O pai de Hikari, um ninja de elite e renomado por todo o continente, havia sumido sem dar qualquer notícia de seu desparecimento enquanto este aparentemente havia ido realizar uma missão. A menina tomava nota do seu sumiço, no entanto ela não era a única. Todo o quartel general do vilarejo estava alvoraçado diante dos fatos. Um Chūnin habilidoso fora designado à incumbência de procurá-lo. No entanto, esquivando-se de ordens do quartel general, acabou por ir na direção da casa do homem. O motivo era simples, não faria a busca do homem sozinho, levaria com ele a filha do desaparecido.

Passos rasos na direção da residência da kunoichi. Bateu à porta com força, não tinha nenhum modo sequer. Aguardava, quem sabe, ser atendido.

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Por mais satisfeita que eu estivesse em ter a notícia do retorno de Raito, não podia deixar de sentir um comichão estranho no estômago todas as noites pensando em meu pai. Ele estava em missão de acordo com os relatos da aldeia e ele mesmo pouco antes de sair de casa, deixando-me para trás. Claro que não fui contra ou chorei desesperada. Não era mais uma criança nessa época. Sinceramente, nem mesmo em meus dias mais infantis derramei lágrimas em suas saídas em missões. Sendo um ninja, ele me criou para conhecer as rotinas militares. Conhecendo o risco de vida, ele me preparou para o momento em que eu recebesse em minha porta um aviso de sua morte.

O motivo de eu estar preocupada naquela ocasião era a demora em retornar. Ele sempre foi um ninja capaz de cumprir missões em tempos recordes. Inclusive as mais complexas de classes elevadas. Abraçava-me anunciando um tempo limite e sempre terminava falando: "Se eu não voltar neste tempo, provavelmente morri". Mas ele retornava todas as vezes. Por isso, um atraso de um mês e meio de sua data preestabelecida me incomodava.

Estava deitada no sofá de casa olhando o teto. Tínhamos colocado algumas marcas entalhadas com kunais no topo durante minha infância. Eram estrelas desenhadas totalmente tortas. Ele disse que eu um dia as iluminaria com minha kekkei genkai, mesmo sem me dar nenhum conhecimento sobre isso na época. Ele beirava o misterioso às vezes. Porém, uma batida na porta me tirou dos devaneios naquela estranha noite. O rosto dele me avisando sobre o funcionamento da entrega de más notícias me guiou para fora do sofá em um salto. Abri a porta vestindo somente uma blusa justa cobrindo um pouco da calcinha de algodão. Os cabelos bagunçados escondiam a maldita marca em minha testa.

Diante de mim estava um homem comum do vilarejo trajando as vestes típicas. A bandana em sua testa revelava mais do que se precisava imaginar, a pele negra e os cabelos afro também. Tinha bastantes músculos sendo revelados pelas partes sem mangas de seu uniforme com o colete ocupando o peitoral. —— Boa noite —— comentei cordialmente —— meu pai está morto, certo? —— perguntei sem mostrar nenhuma expressão normal, pois nunca fui muito boa entendendo os melhores comportamentos sociais.

Mas isso é assunto de outra história.

Considerações:

— Por que diz isso? Você sabe de alguma coisa a qual eu não tenho conhecimento? — perguntou com olhos arregalados. Estava assustado diante da indagação da ninja. — Na verdade, Kumogakure está preocupada com seu paradeiro e designaram a mim, Y, a importante missão de procurá-lo e eu pensei em levá-la comigo. Estou aqui a contragosto do vilarejo, mas as regras ninjas às vezes precisam ser quebradas, certo? — brincou com uma feição alegre, levando a destra ao cabelo. — Enfim... — reassumiu uma postura séria. — Você quer ir comigo procurar pelo paradeiro de seu pai? — questionou.

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—— Não, eu não tenho nenhuma informação, apenas me pareceu óbvio —— disse-lhe mantendo a falta de expressão. Y comunicou o que estava fazendo ali me deixando confusa. O ninja conhecido como meu pai jamais aceitaria regras sendo quebradas, porém, eu estava incomodada com sua demora. Precisava encontrar as respostas e aquele homem me oferecia todas elas. —— Sim, estou disposta a ir —— falei firme tirando minha blusa, dando as costas já de roupas íntimas enquanto atirava a peça em cima do sofá onde estava deitada antes de ele chegar. Caminhei desaparecendo da sala por alguns minutos, retornando usando minhas roupas típicas de ninja, incluindo um manto branco pensando na possibilidade de esfriar ou chover.

—— Vamos descobrir se meu pai está morto? —— questionei forçando um sorriso que me pareceu adequado ao momento e fui em sua direção, disposta a iniciar a missão de encontrar o homem desaparecido.

Considerações:

Assustou-se quando a menina retirou a roupa bem a sua frente. Virou o rosto avermelhado como um grande tomate. "Droga, o pai dela vai acabar me matando" imaginou com uma grande vergonha. Aliviou-se com o passar do tempo, embora mantivesse uma certa apreensão. — Blusa... — falou um tanto quanto distraído em um tom baixo. — QUERO DIZER, VAMOS! — contradisse, rearranjando as palavras em um grito. Y, apesar de mais velho, tinha um jeito bem lúdico de levar a vida. Talvez residisse ali o motivo de não ter-se graduado em posições mais altas, pois, apesar de ter apenas dezesseis anos, era habilidoso ao ponto de rivalizar contra qualquer ninja de habilidade em igual nível. — Bom... — tranquilizou-se respirando mais profundamente. — A última vez que tomamos nota do seu pai ele estava dirigindo-se a uma vila vizinha, localizada nos arredores de Kaminari no Kuni. Você deve saber bem disso, então pensei em darmos uma olhada lá de início. — conversou andando em direção ao portão da vila.

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Por algum motivo o tal Y pareceu nervoso quando retornei. Citou minha blusa, então percebi ter retirado diante dele e comecei a me perguntar se isso era realmente tão grave assim. Meu pai costumava falar para nunca usar o corpo feminino como uma arma, mas eu apenas imaginava uma maneira de socar os inimigos sem usar este corpo. Porém, preferi não buscar respostas sobre aquilo no momento. A vida de meu pai era mais importante do que a estranheza humana em ficar nervoso diante de uma garota seminua. Todos os humanos possuem corpos físicos, a única diferença está em pequenos detalhes.

—— É uma boa ideia —— disse-lhe quando ficamos próximos do portão ——, mas eu não entendo muito bem a ideia de me levar junto. Sou uma fracote ainda, eu provavelmente acabarei te atrasando —— continuei séria, não tinha motivos para entristecer as feições do rosto muito menos sorrir, pensei. Estava apenas falando uma coisa óbvia e sincera. Eu era uma mísera genin sem nenhuma habilidade útil em nenhuma missão de alta classe. Diferente de meu pai ou mesmo de Y. Eu era literalmente uma inútil. —— Mas se eu puder vê-lo, aceitarei —— concluí seguindo-o para onde ele fosse.

Considerações:

Seguiam viagem enquanto conversavam amistosamente. — Não existe isso de você ser fraca. A fraqueza está na mente do humano, não na sua força. Esqueça tudo que lhe ensinaram sobre ser mais forte porquê tem maior arsenal de técnicas ou coisa do gênero. Pura merda voando pela boca. Fortes são aqueles que se mantém de pé por mais forte que seja o oponente. — discursou brilhantemente, olhando o céu durante suas palavras. Apesar de não ter boa retórica, as sentenças perpassavam por uma honestidade sem igual. Quem sabe a menina pudesse sentir um pouco do calor do rapaz. — Mas devo reconhecer... Saber um jutsu ou dois pode te ajudar... — divagou quando finalmente no portão. — Você gostaria de aprender alguma coisa durante a viagem? Se for apta, posso ensinar-lhe sobre como sentir o chakra dos outros. — disse, por fim.

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1/20 Kanchi

Consigo recordar perfeitamente do clima naquela noite em que andamos lado a lado. Como de costume em Kumogakure, as estrelas brilhavam próximas como se pudéssemos segurá-las em nossas mãos carregando-as até nossos peitos e, mesmo assim, estavam muito distantes se escondendo detrás de várias nuvens. Isso não incomodou Y enquanto ele falava coisas bonitas tentando elevar minha autoestima. Cuidei seu rosto firme, os cabelos levantados em afro desenhavam perfeitamente sua silhueta. Ouvi dando toda atenção possível e voltei os olhos ao destino a nossa frente, as estradas noturnas da aldeia eram traiçoeiras.

—— Sentir o chakra dos outros? —— questionei colocando o indicador sobre os lábios, subindo os olhos até as estrelas. Algumas nuvens atravessaram a minha frente, escurecendo a visão. —— Eu duvido que seja capaz de uma coisa assim —— disse sorrindo o mais simpática possível, pois pareceu correto. —— Mas aceito aprender sobre essa habilidade, ela parece muito incrível —— continuou voltando a inexpressividade.

O caminho era distante, talvez teríamos de dormir em pousadas ou acampamentos improvisados. Se ele tinha ficado tão nervoso comigo sem blusa, imaginava sua reação ao descobrir como eu dormia.

Considerações:

Adentravam, após passar o portão, numa cadeia montanhosa repleta de falhas à oeste da vila. Somente munir os pés com chakra não era suficiente para ter plena aderência ao solo, deveriam atravessar o caminho com muito cuidado caso quisessem atravessar o país. Se tratava apenas do primeiro dia de viagem e os desafios já colocavam seus corpos à prova. — Tome cuidado, Hikari-chan. Qualquer passo em falso e esta será sua ruína. — advertiu. — Para dominar o Kanchi há inúmeras etapas pelas quais devemos passar até o domínio completo da habilidade. Primeiramente, você precisa aprender sobre o chakra em si. Diga-me, o que você sabe sobre? — conversou enquanto o percurso. Aproximavam-se da noite, uma hora ou outra precisariam fazer uma pausa.

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2/20 Kanchi