O clima gélido do inverno tornava tudo mais melancólico, toda e qualquer tarefa, mais simples que fosse, parecia ser tomada de cinza e o tempo corria vagarosamente, em câmera lenta. O vento cortante também não ajudava; as ruas eram tomadas por figuras negras encapuzadas, com medo de ímpetos frios que atingiam todo o corpo sem distinção. Apenas o calor dos vivos seguia ardendo naquela desolada paisagem fria. Mas o vento e o frio eram preocupações pequenas em comparação ao recente dilema do jovem Kaguya; havia aquilo a respeito de seu novo poder, a necessidade de carne humana. Havia provado apenas uma vez e não conseguia tirar de sua boca o gosto rude da carne crua misturado com o sabor ferroso do sangue. Tudo sobre isto lhe era desprezível, mas comida convencional não o descia mais, apenas o café. Por quanto tempo poderia sobreviver apenas com o líquido quente e amargo preenchendo seu estômago?

[...]

Pelo que pudia supor dos atuais sintomas, ainda tinha um bom tempo antes de começar a definhar pela falta de carne humana, poderia utilizar desse tempo para achar outra alternativa. Ser canibal não era uma opção. Com as vestes se batendo violentamente contra o vento da madrugada, moveu-se pelas vias de Konoha, em busca de qualquer estabelecimento de comida que ainda se mantivesse aberto àquela hora; não havia crimes, nem violência em Konohagakure ultimamente, as noites eram apenas frias e solitárias. A luz dos postes de iluminação tremeluzia debilmente diante do véu negro que descia sobre a vila, focando em pequenos pontos abaixo de suas estruturas e deixando grandes lacunas negras no entorno. Mas alguns letreiros iluminavam-se por si só, possuíam iluminação própria em seus painéis, mesmo nos que não eram brilhantes e chamativos. Encontrou um lugar aberto.

Estranhamente, não estava vazio, as mesas, que não somavam mais do que dez, estavam quase todas ocupadas, sobrando apenas duas vazias. Escolheu uma, perto à janela de vidro que se projetava contra a rua e sentou. Apoiou-se em seus cotovelos, lançando o corpo em diagonal e se apoiando também contra a janela. Demorou algum tempo para ser atendido, mas finalmente foi. Apenas um café. Seria o suficiente por ora, ele disse, aquele não parecia um estabelecimento que trabalhasse com carne humana e não se achava com estômago forte o suficiente para comer aquilo novamente, mesmo com temperos e especiarias. Colocou seu dedo na asa da xícara, erguendo-a até a altura de sua boca e bebericando, pouco a pouco, a bebida fervente.

Shizuke: Hp: 600; Ck: 850; Sta: 0/5; Vício: 0/3.

Considerações:

Arsenal:

Sorvera uma xícara de café atrás da outra, atirando o líquido garganta abaixo, queimando a língua vez ou outra quando decidia ser impaciente e abdicar de beber em pequenos goles. Demorou-se nisto, perdendo a noção do tempo que corria ao redor dele, alheio a quem chegava e quem partia, percebendo apenas a brisa gélida que vinha através da porta para penetrar em suas vestes e eriçar os fios de cabelo que percorriam sua espinha. Ainda assim o café fazia bem o trabalho de esquenta-lo; sentia o calor descendo de sua boca até o estômago, mesclando-se com o suco ácido e não mais se fazendo sentir. Cogitava já partir, seguir caminhando pelo cenário desolador das ruas vazias na madrugada, se é que ainda era de madrugada, até encontrar algo mais para fazer; sentia o corpo estranho de tanta ingestão de cafeína, como se seu coração batesse muito mais rápido do que deveria, subitamente invadido por uma ansiedade irracional.

Dessa vez não fora o vento que ousou adentrar a porta do estabelecimento para atingir as vestes do Kaguya e arrepiar-lhe os fios; a Hokage, em pessoa, como pode constatar ao esfregar sucessivamente as mãos nos olhos. Mas o que fazia aquela criança com dez primaveras esta hora da noite? Que seja, não era da conta dele, a patente mais alta do vilarejo podia ir e vir como lhe apetecesse. Cabia à ele apenas recebe-la em sua mesa, junto dele, mas sequer precisou disto; a mesma tomou a liberdade de se sentar.

— Hipátia-sama. — disse, forçando em si o melhor semblante respeitoso que pode — Não, apenas estava por aí, vagando pela noite em busca de algo pra fazer. Encontrei esse lugar aberto e decidi tomar algumas xícaras de café, é a única coisa que me desce ultimamente — aproveitando ter mencionado o líquido, sorveu os últimos goles, esvaziando aquela que pretendia ser a última dose da noite. Limpou a boca com o dorso da mão, posicionando a xícara sobre um pequeno pratinho que veio acompanhando-a.

— Tive outros afazeres, sequer cheguei a iniciar a tarefa que me deu. Perdão, Hipátia-sama, mas não me sinto mais tão leal à vila quanto antes. Apenas a mim mesmo, talvez um pouco a você, mas nada além disso. Tudo que quero agora é ficar forte, qualquer seja o custo, acho que ser um ninja de Konoha ainda me dá alguns privilégios para perseguir isto — empurrando a cadeira para trás, cuidadosamente para não se mover de maneira espalhafatosa e acabar esbarrando em algo, Shizuke levantou-se. — Vamos, Hokage-sama, está muito tarde para você ficar vagando por aí. E deixe o café, não é bom beber isto. — Começou a caminhar em direção à porta, mas reteve-se na metade do caminho. — Ou não. Você é quem decide aqui. O que quer fazer?

Shizuke: Hp: 600; Ck: 850; Sta: 0/5; Vício: 1/3.

Considerações:

Arsenal:

Antes de seguir, uma rápida checada nos bolsos e nos itens que trazia adereçados à cintura; estava tudo em ordem, o que o lembrou de pagar pela conta de seus incontáveis cafés. Mergulhou a mão direita no interior das vestes, apanhando a carteira e retirando um punhado de notas amassadas que julgou ser suficiente para pagar por tudo que consumira e também pelo café de Hipátia. Encarara todas as retorquidas da Nanadaime com um breve olhar curioso, sem nunca responder a nada, apenas acenando positivamente com a cabeça vez ou outra, mas em especial quando o convidara para treinar; lutar, presumia, ainda o faria sentir-se plenamente vivo.

— Aos portões, talvez. É tentador olhar o que há do lado de lá. Vamos — concluiu, partindo em direção ao local mencionado.

Shizuke: Hp: 600; Ck: 850; Sta: 0/5; Vício: 2/3.

Considerações:

Arsenal:

Caminhara quase sem notar a presença da Nanadaime ao seu lado, por um tempo, mesmo consciente de que ela estava ali; a brisa, agora calma e rítmica ao atingir rosto e vestes, trazia um certa paz à suas preocupações. Por alguns segundos breves, que lhe pareceram uma satisfatória eternidade, não era mais um assassino, um soldado leal e ao mesmo tempo um egoísta, um canibal; era apenas Shizuke, a criança com seus quinze anos e algumas espadas presas à cintura. Como e quando o absurdo de transformar crianças em ninjas havia se tornado algo normal? Quando banalizara-se a morte ao ponto de ser algo cotidiano? Não, reteve-se abruptamente dos próprios pensamentos; eram devaneios perigosos estes, sabia bem, estava muito próximo de colapsar e sabe-se lá o que aconteceria então. Finalmente, voltou sua atenção à sua líder, despencando o pescoço desajeitadamente em sua direção.

— Não — respondeu secamente, ignorando o assunto anterior, dos bolinhos. Apalpou gentilmente alguns de seus bolsos, em busca do maço de cigarros; destacou um e colocou entre os lábios, levando o isqueiro até a extremidade e acendendo-o. Mudou de assunto subitamente, em razão de um lampejo de memória. — Me lembro de rumores sobre espadas da Névoa aqui, na Folha. Sendo Hokage você saberia de uma coisa dessas, não? Possuímos algumas de fato ou nunca passou de uma história? Adoraria colocar minhas mãos em uma. — Fantasiando a respeito da possibilidade, manuseou sua Kurosawa contra o ar, executando alguns cortes no vazio antes de guarda-la de volta à bainha.

Shizuke: Hp: 600; Ck: 850; Sta: 0/5; Vício: 3/3.

Considerações:

Arsenal:

Quase emitiu um risinho ao ver o impacto que sua rispidez causara na Nanadaime, alterando no mesmo momento a postura da mesma para algo completamente formal. — Sim, sim. Mas os rumores que ouvi não falavam de apenas uma única espada; aliás, essa aí não me interessa, é aquela grande e desajeitada, não é? — Interrompeu a fala para deleitar-se com sabor rude e agressivo de seu cigarro, já quase no fim, retirando um pouco de fumaça de seus pulmões e em seguida captando-a de volta. — Talvez tenha as escondido para você mesma, Hipátia-sama? — perguntou em tom de troça, sorrindo gentilmente. Notara terem chegado ao quartel general durante a conversa, quiça ela pensasse que Shizuke se contentaria tão pouco.

Shizuke: Hp: 600; Ck: 850; Sta: 0/5; Vício: 0/3.

Considerações:

Arsenal:

A notícia do presentear das espadas da Névoa o desanimou, esperava poder colocar suas mãos em uma delas e pouco lhe interessava aquela que jazia em Konohagakure; era a arma de um executor, não de um espadachim disciplinado na arte como Shizuke. — Presenteou-as, você disse? E porque isso foi necessário? Você estava apenas consertando os erros do Hokage anterior, a incapacidade dele que trouxe a vila ao caos. — O cigarro se apagara, percebeu; descartou-o no solo adiante, expulsando a fumaça remanescente em seu interior. Desapontado com o destino das armas deu um último olhar à sua líder, se lembrando que não passava de uma criança imberbe e que deveria estar lá para aconselha-la em momentos como este. Deveria mesmo? Ela cuidava da vila e do bem estar desta, ou ao menos deveria fazer isto, mas nada disso importava ao jovem Kaguya.

— E não sou, de fato, digno dessa arma. Sou um espadachim e isso não passa de um pedaço de metal desengonçado. Se me permitir, — disse por fim — Nanadaime, irei retornar aos meus deveres e cumprir minhas missões. Já passo da hora de avançar minha patente.

Shizuke: Hp: 600; Ck: 850; Sta: 0/5; Vício: 1/3.

Considerações:

Arsenal:

— Estarei lá, Nanadaime — respondeu de imediato, subitamente entorpecido de estímulos ao escutar que sua líder reconhecia sua força. Fez um breve reverência contra suas cotas, enquanto observava-a se afastar e então seguiu na direção oposto, rumando à sua casa.

Shizuke: Hp: 600; Ck: 850; Sta: 0/5; Vício: 2/3.

Considerações:

Arsenal: