Can i kill you please?

A perda de seus pais tinha sido claramente um marco na vida de Hitsugaya, ele não conseguia controlar seus impulsos, e um deles era a raiva que sentia em período integral, a raiva pelos líderes de Konoha que só crescia, era a hora de colocar seu centro mental em condições, ou iria se perder para si mesmo. A aurora já se fazia presente, iluminando com seu alaranjado típico, era o momento de iniciar os treinos, não poderia ficar para trás de jeito nenhum. Levantou um pouco cambaleante enquanto o silêncio da casa era quebrado pelo ranger da madeira do piso, era algo solitário demais para uma criança, mas nem todas as crianças eram shinobis com o instinto assassino que Hitsugaya tinha.  Comeu alguma coisa rapidamente e vestiu sua roupa de dia a dia, que tinha a mesma tonalidade de seus cabelos brancos.

''O que podemos fazer hoje? Acho que treinar com algum gennin da academia. ''

Caminhou pelas ruas com certa calma, calma até demais. Até que finalmente encontrou um dos ninjas que não gostava muito, ele era metido a herói, e bom moço, coisa que sabia que no mundo shinobi não existia, e sim interesses que dependiam de altruísmo, como por exemplo, virar Kage. Sorriu com certo desdém para o mais velho, e logo seguiu seu caminho, caminhando até o pátio da academia onde costumava treinar com mais calma e afinco, mesmo com todas aquelas pessoas irritantes gritando sem parar, por sorte algum jonin iria vir ao seu encontro para lhe mostrar algo novo. Por não ser especialmente talentoso em uma determinada área, se esforçava ao máximo para suprir suas deficiências e se tornar cada dia mais forte e apto a talvez um dia tomar o trono de Konoha para si, e mostrar a todos como um verdadeiro governante deve guiar o próprio povo.

- Ei Hatake Hitsubabaca. O que acha de brincarmos um pouco?

O valentão da turma intimou o pequeno garoto, que por um momento tentou permanecer calmo, o coração acelerou demasiado, enquanto continuava a golpear o saco de pancada com ainda mais força que antes. Ele não era muito de entrar em brigas desnecessárias e nas outras vezes tinha tomado algumas ruins contra o mesmo adversário, que já havia sofrido algumas derrotas no início de sua formação, então o outro tinha o total direito de querer se sentir superior, afinal a retrospectiva de ambos era positiva para o lado do metidinho.

- Vai dizer que o bebê está magoado porque os pais morreram?

Alguns ditados dizem que palavras cortam mais do que lâminas, e isso estava correto. No exato momento em que o delinquente sibilou o discurso descabido dele, a mente enegreceu, no exato momento que um sorriso maligno pairava no rosto e Hit, ele não costumava sorrir, mesmo tendo uma carinha de ''anjo'' segundo a maioria das pessoas, ele conseguia ser bem assustador quando queria. Todos ao redor se calaram assim que o xingamento fora proferido, um suspiro seguido de um estalar de ossos do Hatake foram a entrega de que ele estava possesso, e nada iria fazê-lo recuar, não agora, não naquele dia. A sua pequena espada se encontrava nas costas, e sua mão tremia para que ele sacasse a mesma e arrancasse a garganta de seu inimigo naquele mesmo momento, mas não poderia fazer aquilo, ou iria colocar todas as suas pretensões a perder sem sequer lutar por elas.

-Eu sou um babaca mesmo. Pelo menos não sou um retardado que tenta provar a própria força desafiando ''babacas'' para lutar, acha mesmo que alguém aqui tem medo de você? Ridículo.

Sorriu ladino enquanto balançava as mãos como se estivesse gesticulando em uma ópera e fosse o maior maestro de todos - Você só é um gordão que se acha o cara. Poupe-me de sua ignorância, por favor.- suspirou fingindo estar entediado quando o balofo correu em sua direção, os outros riam e isso deixou-o parecendo um tomate de raiva, sequer conseguia proferir xingamentos de tanto ódio que sentia do menino de cabelos brancos. A corrida e os passos pesados eram assustadores, e isso era um problema para Hit, que em outras vezes havia perdido justamente por causa deste fator, não poderia se deixar ser agarrado novamente. Assim que ambos chegaram a uma distância suficiente para um golpe certeiro, deu um passo para o lado, deixando a perna e no ato fazendo com que o outro viesse a cair com o tropeço.

- Você é apenas um órfão que jamais vai ter uma família por perto, Hitsubabaca! Eu te odeio! - bravejou o outro enquanto limpava as roupas da poeira que havia se prendido em suas roupas devido a queda. Mais uma vez a lembrança do enterro e dos seus dois pais sorrindo vieram a mente, um turbilhão de emoções negativas e a vontade de matar todos que riram daquela frase surgiu, fazendo com que o garoto avançasse em direção ao gordo que ainda estava de quatro no chão. Chutou o rosto do mesmo, fazendo-o cair de costas ao solo enquanto Hitsugaya subia em seu peito, partindo para desferir um soco certeiro em sua garganta para finalizar com a luta e também com o dom da fala do mesmo. O que não contava era que um ninja superior estaria assistindo à situação e pronto para interferir e impedir que o Hatake viesse a cometer um ato que jamais iria conseguir apagar de seu nome.

Segurou o pulso do garoto, afastando-o da briga, enraivecido e cheio de ânsias correu para casa, o lugar onde poderia descontar todo o ódio e remorso que tinha, era claro que não sabia lidar com a emoção de algo que ocorrera há tão pouco tempo, muito menos conseguia controlar os impulsos que sentia quando alguém tocava no assunto. Ao chegar em seu lar, nada restou em pé, paredes rasgadas, móveis derrubados, espelhos quebrados, era como se um furacão tivesse passado dentro do lugar sem piedade alguma dos pertences dele, mas como todos sabem a raiva sempre tem um fim, e logo após dela o arrependimento. O outro dia seria perdido, somente para arrumar tudo que ele havia destruído em seu impulso de raiva.

aparencia:

Can i kill you please?

Todo homem é guiado pelos próprios desejos, esta é a máxima que a humanidade segue a finco desde seu surgimento. No entanto quando um homem segue apenas um conceito que ele mesmo cria? Como deve ser interpretada a atitude do mesmo? Hitsugaya sempre fora o segundo tipo de homem, não tinha desejos claros, muito menos mostrava ser alguém que agia por conta de vontades primordiais, era conhecido em sua família como um jovem cético e cheio de perspectivas sobre o mundo em que viviam. O seu espírito girava em torno de conceitos que mostravam o lado mais profundo de seu intelecto, ele se tornava a cada dia mais uma revolução ambulante. Por seus olhos a sociedade era podre, distorcida e desconfigurada, mostrando-se cada dia mais indigna de tudo que tinha, e a culpa disso? Dela mesma e seus líderes, pessoas que apenas tinham como objetivo riqueza e influência, a destruição total do mundo como conheciam era iminente e inevitável, a não ser que toda a cadeia de comando fosse substituída.

- tsc.- olhou pela janela, observando atentamente todos os transeuntes, felizes, rindo e se divertindo, como se nada estivesse acontecendo no mundo, como se tudo fosse uma utopia que eles viviam espalhando o amor e a beleza da vida. Não era assim, tudo aquilo era apenas uma fachada para sangue e sofrimento que eram rotineiros durante todos os dias, para cada cidadão feliz, um ninja era sacrificado por essa falsa paz. Passos se fizeram logo atrás de si, seu pai, um jonin da folha que havia se tornado um dos melhores da vila, se não o melhor - Então filho, como você está hoje? O professor falou que você andou arranjando confusão na academia. Apenas por não reconhecer ele como seu sensei, é verdade? - o menino manteve o olhar vazio em direção ao exterior, apenas assentindo com a cabeça enquanto o silêncio dominava o local. Seu pai era um ídolo, mas ainda assim aquele assunto não era o melhor para se discutir com o pequeno Hatake.

- Sabe filho... Eu tenho apenas 28 anos, mas uma coisa eu percebi. - suspirou apoiando-se no parapeito da janela ao lado de Hitsugaya, o sorriso fraterno e a mão que agora afagava a cabeça do garoto de 10 anos diziam que claramente que ele não estava bravo, e sim de certa forma orgulhoso por seu filho não ser alguém manipulável ou doutrinável - Mesmo que o mundo não seja o mar de rosas que deveria ser, ainda precisamos de algo que nos incentive a lutar, um objetivo, um desejo, um pensamento. E o fato de você não aceita-lo como mestre, só mostra que você é o que mais possui desejos no mundo. Você não aceita ser mais um na academia, nem mesmo não possuindo ainda toda a força que precisa para mostrar para todos eles que é merecedor de algo melhor.

O olhar do mais novo percorreu toda a paisagem até se encontrar com o do pai, as palavras do mesmo foram como um estopim para uma chama que estava começando a queimar no interior dele. O que era aquele sentimento? Animação, adrenalina, vontade de sair destruindo tudo em seu caminho, um turbilhão de sentimentos começava a aflorar e o olhar se tornava menos vazio - Então o senhor disse que eu não preciso concordar com eles. Mas sim trilhar o meu próprio caminho? Eu posso desejar ser o mais forte de todos, mas ainda assim não ter que aceitar tudo que eles dizem? - disse quase não contendo a animação em sua voz, o mais velho riu frouxo quando percebeu que o garoto era mais inteligente que a maioria dos ninjas de alto escalão que ele conhecia, conseguindo perceber o sentido de uma conversa apenas com algumas frases - Sim Hit, como você sabe eu nunca quis tentar ser Hokage. Nunca me vi deixando as missões de lado, muito menos preenchendo papelada, mas você... Você faria tudo isso sem o mínimo esforço, eu até mesmo consigo lhe ver colocando aquela roupa, e levando a aldeia ao ápice de poder.

Disse o pai dele em tom divertido, dando alguns tapinhas no ombro do garoto, mostrando que nada daquilo que tinha dito era mentira ou trapaça para ele se tornar um ninja que amasse a sua aldeia acima dos seus líderes. Era um dia de despedida para ambos, Mayato Hatake estava partindo em direção a outro país para uma missão, junto de sua esposa formavam uma das duplas mais poderosas de Konoha, completando centenas de missões juntos, segundo os boatos que circundavam a vila. Cada pequeno momento daqueles tornava o homem cada dia mais um herói para o filho que usava o mesmo como espelho imitando seus passos a cada dia que se passava - Pai, você tem mesmo que ir? Prometeu que iria me treinar e ensinar o chidori... Pensei que iria ser hoje. - encarou retornando a face séria, quase que em uma ameaça para o mais velho.

- Infelizmente fui convocado e preciso ir. A vila precisa da força minha e da sua mãe. Quando eu voltar eu prometo que irei lhe ensinar tudo que quiser. - afagou uma última vez os cabelos de Hit - Agora eu vou lá. Adeus filho, cuide-se e não cause problemas na academia. - e assim o homem partiu, deixando o filho com um sorriso no rosto a espera de seu retorno. A chama que Mayato havia acendido era um prenuncio de bons acontecimentos para o País do fogo? Ou era apenas o decreto que um dia o fogo seria engolido pelas chamas brancas do Hatake? Os dias se passaram juntos da paciência do pequeno Hatake, seu pai e sua mãe já se encontravam há mais de duas semanas atrasados. Foi então que um som se fez presente na porta, mas a surpresa não fora boa o suficiente. Ao abrir para receber seus pais, percebeu então que tudo que era mais improvável aconteceu. Um jonin companheiro de ambos estava lá para dizer que a vida de ambos tinha sido ceifada por uma pessoa de força sobrenatural, e que devia a vida dele e todo pelotão aos dois, que se sacrificaram para salvar a todos. A chama então, queimou ainda mais forte, mas em tonalidade diferente, assumindo um negro de ódio e escuridão, decretando o futuro dos líderes do país, a hora de todos eles iria chegar.

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