Era final de tarde, e eu estava em uma lanchonete comendo um hambúrguer, esperando a noite chegar para então voltar a minha casa. Estava um clima fresco, e tudo parecia bastante tranquilo na vila. Enquanto eu comia, pensava no quanto eu havia progredido até chegar onde estou agora... tive momentos difíceis, mas no final tudo valeu a pena. Eu ainda estava longe de alcançar o meu real objetivo como ninja, mas o pouco que eu já havia conquistado me deixava feliz. Mostrava que eu era capaz, contanto que eu continuasse acreditando em mim mesmo.

Foi então, que um ninja do qual eu não conhecia, entrou no estabelecimento, e se aproximoui de mim. Fiquei prestando atenção nele, esperando para descobrir o que ele tinha a tratar comigo. Nesse exato momento, ele se pronunciou:

- Shiima? Shiima Sarutobi? 
- Eu mesmo. - respondi. - Algum assunto a tratar comigo?
- Sim, mas não eu. Você foi convocado a comparecer no gabinete do Hokage. Parece que ele tem um trabalho especial pra você. Não sei mais que isso. Meu trabalho está feito. Cabe a você ir até lá agora.

Após dizer essas palavras, o ninja se retirou, me deixando pensativo. O que o líder queria comigo afinal? Eu não pude me aguentar de curiosidade, e terminei meu lanche o mais depressa possível, partindo em seguida para o gabinete do Hokage.

Chegando no local, eu nem sequer tive tempo de bater na porta... assim que estendi a mão para bater, pudi ouvir a voz do líder me convidando para entrar. Uau! Essa me surpreendeu. Mas sem fazer cerimônia, adentrei o escritório e vi o líder em sua mesa. Sua feição parecia preocupada, e isso me deixou tenso. Me aproximei e fiz uma reverência. Então, perguntei: 

- Fiquei sabendo que me chamou, senhor. Qual é o assunto?
- Shiima... - ele começou a se pronunciar. - Alguma coisa séria está acontecendo... estamos com suspeitas que não são boas. Uma caverna nos arredores da vila, algumas pessoas foram avistadas fazendo experiências estranhas. Queremos que você vá lá e investigue. Observe cautelosamente a movimentação do lugar e descubra o que é. Faça o que for necessária, e depois volte com a informação. Tudo bem?
- Sim. Farei isso com prazer, senhor. - respondi sem nem pestanejar. Eu estava animado com a missão. Parecia interessante.

Imediatamente após receber a missão das mãos do Hokage em pessoa, preparei meus equipamentos, e saí da vila em direção as coordenadas que me haviam sido passadas. Rumo a "caverna sinistra" como eu havia nomeado em meus pensamentos. É... eu tinha uns pensamentos imbecis, as vezes. 

Fui seguindo o trajeto que antes me fora marcado no pergaminho, me embrenhando pela mata calmamente, enquanto me enfiava por dentro de arbustos e subia em árvores, tomando todo o cuidado para não fazer nenhum barulho mantendo assim a minha presença oculta. A partir de certo ponto, pude notar que haviam marcas de diversas pegadas no chão. Seja quem fosse que estivesse fazendo sabe-se lá o que naquele lugar, parecia totalmente despreocupado sobre deixar rastros. Era como se claramente estivesse subestimando a competência dos ninja da Folha. E isso me deixou irado por um breve momento, mas rapidamente, procurei manter o meu foco na missão. Eu não poderia colocar tudo a perder por causa de minhas emoções. 

Antes de seguir em frente, decidi fazer uma pequena invocação... afinal, eu não me daria ao luxo de ir totalmente sozinho. Eu precisa de alguma ajuda. Mordendo meu dedo e retirando o sangue, fiz os selos necessários e consegui invocar um macaco médio. Acompanhado de minha invocação, prosseguimos pelo caminho de pegadas até finalmente encontrarmos a entrada da caverna. E como eu imaginava, eles pareciam descuidados, mas não eram burros. Havia uma pessoa vigiando a entrada: um homem. 

Por alguns minutos, eu o observei em silêncio e o analisando com cuidado cheguei a conclusão de que aquele homem não possuía grandes habilidades ninja. Mesmo assim, eu não poderia chegar escancaradamente. Então, sussurrei no ouvido do macaco as ordens, e coloquei em prática o meu plano de invadir o local.

Em uma velocidade rápida, o macaco começou a se movimentar pelos galhos fazendo as folhas se balançarem. Os sucessivos movimentos dos galhos balançando atraíram a atenção do homem. Que imediatamente se colocou em guarda e empunhou uma pequena faca retirada de seu bolso, e foi se distanciando para um pouco mais perto das árvores. Foi nesse mesmo instante que meu macaco se revelou, pulando de uma das árvores com uma pequena fruta na boca. O homem acreditando ser apenas um macaco normal que pulara de entre as árvores, baixou sua guarda e colocou novamente a faca em seu bolso.

Aproveite esse instante de descuido por parte dele, e usando o meu Sunshin no Jutsu, me movia rapidamente para seu ponto cego: as costas. Quando ele me notou, já era tarde demais. O soco que dei em sua nuca foi o bastante para fazê-lo ficar inconsciente. Antes que seu corpo desmaiado tombasse em solo, tomei-o em meus braços e o arrastei para uma moita. Revistei todo o seu corpo, em busca de algo que me desse alguma pista, mas não encontrei nada. Apenas a faca de anteriormente, e a guardei em meu bolso. Realmente, não era uma pessoa de grandes habilidades. Retirei a capa que o homem vestia e coloquei sobre meu próprio corpo, colocando o gorro por cima de minha cabeça para que não me vissem. 

Em seguida, agora trajando a capa e ainda acompanhado de meu macaco invocado, me dirigi rumo a entrada da caverna. Observando todos os lados para ter certeza de que não fui avistado por ninguém... e ao que tudo indicava, não. Depois disso, adentrei a caverna... ainda na entrada, não conseguia ver nada e nem ninguém. Apenas escuridão pra todo o lado. Meu coração acelerava, mas eu sei que deveria continuar, mesmo estando nervoso.

Jutsus Usados:

Finalmente, eu e meu macaco adentrávamos a caverna. Meu coração começou a ficar acelerado, e meu nervosismo aumentava a cada passo dado. Juntamente a isso, minha respiração ficou mais pesada, ofegante. No fundo, eu estava com um pouco de medo. Percebendo meu próprio estado, procurei afastar todo e qualquer tipo de pensamento estranho de minha mente... e então, finalmente consegui outra vez me manter focado como antes.

Prossegui mais alguns passos, andando com toda a cautela para não fazer nenhum barulho e assim não ter minha presença revelada. Aos poucos, a escuridão em minha frente foi se dissipando, e meus olhos viram luzes... fracas, quase se apagando. Eram pequenas tochas acesas, encaixadas nas fendas das paredes da caverna. A úmida local fazia com suas chamas aos poucos ficassem cada vez mais fracas, prejudicando o meu campo de visão. 

Alguns passos a mais, e nos deparamos com um único caminho que me levava a um baú. E logo atrás dele tinha um outro caminho a esquerda, também escuro. Imediatamente, achei toda aquela situação muito estranha. Um baú jogado no meio da caverna? Sem mais nem menos? Aquilo parecia suspeito... seria uma armadilha? Mas eu precisava averiguar tudo. Fazia parte da missão que me fora dada. 

Foi então, que eu dei ordens ao macaco para que ele abrisse o baú, tomando todo o cuidado possível para possíveis armadilhas. Assim que terminei de falar, o macaco tomou a frente se posicionou diante do baú e após mexer nele alguns vezes com todo o cuidado possível, ele finalmente o abriu. E eu fiquei bem atento e preparado para quaisquer surpresas que pudessem vir a partir dali.

Eu não podia acreditar no que acabara de acontecer... eu havia levado meu companheiro invocado  a morte, sem nem ao menos esperar que isso pudesse acontecer com ele. O terror me dominou naquele instante, e num impulso em ajudá-lo tentei correr em sua direção. Mas nesse mesmo momento, fui impedido de dar sequer mais um passo. Um homem surgido do nada, me segurou pelas costas. Eu não havia sentido a presença dele ali em momento algum. Era como se ele não existisse no local até meio segundo atrás, e de repente surgisse. Sem a menor explicação.

Eu me debatia e tentava me soltar de seu domínio, mas todos os meus movimentos se mostravam totalmente em vão. Ele era mais forte do que eu. A cena da morte do macaco que acabara de morrer em minha frente, me atormentava. E em meio a convulsões e movimentos bruscos para me libertar com puro ódio e desejo de vingança contra aquele homem, ele me surpreendeu com uma atitude estranha e totalmente inesperada. Ele cravou seus dentes em meu pescoço, próximo ao ombro direito.  Após este ato, ele me lançou ao chão como se eu fosse um lixo qualquer e se afastou de mim alguns passos.

Quando eu tentei me levantar para atacá-lo, fui surpreendido por uma dor aguda e agoniante em meu pescoço, que se irradiava para todo o meu corpo. E graças a isso, fui novamente de encontro ao chão. Aquela dor era tão brutal que meu corpo inteiro se retorcia, me fazendo soltar gritos horrendos que assustavam até os animais do lado de fora da caverna. 

Conforme os segundos passavam, eu tentava controlar e vencer aquela dor mortal, mas tudo era inútil. Quando mais eu resistia, mais ela parecia aumentar, e meus gritos se intensificavam. Passando alguns segundos, não consegui resistir mais. Minha visão começou a ficar turva e escurecer... meu corpo ficou dormente... e finalmente, mesmo lutando para isso não acontecer, perdi a consciência.

Eu estava desmaiado. Todos os meus sentidos, visão, tato, paladar, olfato e por fim, a audição... se esvaíram de mim. Meu corpo ficou inerte, imóvel no chão frio daquele lugar. Não sei quanto tempo havia se passado... minutos, horas, um dia inteiro, talvez. Mas aos poucos fui recobrando a minha consciência. Tentei levantar a cabeça, ainda com o corpo vacilante devido as intensas dores que persistiam, e consegui ver um vulto distante, se afastando cada vez mais da entrada da caverna. Só podia ser aquele maldito. Ele havia me deixado ali, depois ter feito sabe-se lá o que comigo.

Cada fibra do meu ser pulsava com dores escruciantes, mas eu não podia continuar daquela forma... caso contrário, eu morreria. Lentamente, tentando fazer com que meu corpo se acostumasse com aquela dor terrível, me apoiei em meus braços e me ergui do chão, mordendo os meus próprios lábios até sangrarem, para não emitir nenhum grito.

A meia luz consegui visualizar algo anormal em mim...todo o meu corpo estava coberto por marcas negras, em formato de listras. Essas marcas me faziam sentir como se minha carne queimasse por dentro. O que diabos aquele filho da puta tinha feito comigo?! Pensei em desespero. 

As marcas incandesciam, e eu sentia que aquilo tentava me dominar a cada instante. Eu não poderia permitir isso. Eu tinha que dominar isso, matar aquele desgraçado, e voltar imediatamente para a vila e alertar o Hokage sobre tudo que aconteceu!

Entre dores e gemidos, tentei me concentrar conforme a marca avançava sobre mim. Aquela dor essa surreal. Mas não era apenas dor que eu sentia... eu sentia que meu chakra estava mais intenso, mais forte, mais bestial. Um intenso ódio e uma sede de sangue arrebatadora urgiram dentro de mim. Eu comecei a sentir a necessidade de assassinar aquele homem, custe o que custar, não importasse o que. Foi nesse momento, que eu percebi que talvez essa fosse a chave para controlar aquela marca estranha que havia surgido... que esse seria o meio de fazer a dor parar, e controlar esse poder.

Me concentrei o máximo que pude, até minhas veias saltarem sobre minha pele e o suor começar a pingar. Fiquei assim por minutos, me controlando ao máximo pra não gritar. Após alguns minutos e tentativas exaustivas de intensa dor, vi que a marca começava a me obedecer. Ela se alastrava e regredia conforme a minha vontade. E aos poucos, a dor foi sendo anestesiada. Eu já não sentia nada... apenas o poder, e a sede de sangue.

Eu poderia sair dali agora mesmo, mas não quis fazer isso. Eu iria esperar o homem voltar. Afinal, não acredito que ele simplesmente faria algo dessa magnitude comigo, para depois me abandonar ali. Talvez aquele cara quisesse que eu fosse uma de suas cobaias. Uma ova que eu seria! 

Aproveitei e liberei totalmente o poder daquela marca em mim, e me deitei novamente no chão, aguardando o momento em que ele finalmente retornaria. E ali mesmo, eu o faria chegar ao final de sua vida miserável.

Passados algum tempo, pude ouvir passos se aproximando da entrada. Era ele! Ele caminhava calmamente em minha direção, enquanto eu permanecia imóvel. Queria que ele pensasse que eu havia morrido. E foi exatamente o que consegui fazer.

- Morreu, moleque? - a voz dele parecia decepcionada. - Que merda de ninja fraco é esse que morre com tão pouco? Que desperdício, agora vou ter que jogar o corpo numa vala qualquer, e limpar os rastros. Vou buscar algo para limpar a sujeira.

No instante que ele deu as costas pra mim, me levantei em uma velocidade absurda da qual eu nunca havia exercido até aquele momento, e levei a minha mão até uma kunai que ele mesmo carregava na coxa. Eu a desembainhei, e no mesmo instante a cravei em suas costas, atravessando-o com ela.

- Parece que sou eu quem limparei a bagunça aqui, desgraçado. - falei com ironia.

Ele começou a regurgitar o próprio sangue, conforme eu continuava a enfiar cada vez mais a lâmina em seu corpo. Até que finalmente, caiu morto no chão. 

Essa era a primeira vez que eu havia matado alguém. Após me dar conta desse fato, minha mente começou a me perturbar, e as lágrimas rolaram de meus olhos. Perturbado, tomei o corpo de meu companheiro macaco nos braços, e me dirigi rumo a saída da caverna. Ao chegar do lado de fora, pude perceber o que aquele homem tinha feito comigo. Ele me transformou numa espécie de monstro. Minha pele estava escurecida.. meus cabelos maiores, e as feições de meu corpo pareciam mais animalescas. Ironicamente, eu estava um tanto parecido com um macaco. Senti que a marca aos poucos regredia com meu esgotamento físico, e minha aparência voltava ao normal. 

Então, com a força que ainda me restava, fiz um breve sepultamento para o macaco, e em seguida, retornei a Konoha para relatar tudo que havia acontecido ao Hokage. Eu não havia entendido nada do que se passou, e nem o porquê. Mas se tinha algo que eu entendia, era que eu não seria mais o mesmo, a partir daquele dia.



 HP = 140/200