—

A aridez tornava o dia mais massivo do que já era; recostado num pilar de mármore, assistia o dia de trás dos seus óculos espelhados. Cruzava os finos braços e mantinha o sorriso aceso para todos que passavam por ali, pacatos transeuntes com seus filhos, namoradas e até alguns que iam apressadamente para o trabalho. Um calçado diferente compôs seu próprio ritmo no asfalto rachado pelo clima. Tec. Tec. Tec. Izagawa revirou os olhos sem que pudesse ser visto, deu de costas e subiu no fundo da carroça que o levaria até a vila próxima onde cumpriria sua primeira missão. Ele realmente odiava carroças mais do que tudo.

A linha racional que traçou era simples: já que estavam roubando, ele se tornaria o alvo perfeito pra isso. Não precisaria ir de encontro aos patifes, pelo contrário, eles viriam até ele. Sentou-se do lado do homem que levava o veículo e cumprimentou-o com um quente aperto de mãos. Ajeitou a gola do colete e deu sinal pra que o homem partisse, um senhor de idade que beirava lá pelos seus sessenta anos, nítidos cabelos brancos e a pele castigada por décadas de trabalho sob o açoite do astro maior. — Garanto que terá boa companhia, senhor. hehe. — Trançou os dedos no que até o homem simples do campo pôde reconhecer por uma artimanha dos ninjas, erguendo uma nuvem de fumaça que ao se dissipar conforme trotavam os cavalos, deu imagem ao que seria uma neta perfeita pro idoso. — Se vou parecer com uma criança, então nada melhor do que um chocolate. O senhor não concorda? — Izagawa tirou uma barra de chocolate ao leite com castanhas e ofereceu ao velho que recusou de imediato.

O jovem gennin tinha sido incumbido da tarefa faziam poucos dias, era cedo demais pra dizer que estava preparado e muito tarde para postergar seus deveres de ninja, por isso não teve outra escolha senão comprometer com a tarefa e jurar dar o seu máximo na peleja que estava por vir. Uma tarefa desta magnitude não exigia talento espetacular para desenrolar com sucesso, então desde que não se enfiasse numa briga maior que ele as coisas prosseguiriam bem. Cortaram as estradas sinuosas sendo puxados pelos alazões de crina castanha que eram chicoteados vez ou outra pelo couro ou pela voz irritante do guiador. — Estamos nos aproximando, garoto. — Disse o homem, apertando firme as amarras em suas mãos. O acordo que haviam feito era proveitoso pra ambos, ele tinha um ninja de guarda-costas e o novato ganhava uma carona até a missão principal. — Esses malditos assaltantes de estrada já levaram a mercadoria de bons homens que voltaram para casa sem o dinheiro do sustendo de suas famílias. — A entonação enraivecida se tornava clara a cada palavra, mas Izagawa não dava a mínima e perscrutava o ambiente de olhos bem abertos. Não queria conversa, carroças estavam no seu "TOP 3" de coisas mais odiadas e cada segundo ali era a morte pra ele.

As pilhas de rochedos, pequenos montes pontiagudos com a altura de três homens se amontoavam por todos os cantos. Eram como a "floresta" da Aldeia da Pedra e de lá muito provavelmente sairiam os assaltantes. Foi o tempo de olharem por cima dos ombros pra conferir a carga pra que meia dúzia de trombadinhas com espadas, marretas e adagas saltassem de trás de muros de pedra. Um sétimo veio, este era menor, mas exalava uma aura que sobrepunha os que Izagawa logo tomou por seus capangas. Nas suas costas tinha a empunhadura de uma Dadao. Ele indicou com o queixo, erguendo o maxilar e fazendo com que um dos seus homens fossem conferir a mercadoria. Os cavalos se agitaram um pouco, mas o velho acalmou-os.

— O que carregam nessa carroça? — perguntou o brutamonte, aparentemente o maior do bando. Nem Izagawa travestido de criança e nem o velho responderam, fazendo com que ele se apressasse em revirar os pertences. Barris de bebida, caixas com esculturas fajutas, sapatos, armas velhas pra serem recicladas. De tudo um pouco, o velho ganhava a vida fazendo negociações de um lugar pro outro e nunca estava com a carroça vazia. Foi nessa hora que Izagawa pulou sobre os ombros do grandalhão, forçando um tom enquanto exprimia "não toque nas coisas do vovô". O mercenário não precisou de mais do que um jogo de ombros pra lançar a "garotinha" que deixara uma surpresa anexada na gola da camisa do homem sem que ele visse. Ele voltou pra reportar o que encontrara ao chefe e foi a hora: KABUM. Izagawa realizou um selo de mão e a cabeça careca do capanga decolou igual um foguete, deixando o corpo cair pra trás num baque surdo que despertou medo no coração dos homens ainda de pé.

Era uma gritaria generalizada, "corra" ou "o velho é um feiticeiro". Ouvia-se um dizer que a menina era endemoniada também e esse foi o mais perto da verdade. Quando o jutsu de transformação foi desfeito, Izagawa pulou num dos rochedos e criou ventosas de chakra nos pés pra se manter na horizontal e alto demais pro alcance deles. Da ponta de seus dedos saíram linhas de chakra que grudavam no corpo dos inimigos e os faziam se estapear. Ele evitou que causassem danos mortais uns aos outros, mas não deixou de contundir o suficiente pra que ficassem incapazes. O único que não teve o mesmo perdão foi o líder deles, sacou a Dadao e decepou os colegas sem hesitar. Pro azar dele, Izagawa tinha planos pra isso. Não podia colocar domínio completo sobre o homem, mas travou suas pernas e fez ser atacado simultaneamente por três que o furaram na altura do peito com lanças e garfos de agricultura. Foi empalado. O resto fugiu, receoso em ficar lá sem um líder e diante de um adversário tão terrível.

— Bem, foi mais fácil do que andar de carroça. — Disse Izagawa, olhando com repulsa para o veículo. — É, aqui nos despedimos velho. Esses ladrões não vão mais assaltar os moradores cruzando as fronteiras. Vou-me embora num dos cavalos que os bandidos amarraram por aqui, me recuso a andar mais de carroça. Nada pessoal, sério. — O garoto finalizou, ajeitou os óculos com a palma da mão. Deu a volta e encontrou apenas burros carregados de coisa e pensou "merda, eles não usavam cavalos". Só teve de tirar os carregamentos e voltar num burro pra sua casa.

HP: 500
CK: 500