girou cento e oitenta graus, direcionando sua fronte para uma mulher que surgia se apresentando como Miyamoto Musashi, dizendo ser uma kunoichi. No mesmo instante a gennin sorriu de canto, proferindo o óbvio.

― Essa daqui eu não preciso nem perguntar se é empregada do meu pai. Está na cara que não é, pois se fosse, não estaria a minha procura, estaria com ele em seu escritório, ele não é tolo de mandar as mais bonitas para longe dele. ― A examinou dos pés a cabeça. Seu gênio forte era notório, mas não ácido ao ponto de faltar com respeito com alguém que se apresentou de tão boa vontade. Resolveu retribuir a cordialidade, fazendo uma breve reverência com a mão destra, mas não flexionando os joelhos, pois jamais abaixaria a cabeça para outra mulher, menos ainda se curvar a uma. ― Bem, como acabou de se unir a nós, vou repetir. Sou Tatsumaki, uma gennin de Konoha, recém formada na academia. O esquisito aqui com cara de bobo eu ainda não sei o nome. ― Terminou, dando um passo para trás, para que deixasse ambos em seu campo de visão ao mesmo tempo.

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A apresentação de momentos atrás fora respondida pelos dois shinobis da folha, mas o que chamou a atenção de Musashi fora a ironia contida na pequena jovem, que era um tanto quanto ácida. — Talvez eu seja empregada do seu pai, afinal, talvez você não o conheça tão bem quanto pensa, Taaa-tsuuu-maaa-kiii-Chaaan. — Musashi estendeu as vogais, aproximando o rosto da jovem enquanto o fazia, ironizando-a. Um sorriso estampou-se nos  finos lábios de Musashi, que observou o garoto após apresentar-se. Akeido.. murmurou, pensando no significado do nome.

— Bom, deixe-me apresentar. Sou Musashi. Miyamoto Musashi, uma Jonin da folha. — A garota pigarreou, retomando a fala. — E como observado pelo rapaz, sim, sou uma espadachim. Inclusive concordo com você, é uma ótima lâmina. — concluiu, observando-os. A destra levou ao cabo da lâmina, e apertou com força: a palma da mão da mulher ficou vermelha, aquilo que ouvira anteriormente a incomodara. — Um espadachim não deve esconder seu rosto. — disse num tom diferente, mais sério. — Bom, de qualquer forma, acabaram-se as apresentações; ouvi dizer que estava com fome, Tatsumaki-chan, que tal irmos todos comer algo? — Indagou Musashi por fim, tomando a dianteira e caminhando para uma loja ali perto.

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A gennin perseguia com os olhares estreitos como se tentasse desvendar um segredo oculto. Ansiava por algo que lhe trouxesse um parecer sobre os reais motivos daquela mulher se prostrar diante de dois jovens no meio da madrugada. O sol parecia disposto a brotar logo por detrás das montanhas, o tempo já havia progredido tempo suficiente para começar a nascer no fim das montanhas ao longe do território do fogo, entretanto o frio ainda era um dos principais problemas naquele despertar silencioso, para ela era difícil se manter ali com aqueles trajes. O jovem mancebo finalmente parecia se pronunciar a respeito das provocações da garota de cabelos esverdeados, trazendo com ele comentários que desnecessariamente traziam à tona uma vergonha instantânea a menor que até agora havia se fechado e desprezado os sentimentos desde o assunto sobre seu pai a pouco instantes, quando ainda eram apenas dois indivíduos ali. Seu punho fechou-se enquanto moldava com a flexão do cotovelo, um gancho tão forte que com certeza quebraria facilmente palitos de dente, pois aquilo era o seu máximo que poderia fazer, infelizmente. O soco dado tinha como alvo o braço do rapaz, dando um golpe de raspão que talvez poderia lhe trazer algum incômodo e com sorte um hematoma no local, caso acertasse.

― Cala a sua boca, seu retardado! ― Ordenou, batendo o pé contra o chão, nervosa.

A mulher poderia trazer a tona sentimentos que outrora aparentavam inexistentes no rapaz, visto que o empenho em puxar assunto sobre a qualidade da espada da mulher era bem maior do que puxar assunto com a tsundere. ― “Será que ele é gay? Ele tá me ignorando pra falar de espadas com essa mulher? Que droga, você é patética Tatsumaki!” ― Considerou incrédula. Seria ela tão azarada para que o primeiro rapaz que a despertou algum desejo fosse apenas um admirador de espadas? Foi o que ela concluiu. Vendo o interesse demonstrado por ele no objeto da mulher, ficando completamente de lado na cena, ela ficou visivelmente perturbada com a situação, notou também que a kunoichi espadachim trazia falas descompromissadas em seus lábios, como deboche a ironia natural de Tatsumaki. Aquilo a agredia, ainda mais pelo desprezo para com o tratamento com seu nome. Mesmo que a mais velha soasse despreocupada demais, trazia a criança desconfiança suficiente para se prender a uma ideia de que realmente aquela fosse uma empregada de seu pai. Respirou fundo, deixando que o rubor de suas bochechas diminuíssem, não ousou retrucar de pronto, pois poderia perder a compostura. Por fim tratou de responder a outra.

― Eu estou sem fome agora. Essa conversa toda me deixou meio… ― Escolheu as palavras com esmero, pois todavia sentia-se subordinada à uma cordialidade nunca antes pretendida, mas que agora se fez necessária para continuar a estudar a mulher e suas reais intenções ali. ― Bom, não sei, tive uma noite ontem terrível, sinceramente não lembro a última vez que comi, talvez seja melhor eu me esforçar um pouco para não desmaiar nos braços de um desconhecido. ― Olhou para Akeido, crente que ele entenderia a referência, mas ainda decepcionada com o fato dele não ter qualquer esboço de admiração por ela, mesmo um simples sinal.

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A criança aparentava estar mais disposta a xingar seu colega do que outra coisa, o que era um tanto cômico: uma anã contra um gigante, uma espécie de Davi e Golias da era ninja. A espadachim soltou um riso, baixo, se recompondo logo em seguida: aquilo não era hora e nem o lugar de rir dos problemas alheios. A canhota foi ao encontro da cabeça, retirando a presilha que mantinha o cabelo rosado num coque, soltando-o. — Entendo. Mas evite usar máscaras, são coisas que assassinos usam, e você não é um assassino, mas um Espadachim. — concluiu, abrindo um largo sorriso para o genin.

— Bom, de qualquer forma. Vamos comer!! — Gritou de felicidade, observando o sol dar as caras no horizonte. Os raios incidiram sob sua face, e a espadachim levou a destra até a mesma, protegendo seus olhos. — E vamos rápido, o Sol está no alto e e me incomodando demais. — concluiu, tomando a dianteira e rumando para a lojinha de macarrão ali perto. A Kunoichi já podia sentir o cheiro das ervas, o macarrão fumegante, o gosto... Musashi começou a correr não tão velozmente, mas deixando os pombinhos para trás: eles tinham de conversar um pouco mais, pelo visto.

— Sejam breves senão comerei todo o macarrão. E tome uma atitude logo, Tatsumaki! — Gritou a Espadachim há vinte metros de distância.

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Não havia qualquer coisa que ela disse que não trouxesse caos a mente perturbada daquele rapaz que embora fosse atraente, ainda trazia a gennin esmeralda, uma certa insegurança sobre o quanto ele poderia ser considerado “inocente” naquele ponto. A menina o ouviu queixar-se novamente, desta vez, falando que ela o havia enganado e sido ignorante com ele, o que não era mentira, mas que também não justificava o drama dele. Seus braços se cruzaram novamente em frente ao corpo, enquanto seus ombros se inclinaram para trás, endireitando a coluna enquanto bufava de tédio de ter de ouvir aquele papo mais uma vez.

― Eu estava no meio da noite sozinha com meus pensamentos e, do nada, aparece um cara mascarado, armado de espada que veio me puxando assunto de repente. É claro que eu tive de tirar proveito de qualquer forma para coletar informações de você. Quanto a parte de eu ser ignorante: acostume-se. ― Concluiu girando a cabeça poucos graus da posição anterior, para à direita, evitando ficar de frente para ele.

Quando finalmente se deu conta que o dia estava raiando, percebeu também que ambos os espadachins tinham algo em comum além do que a espada, sendo este dado partilhado, o gosto por macarrão, visto que a mulher agia feito boba ao falar de comida. Não havia nada a ser feito, Tatsumaki estava sozinha no meio de fanáticos por macarrão, portanto resolveu enfim dar seus primeiros passos atrás da mulher que parecia ser a mais apressada dos três. O outro, por sua vez parecia predestinado a ser o novo alvo da ira da criança de olhos verdes, pois absolutamente tudo que ele fazia, trazia a ela um misto de emoção que lhe confundia os sentidos entre: gostar dele e querer saber sua história e o querer morto, já que ele parecia “bobo” demais para ser verdade.

― Ah, cale a boca… Eu vou comer com vocês se me prometer não me importunar com aquele assunto de te enganar de novo. Você faz parecer como se eu tivesse feito algo mais horrível do que realmente foi. Não sou de todo ruim. ― Descruzou os braços enquanto começava a caminhar mais apressada, deixando o rapaz um pouco mais atrás.

A verdade é que o rosto da jovem corava-se ao perceber que ele lhe trazia tanta curiosidade a respeito sobre justamente como ele conseguia influenciar sua personalidade agressiva a aparecer tão facilmente, era quase como se ele conseguisse fazer com que ela fosse quem ela realmente foi só pelo fato dele estar presente. Era um mistério, mas tanto Akeido quanto Musashi, havia conseguido trazer a gennin uma certa confiança natural, algo que talvez só foi possível graças aos dois serem “simples” de se lidar. A novata então passou a seguir a maior, esperando ser seguida, sem encheção de paciência, pelo bonitão abobalhado. Dali, só o destino seria capaz de traçar o caminho exato para que onde iriam parar.

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