Dentre os inúmeros amigos animalescos de Gon estavam os símios. Criaturas esguias que sabiam perfeitamente como viver nas montanhas. De todo os amigos, talvez por aproximação de familiaridade genética, eles eram as criaturas com quem o menino criou maior afeição. Não significava dizer, entretanto, não ter se afeiçoado às todas as formas de vida. Simplesmente se tornou mais fácil ser mais amigos deles, tão somente.

Repousado depois da execução complexa de sua última missão, o Genin se destinou de volta aos arredores do vilarejo onde se encontraria com os únicos a quem poderia chamar de "família". Encontrou-se primeiramente com furões, com os quais correu por alguns metros até que encontrassem suas tocas. Em seguida vieram alguns pássaros que sobrevoavam os ninhos e os protegiam das serpentes. Estas não eram grandes amigas, tendo em vista a natureza traiçoeira. Ainda sim, não se metia no processo de sobrevivência dos seres. Permitia que as coisas corressem sem que sua presença interferisse. Depois de muito correr, encontrou-se com seus amigos macacos. Belos espécimes de pequeno porte com caudas alongadas. Ao apresentar-se, Gon recebeu numerosas e calorosas felicitações. O grupo de macaquinhos reuniu-se em seus ombros e outras tantos em suas costas, de maneira que pesaram a ponto de fazê-lo ceder repentinamente ao chão. De toda o contentamento deles, entretanto, presenciou a falta de um dos integrantes do considerável bando.

Fusaru, o macaco pateta. Ergueu o pescoço e buscou encontrá-lo com um amplo revirar da cabeça. Vislumbrou de um horizonte ao outro e se deparou com ele longinquamente, aparentemente irritado. — Fusaru-kun, venha aqui! — convidou-o erguendo a destra. Diferentemente do aguardado, o pequenino largou em disparada na direção contrária, distanciando-se do garoto. — Hahaha! Você não vai fugir tão facilmente, Fusaru-kun. — disse o ninja enquanto se levantava. De pé, correu. Era sempre assim nas montanhas, principalmente ao lado daquele que era conhecido por pregar peças. Se bem lembrava, ele era inclusive o responsável por ser tão bom na corrida. Acelerou ao máximo na busca de encontrá-lo, no entanto foi mera tentativa sem sucesso. Algumas centenas de metros depois estava completamente exausto e não via qualquer sinal de seu companheiro. — Maldição, desde quando ele ficou tão ágil?! — resmungou arfando, de braços esticados e apoiados sobre os joelhos flexionados.

Um dos primatas sabia o porquê daquela atitude de seu primo. Resolveu informa à Gon, através da linguagem de sinais que haviam criado entre eles, a motivação do brincalhão. "Ele está assim desde que perdeu a mãe. A nossa rainha morreu alguns dias atrás e desde então Fusaru desafia a todos para que consigam alcançá-lo na corrida. É o desafio do símio." dizia através dos gestos de mãos. — Então ela morreu... — disse com pesar. — De qualquer forma, eu não posso perder pra ele tão facilmente. — recuperou o vigor. — Eu irei mostrar ao Fusaru que é possível ser feliz mesmo sem a presença dos seus pais! — garantiu. Suas palavras eram acompanhadas de genuína motivação. Uma vez ditas, retornou à perigosa e aplicada corrida entre as montanhas. Sem notar, no entanto, suas capacidades motoras aumentavam gradativamente. Por ser sempre tão natural, era inconcebível crer que melhoraria suas capacidades físicas tão somente com aquilo.

Por ter se tornado veloz, acabou deparando-se, algumas centenas de metros mais tarde, com seu desafiante. Ele bateu palmas e gritou, caçoando do quão inútil era o shinobi. "Shinobis são sempre tão ruins assim?! Nós, macacos, é que deveríamos reinar o mundo." afirmava com gestos diversos e, alguns, obscenos. Não conteve a empolgação de continuar a persegui-lo, entretanto o corpo se dispôs em contrariedade. Fadigado, atirou-se no chão contra sua própria vontade. Apagou sem seguida, não compreendendo os motivos daqueles acontecimentos. Quando novamente acordado, estava cercado de um grande grupo de macacos que também haviam deitado ao seu lado. Era noite e podia ouvir o uivo de algum lobo-da-montanha. Temerário, despertou e pairou contra a localidade. A ausência de luminosidade, no entanto, era seu maior entrave.

Só lhe restou sentar e aguardar até que o dia retornasse. Ao levante dos primeiros raios, continuou o desafio. Correu tão rápido quanto podia, seguindo o que acreditava ser a direção tomada por Fusaru. Sem notar, treinava também a sua resistência física de uma maneira geral. Motivado, correu cada vez mais distante sem sequer ofegar. A mudança foi tamanha que não conseguiu crer no seu feito. — O que está acontecendo?! Eu jamais havia conseguido ir tão longe sem me cansar... — propalou. — Eu preciso encontrá-lo a qualquer custo. — disse enquanto corria à velocidade máxima. Horas se passaram até finalmente vê-lo no horizonte. Bebia água de poças. Não acreditou ao ver a imagem de Gon, imaginava que já tivesse desistido a um bom tempo. Não somente isso, como também não pensava ser capaz de ser alcançado com tanta facilidade. — Desta vez você não vai me escapar, Fusaru! — gritou o menino com a máxima intensidade vocal.

Do grito, realizou esforço motor com cada fibra muscular dos membros inferiores. A explosão foi colossal, fazendo com que diminuísse a disparidade entre os dois em pouquíssimos segundos. O macaco havia adentrado o espaço de Gon, permanecendo a uma distância alcançável do ponto de vista dos membros superiores. Esticou-os, no entanto, esguio, pôde escapar com facilidade. Criou clones d'águas, maneira com a qual supriu sua inabilidade com acrobacias e domínio da cultura corporal do movimento. Daquela forma, com aquele propósito, ao passar de uma dezena de dias, finalmente conseguiu abraçar Fusaru em um aperto. — Eu disse que não iria escapar. — brincou. O símio riu, reconhecendo ter tido um oponente à altura. Quando se deram conta, estavam há algumas centenas de quilômetros. Caíram em gargalhada e retornaram em corrida, enquanto ao mesmo tempo conversavam sobre seus pais.

Gon; 475/475 475/475 00/04

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