Aos arredores de Kumogakure era sua morada, normalmente utilizariam a palavra casa ou lar, mas para ele esse era um lugar perdido a muito tempo atrás. Se perguntava as vezes quando foi que sua vida havia se tornando um clichê, o garoto sem pátria que cresceu e decidia tomar de volta aquilo que lhe foi usurpado mesmo que isso seria apenas o único pois desejava além disso queria algo mais substancial, de toda maneira ele não havia nenhuma culpa nisso, afinal no momento era apenas um produto dos acontecimentos, a lenda do Sekigan no Ō o fez perceber que com a quantidade de poder certo tudo seria possível, o maior erro dele foi tentado sozinho. Divagava enquanto estava sentado em uma espécie de trono em seu covil, o lugar que antes era luxuoso e bem cuidado, agora era um abrigo de poeira, ratos e aranhas. A energia daquela instalação a tempos não funcionava, a escuridão só não cobria tudo devido a umas poucas tochas que ficavam nas colunas, o silencia tomava de conta.

Sentado ali, repousava a cabeça e sua mão que estava sendo apoiado pelo cotovelo esquerdo no braço do trono, o cheiro pútrido devido aos restos de comida que estavam por todo o lugar, invadia as narinas de qualquer um que chegasse na entrada do local, o tédio parecia o consumir vivo. Estava sem um norte, para conseguir seus objetivos seria necessário mais que o auto aperfeiçoamento, mas isso já seria um bom começo, teria que ir um passo de cada vez. Deveria melhorar nesse momento as suas capacidades físicas, já que nos últimos anos de academia toda melhoria foi voltada para o intelecto e conhecimentos do meio ninja, as únicas habilidades que costumava praticar era com a espada, mas agora nem isso mais possui, foi perdida quando teve que enfrentar o seu “benfeitor” a alguns anos, toda aquela determinação havia se esfriado nos tempos que ficou acomodado com a fácil obtenção de alimentos de qualidade pouco duvidosa. Manteria as coisas simples por enquanto, se erguendo ele iria continuar o treinamento de um dos principais pontos para sobrevivência a sua maneira, sua velocidade, o treinamento era simples, porém o que dificultaria seria a forma continua de como o faria.

Inicialmente as colunas não teriam as tochas, ele colocou lá por dois motivos, o principal que seria manter uma baixa iluminação em lugares onde ele poderia facilmente realizar uma emboscada em caso de invasão e o outro era para criar uma rota de treinamento, consistia em uma forma pratica de melhorar sua velocidade e folego, com exercícios de tempo e distancia programadas para durante a repetição irem se encurtando e no seu ápice utilizar de sua Kagune para ampliar ainda mais a dinâmica. Ao ficar de pé ele começa a caminhar em direção a tocha mais próxima, os sons de seus passos ecoavam por todo aquele lugar vazio, ele acelerava e repentinamente estava correndo entre as colunas, quando chega ao alvo ele desacelera o ritmo até localizar a próximo pilar com uma distância razoável e retornar a ir em velocidade máxima, utilizando desse recurso para prolongar mais o seu folego. Estava tão acostumado com esse exercício que as pausas para ganhar fôlego era quase como se fossem cronometradas, o que ele fazia para poder ampliar sua resistência era prolongar a distancias buscando expandir o perímetro com as colunas mais distantes.

Se passando cerca de cinco horas que havia iniciado já estava começando a ficar sem folego, com o cansaço chegando e perdendo o ritmo ele decidiu então utilizar de uma artimanha para manter o exercício, fazia com que do seu lombo saiam um tentáculo que se retraia tomando um formato em espiral e suas pupilas adquiram um tom mais vermelho que o sangue escorrendo sendo iluminado pelo sol ao crepúsculo, transformava isso em impulso como se estivesse com uma mola, além do fato de que adquiria mais velocidade. Mesmo que dessa forma não desse tempo para poder recuperar um pouco do folego, mas o mantinha correndo. Após um bom tempo utilizando desse método para poder continuar correndo, as colunas já estavam marcadas e corroídas e a poeira havia se transformado em uma espécie de neblina, suas pernas já estavam fraquejando e quase não conseguia ficar de perna, quando chegou ao ápice de sua exaustão cambaleou e caiu rolando na imundice daquele chão. Com o corpo dolorido ele começa uma tosse misturada com risos, não era comum ele rir, mas a agitação e descarga de serotonina ainda era uma das poucas coisas prazerosas em sua vida vazia atualmente, com um tempo enquanto olhava para o teto que possuía detalhes pintados primorosamente e lustres luxuosos que então em discordância com o que o cenário ali teria se tornado.

Agora que se formou não havia ninguém para vê-lo, todas as interações sociais que teve foram meras farsa para esconder um identidade quebrada e falha, estava em camisa e o corpo completamente sujo devido aos restos de comida que estavam por todos os lados, levantando-se assim que obteve forças para tal, caminhou até o chuveiro que estava a cerca de duzentos e cinquenta metros de onde estava, em sua cabeça só se passavam métodos de como seguiria adiante, uma serie de ideias surgiam, mas procurava a mais simples, chegando lá se despiu e começou a se molhar, ao terminar retornou para o salão principal que era onde ficava o trono, sentou-se apoiando novamente o cotovelo esquerdo no braço e em seguida utilizando para apoiar sua cabeça e então dormir sentado ali mesmo.

Correu rápido em direção ao seu covil, pela primeira vez em muito tempo ele havia tocado em uma espada, estava mais animado por isso do que por ter êxito em sua primeira missão como um ninja de Kumogakure, achou muito simples na verdade, mas esses momentos deveriam ser apreciados, a verdade é que de fato se tudo ocorrer como ele deseja, não terá uma vida simples e nem fácil, nem mesmo ele querendo algo assim poderia ter devido a forma que veio ao mundo, mas nunca foi um empecilho, ainda que tivesse nascido de forma totalmente diferente ele sentia em cada molécula de seu ser que nem mesmo a sua morte e ressureição poderia tirar dele aquele desejo de conquista, se não fosse Tetsu no Kuni seria qualquer outra terra, por qualquer outro motivo. O desejo de conquista parecia insaciável e era torturante conviver com esse desejo devido a forma que se encontra agora, chegando em sua morada ele brande a sua nova arma fazendo os movimentos que não realizava a tempos, a podridão do ambiente não parecia o incomodar de forma alguma, mesmo com os vermes começando a tomar de conta do lugar. O som da lamina se movendo em alta velocidade ecoava estranhamente abafado, soltando o ar de seus pulmões em cada movimento, sua respiração parecia controlada como se fosse uma máquina graça a esforços anteriores.

Durante os movimentos, sentia a nostalgia de quando treinava acompanhado com as gêmeas, mesmo que ferozes e debochadas eram uma ótima companhia vez ou outra, lembrava dos últimos momentos delas, a falta de habilidade era um defeito crucial que deveria superar o mais rápido possível. Mesmo os samurais abominarem os ninjas eles o abominam por sua simples existência, qualquer meio que poderia ajudá-lo a se sobressair merecia ser praticado, teria que unir ambas as habilidades, entre a maestria com a espada como a arte do ninjutsu. Afinal esse foi o caminho que viu ser mais prático e eficaz, mas para melhorar nesses quesitos teria que se tornar mais ágil, começou o seu velho habito de praticar através do treino sombra, imaginou diversos espadachins ao seu redor e todos eles eram corpos negros usando pingentes em formato circular e um triangulo ao meio, achou divertido lembrar desse símbolo que fazia arte do seu dia integralmente. Os golpes que realizava nunca acertavam seus oponentes, essa era a graça de tal método, sempre se aproximar e nunca chegar lá, poderia parecer frustrante, mas na verdade o ajudava a progredir, o esforço continuo para poder melhorar não era como se ele nunca acertasse, é o caso de que sempre que se aperfeiçoa o oponente faz o mesmo, uma continua busca de melhoria e progressão de ambas as partes.

Notou que estava começando a ficar significantemente melhor, mas se empolgou demais, o movimento continuo da lamina que empunhava o fez lembrar de ser atacado quando mais jovem, lembrou das armas que mataram sua mãe em sua frente, conforme atacava aqueles seres existentes somente em sua mente, lagrimas escorrem em seu rosto e solta um grito abafado cada vez que se aproxima de acerta-los. O pingente típico de seus antigos “companheiros” havia sumido, só conseguia ver os olhos assustadores daquelas pessoas, mesmo que agora ele soubesse que o medo foi um propulsor de tal barbaridade, ele não conseguiria perdoa-los, além do medo havia também a rejeição, as pessoas presas em suas bolhas sócias, esquecem que o mundo é diferente para cada pessoa, que as vezes temos que ficar a mercê do que a vida nos dá. A empatia é dificilmente sentida por multidões, uma pessoa pode ser inteligente, todavia aparentemente quando se unem parece que perdem o bom senso, talvez nunca tiveram, indagava isso toda vez que voltava ao passado. Chega a um ponto que perde a concentração, as escleras dos seus olhos começam a escurecer dando indícios de surgir as marcas vermelhas ao redor, com o intuito de evitar mais lembranças tortuosas ele joga a sua espada o mais longe possível, começa a se questionar o que poderia fazer para desviar desta tormenta momentânea.

Surge em sua mente algo que não está de nenhuma forma relacionada ao seu passado, as artes ninjas. Como válvula de escape ele então começa a pensar na em todos os ninjutsus que conhece, arquiteta em sua mente como cada um deles funciona e o motivo de serem elaborados. Pensa também nas combinações de selo de mão que conhece, começa a realiza-los criando um frágil clone intangível, alternou os selos para usar um jutsu de transformação e se tornar um idoso murcho, concentrando o chakra nos pés ele começou a correr em velocidade máxima para cima de um dos pilares até chegar ao teto. Repetiu essa sequência de jutsus durante horas, alternando vez ou outra a ordem que as utilizava, como de costuma ele treinava sem camiseta pois nunca sabia quando ele usaria sua kagune, não deseja arriscar rasgar suas vestes já que seus recursos monetários estavam extremamente escassos. Ao final do dia ele notou que também não havia dormido, de sua missão noturna ela foi em direção a loja do vilarejo e em seguida retornou para a moradia, seu corpo já cansado e sentindo o peso do sono sobre seus olhos ele olha ao redor e vendo aquela bagunça toda, pensa onde iria descansar, o único lugar que estava razoavelmente limpo seria no suposto trono, foi vagarosamente em direção daquele assento e se sentou quase como um salto. Dava para notar que seu corpo era pequeno comparado a magnitude do trono completamente adornado, se aconchegando um pouco ele caiu no sono.

Já fazia quase um mês que estava morando com Odatta, o lugar era tão grande e havia tantas portas fechadas que não conhecia nem metade do lugar, toda aquela arquitetura tradicional misturada com uma tecnologia estranhamente avançada, um dos temores que se instalavam em sua espinha era um dia parar naqueles enormes tanques com corpos nos mais variados formatos flutuam adormecidos. Ele mesmo já havia trago um resto de alimento na qual a sua nova anfitriã fez questão de preservar e estudar ela mesma, ainda que houvesse perdido uma carne de boa qualidade não viu motivos para negar a solicitação. As noites eram as mais calmas da sua vida, costuma se deitar em um alpendre construído na beira de um precipício, os dias se tornou cada dia mais lentos. Decidido a aproveitar toda a situação e ainda sim não relaxar demais a ponto de perder o ritmo, praticava diariamente a luta com sombras utilizando a espada, em um desses dias Odatta passou todo o tempo o observando, chegando até mesmo a envergonha-lo diante da falta de habilidade que mostrou no confronto que tiveram anteriormente, passou então a periodicamente observar o garoto melhorar sua maestria. Isso fez com que cada vez passasse a se esforçar mais em busca de um pouco de reconhecimento desnecessário diante daquele olhar.

Vários dias decorreram e sempre a via com aquele olhar de desaprovação, Heshikiri olha para a mulher de cabelos verdes e fala: — Por que desse olhar? Não querendo ser rude, mas o jeito que você está me observando é bastante incomodo. — O lugar onde costumava treinar era no centro da mansão, onde possuía uma concentração baixa de vegetação junta a uma pequena quantidade de água formando um mini lago onde poucos peixes de mais variadas espécies nadam em círculos. A construção ao redor está alguns centímetros a cima de chão com o guarda-corpo feito de madeira avermelhada, a área onde estava detinha em média 225m². A mulher pula e fica a cerca de 10 metros do genin, caminha lentamente falando: — Se você quer um confronto, iremos fazer como em minha terra natal. Solte essa espada e repita o que eu fizer. — Realiza então o selo do confronto e o jovem repete logo em seguida. — Ótimo, agora a batalha começa! — Quando falou isso já estava a dois metros dele, com um rodopio ela tenta acertar um chute na cabeça da criança, que esquiva com perfeição se inclinando para traz, faz isso o suficiente para encostar as mãos ao chão e impulsionando suas pernas para cima tenta acerta no queixo de Odatta. Durante esse movimento ela rapidamente segura por um dos pés e puxa o rodopiando, pegando abalo o suficiente solta o menino.

Sendo arremessado quebrando uma parte do guarda-corpo se chocando contra a parede que de imediato apresenta rachaduras, uma espécie de poeira sobe e do meio dela ele salta em direção de sua oponente, em alta velocidade tenta acertar utilizando o braço direito um soco no rosto, sendo defendido pelo antebraço esquerdo da mulher, tentado aproveitar alguma abertura com o punho esquerdo tenta acertar um over hand, mal sucedido mais uma vez quando a oponente velozmente da um passo para trás. Colocando os pés novamente no chão, a criança realiza uma serie de socos visando acertar o rosto, todos sendo parados pelas mãos de Odatta que é detentora de uma força física extremamente superior a dele. Os golpes persistiram se tornando um misto com tentativas de chutes e joelhadas, tudo parecia em vão e seu movimento começaram a retardar, o suor escorre em seu rosto e a respiração começa a ficar pesada, aos poucos vai parando e conforme isso vai acontecendo o kunoichi começa a rir mais intensamente. Cessando os ataques ele observa que ela nem ao menos se arranhou, não havia nem mesmo demostrado esforço algum durante o combate, abaixando a cabeça e se apoiando nos joelhos tenta recuperar o folego, sendo interrompido por uma cotovelada próximo a nuca que o leva ao chão. Em sua mente só pairava o pensamento de inferioridade, extremamente desconformado consegue se erguer mesmo que bastante tonto, dando em seguida uma sequência esdrúxula de socos.

A mulher de cabelos verdes observava com um certo apreço a tentativa do garoto de acerta-la, ela fala: — Acho que já é hora de pararmos, é muito importante ter noção disso. Mas só encerramos esse embate depois disso. — Pega na mão dele e junta os dedos que fizeram o selo de confronto. — Preste atenção, pois isso se chama Selo de Reconciliação. Passarei a observar você mais vezes, trate de melhorar esse fôlego, pois da próxima vez eu irei exigir bem mais antes de pararmos. — Odatta então se retira do local, indo para mais um dos cômodos em que o jovem não tinha acesso. Abarrotado de frustração se dirige ao seu quarto, onde toma um banho de banheira e vai dormir, esse dia em específico havia sido bastante corrido. Assim que acorda no dia seguinte, centra apenas um objetivo, melhorar sua aptidão física. Vai para a mesma área de treinamento onde deixou sua espada, sem nem a remover do chão começa a realizar movimentos leves e calmos, conforme o tempo passava aumentava a velocidade e intensidade. O controle da respiração se mostrava de uma extrema importância novamente, o fazia cada vez mais perdurar nas posições sem precisar de descanso, passando então a adotar em intervalos de um dia, o treinamento de artes marciais além do domínio puro da espada.

O sangue pulsava rápido e com ímpeto, os músculos do abdômen se enrijeciam assim como quase todos do seu corpo. Era um movimento completo e sublime, tudo ao seu redor parecia diferente, um novo olhar e uma nova perspectiva. As belas borboletas montanhosas que viam junto a primavera se moviam de forma lenta, quase podia sentir o sopro de suas leve batidas de asas, conforme se movimentava o orvalho concentrados nas folhas tremulavam mesmo se mantendo suas posições, o silêncio absoluto fazia com que o som dos pássaros e insetos ficassem tão altos quando uma multidão no centro de uma cidade.

O som do metal arrastado na bainha começava a tomar espaço naquele ambiente, um passo na grama fresca deixava sua marca, principalmente pela intensidade e ainda assim não fazia som algum. Tudo estava tão calmo e sereno naquele momento que até mesmo homem mais ansioso poderia relaxar tranquilamente com a melodia da natureza. Uma pequena gota de suor escorria lentamente em sua testa e começava a pingar, seus olhos se mostravam centrados e afiados tal qual sua lâmina, sua respiração saia abafada e silenciosa, em um momento de contemplação a sua presença poderia até mesmo ser esquecida devido a maneira que se movia como se fosse parte daquele meio, de certa forma é.

A lâmina rapidamente atravessava o alvo e o único som emitido foi o da arma em contato com a bainha, os primeiros segundos parecia que nada havia acontecido. Porém, com uma espécie de chiado era emitido por uma das arvores seguido de um estrondo, a mesma havia caído. Tinha sido cortada perfeitamente pelo garoto, tudo aconteceu em um bater de asa da borboleta, antes mesmo da gota de suor cair ao chão, o orvalho acumulado nas folhas caia como se estivesse esperando por esse movimento. O próximo movimento era por a token bainha a dentro, a luz do sol refletia em seus bracos cabelos que pareciam iluminar ainda mais o lugar, aquela figura opaca que antes se misturava ao ambiente devido a tamanha velocidade, agora se descava e rouba a atenção de alguns animais próximos. Havia finalmente dominado a técnica ancestral de sua velha pátria, um estilo de combate voltado exclusivamente para derrotar shinobis.