Poucos dias após minha volta. Os últimos dias se resumiam em chuva. Talvez a batalha causara alguma mudança drástica no clima, ou os céus apenas lamentavam por todas as vidas perdidas. Eu não tivera muita força desde que descobri que, dessa vez de fato, eu estava sozinha. Apesar de todas as lágrimas, das poucas horas de sono causadas pelo extremo desconforto que eu sentia dentro de mim e da dor de cabeça frequente, eu sabia que não podia continuar penando por aquilo. Aquilo fora resultado de uma batalha causada por um ser estúpido que apenas queria causar destruição. Eu precisava ficar mais forte. Eu precisava ser capaz de defender meu povo caso algo parecido voltasse a acontecer. Os pensamentos rolavam pela minha cabeça enquanto meus olhos começavam a marejar. A dor no peito era muita, mas não poderia lamentar para sempre. Fechei as mãos em um punho como se eu pudesse afastar minha dor e lamentação com o gesto. Abaixei cabeça e fechei os olhos, sentindo uma lágrima escorrendo pelo meu olho direito. — Não posso continuar chorando... – Sussurrei para mim mesma. Me aprontei e comecei a caminhar em direção a qualquer lugar em que pudesse treinar. O Shikigami no Mai era uma técnica baseada completamente em ninjutsu e eu precisava aprimorar minhas capacidades. Era meu principal objetivo no momento. Encontrei a leste da aldeia o que sobrara do que um dia viera a ser um campo de treinamento. Andar pela vila e ver o que costumava ser a lar de pessoas inocentes e felizes era devastador, mas tentei não me prender a mais sentimentos negativos.

Deixei minha mochila de lado e iniciei meu treinamento. Como de praxe, começaria com o controle de chakra. Quando aprendi a técnica baseada no papel minha tutora pontuou sobre o controle de chakra e eu meu objetivo era ter total controle do meu chakra. Me sentei no chão. A chuva caía sobre meus ombros e encharcava minhas roupas, mas eu já não ligava. Com apenas uma das mãos fiz o selo do javali. Tinha ciência da maior dificuldade do controle perfeito com apenas uma das mãos, mas se eu me esforçara para aprender agora eu deveria usufruir e aperfeiçoar tal habilidade. Apesar da pouca idade eu conseguia sentir meu chakra circulando dentro do meu corpo com precisão. Apesar disso, sentia que apenas aquilo não me ajudaria muito. Peguei uma pequena folha então, que estava jogada ao lado, e coloquei na minha testa. Aquilo me lembrava da época da academia. Coloquei-a sobre minha testa de maneira que cairia caso eu perdesse o controle e a atenção sobre a mesma e foquei meu chakra naquele ponto. E assim que fiquei. Meu chakra fluía de maneira límpida e rítmica, impedindo a folha de cair durante todo o tempo do treinamento.


Aproximadamente uma hora se passou. Sentia que o gasto de chakra na tarefa da folha fora mínimo. Talvez porque fosse algo destinado a crianças da academia, talvez porque o treinamento estava funcionando, descobriria isso logo. Agora era o momento de treinar com minhas novas habilidades. Estendi meus braços, fechei meus olhos e levantei minha cabeça. Sentia meu cabelo molhado sendo remexido pelo vento frio que tomava as redondezas nas últimas semanas. Meu chakra inundava meu corpo. Meu rosto começava a de descolar em milhares de fragmentos de papel, logo se estendendo por todo meu corpo. O sentimento ainda era algo novo para mim. Era como se o vento que antes remexia meu cabelo molhado levasse agora todo meu corpo. Sob aquela nova forma eu começaria meu treinamento. Como uma técnica recente eu precisava saber e entender meus limites. Eu entendia que como uma técnica que eu tornaria uma assinatura, eu deveria ter total controle dela, entender o quanto ela tomaria de mim durante sua ativação e seu tempo ativado, quanto tempo eu resistiria até não aguentar mais, tudo. Eu precisava entender cada minúcia daquela nova habilidade. O primeiro passo seria uma básica mudança de forma. Meu corpo flutuava pelo campo materializado em milhares de papéis, como se existisse um vento que o fizesse rodear pelo ar sem que a gravidade o afetasse. A primeira coisa que veio à minha cabeça fora borboletas. As borboletas que me receberam na entrada do templo onde eu iniciaria o treinamento para aderir tal habilidade. Mentalizei-as da mesma maneira como havia visto aquele dia e então simplesmente senti o que queria fazer. Era algo extremamente subjetivo, afinal eu não havia meus braços pra gestualizar, eu praticamente não existia ali. Se alguém visse aquela cena dificilmente poderia dizer que era uma pessoa. Mas então começou a acontecer. Os movimentos dos papeis eram precisos e sutis, se dobrando até formarem o que poderia ser uma grande panapanã. As finas gotas que agora caiam do céu tocavam os insetos de papel, porém sem causar danos ao papel. Ao que tudo indicava, o chakra que os envolvia para manter a técnica era suficiente para que a água tocasse, e até fosse absorvida pelo papel, sem que o destruísse.

Pronta para uma próxima etapa voltei a me materializar. As borboletas começavam a se desdobrar agora, se juntando em uma velocidade inesperada e me rematerializando.  A próxima etapa seria agora tentar algo que eu poderia utilizar em batalha. Me lembrei do combate com Yato e Erza. O garoto utilizou durante todo o tempo grandes asas feitas de papel para manter-se no ar, além de utilizar a técnica para criar um montante de armas ninjas constituídas de papel. Fechei meus olhos e mentalizei as asas. Grandiosas asas feitas totalmente de papel, me dando quase que a aparência de um “anjo”. E assim foi feito. Meus membros do joelho para baixo começaram a se desconstituir, deixando papéis nas ligações, se direcionando assim às minhas costas. Era como se as tais asas fossem novos órgãos, uma nova extensão de mim. Feito isso, me concentrei no que seria a última etapa do meu treinamento. Estendi as mãos. Uma dúzia de papéis começaram a se direcionar na frente e aos lados delas, começando a girar e tomar a forma de shurikens. Estendi-as a uma árvore e então aquelas armas construídas de puro papel foram em direção a ela, todas se prendendo brutalmente contra o caule. A esse ponto eu já sentia minhas reservas de chakra quase em seu limite. Apenas com um pensamento breve meu corpo já se materializava normalmente novamente no solo. Apesar do treinamento ter saído bem, sentia que precisaria de mais para que a técnica se tornasse como uma extensão de mim. Com a cabeça um pouco mais distraída e distante de toda a catástrofe que  me cercava, peguei minha mochila e me direcionei novamente ao interior da vila.

Considerações:

Jutsu:

Armamentos:

Sua rotina tinha se intensificado após ter sido derrotada pelo garoto dos olhos brancos no exame chunin promovido pelo novo Hokage. Tentara fazer o máximo de missões que podia, mesmo as mais básicas e estava tentando desenvolver uma habilidade de alto nível para que pudesse suprir suas fraquezas. Apesar de tudo, eu tinha ciência da importância que ter conhecimento poderia lhe prover no campo de batalha, então se direcionava à biblioteca antes de ir ao campo de treinamento.

Uma vez no local rodei o ambiente em busca de assuntos que poderiam me ajudar de alguma maneira a me aprimorar. Passei pelas prateleiras que falavam sobre o chakra e peguei alguns livros, me direcionado em seguida para a sessão que falava sobre ninjutsu e, pegando mais alguns livros, me sentei em uma das mesas ali disponíveis para começar a sessão de leitura. Os livros relacionadas a chakra falavam basicamente coisas que eu já havia lido em treinamento antigos: falavam sobre a constituição do chakra, sobre os pontos de chakra, etc. Outros livros iam mais além, falavam das variações do chakra, as chamadas transformações de natureza que falava da moldagem e definição do chakra para alterar as propriedades e características das técnicas. Outro livro falava sobre as fraquezas e as forças de cada elemento e da afinidade que cada ninja poderia ou não ter com os elementos, me levando a compreender basicamente minhas habilidades com o elemento água. Os livros ainda indicavam que existiam mais elementos do que os básicos, construídos a partir dos cinco principais. Os livros referentes a ninjutsu não tinham muitas novidades, sendo basicamente definições do chakra, falando de selos e de algumas técnicas famosas.

Tendo passado algumas horas lendo os livros, arrumei-os e me direcionei ao campo de treinamento. Eu estava ali com um objetivo: treinar o que seria minha técnica mais poderosa. Por ser uma técnica que recém-criada e nunca utilizada em batalha, eu não tinha muito controle sobre a mesma. A habilidade que me transmutava em uma espécie de górgona me dava propriedades incríveis que supriam algumas baixas nas minhas habilidades e eu precisava continuar os aprimoramentos até que finalmente pudesse utilizar a técnica sem ter as desvantagens que ela causava até agora. Me colocando em um canto distante do campo comecei a sessão de treinamento. Com os selos devidamente feitos, a transmutação começou. Uma tempestade de papel me envolveu enquanto minhas pernas eram transformadas em um grande corpo ofídio. A sensação era diferente, era como se parte da minha humanidade deixara meu corpo. Me direcionando à floresta próxima ao campo de treinamento comecei a utilizar da velocidade que a habilidade me proporcionava para me acostumar com a mesma. O chakra utilizado para manter a habilidade era o que, no momento, me atrapalhava. Ao fim da tarde pouco havia mudado, mas eu já me sentia, mesmo que um pouco, mais pronta para utilizar da habilidade em batalha. Enquanto o sol se punha no horizonte, eu caminhava vila a dentro.

Considerações: