Repousava à encosta de um grande desfiladeiro, escorado nos restos de uma árvore decrépita em que restara somente a porção final do tronco. Trajava-se, como tradicionalmente, com seu sobretudo inteiramente negro. Abaixo dele, as roupas tradicionais de um ninja: colete, calça e sandálias de solas emborrachadas únicas. — ... — manifestaria a fala se não fosse por culpa da sua introspecção. Em determinados momentos, quase todos para Guts, o silêncio era o som de maior aprazibilidade. Nele estavam recheados os pensamentos que iam e voltavam do passado, retornando memórias felizes, tristes e outras sem qualquer emoção presente. Dentre todas, as que mais agradavam eram as dos combates vencidos.

Caiu no sono ao entardecer, aguardando que o tempo passasse e ele pudesse conhecer um novo oponente. Acordou horas mais tarde, despertado por passos audíveis em sua direção. Ergueu-se de súbito, contraindo os músculos e exercitando uma postura defensiva com os braços pouco a frente do corpo. — Guts-kun! — gritou uma menina enquanto corria em sua direção. "Mas quem diabos é ela?" questionou-se curioso. — Sou Mari. A mensageira de Iwagakure. E venho em nome do quartel general entregar-lhe este documento. — avisou com um pergaminho em mãos. Estendeu seus braços e rebaixou o tronco, demonstrando respeito pela hierarquia. O homem sério agarrou o papiro com a destra. — Vá. — ordenou brevemente. Estranhou o comportamento apático e pouco amigável do homem, no entanto resolveu obedecê-lo e deixar o lugar. Tudo o que restara a ele era compreender o conteúdo daquela mensagem.

Guts; 1325/1325 1525/1525 00/06

Considerações:

Usados:

"Você foi convocado a se reunir com o mestre samurai Garyu no norte da vila. Vá até lá imediatamente e se informe acerca dos motivos." informou o papel. Amassou-o e arremessou ele contra o chão que estava a algumas centenas de metros. Partiu, escondendo o rosto dentro da parte superior do sobretudo. Passar desapercebido dos olhares de todos era a maneira comum com a qual se portava. Andou e finalmente alcançou a região em que fora designado a estar. Buscou com os olhos o homem que se dizia ser um grande mestre samurai. Seu campo visual se moveu até se deparar, finalmente, com um homem em uma armadura escarlate. Na cintura, do lado esquerdo, duas katanas devidamente embainhadas. "Deve ser ele." imaginou Guts.

Locomoveu-se para próximo do senhor de idade que carregava toda aquela tralha consigo. Seus cabelos eram curtos e ralos, totalmente alvos. Possuía alguma barba muito mal aparada e, apesar dos apetrechos, não aparentava qualquer asseio ou classe. — Sou Guts. — disse ao velho perante suas costas. Ele se moveu assustado pelo porte e altura do futuro aprendiz. — Não imaginei que fosse ser tão alto... — comentou. A sua voz era falha e condizia com a idade. — Prazer, eu sou Garyu. A partir de hoje serei seu mestre. — informou brevemente.

Guts; 1325/1325 1525/1525 00/06

Considerações:

Usados:

O adulto foi pego de surpresa com aquela informação. Não esperava que o motivo da convocação fosse ser justamente essa "Mas afinal de contas, por que eu vou me tornar um aprendiz de um velho como este?" questionou-se representando dúvida em sua feição. — Bom, você deve estar se perguntando o porquê de eu ter dito isso, certo?! — conversou enquanto andava para distante da aldeia ninja. — A minha motivação é bem simples, na verdade... — pausou a fala e tossiu. — Eu estou velho, cansado e provavelmente posso morrer até mesmo amanhã. Eu sou um antigo samurai do País do Ferro e precisava passar a arte dos maiores espadachins a frente. Vim à Iwagakure e solicitei a vila alguém que entrasse nessa vaga. Deram a mim você. E esta é toda a história. — explicou andando.

Embora explicações fossem dadas, não haviam sido as dúvidas totalmente resolvidas. Continuava sem entender, sobretudo, que habilidades tão importantes aprenderia a ponto de ter de sair da vila. De qualquer modo, tratando-se de uma ordem expressa do vilarejo, compartilhou do caminho do mais idoso e caminhou na direção que ele tomasse, sem saber ao certo o que seria da sua vida dali pra frente. "Eu só espero que isso tudo não seja uma arapuca..." refletiu marchando em rumos desconhecidos.

Guts; 1325/1325 1525/1525 00/06

Considerações:

Usados:

Andaram até se depararem com a nevasca e uma camada imensa de neve sobre o solo. — É aqui. — indicou o velho. — O que? Afinal, o que estamos fazendo neste lugar no meio do nada? — questionou o homem, tendo problemas em se aquecer, embora bem agasalhado em seu sobretudo. — Veja o além. — solicitou o companheiro viajante. O mestre agachou-se e rangeu a articulações dos joelhos. — Merda. Nem mesmo as minhas articulações estão sendo capazes de suportar toda a idade que carrego. Preciso mudar o jeito de voltar para casa urgente... — resmungou. A canhota se posicionou sobre a bainha, enquanto a destra se firmou ao cabo com precisão. O pé pressionou o chão e fez a neve ao redor ceder. — Hyaaaaah! — urrou enquanto realizou um movimento de saque de sua katana, endereçando a lâmina contra o solo. O arco executado produziu um chakra azul que rompeu o amontoado de cristais gélidos e os expulsou de toda a vizinhança.

Abaixo do monte nevado, uma pequena residência de madeira caindo aos pedaços. — Aquela dali é a minha casa... — disse. — Venha, vamos nos aquecer. Treinaremos logo... — convidou-o adentrando ao recinto. Ele vivia sozinho naquele pequeno reduto com quatro paredes. Guts sentou-se no chão do único cômodo que concentrava todos de uma residência convencional. Foi servido de uma xícara de chá quente e, no mais, aguardou.

Guts; 1325/1325 1525/1525 00/06

Considerações:

Usados:

— Oh! Isso será problemático. — relatou o velho percebendo que Guts não carregava qualquer espada. — Eu pedi um espadachim e eles me enviam justo um sem katana alguma... — persistiu. Naquele momento foi que o shinobi notou a ausência de seu sabre. — Desculpe-me, senhor Garyu. — escusou-se, uma retratação rara. — Tudo bem, tudo bem. Você usa uma das minhas. — contou-lhe. — Está preparado, garoto, eu não pegarei leve contigo... — revelou com um sorriso jocoso, dotado de malícia. — Sim.. — replicou o orientando de modo seco, expressando alta carga apática em seu tom de voz. Tomou uma das inúmeras katanas que repousavam sobre a estante em uma das paredes e jogou na direção do aprendiz. — Vamos. Já nos aquecemos o suficiente. — declarou tomando o caminho da saída.

Do lado de fora do pequeno casebre, uma intensa nevasca. "Onde diabos nós estamos?" questionava o ninja estupefato com a quantidade de neve. — Empunhe sua espada, Guts. Nós perdemos tempo demais com a viagem, não teremos chance para falha. — argumentou demandando que o aprendiz se aprontasse. Obedeceu-o, empunhando a lâmina doada com a destra firmemente. — Esta é uma grande habilidade dos samurais do País do Ferro, a minha gloriosa nação. Você deve repassar uma quantia significativa de chakra à lâmina e então, formar um poder soberbo. — explicou, realizando o processo e demonstrando o que significavam aquelas palavras.

Guts; 1325/1325 1525/1525 00/06

Considerações:

Usados:

O chakra pulsou através do metal e ganhou todo o corpo da espada. Formou uma lâmina de alcance ainda maior, definitivamente mais afiada. O mestrando vislumbrou a técnica samurai e permaneceu atônito, jamais houvera observado tamanha concentração da energia naquele ponto. — Não é necessário uma grande quantidade de energia. Basta que faça ela fluir naturalmente... — orientou cansado. Nos tempos áureos, era capaz de derrotar uma centena com somente aquele jutsu. O presente era completamente distinto, no entanto. Sobrara apenas a carcaça do potencial um dia detido. E isso o forçava a desativar a principal habilidade do samurai, com o qual se tornava possível combater os ninjutsus tradicionais dos shinobis.

— Então tudo o que devo fazer é passar parte do meu chakra à espada? — questionou fitando o fio de aço bem forjado. — É por aí... — respondeu. — Faça. Com o tempo, aprenderá. Não tenha pressa, alguns homens dispenderam uma vida inteira até dominá-la perfeitamente. Não será hoje que conseguirá. — esclareceu cruzando os braços. O corpo decrépito balançou de frio. Em meio a nevasca e ao som do ranger dos ossos, o ninja impregnou sua katana com uma quantia considerável de sua carga azul. O controle dela era exemplar, denotando uma de suas muitas qualidades.

Guts; 1325/1325 1525/1525 00/06

Considerações:

Usados:

O velho observou e balançou a cabeça em depreciação. — Está tudo errado... — resmungou com traços ranzinzas. — Maldição. Por que me enviaram alguém tão inútil quanto você? Merda. Tá um puta frio aqui fora e eu tô tendo que ensinar esse moleque a ser útil. Escute, eu não fui à Iwagakure convocar um completo fracasso. Garra, garoto. Coloque à prova sua habilidade. Isso que fez foi somente passar chakra à espada. Não é disso que se trata o estilo dos samurais. É de tornar essa katana num instrumento de aniquilação. — instruiu irritado. Deu-se de ouvido com críticas duras e seriadas, no entanto manteve-se calado. Olhou na direção do mestre, fitando-lhe os olhos. Buscou transparecer confiança em sua feição.

Continuou praticando por todo o restante daquele dia, até que a neve se acumulou sobre os ombros e outros membros superiores em completa extensão. "Droga! Este velhote está completamente certo. É diferente quando eu tentei. O que diabos devo fazer?!" refletiu consigo, assolado pela sensação de um invariável desânimo. — Que seja... Vamos. Eu não esperava que fosse conseguir fazer no primeiro dia, de qualquer modo. Se aqueça e se sirva com outra xícara de meu delicioso chá quente. Quem sabe assim consiga ser mais útil amanhã. — declarou regressando à sua residência. Dentro dela, repousaram e, enquanto o idoso dormia, Guts sentava escorando as costas na parede de madeira. Permaneceu com a espada em mãos, praticando enquanto deveria dormir.

Guts; 1325/1325 1525/1525 00/06

Considerações:

Usados:

Não se tratava de uma questão de honra, afinal o shinobi sequer acreditava ser este o conceito pelo qual se deveria viver. Tudo o que lhe importava era vencer uma batalha, derrotar o seu inimigo com a sua própria força e provar-se o maior combatente de todo o mundo. Aquela habilidade, sem a menor sombra de dúvidas, somaria às metas que estipulava enquanto sonhava acordado e rezava por um dia encontrar oponentes dos mais fortes possíveis.

O dia raiou, finalmente. O homem passara toda a noite desperto, tentando de uma vez por todas dominar o sabre. — Isso é difícil... — comentou solitariamente, erguendo-se. Abriu a porta de madeira que rangeu num som agudo e que logo se espalhou e tratou de acordar o proprietário. — Guts? — questionou assustado. — Sou eu... — replicou prontamente. — Estou voltado ao treino. Resolvi não acordá-lo. Desculpe pelo inconveniente do barulho que fiz. — escusou-se, retirando-se do reduto. O idoso sorriu. — Até que ele não é tão inútil quanto eu pensava... — analisou contente dada a postura do aprendiz.

Do lado de fora, sob condições climáticas completamente adversas, continuou treinando a forma com que o chakra se projetaria através do cabo à lâmina. Não existia determinação maior que a demonstrada por ele naqueles momentos. Instantes em que o seu espírito de guerreiro era colocado sob o fogo cerrado e bombardeios do fracasso. Não desistiria, não enquanto não dominasse a técnica única.

Guts; 1325/1325 1525/1525 00/06

Considerações:

Usados:

Sol, chuva, neve, frio, calor e outras condições se impuseram sobre o corpo do persistente shinobi. Porém nenhuma delas foi capaz de derrogar-lhe o direito à prática incessante. Com passar de sete dias e sete noites, compreendera finalmente todos os conceitos velados na simples explicação ilustrada durante o primeiro dia de treinamento. Compreendeu as nuances entre simplesmente fazer o chakra correr e integrá-lo à katana, mas sim fazê-lo incorporar completamente o espírito do aço, de maneira a retirar todo o potencial latente do instrumento perfuro-cortante. Muito embora compreendesse a fundo do que se tratava, aplicar o teórico ao prática se tratava de uma tarefa árdua.

Naquela tarde tudo mudaria. O velho fitou o shinobi em seus olhos. Deles, pareciam saltar um fogo intenso. As veias que percorriam os braços e os ombros saltaram. Exerceu uma força descomunal contra o cabo daquela gloriosa katana. Enviou, através dos membros, toda a energia que era capaz de transmitir. — Hyaaaaaah! — urrou. Uma tonalidade de azul cintilante espalhou-se por todo o item. — Isso, Guts! — comemorou o idoso. As palavras de apoio desconcentraram-o, fazendo-lhe perder a forma. O brilho se apagou dos olhos dos dois e o velho gargalhou. — Então você é desses que não gostam de elogios... — comentou. Arfava transcorrido o intensivo treinamento. Não aguentou o peso do próprio corpo devido ao cansaço. Cedeu de joelhos e, segundos mais tarde, afundou o rosto na neve acumulada. Desmaiou.

Guts; 1325/1325 1525/1525 00/06

Considerações:

Usados:

Despertou dias depois. Viu-se de corpo estendido sobre o piso de madeira de alguma casa. A lareira o aquecia e seu sobretudo tratava de reter o calor. Ergueu-se contraindo a musculatura abdominal, apoiando-se com a destra completamente estendida. A canhota era levada à cabeça, onde uma potente dor era repercutida. — Finalmente acordado, garoto. Você dormiu por três noites e dois dias. Pensei que não fosse mais acordar. Hahaha! — disse o orientador enquanto preparava uma travessa recheada com alimentos diversos. — Aproveite a fartura. Um comerciante amigo meu passou por aqui ontem e me deixou com tudo isso. Avisei que estava com visita e ele me entregou um pouco mais. Agora coma, um homem de seu porte precisa se alimentar. — pleiteou.

O moreno aceitou de bom grado a oferta nutricional. — Obrigado. — agradeceu inexpressivamente. — Parece que você finalmente dominou a técnica de nós, samurais, menino. Quando estiver de estômago forrado, venha para o lado de fora, vou lhe instruir ao passo final de nossa dança... — declarou retirando-se. Comeu todas as frutas e proteínas servidas até que a fome se esvaiu por completo. Trajou o sobretudo e foi ao encontro de seu mestre. — O que faremos? — questionou curioso.

O velho o encarou e penetrou em seus olhos com a feição tomada por clima de assassinato. — Uma disputa entre a minha lâmina e a sua. Venha, mostre-me o que aprendeu. — ordenou. Acatou as instruções e se posicionou a alguns passos de distância. Empunhou com ambas as mãos a katana, utilizando-se da habilidade herdada para banhá-la em energia. O cabo se posicionava à altura da cabeça, com o fio posicionado paralelo a ela e os cotovelos levemente flexionados. — Venha. — demandou. Movimentaram-se ao mesmo tempo. Sumiram aos olhos de observadores externos, somente tornando audível o som de choque dos metais. Do tilintar, o ninja se viu íntegro. Virou-se e se deparou com o idoso ferido, de peito sangrando e manchando a neve com o escarlate de seu sangue. Sua katana estava quebrada, representando metaforicamente a sua morte.

Não havia remorso. O Último Samurai retornou à Iwagakure levando consigo uma nova habilidade implacável.

Guts; 1325/1325 1525/1525 00/06

Considerações:

Usados: