A mando do Hokage, Tenshin correu ao local indicado. Estava eufórico, estava faminto por conhecimento, estava, de uma vez por todas, aceitando seu encaminhamento ninja. De alguma forma, uma chama se acendia dentro de si: queria ser um dos melhores.

O cenário já lhe era familiar, estendia-se a sua frente o famigerado terceiro campo de treinamentos. Aguardou a vinda de seu mentor para, então, começar mais um treino.

Considerações:

O garoto sorriu com a analogia do Hokage. Porém, o que lhe coçava sua mente era o pedido que queria fazer desde o início. O motivo pelo qual procurara o mais velho.

- Hokage-sama... – Começou. – Queria fazer algo diferente, dessa vez. Queria que o senhor me ensinasse alguma técnica, algo mais... ofensivo.

Ele observou a reação do mentor, querendo que seu desejo fosse concedido. Não havia realmente o que temer. No geral, numa análise de suas habilidades, apesar de recentemente ter desenvolvido uma técnica poderosíssima de perfuração com suas sombras, não possuía uma larga escala no quesito ataques – nem defesas. Porém, precisava começar de algum lugar.

Quando lutara com os adversários do Exame Chunin, vira que eles tinham algo forte. Uns utilizavam marionetes, outros jutsus de gelo. E havia aqueles que usavam o próprio corpo, engajando em disputas corporais que destruíam facilmente qualquer oponente.

Tenshin, porém, tinha apenas as sombras consigo. Ele precisava de mais. E, numa epifania, recordou do treino com o Hokage, trazendo a si suas técnicas mais usadas: as de fogo.

Fosse qual fosse a coincidência, mas a natureza elemental do garoto Nara era justamente o Katon.

- Algo como... Fogo. – Completou, na expectativa de uma concordância.

Considerações:

Perante a proposta que oficializava a relação mestre-pupilo, uma onda de motivação atravessou Tenshin. Talvez, finalmente, fora aquilo que buscara. Aprenderia com o melhor da Aldeia da Folha, faria parte dos grandes acontecimentos. Concordou com a cabeça, pois palavras lhe faltaram, mas acreditou que o Hokage teria entendido sua resposta.

Então, foi o momento de aprender.

Ele observou atentamente aos movimentos do mentor, decorando rapidamente os selos de mão. Ou pelo menos a ordem destes. Tigre, Carneiro, Macaco, Javali, Cavalo e Tigre, e então repetia-os em sua mente.

Dali, tentava acompanhar o ritmo do pensamento com os símbolos sendo executados por seus ágeis dedos. Na primeira tentativa, perdera a sequência. Na segunda, pulara um ou outro animal. Refazia-a novamente, recitando a ordem em voz baixa.

- Tigre, Carneiro, Macaco, Javali, Cavalo e Tigre. – Então, completou-a. Assim como tinha feito o Hokage, encheu os pulmões o máximo que pode, mirou para o alto.

Algo se comprimiu dentro dele, sentiu sua garganta inflamar, ele fez um bico como se fosse cuspir algo.

E assim, percebeu.

- Katon: Gokakyu no Jutsu! – O fogo trespassou sua via respiratória, seu chakra comprimido subiu fumegante aos céus numa forma esférica avermelhada. A rajada iluminou momentaneamente o local, quando enfim se desfez.

Tenshin cambaleou, meio zonzo, e tossiu profundamente, como se algo tivesse arranhado sua garganta.

- É... acho que leva um tempo pra acostumar, né? – Brincou. – Tem mais?!

Considerações:

“Como vou fazer a forma de um dragão com a boca? ”, questionava-se Tenshin, quando via a chama emergir da boca de Albus logo depois de executados o selo e o chamado do jutsu.

A garganta ainda acostumava com a pressão e o calor causados pelo chakra canalizado e convertido em fogo. No momento anterior tinha sido a primeira vez que o garoto Nara desenvolvera esse tipo de habilidade, sendo que tinha mínima noção da existência de sua natureza Katon. Agora, refletiu consigo, poderia até desenvolver técnicas mais elaboradas que não consistissem somente em expelir fogo pela boca – que era o que todas as técnicas do estilo pareciam ser.

Mas, não as subestimando, Tenshin continuou seu treinamento. Os selos desse jutsu eram mais simples, o que não o tornava mais fácil. O que pegava, nessa vez, era a forma tomada pelo jutsu. Por algum motivo, o criador dessa técnica devia crer que um dragão de fogo era temeroso.

Iniciando, Tenshin realizou o selo e puxou o ar. Sentiu novamente o chakra canalizar em suas vias e, clamando pela técnica, mirou para o alto e fez uma linha chiar para o alto. Definitivamente não era um dragão. Ele riu.

- Tá mais pra uma cobra. – Brincou, seguindo. Passou a terceira, quarta e quinta tentativa. Percebeu que o molde dracônico não era referente ao tipo de bico que fazia ao exalar o fogo: era somente a concentração do chakra se dissipando dentro de si que dava a aparência às chamas.

O Tigre dançou em seus dedos e, no campo de treinamento, ouviu-se soar:

- Katon: Gōryūka no Jutsu! – E o dragão de fogo foi expelido, ainda não perfeitamente, mas suficientemente poderoso para causar grandes danos.

Serpenteando, saiu atravessando os céus, desaparecendo na sequência.

Considerações:

- Uau! Parecem fogos de artifício! – Tenshin deixou escapar sua agitação enquanto admirava as labaredas em forma de pequenos dragões se extinguirem. Era uma técnica bonita, de certa forma, semelhante à técnica anterior.

Sua garganta acabara assentando o calor e agora não parecia que ele tinha bebido uma sopa quente demais. Talvez fosse o fato de ter alguma afinidade com o fogo, talvez por ele ser sua primeira natureza, talvez fosse sua especialidade em realizar ninjutsus ou, ainda, sua inteligência elevada para uma criança de onze anos. Provavelmente todos esses fatores se juntavam e tornavam o aprendizado do garoto mais fácil.

Passada a surpresa pela nova técnica, Tenshin teve que ajustar o “molde” de seu chakra para expeli-lo em menores quantidades, ainda que tão letais quanto, na mesma forma de dragão. Começou, porém, executando novamente a técnica aprendida anteriormente, o Gōryūka no Jutsu, para lembrar-se como se fazia.

Enquanto o dragão se desfazia no horizonte escuro, a criança Nara comprimia a primeira leva do próximo jutsu. Tentou a primeira vez, expelindo as rajadas em turnos esparsos demais, o que causava algo similar a um “engasgo de chakra”.

Recuperou o fôlego e tentou de novo, calculando mentalmente quanto tempo levava o disparo de um e outro “tiro”. Quando contou, terminando de falhar, já tinha tudo preparado para a o que seria sua terceira tentativa.

- Katon: Ryūen Hōka no Jutsu! – Clamou, rugiu o Tigre e sentiu o fogo tomar forma e viajar na forma de pequenas bestas em direção ao céu.

Mais uma técnica.

Considerações:

Havia lógica no que o Hokage tentava fazer. Três técnicas que expeliam fogo de diferentes formas e níveis eram balanceáveis numa luta, suficientemente diversas para cada tipo de situação. Teria a técnica com pouco consumo e certo alcance, e as de maior consumo – consequentemente maior dano também. Era bom o bastante.

Agora, para não tornar a noite toda mais do mesmo, o mentor buscou ensinar uma arte ninja mais enraizada. Era uma camuflagem, um jutsu camaleônico. Desde cedo, na academia, aprendia-se a importância da camuflagem tanto numa fuga, quanto em qualquer situação que requeria furtividade. Por isso ensinavam o Kakuremino no Jutsu, mas essa técnica requeria um pedaço de pano ou algum tipo de capa, que nem sempre estaria disponível num momento de batalha.

O jutsu executado pelo Hokage era simplesmente a manipulação do chakra, como se o próprio chakra fosse sua capa.

A mudança da utilização e canalização de seu poder seria um pouco mais complexa agora para Tenshin. Não só pelo fato de que se acostumara a canalizar pela garganta, mas também agora teria que externalizá-lo por completo e o gasto de chakra seria maior.

O garoto preparou-se. Como se fosse desvincular-se do vício de cuspir fogo, balançou a cabeça em negação, revendo o meio para trazer chakra para fora de si.

Concentrando-se em determinadas regiões de seu corpo, fez o selo do tigre com as mãos e aos poucos percebeu a parte em questão se tornar de certa forma tênue, vaporoso. Porém, todo seu corpo continuava visível e, novamente, tentaria mais uma vez.

Estava claro para ele que era praticamente impossível aprender uma técnica na primeira tentativa. Precisava-se, antes, entender o justu, acertar na sequência de selos e canalizar o chakra de forma correta.

Entretanto, havia técnicas que Tenshin não podia executar. Ninjustus extremamente avançados, ou ainda qualquer nível de genjutsu ou taijutsu eram um segredo quase indecifrável para o garoto, que um dia tentaria aprender uma das duas artes.

Clamou o tigre mais uma vez, desanuviando a mente dos devaneios. Tentou concentrar o chakra em mais partes do corpo, mas ainda não em todo ele. Percebeu a caixa torácica ser afetada pela técnica, faltando com o restante. Repensou a técnica.

Precisava concentrar chakra em todo seu corpo, entendia isso, mas como pensaria em todas as partes de uma vez só?

A resposta já estava consigo.

- Não preciso pensar no corpo todo... – Refletiu, sussurrando a si mesmo, ainda que o Hokage estivesse ali, esperando. – Eu tenho veias cheias de chakra espalhadas pelo meu corpo todo... o chakra já está concentrado, é só trazer pra fora. – Conclui o garoto, sorrindo.

A terceira vez é a vencedora das tentativas.

Tenshin fez rugir o tigre e, com os punhos selados, fluiu o chakra em todo seu corpo. Não tão rápido quanto o Hokage, ainda não tão eficaz também, executou o jutsu com certa precisão, lentamente. Teria mais vezes para treinar e ficar perfeito com a técnica, mas, para todos os efeitos, sabia fazê-la.

Observou que estava ofegante. Aprendera quatro jutsus numa noite e seu chakra nunca fora tão bem gasto. Mesmo que quisesse aprender mais, temia que não duraria tanto tempo e aguardava que seu mentor soubesse administrar a dosagem de aprendizado.

O garoto sorria, extremamente grato, aguardando a próxima lição.

Considerações: