Em passos firmes, a herdeira do trono de Camm calcorreou para além do escritório. Com cuidado, esgueirou-se pelos degraus da extensa escadaria e permitiu que a escuridão do corredor vertesse em seu corpo. O manto negro encapuzado rapidamente esvaeceu em meio ao domínio das sombras, ocultando a jovem espadachim dos olhos alheios. Descia graciosamente, apoiando as delicadas mãos nos finos corrimões lenhosos. Sem revés, alcançou o saguão de entrada e maneou com a cabeça para alguns dos guardas que protegiam o espaço. —— Volto em breve. — Declamou subitamente, deslocando-se até a porta e abrindo-a com um único solavanco. Deixou que átrio se distanciasse da dobradiça e, por fim, resolveu sair.

Na conjuntura, a escuridão já havia preenchido os segmentos de todo o planeta. Um negror taciturno despontava de encontro ao solo montanhoso e, concomitantemente, o astro lunar cedia louvores aos seus súditos com feixes brilhantes. Correntes de ar arrefeçavam a matéria circundante, soando pelos terrenos com um silvo cadavérico, uma presença nitidamente etérea. A princesa sentiu um frescor atravessar seu corpo e findar na nuca, atiçando o único fio dourado que havia no topo do penteado. Os ventos do inverno. Ponderou a loira, sentindo mais pelos eriçarem ante a aparição do frio. Ainda assim, a kunoichi seguia firme seu percurso. Atentava-se ao derredor e orientava os passos pelo caminho mais curto até sua morada.

Os olhos vidrados no além prescreviam o desenho da nébula sombria, enormes nuvens negras que preenchiam toda a abóbada astral. Fitando-as, a Nona Sombra do Relâmpago observava os satélites, mexendo os olhos em piscadelas de encanto à cada nova estrela que aparecia à sua vista. É lindo. Sussurrou em seu âmago, observando novamente a lua estampada naquele cenário inacreditavelmente belo, um cenário capaz de inspirar pinturas e obras literárias. Mais um silvo ecoou pelo passo, síncrono com o andejo da espadachim dourada.

—— Lar doce lar. — Monologou, sentindo a ventania balançar os cabelos. Defronte a porta de sua casa, Arthuria deslizava a mão pela maçaneta fria, vivenciando um ardor gélido flagelar a carne. Abriu um sorriso, mostrando-se contente pela volta até sua morada. Destarte, a ninja rapidamente inclinou seu corpo em um ímpeto, descendo o corpo até o solo e buscando sua chave – outrora deixada em um esconderijo para que não precisasse carrega-la na bolsa. Aqui está. Jogou murmúrios ao cosmos, lentamente apalpando a chave e recompondo a postura. A Pendragon encaixou o objeto em seu devido lugar, sem devaneios, abrindo a porta de madeira em sequência e adentrando no recinto.

Primeiramente, Arthuria resolveu entregar-se à purificação. Através de um demorado banho quente – quase escaldante – a kunoichi desacolhia o frio do inverno e rejeitava seus pesadelos antigos, conjecturas que outrora atormentaram seus sonhos. Em meio à bruma albugínea, a princesa justiceira soltava leves suspiros de conforto, fechando os olhos para que apreciasse cada segundo daquele momento. Depois de quase uma hora imersa na água ardente, a Pendragon resolveu sair do luxo e lançar-se ao frio mais uma vez. Através de movimentos vagarosos e espaçados, enxugou-se com uma toalha seca e colocou roupas limpas, um aconchegante conjunto azul. Então, abriu a porta do banheiro e viu a neblina dissipar-se no quarto.

Inopinadamente, Arthuria sentiu uma energia vagar pelos seus aposentos. Em um reflexo gatuno, a Sombra do Relâmpago virou seu rosto em direção à perturbação espiritual, fixando seus olhos esmeraldinos na sua antiga espada. Excalibur. Lembrou-se do nome da arma, um sabre místico que tirou de um rochedo anos atrás. Agora, largada em seu quarto, a lâmina mostrava-se inquieta, exalando uma energia estranhamente conhecida pela própria Pendragon. Decisivamente, alcançou-o e brandiu-o, vendo a lâmina reluzir. Com força, segurou seu cabo azul, apertando-o, e notou a estranha aura expelida avassalar seu corpo. Felizmente, Arthuria era uma sábia, e isso não lhe faria mal algum. —— Chakra Natural? — Indagou, sentindo o peito encantar-se com o alento da natureza.

Contemplando o aço da espada sagrada, a princesa reluzente mais uma vez se viu surpreendida. Com mais um aperto no pomo adornado, deixou que seu próprio chakra se esvaísse para o além, sendo consumido pela arma de maneira mágica. O objeto rapidamente foi encoberto por uma brilhosa aura azulada, que aos poucos implodia e se dissipava no espaço. Ao término, a arma tornou-se literalmente invisível, incapaz de ser notada por olhos comuns. Por sorte, a donzela conseguia assimilar o chakra natural, tornando viável o seu manejo. Incrível. Admitiu, apreciando a nítida intensificação da habilidade do sabre. Depois de alguns minutos, Arthuria resolveu deitar-se. Acordaria pela manhã, bem cedo, pronta para voltar ao gabinete e continuar com suas tarefas. Dessa vez, trajando novas vestes e carregando sua nova arma, a Pendragon parecia disposta para enfrentar qualquer desafio.

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