Arthuria acordou de súbito, assustada com o que presenciara em seus sonhos. Mais uma vez, pesadelos haviam ultrajado seu repouso, assediando a moça com os mais horripilantes cenários. A desolação agora havia caído não somente em Kumo, mas também havia atingido outros vilarejos, bem como Konoha e Iwa. As tropas do exército de Jashin avançavam desenfreadamente pelos países, saqueando aldeias, matando camponeses e propagando o caos. E não tinha ninguém para detê-los. A Pendragon buscou na escuridão algum tipo de resposta para este pesadelo infeliz, mirando seu olhar na parede obscurecida pela sombra notívaga. A madrugada estava quieta, como de praxe, apenas era possível ouvir os grunhidos das corujas e o cricrilar dos grilos. Após alguns minutos, a jovem ficou ciente que não conseguiria dormir novamente; ainda estava atônita com os devaneios vivenciados. Não obstante, levantou-se da cama lentamente, coçando as pálpebras com as costas das mãos para limpar a remela. Consequentemente, calçou seus pés descalços com pantufas e seguiu para o exterior de sua morada – mais precisamente para próxima do pequeno lago.

Em sintonia com a natureza e preservando uma atmosfera bucólica, a kunoichi forçou seus joelhos a sentarem-se na grama macia. Apoiou as mãos por detrás das costas, inclinou o pescoço e começou a observar as constelações estampadas na cúpula sideral, fascinada com a infinidade de pontos luminosos postados na imensidão cósmica. Prosseguiu nessa observação por cerca de meia hora, até que sentiu algo. Inopinadamente, os barulhos da mata haviam cessado. Não se escutava os grilos, as corujas e nem outros animais. Estava um silencio sepulcral, o qual resultava na soberania da aflição e do temor. Já ciente do assombro, a kunoichi levantou-se da grama rapidamente, cerrando os punhos. Atentou-se ao bosque, buscando nas árvores algum sinal de vida. Até que, de repente, assustou-se com a silhueta de uma grande fera. Escondida no meio das árvores, apenas era possível ver seus dois grandes olhos amarelos, apresenta íris em formato de fenda. Mesmo que Arthuria não pudesse ver seu corpo, ainda era capaz de perceber o tamanho da criatura. E era, de fato, enorme. Cerrou ainda mais os punhos, tentando cadenciar a respiração com os batimentos cardíacos, na mesma forma que aprendera na academia ninja, tempos atrás.

—— Revele-se! — exclamou a moça de forma séria, quebrando o silêncio do local.

800/800; 1475/1475; 00/08.

Considerações:

De forma súbita, a sombra gigante começou a se mover. A cada passo executado lentamente, a criatura deixava com que a luz do luar caísse sob seu corpo, destacando-o no meio do ambiente umbroso. De pelagem albina, listras negras, dentes pontiagudos e garras afiadas, lá estava o maior tigre que Arthuria já havia visto – se bem que ela nunca tinha visto um de perto. Para Pendragon, a imagem de um tigre se dava através de alguns poucos livros que ela leu na infância – e nenhum deles dizia que esses felinos eram criaturas de porte colossal, como era aquele que estava poucos metros à sua frente. Com a intenção de mostrar que não estava desprotegida, a kunoichi colocou os punhos ante a seu busto, armando uma posição de defesa típica para usuários de taijutsu. —— Não chegue mais perto. Desapareça. — falou, soturna, com os olhos acompanhando os grandes círculos amarelos do gato branco. Conscientemente, a kunoichi traçava uma estratégia para combater aquela besta, pensando também em como faria isso sem que destruísse parte de sua casa. Contudo, a mesma foi desconcentrada por algo inesperado. Uma resposta.

—— Acalme-se, criança. Vim em busca de sua ajuda. — disse o tigre, movimentando a língua e emitindo suas palavras de forma perfeita, como um humano. Estupefata, a loira abriu sua boca, tentando achar alguma forma de explicar tal singularidade. —— Meu nome é Tadashi, e sua fama me trouxe até aqui, Arthuria Pendragon. O que me diz? — continuou o tigre, estacionando os passos quando se postou à cinco metros da jovem. —— Como você pode falar? — foi a primeira pergunta que a moça fez ao animal. —— Isso não importa agora. Preciso de sua ajuda para combater os ideais de Raijin, o líder do meu clã. Nós, os Hoshizora no Tora, somos um clã muito antigo de tigres, unidos pela proteção da destruição humana. Contudo, no último ano, fanáticos vêm matando nossos irmãos, ao passo que destroem nossas florestas e usam disso para construir armas e reproduzir a desordem. Raijin e sua guerrilha teme que a desolação alcance, de fato, Shizukesa no Yama, nossa casa, e por isso, prepara uma ofensiva contra toda a humanidade, oferecendo massacres à vilarejos vizinhos, como Yumegakure e Getsugakure. — o tigre fez uma pausa, fixando seus grandes olhos nos da Pendragon. —— Somente uma heroína como você pode proteger os humanos da fúria do Rei da Montanha. Você é a última esperança de seu próprio povo.

Arthuria trincou os dentes, modulando uma resposta. Na mente, um turbilhão de nomes e expressões confundia-a, mas ela já sabia o que fazer em tal ocasião.

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Considerações:

—— Eu irei ajudá-lo, grande Tadashi. — disse, se aproximando do felino. Percebeu então que sua pelagem apresentava algumas falhas, e sua derme tinha uma espessura precária, típica de animais que já estão na sua última fase da vida. Neste ínterim, Arthuria precisou levantar o queixo para que pudesse olhar para o semblante do tigre. —— Entretanto, tem uma coisa que não entendi, Tadashi-san. Se você é um Hoshizora no Tora, logo também abomina o contato humano. Então, o que está fazendo aqui, pedindo minha ajuda? — a moça perguntou, se conformando com a presença do animal e cruzando os braços em sinal de concílio. —— Eu sou diferente. Ao contrário dos outros, eu me desloquei até Shizukesa no Yama têm poucas décadas. Antes disso, eu vivia em conjunto com os humanos, em Ame, observando seus costumes e aprendendo. Com isso, fui capaz de notar que nem todos os homens são ruins, e nem toda cultura mundana é inútil. — enquanto falava, era perceptível um sentimento de nostalgia nas palavras do tigre. —— Bom, já que está à par da história, arrume-se. Troque suas vestes noturnas, pegue sua melhor arma, e volte até aqui.

Rapidamente, Arthuria voltou até seu quarto e trajou-se com suas vestes de batalha. Primeiramente, colocou o vestido azulado, e em seguida acoplou a armadura argêntea, protegendo o tronco e o peitoral. Arrumou as manoplas, calçou as escarpes e, finalmente, apanhou as espadas gêmeas posicionadas na cabeceira, deixando-as em lados opostos de sua cintura. Logo após, trancou sua morada, escondeu a chave no seu lugar de costume, e voltou para o jardim, vendo que Tadashi ainda a esperava. —— Estou pronta, vamos. É muito longe? — perguntou, preocupada com a distância até o lugar lendário dito pelo felino. —— Não muito. Será mais rápido se vir junto comigo. — respondeu o tigre, curvando-se para a princesa. Tímida, a kunoichi segurou no pescoço do animal e deu um impulso para chegar em suas costas, sentindo em seguida o calor do corpo do gigante. —— Muito bem, então vamos. — disse Tadashi, forçando um salto pelos muros da casa e desaparecendo entre um amontoado de árvores.

De longe, Arthuria via Kumogakure se distanciando, ao mesmo tempo que o astro solar começava a nascer e abençoar a vida de cada cidadão da Nuvem Oculta.

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Considerações:

Saíram do vilarejo em poucos minutos. Tadashi corria desenfreado pelo relevo do País do Relâmpago, desviando de rochas e contornando obstáculos montanhosos. Apesar de idoso, o tigre usufruía de um fôlego absurdo, contudo, era nítido que o mesmo não apresentava tanta velocidade. Suas passadas eram lentas e pesadas, corroborando com o tamanho do animal. Por muito tempo, Arthuria se sentiu com tédio nas costas do tigre, e visto isso, se deu-se ao luxo de encostar a cabeça no corpo do animal e, de bruços, cochilar. Contudo, sempre que Tadashi saltava por alguma protuberância do solo, a kunoichi era obrigada a despertar e segurar firme no pescoço da montaria, tomando o cuidado para não cair. —— Tenha cuidado, criança. — dizia o velho sempre que isso acontecia.

Depois de um tempo, a kunoichi voltou a se atentar no ambiente. Reviveu então o bucolismo presente nos seus pensamentos, vislumbrando os cenários belíssimos que o País do Relâmpago possui. Enquanto corriam por Kaminari no Kuni, ambos – princesa e tigre – admiravam a coexistência perfeita de fauna e flora. Tiveram o privilégio de ver pássaros se acoplando nas árvores, insetos incorporados nas flores e até mesmo um cervo se alimentando de folhas verdes. Para os dois era uma harmonia muito bela. Contudo, tal harmonia foi quebrada por uma visão desagradável.

—— Olhe! — disse Arthuria, apontando para um vilarejo destruído, com fogo saltando do teto das casas de madeira. Como uma flecha, Tadashi mudou seu curso, traspassando rapidamente em direção à civilização, com intenção de ajudar quem ali estivesse.

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Considerações:

Quando finalmente alcançaram o aldeado, Arthuria precisou conter as lágrimas. Saltou do tigre de forma descuidada, chegando à tropeçar em algumas pedras – mas sem se importar com tal infortúnio. Estava atenta apenas no que via, uma apresentação de horrores que, até agora, ela acreditava que nunca haveria de vivenciar. Na sua frente estavam corpos humanos acometidos às mais variadas atrocidades – carbonizados, decapitados e até mesmo violados. Sangue jorrado no chão, e membros largados, sujos, imundos. Além de tudo, distribuíam-se armas pelo local, espadas, escudos e até facas de cozinha. Pelo visto, eles tentaram defender suas esposas e filhos, mas não obtiveram êxito nesta missão. —— É uma pena. — balbuciou Tadashi, atônito com o ambiente. A fumaça caía sobre os corpos da princesa e do tigre, submetendo-os à um calor excruciante. A loira foi obrigada a tossir várias vezes, afinal, se encontrava inalando demasiado daquela toxina presente no ar.

—— Isso é culpa minha. — Arthuria admitiu, levando a mão no rosto. —— Tudo isso é culpa minha. — continuou, lembrando do momento que tivera após a batalha contra Yama, o líder jashinista, que prosseguiu com a dispersão de inúmeros religiosos. Como uma escolhida por Hikari Opus, um Herói do Tempo, a Pendragon sentia que era seu dever conter as ofensivas desta casta maligna, a qual vêm açoitando o mundo com seus ataques. Opus havia lhe confiado sua marca. Agora, a ninja deveria efetivar a causa do mesmo. —— Não compadeça, você não poderia ter feito nada. Ninguém poderia ter feito nada. — falou o tigre branco, retornando até à entrada do vilarejo. —— Vamos, falta pouco para chegarmos até a Montanha da Tranquilidade. Suba. — pediu, curvando-se. Logo, Arthuria o fez, e partiram dali com remorso. Enquanto corriam em direção ao local sagrado, a Pendragon insistia em manter seus olhares nas piras de fogo que queimavam o vilarejo.

800/800; 1475/1475; 00/08.

Considerações:

—— Estamos chegando. — disse o velho tigre, acelerando sua corrida e gastando ainda mais do seu fôlego. Arthuria rapidamente despertou sua consciência, prestando atenção em tudo à sua volta. Contudo, tudo o que via eram cadeias montanhosas vazias, com alguns animais descansando perto das árvores. —— Eu não veja nada, Tadashi-san. Aonde? — retrucou a moça, levantando a cabeça. Ela estava esperando que Shizukesa no Yama, a dita Montanha da Tranquilidade, era um local com natureza exuberante, vívida, e que abrigava uma infinidade de tigres. Momentos atrás, antes do encontro com a aldeia em chamas, Tadashi havia explicado que a Montanha foi o lugar sagrado que abrigou grande parte dos tigres do mundo, os quais fugiam das atrocidades mundanas. Dessa forma, foi alertado à moça que tais felinos nutrem um ódio intenso para com a humanidade – e não teriam pena em ocasionar uma chacina contra várias aldeias. —— Você verá agora. — respondeu o albino, transpassando uma barreira de chakra.

A atmosfera rapidamente se alterou, avassalando os corpos da princesa e do tigre com uma torrente de energia natural – um tipo de chakra desconhecido para a kunoichi. De longe, os olhos da moça foram capazes de vislumbrar um cenário excêntrico. Uma montanha enorme, que crescia de forma vagarosa – como uma ladeira – e vários rochedos ritualísticos distribuídos nas laterais. Os rochedos, pintados com urucum, exibiam a sola das patas de tigres de diferentes tamanhos. De início, a fauna não era muito bela; mas Arthuria conseguia ver que existia um pequeno bosque no topo da montanha, onde provavelmente se encontrava o trono do líder dos tigres, Raijin. Não obstante, um riacho se encontrava próximo à dupla, e era nítido que sua nascente estava no topo da montanha. Por fim, a Pendragon conseguia sentir que aquele lugar era diferente – por mais que fosse difícil de explicar. Talvez fosse pela sua atmosfera tranquila, remansada; validando a denominação da ambientação – Montanha da Tranquilidade.

— Isso é incrível! — exclamou Arthuria, com os olhos arregalados. Tadashi forçou sua boca em um sorriso sincero, afinal, já esperava essa reação da moça. —— O que vimos antes foi uma ilusão dos Três Irmãos, Hiroshi, Hikaru e Hibiki. Eles são os conselheiros do rei Raijin, e protegem a entrada do monte com suas artes no Genjutsu. — disse, continuando a corrida até o topo da montanha. Contudo, as passadas de Tadashi foram pausadas pelo aparecimento de um segundo tigre – ou melhor, de outros três tigres. Arthuria abriu a boca, consternada com o que via. —— E por falar neles. — as garras de Tadashi se afiaram automaticamente, e o velho tigre precisou esticar o pescoço para olhar nos olhos das monstruosidades. Ali estavam os Três Irmãos: Hiroshi, Hikaru e Hibiki.

800/800; 1475/1475; 00/08.

Considerações:

—— Tadashi, qual o motivo para este ultraje? — disse a cabeça central do Cérbero, enquanto as outras mostravam os dentes e rosnavam para a dupla. Arthuria não havia prestado atenção na pergunta, estava preocupada com a fisionomia daquele animal. Grande – maior que Tadashi – de pelagem marrom e listras totalmente negras. Seis olhos, dois para cada cabeça, e exibia dentes e garras afiadíssimas. Pela textura do pelo e da pele, era notável que era um – ou três – tigre maduro, no auge do vigor. Tadashi não teria chance em um confronto. —— Eu violei as leis do nosso povo para que o líder reconheça que o extermínio não é o melhor caminho. Não devemos submeter nosso clã à uma guerra irracional! — exclamou Tadashi, arregalando seus grandes olhos amarelos. Os Três Irmãos continuaram a exibir suas presas e unhas, não desfazendo a posição de combate. —— Como conselheiro de nosso rei, eu reconheço que esta não seja a nossa melhor opção. Passamos por tempos difíceis, mas isto não significa que deixarei vocês subirem. Entregue-me a humana, irei matá-la rapidamente. Ela não vai sentir. — respondeu a mesma cabeça do monstro, começando a caminhar lentamente em direção à dupla.

—— Corra, Arthuria. Confie em mim. — murmurou o idoso, onde apenas ele e a loira foram capazes de escutar. Prontamente, a kunoichi desmontou do pescoço do animal e caiu no solo pedregoso. Com sua velocidade máxima, começou a correr para longe do confronto que começava a se formar. De um lado, um tigre de dois metros, mas idoso e fadigado por ter atravessado grandes distâncias com uma humana nas costas. Do outro, um monstro, uma bizarrice de três cabeças com o fragor de assassinar qualquer um que violasse as diretrizes impostas aos tigres. Arthuria temeu que fosse o fim de Tadashi, mas foi capaz de confiar no mesmo. Havia construído um laço de amizade com o velho albino, e acreditava que o mesmo fosse capaz de sair dessa. De costas, sem olhar para o combate, a moça ouviu os rugidos e rosnados dos tigres, os quais se digladiavam em um duelo sangrento. Logo, a mesma começava a galgar a montanha, indo em direção ao topo.

No percurso, foi capaz de ver uma infinidade de tigres, dos mais variados tamanhos. Para o alívio da jovem, ainda existiam tigres normais. A grande maioria se assustou com a presença da humana, contudo, alguns foram capazes de rosnar e emitir algumas palavras singelas – demonstrando que nem todos detinham racionalidade plena. —— Saia daqui! — disse uma tigresa albina, com dificuldade para emitir os fonemas. —— Nós iremos te matar! — disse outro, um tigre maior ainda, provavelmente um guerreiro, também com dificuldade. Por sorte, nenhum deles foi capaz de acompanhar a velocidade absurda da Pendragon, que alcançou o topo do monte sagrado em cerca de meia hora.

800/800; 1475/1475; 01/08.

Considerações:

Alcançando o topo, Arthuria percebeu a grandiosidade da Montanha da Tranquilidade. Seus olhos depararam-se com um ecossistema único, com plantas e flores vultosas, as quais proporcionavam uma tonalidade vívida ao ambiente. De fato, era um arco-íris de cores. O relevo era plano, ao contrário do restante da montanha, e uma grande nascente irrigava a flora local. No cerne do bosque estava uma grande clareira, um espaço vazio onde se encontravam muitos tigres – todos normais, sem nenhuma peculiaridade. Estes faziam parte, provavelmente, da corte de Raijin, o Rei da Montanha. Rapidamente, Arthuria perpassou os aglomerados de árvores e folhas, mostrando-se presente para todos os animais que estavam ali. De forma quase que instantânea, uma imensidão de felinos atentou-se na Pendragon, fitando-a com ódio. Em seguida, rosnados e rugidos foram direcionados à loira, que não se preocupou. Até que ela escutou algo. —— O que essa criatura faz aqui, no meu reino? — uma voz grossa ecoou do fundo do bosque, e uma silhueta gigante apareceu diante da moça. Aos poucos, uma pelagem azulada tomava forma, ao passo que as passadas do titã faziam o solo tremer. Arthuria engoliu seco, e logo viu a face da besta. Certamente, aquele era Raijin, o Yama no Ō.

Sua pelagem era azulada, cintilante, tal como chispas elétricas, e seu tamanho era ainda maior que dos outros tigres que já viu, inclusive Tadashi e os Três Irmãos. De fato, este era um gigante, um colosso. De sua mandíbula escapavam dois grandes caninos afiados, os quais garantiam ainda mais ferocidade ao monstro. Seu olhar, apesar de odioso, mostrava serenidade e inteligência. Era um líder, sem dúvidas. Como se não fosse o bastante, surgiram outros quatro tigres, sendo dois deles comparáveis com a altura da besta azul. Seguindo os relatos propostos por Tadashi, aqueles eram Suijin e Kuro, respectivamente cônjuge e prole de Raijin. Além de altos como o líder, ambos também detinham uma pelagem diferenciada, o que certamente dava-os um grau de imponência em relação aos demais felinos. Não obstante, surgiu pelas laterais duas tigresas de porte comum, ambas com os pelos alaranjados e listras negras. Contudo, era nítido que existia uma confiança do líder para com elas, constatando que as mesmas, provavelmente, eram guerreiras. Tal afirmação se comprovava ainda mais quando Arthuria percebeu que uma das tigresas carregava algo em sua boca – uma espada.

—— Unmei, Kagutsuchi! Acabem com este lixo que deprava nossa terra! — gritou o líder, ordenando às suas guerreiras. De forma sincrônica, a lâmina localizada na boca da tigresa da esquerda foi ateada com uma energia eólica, certamente provindo de Fūton; enquanto isso, bolas de fogo se amontoavam ao redor da outra felina, sendo controladas mentalmente pela mesma. Arthuria inspirou e suspirou fundo, aguardando o ataque de suas adversárias. E, quando veio, a ninja colocou em prática a sua principal perícia: a velocidade. Fazendo um selo simples com as mãos, a kunoichi elevou suas capacidades de corrida e se esquivou, eximiamente, da lâmina de vento e das três bolas de Katon, utilizando de um simples giro de corpo. Como se não fosse o bastante, neste ínterim, Arthuria aproveitou do embalo para ultrapassar as guerreiras e ficar à poucos metros de Raijin, erguendo sua cabeça com o intuito de encará-lo nos olhos. Davi e Golias. —— Espere. Vamos conversar. — a loira solicitou, fitando o rei dos tigres de forma severa.

800/800; 1425/1475; 02/08.

Considerações:

Raijin mirou seus olhos furiosos nos da Pendragon, deixando a atmosfera do ambiente ainda mais tensa. —— Pois bem, então discurse. Ouvirei seu alento, infanta. — disse o azul, deixando que as pernas traseiras fossem ao chão, como se estivesse sentando na grama da clareira. —— Me chamo Arthuria Pendragon, e cheguei até aqui graças aos esforços de Tadashi, membro de seu clã. — iniciou a moça, acalmando seus ânimos e usando de sua inteligência para criar uma palestra que favorecesse o seu lado – o lado da humanidade. —— Entendo sua raiva, Raijin-sama, afinal, a vida e o lar de muitos tigres foram ceifados por causa das atrocidades humanas, a minha raça. — compadeceu, baixando a cabeça. —— Contudo, não podemos trivializar tais crueldades, as quais foram cometidas por um grupo pequeno de minha espécie. De forma estrita, os servos do deus do mal, Jashin. Motivados a seguir uma deidade maligna, uma infinidade de pessoas vem propagando o caos por nosso mundo, destruindo não somente a sua morada, mas também a minha. Eles são os principais inimigos do mundo, os jashinistas; e eu, como herdeira de Hikari Opus, reconheço meu dever como protetora do mundo, o que me garante a responsabilidade de exterminar estes infelizes que vêm ultrajando nosso mundo. — terminou, com os punhos cerrados.

Raijin e sua corte ficaram em silêncio, processando aquilo que a jovem havia dito. Logo, após um bom período de calmaria, o líder azulado proferiu seus vocábulos. —— Escolheu bem as palavras, pequena. Esse nome, Hikari Opus, me é familiar. Ademais, você se denomina uma assassina de humanos? Uma assassina de fanáticos? Muito bem, talvez você tenha alguma utilidade para nós. Admiro suas palavras, mas você precisa asseverar tal acordo. Dê a sua palavra. — afirmou o titã, aproximando seu rosto do da garota. —— Pois bem, eu prometo que cumprirei o meu acordo, custe o que custar. — disse, colocando a mão direita no peitoral da armadura e fazendo uma leve reverência. —— Aqui, em Shizukesa no Yama, nossos acordos são feitos de outra forma. — falou o animal, ainda próximo da Pendragon. Instantaneamente, surgiu da floresta um velho tigre, carregando em suas costas um pergaminho antigo. Estava virgem, sem nenhuma inscrição. —— Assine seu nome e coloque suas impressões, criança. Use seu sangue, e depois realize os movimentos javali, cão, pássaro, macaco e carneiro, nesta ordem.

A moça fez o que foi dito. Cortou o polegar com a ponta do dente e, com o sangue, assinou seu nome no pergaminho, usando kanjis para efetivar tal ato. Em seguida, deixou suas impressões digitais e, por fim, realizou os selos propostos por Raijin, gastando um pouco de seu chakra para que isso ocorresse. De forma subsequente, o pergaminho desapareceu em um estalo energético, ficando junto ao corpo do velho tigre que o havia entregue. —— Está feito. Agora, Arthuria Pendragon, detém o nosso contrato de sangue, sendo capaz de invocar nosso clã para lutar pela sua causa. — bradou o colosso, rugindo em seguida. Arthuria achou que nenhum dos tigres fosse acompanhar as ordens do rei, contudo, todos rugiram em uníssono. Decerto que todos estavam felizes em ajudar a Pendragon na conclusão de seus ideais.

800/800; 1400/1475; 03/08.

Considerações:

Após as palavras de Raijin, todos os tigres entraram em um clima festivo, proposto ao bando pelo Príncipe da Montanha, o tigre negro Kuro. Alguns felinos trouxeram até a corte uma abundância de comidas – eu suma, carnes de animais herbívoros, como cervos e veados. Arthuria preferiu não matar sua fome com tais iguarias – se contentaria com as maçãs deixadas na algibeira de sua armadura. Assim, junto à Raijin, Suijin e Kuro, a moça permaneceu, ouvindo histórias e contando depoimentos de missões que participara. Ouviu sobre a arte do senjutsu e sobre a cultura dos tigres, e contou sobre a empreitada na Cordilheira dos Deuses e sobre seu encontro com Yama; missões que lhe renderam uma grande evolução. Logo escurecera, e Arthuria se tocou que foi um longo dia – e por sinal, fora muito bem aproveitado.

De repente, ainda na festa, chegavam na montanha dois grandes tigres. Um deles tinha três cabeças, e o outro tinha uma pelagem branca com listras negras. Era Tadashi e os Três Irmãos, Hiroshi, Hikaru e Hibiki. Todos estavam machucados, com cortes profundos nas laterais dos corpos – contudo, era nítido que o mais velho havia levado a pior. —— O que aconteceu com vocês? — perguntou Raijin, preocupado, mas furioso. Os tigres entrelaçaram os olhares, e foi a vez de uma das cabeças, com voz mais aguda, falar. —— Tivemos um desentendimento Raijin-sama, nada de mais. — sangue escorria das feridas de ambos os felinos. —— Pois bem, minha esposa irá cuidar de seus ferimentos. Suijin. — chamou a tigresa de pelagem púrpura, que em pouco tempo, fez com que as feridas de ambos os animais se curassem graças à sua aptidão com o Iryō Ninjutsu. Enquanto tinha sua saúde restaurada, Tadashi olhava para Arthuria e mexia sua boca, fazendo um singelo “conseguimos”.

Na manhã seguinte, Arthuria despediu-se dos tigres e agradeceu a hospedagem. À mando de Raijin, Tadashi foi obrigado a levar Arthuria de volta para sua casa, da mesma forma que a trouxera. Não obstante, a Pendragon montou nas costas do gato branco e, de súbito, viajaram de volta até Kumogakure. —— Obrigado, Arthuria-sama. — disse Tadashi, já ciente que agora ele era considerado um servo da Pendragon, graças ao contrato executado entre ela e os Hoshizora no Tora. —— Eu que agradeço, Tadashi-san. — respondeu, acariciando o pelo do felino.

800/800; 1400/1475; 02/08.

Considerações: