Os cabelos espetados esvoaçavam enquanto correndo pelos arredores do vilarejo. Vislumbrou, por alguns meros instantes, a abóbada celeste. A desatenção poderia ter sido fatal. Acertou a cabeça, enquanto corrida, num galho de uma árvore morta. O violento impacto o fez cair pra trás, apagando. O desmaio seguiu de um sonho estranho, no qual contemplava uma grande floresta repleta de animais das mais variadas espécies e reinos. Despertou do sono profunda horas depois. Os olhos se abriram vagarosamente, enxergando a luz das estrelas e das duas luas existentes penetrarem como reflexos aliviantes. O odor percorreu o local até o nariz: fumaça. Levantou-se num solavanco, assustado com a presença do fogo. — Mas o que diabos?! — gritou. Um homem velho sentava-se ao seu lado. Um ancião de cabelos grisalhos, barba longa completamente alva e de semblante abatido, cutucando a a lenha com um pequeno galho que logo foi consumido pela chamas. — Não se preocupe, garoto. Você caiu, se machucou e isso é tudo. Eu o encontrei aqui e resolvi fazer uma fogueira ao seu lado. — revelou-lhe.

Passaram-se longos minutos até finalmente se dar conta de não haver perigo. A conversa cansou o velho que se deitou. — Nosso encontro provavelmente foi uma obra do destino. É impensável afirmar o contrário. Ou acredita em coincidências, menino? — dialogou. A sua voz, apesar de empenhada, falhava. O tom era quase fraco e isso, de certo modo, assustava o jovem Gon. A questão do homem detinha cunho filosófico, assunto do qual um jovem da idade do shinobi pouco podia entender. — Err... Eu não entendi nada, senhor. — replicou embaraçado. O velho gargalhou e tossiu. — Você é como ela. — disse alegremente. — E não sabe nada sobre seu passado, exatamente como eu não soube um dia. — confessou. Os olhos do ninja saltaram, incompreendeu o sentido nas palavras daquele idoso.

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O curioso velho rolou o corpo e apontou o rosto contra o do jovem menino. — Eu o assustei?! Se sim, peço perdão. — escusou-se. — É a verdade o que quer, Gon, por mais dolorosa que possa ser?! Então deixe-me ver… Nunca se perguntou o por quê de ter nascido sozinho e ter sido criado na floresta?! Nunca se perguntou o por quê de ter sido encontrado por Raito naquele dia?! Gon, és jovem e deve entender, desde já, que há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia… — contou. A criança se perdeu em seus sentimentos. Levantou-se. — O que você quer dizer com tudo isso? Tudo foi proposital? E como diabos sabe tanto da minha vida? Eu nunca lhe disse meu nome! — confrontou enfurecido. Doía-lhe crer que todo seu passado fora orquestrado por alguém. — Abaixe o tom, rapaz. — demandou emanando uma aura arrebatadora com a qual tornou incapaz qualquer movimento motor do outro. — Toda a sua história passa longe de ser uma mentira. Pelo contrário, se a viveu, é porque foi verdadeira. Raito é um de meus filhos e também é seu tio. Seu nome não é somente Gon Freecs, mas sim Senju Gon. Meu herdeiro por direito… — esclareceu com pesar no olhar. Pesava em seus ombros se pronunciar daquela maneira, um claro desconforto.


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Desfez-se da magia de restrição. O menino caiu de joelhos, apertando o abdome com as mãos. Desfazia-se em prantos. Processar aquela quantidade de informação poderia simplesmente destruir seu espírito. — E por que isso tudo aconteceu justo comigo? — interrogou. — Gon, minha criança, a nossa família sempre foi problemática. Eu sou Senju Narama, o líder do clã. Não sabes ainda, menino, no entanto eu sou um grande usuário do Mokuton, a maior força de nossos antepassados. Minha herdeira foi Senju Yukino, sua mãe. Antes de herdar a técnica, entretanto, um de seus tios agiu em conluio com outro ramo da família e tomou sua vida de mim. Ele tentou possuir a linhagem especial, porém em vão. Eu o derrotei e aqui estou, diante do filho de Yukino, o meu neto, para torná-lo o herdeiro de meu poder. — explicou.

Não sabia ao certo de que forma reagir, porém entendeu a situação. O culpado de tudo era seu tio, o pivô de todos os acontecimentos decorrentes após o falecimento de sua mãe. — E quanto ao meu pai? — perguntou. — Seu pai é Ging Freecs, no entanto ele não conhece sua existência. Eu não cedi minha benção ao casório entre seus pais. Expulsei-o da minha residência e, em troca, desdenhando das minhas ordens, ele implantou sua semente em minha filha. A semente germinou e você nasceu, Gon. Sua mãe escondeu você de mim por longos anos, até eu finalmente ter te encontrado a partir de Raito. Agora estou aqui, meu neto, pronto para repassar aquilo que possuo de mais valioso: conhecimento. — disse.



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Mesmo sendo uma criança, Gon sabia lidar bem com aquilo. Doía-lhe, inegavelmente, porém anestesiava a angústia com um pensamento: “o elo entre mim e minha falecida mãe reside aí, nesta habilidade”. Enxugou as lágrimas com a parte posterior das mãos. O rosto tomou uma feição determinada. — Narama-senpai… Eu quero que me ensine mokuton. — solicitou consciente da decisão. — Eu carregarei este poder não importando o quão perigoso seja. — asseverou. Aqueles dizeres fizeram uma única lágrima escorrer de ambos os olhos. A nostalgia arrebatou sua imagem de grande masculinidade. — Gon… — sussurrou. — Impressionante, Gon. É exatamente como ouvir sua mãe. — sorriu. — Que seja, não devemos perder mais um segundo sequer. Iniciaremos a prática imediatamente.

O idoso se ergueu com alguma dificuldade. A constituição de seu físico aparentava estar avariada com as intempéries da idade. Gemeu em função das dores nas costas. Andou apoiado sobre uma bengala. — Mokuton é, na verdade, uma Kekkei Genkai. Somente a linhagem dos meus ancestrais a possui. Como sugere seu nome, este jutsu permite com que manipule a vida, isto é, a natureza em sua forma primária: o domínio completo das plantas, árvores e demais formas naturais de mesma estirpe. — explicou. Durante a explicação, demonstrou a criação de flores e toras de madeiras no entorno. — Concentramos chakra aquático numa mão, e fazemos com que este are a terra presente na contrária. A união deles, terra e água, propicia a criação de vida. É o fenômeno somente capaz àqueles que, como nós, são filhos da mãe natureza. — relatou de maneira jovial, criando uma grande árvore, transparecendo, na sentença, deleite.

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Estupefato, olhou ao seu arredor e enxergou, com seus próprios olhos, a criação da vida a partir da energia. — Terra, água e chakra… Vida… Eu não consigo acreditar que algo assim existe. — disse de sobrancelhas bem arqueadas. O rosto tornou às mãos. “Pedra nesta, água naquela, una-as e produza a vida. Isso é, sublime…” refletiu com o unir das suas palmas. A atenção difusa fora retomada ao ter sido acertado com a bengala de seu avô na cabeça. — Preste atenção! — exigiu. — Perdão, Narama-senpai. — escusou em embaraço. — Tsc! Que seja! Tente-o de uma vez! — resmungou.

Depois de ter passado a infância em um vilarejo onde aquele tipo de vida vegetal era quase inexistente, Gon acreditou que teria a chance de, finalmente, ingressar numa aventura. Ademais, igualmente era oportunizada a possibilidade de tornar mais afortunada a vida dos miseráveis animais com quem compartilhou inúmeras refeições por pouco inexistentes. Não conteve o entusiasmo e se deixou levar pelo momento. Produziu um chakra potente e uniu as mãos. Concentrou uma porção de terra e água em cada uma delas. Reagiu os ingredientes daquela mistura e buscou criar aquilo que somente os deuses seriam capazes, ou ao menos assim deduziu durante anos.

Falhou. Correndo dentro do esperado. O velho gargalhou. — Não é tão fácil, Gon. Este é o segredo de nosso clã, você jamais seria capaz de dominá-lo com tanta facilidade. — disse. — Tudo bem ser difícil, Narama-senpai. Quanto maior a aventura, maior são seus frutos! — rebateu com os olhos contraídos e exprimindo um caloroso sorriso. Durante toda a noite, persistiu-se na prática incessante daquela habilidade. Não alcançou muito distante, tendo falhado até não suportar mais e desmaiar pela falta de chakra.


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Desacordado, o menino foi levado ao colo de seu avô. Posicionou a cabeça dele entre as coxas, de maneira a servir de um travesseiro. Uma árvore era criada para servir de apoio às costas e, daquele modo, repousar. — Gon... O mundo é tão perigoso... Você é apenas uma criança, meu neto. Só de imaginar o quanto viverá eu já sinto o remorso me assolar. — confessou ao vento, dormindo em seguida. Despertaram conjuntamente no dia seguinte. O infante sequer aguardou o saudar de um bom dia. Levantou-se e, tão logo respirasse, tornou a novamente praticar a natureza secundária com todo empenho cabível. A primeira tentativa demonstrou um certo avanço, o sono decorrido e o descanso haviam servido bem com o propósito de acrescer-lhe experiência.

Saltitou de alegre com o seu sucesso, entretanto sabia que uma criança com algodão e uma semente de feijão detinha o poder de fazer o mesmo. — Incrível, Gon. — reconheceu. — Em um dia você capaz disso, sem dúvidas será um grande usuário do Mokuton um dia. Não tanto quanto seu avô, é claro, ainda sim formidável. — desafiou com um sorriso com intuito provocador. — De qualquer modo, chegamos ao ponto onde queria. Mantenha-se focado a partir de agora e faça esta árvore crescer. Este é o seu treinamento a partir de agora. — instruiu. — Entendido, Narama-senpai. — assentiu com um balançar da cabeça. Postou-se ajoelhado sobre a destra, unindo as mãos e produzindo chakra o suficiente para a tentativa. Não sabia que resultado obteria...


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A realidade dos acontecimentos obliterou suas expectativas, por mais chakra que utilizasse e impusesse sobre a pequena vida vegetal, não poderia nutrir ela com o suficiente para que se desenvolvesse completamente. Obstinado e dedicado, não desistiu diante da primeira falha. Persistiu, uma tentativa seguida da outra, empenhando-se ao máximo com o objetivo de ser capaz de dominar a natureza. A medida em que falhava, aumentava-se o estresse das práticas. O sábio e vivido senhor sorriu timidamente. — Não é uma questão de esforço, Gon. Concentre-se, estude as árvores. Veja a seiva correr, observe enquanto se alimenta, retira do solo somente o necessário e dá a nós, humanos, a oportunidade de seguirmos com nossas miseráveis vida. Na natureza é tudo cíclico, Gon, adapte-se. — explicitou calmamente.

Absorveu as palavras ditas, porém não as interpretou como deveria. Ávido ninja, desconhecia a filosofia que perpassava através das entrelinhas dedilhadas pela fonação do mais velho. — Entendo, Narama-senpai. Minto. Eu não entendi coisa alguma, mas vou tentar de qualquer jeito. — falou sorrindo simpaticamente. — Gahahaha! Gon, é exatamente como sua mãe. — recordou o homem, contente de poder compartilhar momentos com seu neto. O menino, passada a conversa, regressou à incessante conversa. Seu rosto transparecia foco. Os olhos mantinham-se bem abertos, com um leve franzir das sobrancelhas, e lábios entreabertos, proporcionando a qualquer observador externo a experiência de impenetrabilidade da mente. Seguiu por alguns dias àquela maneira, entre diálogos de cunho filosófico, retratos da vida, e, sobretudo, extensa prática.

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Decorrido o período uma semana inteiriça, conferiu o desenvolvimento e maturação da sua criação. Como havia sugerido seu avô, tornou cíclica a operação com o chakra, produzindo o dito com um punhado de terra e água em homogeneidade. Naquele momento, quando finalmente o tronco tomou seu tamanho e as folhas se esverdearam em esmeralda brilhantina, o rapaz comemorou como se não houvesse amanhã. — Não comemore, Gon, ainda está distante de conseguir fazer com que sua madeira lhe renda frutos. — avaliou. — É necessário florescer, garoto. Se me entendeu, faça-o. — orientou brevemente. Compreendeu o que queria dizer. A árvore, apesar de verdejante, carregando consigo a vida, ainda não havia crescido o suficiente. A indicação estava ali, a ausência de flores.

Seguiu com a seu treinamento semelhante uma grande locomotiva à vapor. Entregou-se de corpo e alma ao objetivo, dedicando todos os esforços nesse propósito. Difundindo toda a energia cabível entre os pequenos vasos no vegetal, processava a capacidade de atribuir, ao ser vivo primitivo, uma aceleração notável de crescimento dele. Com míseros segundos, notou suas folhas acrescerem em corpo. Com alguns minutos, cresceu. Ganhou altura e passou da altura do menino, muito embora não fosse tão alto. Depois de um dia inteiro, floresceu.

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Abriu um largo sorriso, contraindo bem as bochechas e os olhos, de maneira com a qual formou algumas covas próximas aos lábios. — É isso, Gon. Você conseguiu. Meus parabéns, meu neto, é, agora, o mais novo herdeiro de minhas habilidades. — consagrou com um contentamento sincero à face. — Então essa era a habilidade pela qual minha mãe morreu... Diga-me, vovô... — fez uma breve pausa, dando-se conta de lhe ter chamado daquele modo. O velho riu. Gon retomou a fala pouquíssimos instantes depois, quando confrontando a ausência de qualquer timidez. — Diga-me, ela era uma boa pessoa? — questionou em curiosidade. — Sua mãe era a pessoa mais pura deste mundo, meu menino. Ela era afeiçoada à vida. Uma menina e mulher cativante. Sua perda arrebatou meu coração, jamais poderei perdoar seu tio por essa inestimável perda. — confessou. — Ainda sim, você não é completamente hábil com a habilidade. Lhe falta prática. A qual daremos continuidade agora... — instruiu.

O idoso andou e se posicionou de pé ao seu lado, esticou ambas as palmas de suas mãos contra o vento e se concentrou na criação de um grande campo de árvores. — Faça o mesmo. — exigiu. De início, pensou ser impossível realizar aquilo, porém nenhum desafio parecia distante demais que não pudesse abraçá-lo. Pensá-los como sendo uma aventura tornava tudo mais fácil, inclusive. Espairecido, de semblante sereno, orientou a extensão completa dos seus membros superiores num ângulo reto entre o corpo, com uma semiflexão dos cotovelos. Pressionou o sistema circulatório de chakra ao máximo, unindo a ele as duas naturezas distintas de chakra. Era hora de finalizar de uma vez por todas tudo aquilo. Provar-se.  

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Muito embora praticasse, aparentava estar distante de uma perfeita forma. Forçou-se, fazendo com que os vasos sanguíneos do antebraço dilatassem e se apresentassem ao ambiente. Compreendeu perfeitamente pelo que passava seu neto, aproximando-se timidamente dele. Repousou a destra sobre o ombro do menino. — Não pense e nem se esforce demais, Gon. Não é disso que se trata. Aja com naturalidade, permita que a mãe natureza que habita dentro de você faça seu papel. — tutorou em tom calmo. A aura que emanava de seu avô tranquilizou o coração do esforçado jovem. — Certo! — disse, tornando o rosto ao solo rochoso sobre o qual aplicava toda a energia.

Num piscar de olhos conseguiu originar um belo campo de flores nos arredores. A vida atraiu borboletas e pássaros, que encontraram ali uma chance de relaxar. — É lindo... —  avaliou o mais idoso com lágrimas escorrendo de seus olhos. As belas aves pousaram nos ombros do menino que com elas brincou. O ancestral Senju, Narama, encontrava no garoto mais que um simples herdeiro. Deparou-se com alguém que, muito possivelmente, carregaria consigo toda a honra de um clã. — Você não poderia ser melhor, garoto... — sussurrou. — Disse algo, vovô? — questionou. — Não, meu precioso neto. Parece que finalmente você está pronto. Agora é minha hora... —  despedia-se com o coração apertado. Aquela decisão, apesar de mais correta, era também a de maior custo. A criança, embora afeiçoada ao parente, entendeu seus motivos.

Despediam-se entre olhares e tímidas lágrimas. Ambos perdiam alguma coisa com aquela despedida. — Lembre-se, Gon. O mundo ninja é enorme e não faltarão aventuras. No entanto, só se utilize do Mokuton quando se encontrar em perigo máximo. Esta habilidade é cobiçada por seu tio e sempre foi cobiçada por outras tantas pessoa. Guarde-a, a única lembrança de sua mãe... — recomendou com pesar na voz. — Vovô! — gritou. O velho girou o corpo completamente. O jovem correu em fúria e o abraçou. — Venha me visitar quando puder, adoraria conhecer alguns dos meus amigos... — disse com os braços bem encaixados. O homem balançou o cabelo do neto com a mão e sumiu dali, tendo seu corpo transformado numa árvore. Um clone. O jovial shinobi cerrou os punhos e encarou o horizonte. Dali, deitou-se em seu campo florido. Relaxou por alguns breves instantes.

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