Cutucado pelos calcanhares, o alazão bufou e seguiu em frente pelo leito do riacho. Passamos por um segundo desfiladeiro e subimos até o topo da ovalada escarpa. De lá, já era possível ver as ruínas de Kaer Morhen grudadas às sinuosidades irregulares das rochas: o parcialmente destruído trapézio da muralha defensiva, os restos da barbacã e do portal e o balofo e embotado torreão.

Ao atravessar o que restara da ponte levadiça sobre o fosso, o cavalo relinchou e sacudiu a cabeça. Geralt, o homem à minha frente, encurtou as rédeas. As caveiras e os esqueletos deteriorados espalhados pelo fundo da escavação não o impressionaram nem um pouco, pois já vira muitos deles. Encarei-o sorrateiramente por trás e ele, de relance, também me viu. Longos cabelos prateados e uma cicatriz chamativa. O homem, certamente, já havia passado por muito mais do que eu. Entretanto, não era o momento para um interrogatório; e assim, desci do cavalo.

—— Foi uma viagem cansativa, mas prometestes o que cumprira.
—— Não me chamaria Geraldo, o Galgueiro, se não mantivesse minha palavra.
—— É, eu entendo. Então, aqui está. Como prometido.
—— Sabe onde me encontrar.

Sem uma despedida adequada, assisti sua deixa friamente. Suas costas, largas e ombros eretos retratavam um veterano em batalhas. Duas espadas embainhadas verticalmente nas costas: uma para monstros, outra para gente como eu. Lembraria-me deste aviso por todo o viver, se, por ventura, ponderasse traí-lo. Já além de minha vista, sob o cair do horizonte e embrulhado pelo crepúsculo, Geralt desapareceu.

Para minha sorte, Kaer Morhen era horripilantemente assustadora à noite. Repousaria em qualquer um dos quartos ali, gradativamente ansiando pelo alvorecer. Minha estadia seria curta, servindo apenas como propósito de treinamento — único real motivo para ter vindo à um lugar insanamente distante como Kaer Morhen.

Spoiler:

Haise; HP: 500, CK 945, CKN: 0, ST: 12/12
Hachibi: CH: 4500
Bow & Arrow; RES: 210

1/5

A alvorada atingia Kaer Morhen através de feixes cintilantes de luz que cortavam por detrás de um ajuntamento de nuvens. A brisa meneava sibilante; de cima do baluarte era possível auferir a visão descrita assistindo ao balancear das árvores e seus troncos pendidos.

Soerguendo acima da pequena bastilha, preparei-me para um teste de coragem. Observei de soslaio por uma pequena abertura concave e elusiva o fim da órbita entre onde estava e o solo rançoso. Mais de dois mil metros, se fosse perder tempo calculando. Não havia tempo. Acumulei o máximo de ar que pude em prol de enganar os pequenos espasmos que tive enquanto pensava se devia ou não fazer aquilo.

Era o único jeito. A adrenalina e a sensação de que certamente iria morrer corroboraram as minhas expectativas; se induzido à este estado, poderia transportar-me entre uma dimensão singular e literalmente pular pelo espaço. Acontecera uma única vez durante o treinamento com um antigo professor. Seus ensinamentos foram breves, mas suficientes para me colocar na rota. Naquela época, treinei por mais alguns meses e consegui resultados básicos — nada que satisfizesse minha vontade.

O aperfeiçoamento da técnica era minha única função estando em Kaer Morhen. Jogar-me de um precipício seria apenas o gatilho para que a técnica manifestasse em sua forma mais natural e eu pudesse analisá-la de todas as formas possíveis. Pensei em repetir o ocorrido mais vezes, mas percebi que a adrenalina era reduzida gradativamente e conforme eu repetia, eu não sentia mais a mesma perfeição de antes — e sabia que a técnica poderia falhar a qualquer momento. Algo faltava naquela teia de ideias que vagavam na minha mente. Sentei sobre a barbacã mais uma vez e me deleitei com desilusões sobre o que poderia causar a ineficiência da técnica que praticara.

Spoiler:

Haise; HP: 500, CK 745, CKN: 0, ST: 12/12
Hachibi: CH: 4500
Bow & Arrow; RES: 210

2/5

Perseverança e dedicação. Erguia-me a cada tombo, e repetia o processo. As ideias viam e iam, aqui e acolá, mas nada muito subjetivo ou que me desse exatamente a resposta que eu queria. Estes eram os tempos em que mais senti falta de meu antigo professor; suas explicações conclusivas e sua aura altruísta sempre me salvavam quando uma barreira de dúvidas se formava. Mas agora era como o vento que sibilava; seguia o próprio rumo.

Se pudesse ao menos precisar meus transportes, talvez não estivesse obsessivamente pensativo nas chances de chegar ou não. Foi quando veio até mim a ideia de marcar pontos de ida e chegada. Se eu soubesse aonde chegaria, amenizava as preocupações em relação a trajetória. Relancei um olhar abusivo nas redondezas, escorando-me na margem da muralha. Pensei que seria um êxito se conseguisse me teletransportar para baixo, onde eu posso ver o destino, ao invés de para cima, onde eu apenas via a minha queda.

[...]

A ideia era boa, mas a dificuldade de sua execução me causou uma pausa de mais ou menos meia-hora. Apenas observar era algo muito trivial. Mesmo que a ideia se fixasse na mente, meu corpo não compreendia. Preciso de algo mais.

Spoiler:

Haise; HP: 500, CK 545, CKN: 0, ST: 12/12
Hachibi: CH: 4500
Bow & Arrow; RES: 210

3/5

Ainda fixando-me na ideia de marcar pontos de ida e chegada, percebi que visualmente nada daquilo se transformaria em uma vantagem que desse-me o êxito que procurava. Desci as oblíquas paredes da muralha até um rochedo salientado logo abaixo, próximo do penhasco. De lá, pude observar firmemente o local donde estava e fiz alguns cálculos necessários de distância, mesmo que isso não parecesse ser exatamente o que a técnica pedia - quis deixar tudo alinhado perfeitamente para que pelo menos não sentisse que estaria fazendo algo errado. Uma Kunai aterrissou logo à frente de meus pés, e em um súbito vulto, uma pessoa surgiu. Sua aparição fora como um flash, e por tanto, recuei instintivamente, instigado pela situação e curioso, fitando-o de baixo até cima. "Caiu aqui", ele disse, mas não entendi muito bem. Trocamos alguns olhares e ele, estranhamente, me deu algumas dicas sobre o que eu estava tentando fazer. Aparentemente, ele me observara durante todo o tempo em que estive treinando. Agora, só faltava testar seus conselhos.

Sacudi o chão com as mãos, limpando a poeira acumulada, e segurando uma outra rocha pontiaguda, rabisquei a primeira coisa que veio em minha mente: fórmula. Estava escrito com Kanjis japoneses para respeitar a tradição de meu personagem. Logo em seguida, saltei para o próximo andar e repeti o processo.

Em minha mente, a técnica era como um ritual, e com isso, etapas deveriam ser feitas e requisitos preenchidos. Serviria para acalmar a mente e obstruir qualquer coisa que pudesse interferir na minha crença do que estava dando errado - e fazendo tudo ao meu alcance, eu limitava estas coisas à zero. Se errasse novamente, saberia que o limite da técnica era eu mesmo e não a utilização errônea. Teletransportei-me mais algumas vezes.

As primeiras vezes eram sempre falhas se dando ao fato da pressão imposta a mim mesmo. Entretanto, em minhas últimas tentativas, subjugando o próprio cérebro ao limite plausível de formas e tentativas em prol de obter um desempenho substancial, efetuei um pulo audacioso, iminente e preciso. Em um instante, transportei-me de um rochedo marcado até a superfície do topo da muralha. Um pulo e um soco ao ar libertaram toda a minha felicidade, polida com uma mistura de suor e dedicação.

Spoiler:

Haise; HP: 500, CK 515, CKN: 0, ST: 12/12
Hachibi: CH: 4500
Bow & Arrow; RES: 210

4/5

[...]

Apesar de contente, era altamente cuidadoso comigo mesmo. Se tratando de dedicação, não só atingia como também superava o próprio limite. Dito isso, optei por ficar mais alguns dias em Kaer Morhen para aperfeiçoar o treinamento da nova técnica que nomeei Hiraishin. 

Neste meio tempo, ampliei o conhecimento em par com o Hiraishin e me tornei capaz de desenvolver selos similares aos das marcas de outrora, desta vez, expelidos unicamente do próprio corpo - mais especificamente, das próprias mãos. Isso facilitaria todo o processo, uma vez que não seria necessário perder tempo rabiscando objetos ou locais para poder me mover com perfeição. 

No caminho para além de Kaer Morhen, pensei também na possibilidade de acoplá-los em projéteis. Se kunais tivessem as marcas, seu uso em batalhas seria devidamente ampliado, e com isso, mais de seu potencial poderia ser explorado. Hiraishin dava a brecha necessária para que eu pudesse expandir todo o meu arsenal de habilidades. Pensativo, mas calmo. Agora tudo teria o seu tempo de apreciação para que eu pudesse por todas aquelas ideias em seus devidos lugares, separadas e exploradas. 

É, faltou uma coisa. Adicionei Kaer Morhen à um pequeno folheto que carregava comigo. Sua localização, geografia circundante e claro, os motivos que me fariam voltar para cá. 

Desapareci mais uma vez na história do mundo.

Haise; HP: 500, CK 515, CKN: 0, ST: 12/12
Hachibi: CH: 4500
Bow & Arrow; RES: 210

5/5