Dizer que de algum modo a experiência que tive enquanto perseguia loucamente a habilidade denominada Fushi Tensei e seu misterioso criador me alterou não poderia ser mais verdade. Os sentimentos, os quais achava antes estarem completamente bem delineados, agora são turbulentos, voláteis. Ainda existe uma linha tênue em minha consciência, a qual não devo ultrapassar de modo algum, a qual devo manter sempre em vista para não perde-la; a linha de minha sanidade. Pode parecer estúpido mas é o que é, nada além disso.  Tive um lampejo que me fez tornar a buscar alternativas a me manter são, atividades para me distrair dos dilemas que me assombram — embora tenha total ciência de que, ora ou outra, terei de confronta-los por fim. Todos os dias, poucos antes da luz solar emergir em conjunto com o astro e colorir o céu num tom arroxeado, levanto-me de minha cama, desperto pela própria manifestação da luz e então coloco-me a aprumar. Tiro os lençóis usados e coloco num cesto fundo, juntando-o com outras vestes e roupas de cama usadas. Abro as persianas, espaçando ambos os braços que impedem a luminosidade exterior durante o período noturno, deixando que, por fim, o cômodo seja inundado com o brilho morno da manhã. Recolho algumas vestes atiradas por sobre móveis e pelo chão, colocando-as também no cesto. Em algum momento da tarde uma senhora simpática sempre vem em busca de meu cesto, para leva-lo a uma lavanderia e me devolver no dia seguinte, quando também recolherá o próximo cesto. Avanço então pelo corredor e minha breve caminhada culmina no amplo espaço onde se dá a cozinha, os utensílios necessários à feitura do café já preparados desde a noite anterior, as frutas na fruteira em meu aguardo. Tomo um café matinal rápido; uma xícara de café e algumas mordidas na maçã mais avermelhada e então estou totalmente pronto para imergir na paisagem urbana, o vento morno tornando-se ainda mais morno e ainda um pouco carregado. As calçadas hoje não tão apinhadas de transeuntes como costumeiramente, luziam debaixo dos raios ultravioleta; a única situação onde ganhava vida.

Abrindo caminho através da turba, empurrando quando necessário, galguei pela via principal da Folha com a serenidade de quem sabia o que estava fazendo e para onde ia. Contornei uma esquina e me virei à esquerda, preenchendo meu horizonte com a visão dos portões colossais que separavam o interior do exterior da vila. Passos, adjacentes aos meus, ecoavam e bradavam contra o solo, cada qual com sua direção particular; alcançando o arco, impulsionei-me para o alto, pousando sobre a espessura de um dos portões, saltando em seguida para o topo da muralha. Pronto. Podia agora fechar meus olhos e expandir minha aura para alcançar toda criatura viva ao meu redor: uma dupla de pássaros desgarrados do bando, lutando agora para voltar à migração; um comerciante trazendo seus tecidos para vende-los na região comercial da vila; um Jonin voltando de alguma ronda externa ou missão fora da vila. Tantas pessoas, tantos animais e cada um deles parecia seguir sua sina sem medo das consequências, coisa que a mim sempre fora uma desafio. Quem sabe o problema fossem meus ideias, radicais demais para se encaixarem no quebra-cabeça de alguém senão eu. Acho que todos os outros não partilham das memórias de horror e tirania, dos dias a fio em que apenas observei sem fazer nada enquanto planos contra civis eram traçados logo adiante de mim, em minha própria casa. No fim, eu era como todos eles, mais um negligente e havia momentos, muitos momentos, em que desejava parar de lutar e simplesmente abraçar esse sentimento, não mais reprimir tudo de negativo que havia em mim. Ainda naquele processo, que para mim era o mais próximo de meditação, segui sensitivo as criaturas vivas que adentravam o perímetro de minha técnica, cada passo, cada contração facial; todo movimento me era captado e transmitido e eu conseguia sentir, de certo modo, alguma empatia por aquelas almas simplistas e despreocupadas; como seria ser assim tão alheio a tudo?

Não poderia mais me permitir viver no antro da hipocrisia, cercado de anciãos que somente perpetuavam o ciclo de soberania e imposição da grande nação que era Konohagakure. Abri os olhos e desativei o abraço de minha aura nos entornos, saltei. Mas aterrissei agora do lado oposto do vilarejo, em seu exterior e próximo à densa floresta que cercava. Adentrei a mata e esperei que alma alguma fosse me procurar.

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Considerações:

Arsenal:

morri e comi o cu de quem ta lendo

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