É inverno, a neve caindo lentamente e cobrindo todo o cenário com um manto branco é particularmente revigorante para Heshikiri, pois aflora as poucas lembranças que possui dos bons momentos em sua velha pátria. No topo de um pico observa aquele céu cinza e fechado, se distraindo ainda mais com os pequenos flocos prateados leves como plumas planarem até o chão, era algo verdadeiramente prazeroso e relaxando, nesse momento o ócio é um doce deleite escarço em sua vida. O tempo passava rápido o suficiente para ele nem perceber isso, é quando escuta um barulho enorme, a neve que estava cobrindo os morros e picos aos seu redor incluindo onde ele estava começam a desmoronar, uma vasta avalanche se forma dizimando a vegetação congelada e adormecida que restou. O solo sob seus pés começa a se mover e iniciar uma queda livre, seu corpo vai adentrando naquela grossa camada de neve quase como se fosse areia movediça, seu corpo é soterrado e os próximos minutos quase tudo que pode ser visto é uma massiva quantidade de neve indo em direção ao solo. Lentamente a avalanche vai parando, o barulho vai diminuindo até que apenas o som do vento possa ser ouvido e um rastro de destruição seja observado.

Todo o cenário está tranquilo, parecendo uma natureza fria intocável. Todos os picos e montes começam a ganhar seus mantos brancos, o céu está tão fechado que fica até difícil distinguir em qual parte do dia é, uma nevasca forte e incomum. Porém um observador aéreo poderia ver lá na base de um dos picos algo se movendo, deslizava por cima do gelo subindo e voltando, cada vez mais alto. Olhando mais de parto poderia enxergar um homem adulto vestindo um manto com chapéu de palha largo e escuro, seu rosto não dava para ser visto, contudo parecia algum tipo de monge. O mesmo tocava a superfície de neve que se transformava em uma fina camada de gelo, agachado começava a se mover por essa superfície subindo o pico, até que a camada criada por ele vai ficando cada vez mais fina e se quebra enquanto ele desliza de volta para a base e a sua manipulação retorna ao estado inicial.

Do meio da devastação causada pela avalanche surge uma inquietação, duas toras de arvores se expõem em meio a neve e por baixo delas está Heshikiri, sua respiração pesada fazia o ar que saia de sua boca condensar e ganhar aparência de fumaça, olhando ao redor busca saber o que causou aquele barulho todo quando percebe aquela figura lá em baixo, subindo e descendo, vai então de encontro a ele.

Pulando de destroço em destroço Heshikiri conseguiu chegar onde aquela pessoa estava, quando se aproximou que pode notar o homem, suas vestes não pareciam aquecer muito seu corpo e seu chapéu escondia uma cabeça careca e sem pelo algum. Um pouco confuso com o que ele fazia o jovem chunin então pergunta: — Licença, mas sabe o que ocasionou esse barulho todo? — Nesse instante o homem se preparava para iniciar mais uma sequência de subidas e descidas quando é interrompido, tirando o chapéu olha para aquela pequena pessoa encapuzada dizendo: — Desculpa, lhe causei algum dano? Estava treinando e devido está falhando tanto acabei descontando minha frustração em algumas rochas, acabei derrubando umas que derrubou outras e quando vi já estava tudo desabando. — Essa resposta só deixava o Samurai mais curioso, aquela pessoa não aparentava em nada ser um ninja, além de como conseguiu não ser soterrado por aquela tamanha quantidade de neve. Extremamente interessado em quem aquele homem era ele então fala: — Onde estão os meus modos? Me chamo Heshikiri, Kamishiro Heshikiri. E você meu caro, como se chama? — Um pouco envergonhado com a falta de etiqueta, assume que o jovem que está falando seja algum tipo de nobre, tentando ser solene ele responde: — Me chamo Hugo, mas não tenho segundo nome. Sou apenas um monge Senhor. — Heshikiri então baixa o capuz e mostra suas feições, com uma expressão amigável olha dentro dos olhos de Hugo e ergue sua mão, o monge faz o mesmo e então, um aperto de mãos.

Ainda intrigado com o que Hugo estava fazendo o garoto pergunta: — Então Hugo, posso saber o que estava fazendo, quem sabe posso pode lhe prover assistência. — Olhando para o topo do pico, com uma expressão seria diz: — Preciso chegar ali sem me mover, fui agraciado com um dom divido de baixar temperaturas, aprendi a controlar mais ou menos lendo uma escrita antiga que falava sobre o Ninshū, mesmo com informações escassas. Porém sempre que tento produzir algo acabo me esgotando — O monge agora detinha toda a atenção de Heshikiri, era incrível como existe várias formas possíveis de se aprender a mesma coisa, observando o trajeto que Hugo tentava fazer, o shinobi então começa a pensar em como poderia ajuda-lo.

Combinaram de se encontrar naquele mesmo lugar no dia seguinte, talvez a nevasca não esteja nessa intensidade, mas isso não seria necessário pois ele já tinha a ideia perfeita para ajudar Hugo. Não retorna para case e sim vai a biblioteca, lá reúne uma coletânea de livros, encontrando alguns genins cuidando da limpeza e achando de certa forma cômico o fato de irem mais pessoas no local para limpar do que para utilizar o enorme acervo de conhecimento, ele mesmo por exemplo é apenas a segunda vez que visita o local. Os livros eram sobre conhecimentos básicos, notou que o monge possui um incrível talento para o ninjutsu possuindo apenas uma barreira, seu controle de chakra.

Passou a noite estudando aqueles livros, mesmo que detivesse o conhecimento é totalmente diferente repassar de uma forma clara e compreensível, devia então entender o funcionamento do chakra e a ligação com o corpo do usuário em seu âmago. Pensando em exercícios que o ajudassem a melhorar esse controle, observando através da janela de seu quarto viu a neve caindo, logo de cara teve uma ideia, em seguida foi descasar algumas horas antes de se encontrar com Hugo novamente. Ao acordar rapidamente se vestiu e partiu em direção aos picos onde encontrou com o monge, diante de toda aquela camada branca cobrindo a superfície foi fácil acha-lo com aquelas vestes negras e chapéu, se aproximando ele começa: — Boa... — Olha para cima. — Tarde eu acho, me conta como você treinou para dominar o que sabe hoje. — Já prevendo essa pergunta Hugo responde: — Como falei antes, não havia muitas informações nos pergaminhos que li, sendo que realmente só me interessei quando o templo onde morava foi visitado por um Monge que detinha conhecimentos sobre ninjutsu, sua estadia foi muito curta e não tive tempo de falar com ele, daí só aprendi os conceitos da energia de corpo e mente se unindo e sendo moldado para realizar coisas incríveis. — Com uma pequena pausa olha ao redor contemplando os montes congelados. — Não sabia como aprender e tentei achar alguma vila ninja, mas a aldeia do meu país é muito remota e não consegui encontrá-la... Como no meu templo apenas treinamos artes marciais tentei aplicar o chakra nos meus golpes, por isso tentava concentrar principalmente nos meus punhos, acabei sem querer congelando uma xícara de chá. Mas sempre me desgasto rapidamente quando tempo aplicar isso com frequência. — Com uma aspiração pesada olha para baixo com uma expressão de frustração.

Já Heshikiri com um semblante confiante lhe diz: — Não se preocupe caro monge, costumo me achar mais como um Samurai, mas tenho que admitir que também sou shinobi, algo que o meu país de origem costuma separar bem. O seu problema pode ser dois, você não controla muito bem o seu fluxo de chakra e acaba gastando bem mais que o necessário ou suas reservas são bem limitas, para o seu bem espero que seja a primeira opção. Mas tenho em mente algo que possa lhe ajudar, abra bem a palma da sua mão dominante e espera alguns flocos de neve esparramar sobre ela, como você mesmo disse sua particularidade é o gelo, então tente mudar sua forma nem que seja um pouco. Deixa-me lhe mostrar algo semelhante, no meu caso como é o vento vou tentar dividir. — A palma de sua mão aberta acumula uma boa quantidade de neve, se concentrando um pouco a água solida em sua mão é arremessada de volta para cima e voando em direção ao rosto de Hugo que olhava de perto, uma pequena gargalhada pode ser ouvida junto a ventania, serrando um pouco os olhos Hugo olha desconfiado para Heshikiri e então repete o mesmo, mas nada acontece. O homem é muito insistente e o garoto paciente, horas se passam naquele frio até que o monge consiga moldar a forma de um dos floco, fazendo com que a pontas se alarga e afiassem como uma mini shuriken, com um brilho no olhar ele grita: — CON-SE- — Uma das mãos do Samurai tapam a boca do Monge, um psiu é ouvido. — Desculpas, não tinha lembrado. —

Retornaram então a treinar por alguns dias, com Hugo cada vez moldando uma quantidade maior de gelo e neve, Heshikiri enquanto o ensinava ia treinando junto, tornando uma ação em conjunto. Conforme progrediam passavam a exigir menos concentração em realizar seus atos, Heshikiri utilizava seu chakra para utilizar jutsus já conhecidos como o Fūton: Daitoppa a fim de em direção contraria ao vento lançar uma rajada de ar com trajetória bem coordenada e na potencia correta para não causar uma avalanche e mesmo assim reverter nem que por um breve momento a direção das ventanias, se concentrando a cada selo para sentir o seu fluxo de chakra e evitar o consumo exacerbado do mesmo. Os treinos eram intercalados com diálogos entre eles, Hugo contava sobre sua vida como monge e um pouco sobre o seu país de origem o País do Fogo, com estações bem definidas e clima quase sempre prospero, o juramento ao celibato e dieta livre de qualquer origem animal, um homem inconsequente e descontraído, o total oposto do garoto, a única coisa que tinha m comum é a vontade de se desenvolver, algo que fez o monge abandonar até mesmo o templo que tanto gostava de viver. Com uma semana exata de treino, viu o monge conseguir subir quase até o topo do pico, concentrava com mais exatidão a quantidade de chakra aplicada sobre a neve e enrijecia à medida que o impulsionava para cima. Se despediram da mesma forma que se apresentaram, com um aperto de mão, embora que dessa vez tenha sido bem mais longo, com um adeus cada um tomou seu rumo sem saber se reencontrar-se-iam ou não, Hugo iria em busca de novos lugares, dizendo que provavelmente seria o País do Vento, mas antes visitaria o seu templo e Heshikiri ainda ficaria por ali, entretanto o alertando que se demorasse demais em visita-lo provavelmente teria que ir ao País do Ferro.