Minha jornada como ninja finalmente havia se iniciado! Estive estudando durante alguns meses o mais duro que podia na Academia Ninja. Minhas aptidões naturais não eram muito boas, inclusive eu era o menor e mais fraco de minha classe; entretanto, com o treinamento que o ninja que se tornou responsável pela custódia, um general heroico chamado "All Might", consegui me formar com louvor. Desde a época em que cheguei na vila, as coisas se mostraram bem difíceis para um ninja inapto nas principais e mais utilizadas vertentes ninja. Mas, ao mesmo tempo em que eu era muito fraco em ninjutsu e genjutsu, minhas habilidades físicas aumentaram num patamar extremamente alto. Fui ensinado, pelo ninja que mencionei há pouco, uma técnica secreta, e isto foi o suficiente pelo momento para garantir minha sobrevivência e minha estadia no vilarejo. Não desejava gastar recursos locais da aldeia sendo alguém fraco, portanto tive certeza de que faria as coisas valerem a pena. Me tornaria um herói!

Mas também estava ciente de que este seria um processo longo e demorado. Teria de começar do fundo e ir escalando gradativamente. Afinal, aquele que não sabe andar, não pode nem sonhar em correr. Andar, neste caso, seria realizar missões de baixo nível: geralmente, pagos por clientes de dentro da própria vila para que ninjas realizem tarefas que não podem fazer ou não estão dispostos em fazer. E isto estava tudo bem também, afinal de contas isto abria a possibilidade de ninjas iniciantes começarem a se destacar. Trajando o macacão verde que All Might me deu, portanto, dei início à minha nova rotina ninja: dirigia-me para a central de distribuição de missões mais próxima de mim para me incumbir de novas responsabilidades como ninja. Não demorei muito para chegar no local, já que meu pai adotivo me explicou as direções desde a última vez em que passamos pela vizinhança. Troquei algumas palavras com o atendente, que pegou meu nome e minha idade e, rebuscando entre seus incontáveis pergaminhos dispostos numa estante na parede, entregou-me um deles. Teria de cuidar de uma floricultura, já que a dona da mesma estava ganhando maiores responsabilidades.

O trabalho em si não apresentou muitas dificuldades: mulheres sempre são caprichosas com suas posses, e o local já estava um brinco mesmo quando eu cheguei. Limitei-me, portanto, a realizar a manutenção do local, limpando alguma coisa aqui e ali e, principalmente, regando as plantas para que não morressem. O local tinha um ótimo cheiro. Assim que terminei de realizar a missão, retornei para a central de missões, para notificar o sucesso em realizá-la e também para coletar minha primeira recompensa.

Nunca fui uma pessoa muito confiante, mas com certeza estava lentamente desenvolvendo tal qualidade após a última missão que fiz. Pode parecer algo sem sentido e vão, afinal de contas tudo que eu fiz foi manter em ordem uma floricultura, mas senti, independente do quão banal pudesse ser a tarefa, que fiz algo útil para contribuir com o vilarejo que me protegeu por tanto tempo. Havia decidido desde o momento em que tive tal sentimento, portanto, que estaria disposto a dar minha própria vida pelo bem das pessoas que moram aqui. Estava de tarde agora, e havia chovido um pouco, então se podia ver poças d'água e telhados molhados apesar de não estar chovendo. Imaginei, com esta observação, que a maioria dos meus colegas descansariam. Lembrei-me, portanto, da filosofia que All Might havia me ensinado: já que sou duas vezes mais fraco por não ter a capacidade de aprender duas artes ninja, eu deveria treinar duas vezes mais duro e me esforçar duas vezes mais para vencer. Não pensei nem por um instante que eu iria me permitir esquecer das suas palavras. Aprontei-me, portanto, e rumei o mais rápido possível para a central de distribuição de missões.

Como esperado, o lugar estava o mais vazio que eu já o havia visto ficar. Podiam-se contar nos dedos os ninjas que estavam ali, embora eu não tivesse tempo a perder; dirigi-me rapidamente para um dos atendentes disponíveis e, trocando algumas cordialidades com ele novamente, pedi uma missão. Ficou surpreso, e sua surpresa rapidamente se transformou num sorriso. A mesma satisfação que eu sentia por demonstrar iniciativa parecia refletir na expressão facial dele também. Entregou-me com carinho o pergaminho, e assim que saí dali, dei início à sua leitura. Beleza! Deveria auxiliar os trabalhadores que estavam empenhados numa reconstrução de uma parte da vila que foi danificada após um combate. Era louvável estarem trabalhando num clima tão adverso, portanto deveria dá-los o máximo de energia positiva que fosse capaz de angariar. Cheguei rapidamente ao local, e ajudei-os como pude e como minhas habilidades permitiam-me; afinal de contas, não era muito hábil em coisas do tipo. Limitando-me apenas a fazer o que me mandavam fazer pude ajudá-los, e isto ficava evidente em suas feições. Concluída a tarefa, troquei alguns agradecimentos e despedidas com eles, dirigindo-me novamente, portanto, á central de distribuição de missões para a coleta de minha recompensa.

Apesar de sentir como se eu não tivesse muito controle sobre as coisas, tudo estava indo razoavelmente bem; todo dia estava me esforçando o máximo que poderia, fosse sem sentido físico ou mental, para exercer minha carreira de tal forma que refletisse a gentileza daqueles que me deram uma chance me tornar alguém forte, capaz de proteger os que ama. Apesar de já ter me alimentado e estar adornado com meu traje de ninja, fitava o teto deitado em minha cama. Demorei pensando, e, desajeitado como era, havia me esquecido de que novas missões estariam, hoje, disponíveis para que eu realizasse para a vila. Fiquei ansioso e impaciente assim que lembrei, portanto não adiantaria ficar em casa por mais nem um segundo. Com uma corrida, saí de meus aposentos, rumando á central de missões. Uma boa corrida ativaria meus membros, sem dúvida alguma preparando-me melhor para o que pudesse vir. Confiante e focado á minha frente, continuei correndo.

Durante minha corrida, entretanto, um grande estrondo fez com que os arredores tremessem junto do chão; foi forte o suficiente para que eu cessasse meus movimentos para melhor me concentrar no que havia acontecido. Apesar do barulho ter sido ensurdecedor e agressivo, fui capaz de discernir, com uma precisão mais ou menos apurada, de onde vinha. Sudoeste, ao que tudo indicava. Já estava atrasado para me dirigir a central. Não obstante, ninjas mais qualificados do que eu provavelmente estavam mais próximos do local se não já cuidando do que precisava ser cuidado, certo? Afinal de contas, posso estar pensando demais nas coisas, como sempre faço, e pode não ser nada... certo? Não, não poderia ser nada. Pude ouvir uma gritaria e ver algumas pessoas correndo para longe de onde julguei ser a origem do estrondo. Que ridículo, Izuku. All Might lhe repreenderia só por considerar não atender ao chamado. Imediatamente comecei a correr para o lado contrário de onde antes rumava, agora em direção á barulheira, ao pânico e para a gritaria.

Já lutei algumas outras vezes. Inclusive, já fiz uma missão com um nível mais alto do que eu estava acostumado, e mesmo assim consegui carregá-la da maneira correta. Mas, parando para pensar, esta é a primeira vez em que tento ajudar pessoas diretamente; é a primeira vez onde, se eu não fizer nada, vidas serão tomadas. Me via parado, a alguns metros do incidente. Algumas construções de madeira encontravam-se em chamas, embora vazias, e um rastro espesso de fumaça negro constantemente se esvaía da entrada duma caverna. "Minas subterrâneas", lia a placa acima da entrada da formação rochosa em questão. Nos arredores, algumas pessoas levemente feridas, sendo ajudadas por civis mais corajosos e que não fugiram. Em outras partes, pessoas deitadas no chão, ou em estado de choque. Algumas mortas. Não pensei, só agi. Eu era veloz, então extirpei o máximo de velocidade que pude colocar para fora enquanto corria para dentro do perigo. Minha força física não era exatamente meu atributo mais potente, então não pude carregar muitos deles. Aquele lugar parecia um labirinto, então eu não pensei muito quando entrei também; simplesmente corria para o lado em que ouvia gritos e, quando encontrava alguém que ainda tivesse um coração que batia, os salvava. Na última ronda, quando o lugar estava prestes a desabar, notei que não poderia fazer mais nenhuma viagem. Mesmo assim, três deles estavam juntos, feridos e precisando de ajuda. Salvaria só um? Sem chance. Era ilógico, e eu pensava que impossível, mas, abri meus braços. Coloquei o mais pesado no esquerdo, e os dois mais leves no direito. Comecei a correr, e consegui salvá-los. Todos estavam assustados, mas lentamente encontravam conforto ao me olhar. Senti a melhor sensação de todas.

A noite havia sido extremamente movimentada e imprevisível para mim. Decidi não passar o dia sem ajudar a vila, e fui fazer uma missão. No meio do caminho para a central de distribuição de missões, ouvi um grande estrondo, e aconteceu que era uma das minas subterrâneas que tínhamos; aparentemente, como descobri depois, estavam testando uma nova ferramenta de mineração quando ela mal funcionou em luz de uma falha de programação, causando uma massiva explosão que foi o suficiente para dar início ao incidente. Infelizmente, algumas pessoas morreram. Talvez se eu não tivesse parado para pensar... não. Não importava mais. O que importava era que eu tinha agido, e, forçando meu corpo ao máximo de sua capacidade, pude salvar todos os remanescentes vivos que ficaram incapacitados dentro das minas. No final das contas não foi bem uma missão, mas fez com que eu me sentisse mais feliz do que se tivesse feito uma. Assim que saí para a superfície, também, alguns de meus superiores estavam por ali, preocupados. Quando expliquei a situação para eles, comendaram-me, permitindo que eu retirasse uma recompensa como uma missão bem-sucedida também, no complexo de distribuição de missões. E era exatamente ali onde me encontrava, já que havia retomado meu percurso original após solucionar o problema das minas e continuei com meu intuito inicial de fazer mais uma missão para não passar o dia - ou a noite, neste caso - em branco.

Assim que entrei, troquei algumas palavras com o atendente. Expliquei, também, que quando retornasse da nova missão, desejaria receber a recompensa por ambas, para que pudesse retornar para casa de uma maneira mais fácil dessa forma. Trocamos poucas formalidades de despedida, e saí do estabelecimento, dando início à leitura do meu recém-adquirido pergaminho, que continha as instruções da próxima missão. Aparentemente, esta seria uma pacífica: teria de efetuar a manutenção na biblioteca local. Parecia-me interessante, então me desloquei para o local indicado no mapa que estava anexado no pergaminho o quanto antes. Era imensa! Definitivamente mantida por fundos do governo. Pensei que ninguém poderia ter tanto dinheiro para manter um verdadeiro castelo de livros como aquele. Passei boa parte da noite limpando, varrendo e espionando um ou outro livro que me interessasse, embora não fosse um criminoso. Terminei bem mais tarde do que desejava, já que o local era grande e eu não era muito experiente em limpar cômodos. Na volta, as ruas estavam completamente vazias. Esperava não encontrar malfeitores ou coisa do tipo. Espero também que o All Might não tenha passado pela minha casa tão tarde e tenha encontrado-a vazia. É por uma boa causa.

Estivera, de verdade, ausente há algumas semanas de minhas tarefas e responsabilidades dentro do vilarejo. Tudo de acordo com os planos de All Might, reconheço, uma vez que ele me raptou para que pudéssemos treinar nas redondezas do país. Desde então as coisas ocorreram de maneira premeditada de acordo com meu mestre e, aos poucos, sinto uma melhora após os treinamentos que exercemos. Fora isto, tirei uma ou duas semanas para descansar e prospectar meus próximos movimentos e, a partir de agora, estava novamente em meu antigo ciclo de atividades. Portanto, o que fiz foi permitir-me ser desperto pelo alarde do meu despertador e, desligando sua sonoridade, sentei-me na cama por alguns instantes para dar início a gradativa recuperação de minha consciência e movimentos cognitivos. Repensando nas tarefas que teria de performar no dia, decidi que o melhor movimento inicial seria efetuar missões durante a parte matutina de minhas horas de atividade. Desci as escadas para que pudesse alimentar-me; derramei o leite sobre os grãos açucarados de meu cereal e o saboreei. No banheiro, lavei meu rosto, escovei os dentes e tentei ajeitar meu bagunçado cabelo, distribuindo-o sobre minha cabeça como costumeiramente o fazia. Novamente no andar superior, vesti-me com as peças de roupa que mais pareceram agradáveis para os meus olhos naquele momento: uma camiseta branca, um calção preto e sandálias ninja de coloração negra. Olhando-me no espelho uma última vez, concluí que estava apresentável o suficiente para desempenhar a tarefa em mãos.

Passei a grandemente prezar o trajeto que realizava para o complexo da central de distribuição de missões. As casas tinham uma estética que agradavam meus olhos, as pessoas naquelas ruas pareciam mais afáveis e o clima em geral era mais pacífico e bondoso, pessoalmente sentia. Mediante estas informações, desacelerei meus passos assim que senti o saudoso clima, aproveitando ao máximo o espetáculo visual que me conduziria da porta da minha casa até o local destino em grande generosidade. Para complementar, o sol estava inabalável e constante em sua posição, o que trazia mais pessoas e animais para fora, portanto uma grande movimentação podia ser denotada. Caminhando, pensei onde o All Might estaria; com seu corpo - e espírito - mais fortes que eu, provavelmente não tirou tempo algum para descanso. De fato, deve estar fora da vila numa missão neste exato momento. Inesperadamente, já que me via imerso em pensamentos, cheguei no estabelecimento em que desejava chegar. O movimento era o mesmo de sempre, com um leve aumento na quantia de ninjas ali, uma vez que as condições eram favoráveis, atribuí. Como todos ali, limitei-me a entrar na fila e aguardar minha vez. Apesar da fila volumosa, rapidamente diminuía de espessura, já que as interações realizadas nos balcões eram curtas e objetivas. Cerca de uns quatro minutos depois, chegou a minha vez. Cumprimentei o rapaz designado a me atender e, aparentemente, assim que reconheceu minha face, seu sorriso abriu um pouco mais. Havia sentido minha falta? Tinha certeza de que minha presença não era tão marcante assim. Estranho. De quaisquer formas, dei sequência ás trivialidades para requisitar a missão que deveria fazer e recebi-a, despedindo-me do funcionário com a mesma educação.

Apesar dos vários avisos inscritos no pergaminho, não enfrentei nenhuma dificuldade na realização da missão em questão; sem ninjas que tentaram obter o conteúdo da entrega, sem salteadores, sem bandidos, sem esquemas. Talvez as advertências fossem apenas um desígnio para que a administração da vila se certifique de que eu me manteria alerta durante todo o percurso. Independentemente, ao retornar para a vila oculta da Pedra, coletei a recompensa na central de distribuição de missões e retornei para casa, visando descansar por alguns momentos da longa caminhada em que havia me engajado.

Atipicamente quando se compara com meu padrão comportamental, não me esforcei tanto no último dia; havia recebido algumas notícias desagradáveis e meus sentimentos estavam incontroláveis durante aquele período e, apesar de que não fosse admitir para ninguém, me sentia exaurido para continuar com minhas atividades. Portanto, havia me limitado unicamente a realizar uma missão e praticar meus exercícios físicos que diariamente realizava, sob ordens de meu mestre. Hoje, entretanto, havia acordado com uma mentalidade diferente; ao invés de incorporar alguém danificado pelas coisas ruins que me aconteciam, decidia agora lutar contra as adversidades - um mal estado mental incluso. Demorei para levantar da cama, ainda abatido, mas, quando o fiz, movimentei-me de maneira ágil. Me alimentei de meus cereais que comumente comia durante as refeições matinais, vesti-me, tentei deixar meu rosto o mais apresentável possível e saí de casa, rumando a central de distribuição de missões, o fatídico local que me servia há um bom tempo. O percurso que me agradava hoje não parecia tão gostoso assim; sem dúvidas devido ao meu estado mental. Ficava ainda mais revoltado quando pensava que poderia estar desfrutando desse trajeto que tanto gostava se estivesse melhor. Fiquei com raiva e apertei meus passos.

Assim que meus pés me colocaram dentro do complexo governamental, me dirigi para a fila para que pudesse receber a missão em questão. Troquei poucas palavras com o funcionário designado ao atendimento, mencionando-o meu nome para que buscasse uma missão apropriada em relação á minha ficha em seus computadores. Desde o invento da tecnologia para o país, adquirir missões era uma das poucas atividades que desempenhava que sofreu uma mudança em questão; as coisas estavam bem mais rápidas agora, embora no final das contas ainda fosse receber um pergaminho. O sistema localizava as designações bem mais rápido, entretanto. Após uns quinze segundos de silêncio entre eu e a assistente aguardando o computador processar os dados, recebi um pergaminho ejetado pelo mesmo. Agradecendo, retirei-me do local para que pudesse analisar com um melhor nível de concentração a incumbência que havia sido a mim endereçada. Assim que li o pergaminho, dei-me a pensar onde eu havia visto locais desprovidos de pavimentação apropriada; talvez, durante alguma missão, eu tenha passado por uma ou duas ruas assim, sem dúvidas, embora não pudesse me recordar agora. Independente da colaboração que recebia de minha memória, dei-me a me deslocar para o local designado para que pudesse dar início a missão. Definitivamente não era um local que eu havia visitado antes, ou ao menos julguei ser assim devido á ausência de memória daquele lugar em questão. Interagi por alguns segundos com o que parecia ser o mestre de obras do local e, instruindo-me no trabalho que deveria fazer, realizei-o, sempre tentando ver os movimentos que realizava de maneira oportunista, buscando adaptá-los em meu combate, como meu instrutor me recomendava fazer. Assim que concluí a missão, entreguei o pergaminho para o encarregado do local e recebi a recompensa dele também, encurtando-me o percurso para casa.