Deitou sobre a sacada do prédio onde vivia com sua mãe. — Essa vida de cego é um saco. — resmungou, relembrando a dificultosa e árdua tarefa de ter de tatear todos os espaços da casa para, enfim, chegar ao espaço que desejava. No passado, aquela simples tarefa teria sido resolvida com um mero olhar. Saudosista do seu sentido ocular, desejou que o mundo todo explodisse naquele exato momento. — Será que esse é o meu fim?! — questionou-se, sem saber ao certo quais passos daria a partir dali.

Cochilou. Quando novamente desperto, entendeu que aquela era uma situação definitiva. Jamais enxergaria novamente. — Maldição?! Por que eu, ó, Deus? Por que só eu tenho que sofrer com essa enfermidade? Eu fui um pecador?! — esbravejou. — Que merda eu tô pensando?! Gritando contra o nada... Esse sacana nem mesmo existe. Foda-se tudo, eu vou me virar do jeito que conseguir! — convenceu-se, erguendo-se em seguida. Era jovem, um mundo inteiro permanecia velado à sua ignorância. Bastava explorá-lo e, sem sombra de dúvidas, encontraria algo com que se agarrar e, daquele modo, desenvolver-se progressivamente em busca de se manter um ninja em todos os sentidos.

Ansiando encontrar uma inspiração profunda do que fazer a seguir. Naquele exato instante, deu-se conta da possibilidade de poder incrementar, dentre os sentidos, o da audição. Lembrou-se de ler ou ver, algum dia no passado, a relação entre pessoas cegas e a capacidade delas de terem uma audição extremamente aguçada. Aliado àquela habilidade, conseguiam, inclusive, manter-se em dia com as atividades corriqueiras do mundo shinobi. Muitos deles, inclusive, sagraram-se incríveis guerreiros.

— Está decidido! — afirmou se erguendo com dificuldade. — Eu vou treinar meus ouvidos até que eu seja capaz de me virar por mim! — declarou perante os ares, decidido do que faria adiante. Seguindo suas vontades, passou a praticar, arduamente, o veículo auditivo. O fez durante tortuosas semanas, até que finalmente habituado a compreender a origem, volume, frequência de todas as ondas sonoras. Munido daquela aprendizagem, pôde, finalmente, dar continuidade a sua própria vida.


Guiou-se, por meio dos sons e das lembranças, à biblioteca do vilarejo de Kumogakure. — E aí, galera. Eu sou o Denmo. Sou cego pra caralho. Coé, vocês se incomodariam de me levar à parte destinada aos aleijados de vista? — questionou aonde, pelo que entendeu pelas vozes, estava a recepção do espaço. A bibliotecária foi pega de surpresa. Em seus registros, não constava qualquer cego para aquele dia. — Desculpe-me, senhor. Se incomoda de me seguir? — estendeu o braço. Era impressionante o quanto sua audição estava acentuada. Mesmo o menor mover dos braços lhe foi entendido pelos ouvidos. — E eu tenho outra opção?! — disse sorrindo sarcasticamente. Seu humor cáustico era um dos grandes motivos de não possuir qualquer amigo ou companheiro. Deram as mãos e andaram, juntos, até o lugar onde estava reservado a sessão especialmente dedicados aos deficientes visuais. — Estes são todos os livros, senhor. Divirta-se! — brincou sorrindo simpaticamente. O anti-herói empurrou-a com os braços bruscamente. — Saia, vagabunda. Agora você está me atrapalhando. — reclamou.

Retirada sob ameaça, assustou-se com tamanha violência de alguém a quem teria ajudado. Apesar de tudo, aquele era o jeito do shinobi de tratar seus pares. Sozinho, reservou-se ao direito de tatear as estantes, buscando lenta e progressivamente qualquer assunto de seu interesse. Deparou-se com um pergaminho de título: "Formas de Combate aos Cegos". Agarrou-o. Entusiasmou-se com o conteúdo, desenrolando-o o mais brevemente possível. Estava escrito em libras e trazia informações relacionadas ao assassinato silencioso.

Levou-o ao campo de treinamento da vila, não importando-se com os processos burocráticos de aluguel de livros. Lá, se postou na periferia, posicionando-se distante de tudo e todos. Aprendeu, a partir da experiência própria, como andar silenciosamente e, aliado a uma kunai, assassinar os seus adversários antes que eles se dessem conta do ocorrido. Praticou uma vez e notou a clara dificuldade em aprendê-lo que era a de tornar os passos em movimentos simplesmente inaudíveis. Se ele, com audição aguaçada, fosse incapaz de escutá-los, ninguém conseguiria igualmente. Desse modo, fez-se necessários horas em prol de praticar incessantemente o estilo de luta. Tratando-se de uma mente prodigiosa compreendeu, inúmeras tentativas depois, como faria para tornar a vontade em realidade. Dominou, portanto, o conteúdo daquele pergaminho.

Estudado, retornou à vida vadia.

Denmo; 1325/1325 1525/1525 00/06

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