Depois de um longo período ocioso, o Jūgo viu uma hora de aperfeiçoar-se e melhorar sua técnica de combate. Para isso, lembrou-se de um velho artista marcial que presenciou na viagem de volta para Kumogakure, ele balançava-se como um pêndulo de forma rítmica e, embora não possuísse padrão nenhum, podia-se dizer que aquele era seu padrão de movimentos. Era difícil, e até frustrante para o shinobi, admitir que nem mesmo ele conseguia prever que movimentos seriam feitos em seguida, e por isso era tão difícil lutar contra ele. Uma pessoa habilidosa como Yuichiro conseguiria lutar de igual para igual contra aquele artista marcial, sim, no entanto ainda assim era uma técnica formidável.

Tendo esses pensamentos como base, o shinobi decidiu que aprenderia aquele estilo de luta único por conta própria, sem que ninguém o ensinasse, fazendo disso um aprendizado que carregaria para toda sua vida. Não significava, no entanto, que abandonaria seu próprio estilo de luta, mas aprenderia um outro que teria sua chance de brilhar em algum momento – assim pensava. Rumou então para os campos de treinamento do vilarejo, lugar de sensação familiar para Yui, que passou grande parte de sua vida nele, aprimorando-se. ━ Há quanto tempo... — Disse o rapaz, tocando no portão de entrada do campo antes de dar o primeiro passo adentro em tanto tempo. Nada parecia muito diferente.

Sem querer perder mais tempo, mas mantendo a calma, começou o treinamento. Não precisava de nada além do próprio corpo, visto que era uma arte marcial e sua adaptação para estilos de luta era formidável. Fechou os olhos, ainda em postura ereta, imaginando separadamente os movimentos que o velho praticante realizou em seus eventuais encontros na viagem. Eram fluidos e bastante espontâneos, lembravam em muito os movimentos de seu próprio estilo de luta, o que tornaria o aprendizado mais fácil. Lentamente reproduziu as imagens que imaginou, buscando copiar os movimentos vistos e assimilá-los em sua consciência corporal para serem, mais tardiamente, feitos com naturalidade e por puro reflexo. Não havia por quê acrescentar em velocidade naquele momento, era mais básico e visava somente os fundamentos do estilo, somente posteriormente deveriam ser feitos em grande rapidez.

O primeiro momento chegou ao fim, os movimentos haviam sido assemelhados pelo corpo do jovem e agora lembrava-se do que havia feito, tendo uma visão mais clara de como era aquele estilo. Agora seria a parte que exigia mais habilidade e adaptação. Com grande velocidade e agilidade, porém mantendo os olhos fechados, o Jūgo executou movimentos com rapidez – os mesmos que executara com calma e paciência. Com o tempo, e prática, tornou-se tão natural que movimentos novos surgiram com facilidade, pondo em prática a base do estilo de luta: espontaneidade. Saltos mortais, golpes de ponta cabeça, acertos em nos mais variados ângulos, tudo isso era feito com agilidade sem comparação.

Agradecido pelos ensinamentos que recebera do “universo”, o jovem Jūgo juntou o palmo aberto ao punho oposto, com as pernas juntas, realizando a saudação comum entre artistas marciais – para ninguém. Com isso, deixou o lugar, suspirando pelo término do esforço contínuo.

Um barulho estranho fez o Jonin acordar abruptamente no meio da tarde. — Mas o que foi isso? — disse o rapaz, enquanto esfregava os olhos e bocejava, tentando auxiliar no despertar.

Mais uma vez, outro estrondo tornou a lhe incomodar. Ainda com a mente enevoada, resgatou sua camisa - até então pendurada em um suporte próximo a saída - e abandonou o calor aconchegante que sua residência proporcionava. Após alguns segundos avançando na direção do barulho, foi possível perceber que o trajeto iria levar-lhe ao campo de treinamentos da aldeia. Um homem de aparentemente trinta e oito anos realizava golpes poderosíssimos de uma espécie variante de arte marcial, que diferenciava-se pelo alto poder destrutivo.

Caso o garoto não detivesse um alto condicionamento físico, uma lasca de pedra que progrediu na sua direção provavelmente teria lhe acertado o rosto. — O estilo é interessante, mas ainda é necessário caprichar na mira. — A ironia era um dom - alguns chamavam de defeito - que o garoto cultivara desde que muito cedo. — É fácil falar quando não é você que está fazendo. — Ao notar as capacidades físicas do garoto, o senhor que chamava-se Daruko, percebeu que, talvez, o jovem pudesse dominar a mesma técnica que ele.

Daruko concentrou na face de seu punho uma quantidade assombrosa de chakra, colorindo-o com um tom ciano brilhante. A aproximação fora tão súbita que nem as capacidades idôneas de Yuichiro puderam ser suficientes para uma reação de forma adequada. O golpe fora evitado por um simples capricho destino mas fora possível compreender a letalidade do estilo empregado.

— Se não for muito fraco, talvez seja capaz de controlar essa virtude um dia. — disse, desaparecendo logo em seguida, deixando apenas um pergaminho selado descrito como Gōken.

" O Goken ou Punho Feroz é o estilo de luta cujo objetivo é causar danos externos e quebrar os ossos. Este estilo de luta envolve esmagar o seu adversário e geralmente é usado somente por shinobi extremamente fisicamente poderosos e dominadores." — contemplou, mentalmente, após abri-lo, observando que o método era muito semelhante ao empregado nas técnicas médicas no entanto, com um cunho ofensivo. Apenas alguns segundos após compreender o estilo, o punho banhou-se em chakra e um poderoso soco fora desferido contra o solo, que despedaçou-se. Estava feito.