Kurosuna no Amakusa
黒砂コトミネ
Pouco tempo havia se passado desde o final de seu treinamento e passeio pela vila de Takigakure. Não tinha muito o que fazer atualmente, e por isso resolveu retirar-se da pousada por algum tempo, visando explorar pouco mais aquela vila com beleza mínima. O luar já havia chegado, seu brilho era refletido pelo grande lago que cercava a gigantesca árvore da vila oculta da cachoeira, fazendo com que todas as folhas brilhassem, assim como o gramado.

Era uma visão que poucos conseguiam desfrutar, uma visão que os filhos de Assyria jamais veriam. não conseguiu evitar a lágrima que caiu de seu rosto, indo de encontro ao chão brilhante. Sentia falta de seus companheiros e de seus familiares, a única coisa que lhe fazia suportar tamanha dor, era a companhia de sua amada imperatriz, que motivava-se em reviver as muralhas daquele império perdido. Levou sua mão direita ao peito, apertando-o com toda sua força, arrependido de semear tais sentimentos.

Renegou a forma que se sentia, e começou uma súbita corrida pela vila, ignorando tudo ao seu redor. Deixara a pousada em tamanha pressa, não seguindo um compromisso, mas sim fugindo de um. Seus passos eram irregulares e desprovidos de qualquer atenção, levando o rapaz à queda após alguns metros de corrida. Abraçou o gramado com seus dedos, enquanto suas lágrimas caíam em um fluxo ainda maior. Socou a terra molhada, com os punhos fechados, e puxava a grama destilando seu ódio.

No fundo sabia que aquilo não o levaria em nada, não era uma atitude de seu feitio, se tratava de uma crise de ansiedade, ou um ataque de pânico, não sabia ao certo o que sentia, mas sabia que tinha que se distrair para driblar aqueles sentimentos. A última atividade que fizera antes de sair da vila da pedra, fora uma corrida; e subitamente foi a primeira coisa que veio à sua cabeça. Levantou-se do gramado molhado e bateu em suas vestes, liberando a pouca poeira que havia se instalado nos tecidos.

Começou então uma corrida ao redor da vila, por estar de noite, poucas pessoas notavam sua presença, principalmente por sua mania de correr pelas partes mais escuras dos locais que frequenta. Cuidava ao máximo de si mesmo, movendo ambas suas pernas com harmonia e coordenação. Seu ritmo cardiaco aos poucos voltava ao normal, sofrendo apenas com a alteração da adrenalina que fluía pelo seu corpo. Conseguia se sentir um pouco melhor com aquilo, o simples fato da angustia ter acabado já era o suficiente para o rapaz.

Sua atividade foi cessada ao deparar-se com uma antiga construção de madeira, uma biblioteca. Já conhecia uma biblioteca na vila, porém essa era pública, e isso despertou o interesse do garoto. Secou seu suor com o manto em suas costas e adentrou o local, planejando seus próximos movimentos noturnos enquanto sem Semiramis.

Considerações:

Kurosuna no Amakusa
黒砂コトミネ
Abriu com sutileza a porta que lhe apresentava a biblioteca local. Como não queria causar problemas ou ser expulso, esbanjou um sorriso em seu rosto, mirando à mulher por trás do balcão. Uma simpatia falsa. Deu poucos passos até seu destino; debruçando seu corpo sobre o longo balcão de madeira. — Qual o motivo da existência de uma biblioteca em uma vila de analfabetos? — Perguntou, removendo o sorriso de seu rosto e assumindo um tom de voz presunçoso. A mulher não entendia muito bem do que Amakusa falava, e por isso mostrava-se com dificuldade de falar qualquer coisa. — Relaxe. Estou apenas brincando — Deixou que uma leve risada escapasse, dando às costas para a mulher e adentrando os setores de livros.

Era uma biblioteca comum, sem muitos artigos ninjas. Suas obras variavam entre física avançada, biologia, matemática, literatura, e outras áreas mais utilizadas por estudiosos. Enquanto explorava os setores de livros, pegava alguns livros e explorava também seu conteúdo, vendo que aqueles assuntos eram avançados demais para ele, poderiam ser avançado demais até mesmo para Semiramis.

Mesmo assim continuou, até encontrar uma seção de contos infantis. Se tratava de algo que conseguia entender, porém não era exatamente o que procurava. Em uma das seções seguintes encontrou um livro sobre lógica e respostas rápidas. Talvez fosse o suficiente para o rapaz, pelo menos ele acreditava ser. Recolheu o livro escolhido e resolveu desperdiçar um pouco de seu tempo lendo o seu conteúdo. Se sentou em um dos longos bancos de madeira que haviam entre as seções, sozinho, por conta da biblioteca estar vazia.

No começo parecia mais um livro de autoajuda, falando sobre como fazer as melhores escolhas da sua vida e coisas do tipo, e começava a causar tédio ao rapaz, porém continuou convicto e passou mais algumas páginas, até que encontrou um capítulo sobre resolução de questões lógicas. No começo era bem difícil, porém com o tempo pegou o jeito e conseguia aos poucos entender do que se tratava. Com certa dificuldade resolvia alguns problemas lógicos citados pelo livro, pedia inclusive uma folha de papel e uma caneta à bibliotecária, para auxiliar-lo durante suas resoluções.

Se entretia tanto com o livro que nem mesmo percebi as horas passando, e apenas percebeu quando a bibliotecária avisou-o de que fecharia a biblioteca. Fechou o livro e colocou-o de volta à sua respectiva prateleira, moveu-se até o balcão da bibliotecária e novamente sorriu. — Obrigado, senhora. Suas ações serão lembradas no futuro — A mulher sorriu de volta, aos poucos se acostumando com o jeito de ser de Amakusa. E então deu as costas, movendo-se calmamente até a porta de saída do local.

Até o momento tinha sido um dia deveras produtivo, perguntava-se se deveria voltar para o hotel agora, perguntava-se o que estaria Semiramis fazendo o dia inteiro. Estava com saudades.

Considerações: