❝O retorno❞ — Serena Yamanaka

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O tempo é subjetivo. A percepção do tempo é pessoal. E mesmo chegando ao fim para uns continua para outros.

Serena continuava em pé ao lado da campa, a terra remexida ainda estava fresca, mas agora apenas a rodeava silêncio.

Para ela aquele momento seria mais apropriado com chuva, na verdade queria que chovesse, mas o sol de início de outono teimava em descer vagarosamente à sua frente aproveitando para pintar de vermelhos e laranjas a tela desimpedida que era o céu.

Na mão esquerda, que pendia ao seu lado, tinha apenas um lírio branco. A flor dos mortos. Não tinha tido coragem para a deixar sobre o caixão enquanto o baixavam no buraco frio e agora não sabia se o deixava em frente ao nome escrito em pedra.

Tinha recebido à cerca de um ano a notícia da doença da sua avó, não tinha cura e ia piorar até à sua morte. Uma Yamanaka a sofrer com uma doença que afetava a mente, o destino às vezes gostava destas ironias. Serena decidiu que ia fazer tudo o que podia para que os últimos meses que a sua avó ia passar na terra fossem o mais calmos possíveis.

De início era fácil, pequenos esquecimentos, mas uma nota escrita ou a sua neta atenta ajudavam. Depois Serena notou que a sua avó demorava mais tempo a seguir uma receita de família ou esquecia-se do processo de voltar a plantar uma flor. Após uns meses por vezes não se lembrava dela ou confundia-a com a sua mãe quando era nova. Mas os momentos de lucidez eram maiores e as memórias que criavam ajudavam a pequena a ter mais paciência nos momentos maus.

Quando piorou Serena não estava pronta tinham desenvolvido uma grande relação de co-dependência, cumplicidade e apesar de para a sua avó não haver diferença quem a rodeava sentia cada dia de uma maneira agridoce e quem mais afetada estava era a pequena loira.

Uma lágrima rebelde desceu pelo seu rosto a acompanhar o movimento do sol. Sentiu um braço em volta dos seus ombros e uma mão segurar a sua com o lírio no meio e assim se deixou ficar indo a baixo finalmente chorando toda a mágoa que sentia dentro de si. Escondeu o rosto no abraço do seu pai soluçando inconsolável e assim ficaram os três sem dizer nada durante um tempo, todo o tempo que precisava. No fim limpou o rosto olhou uma ultima vez o nome da sua avó escrito em pedra cuidadosamente deixou o lírio e foi embora.

Não conseguia ir já arrumar as suas coisas na casa que no último ano tinha sido a sua então voltou para Konoha onde se deixou ficar deitada na sua cama sem fome e sem sono até ao dia em que os seus pais chegaram com uma caixa. Ganhou coragem levantou-se e foi passar as mãos por tudo o que tinha deixado na casa da sua avó. Lá encontrou um envelope que não reconhecia. Serena. Dizia na letra cuidada dos tempos lúcidos que a sua avó tinha. Abriu a tremer já sentindo os olhos encherem de lágrimas.

Minha querida Serena,

Escrevo isto agora pois tenho medo de não o conseguir à medida que o tempo avance e a minha doença também. Preciso de te agradecer profundamente, apesar de não ficar satisfeita por deixares a tua vida em suspenso. Quando receberes esta carta deve ser uns dias depois do meu funeral, desejo que estejas bem, quero-te de volta ao teu sorriso constante.

Fizeste tudo o que podias, mais do que devias aliás. Agora vai com a minha benção faz tudo aquilo com que sonhamos juntas, aquilo que me contas com um brilho nos olhos e esperança no coração. Chega de deixares isso em pausa. Tens muito tempo para isso dizes-me, mas agora tens que meter a tua vida em primeiro lugar.

Tu consegues tudo o que tentares. Sempre no teu coração da tua querida avó,
April Yamanaka.

E com as lágrimas a escorrerem pelo rosto a pequena Yamanaka decidiu que iria fazer exatamente isso.

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