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Zhao estava extremamente constrangido. Na manhã anterior, um aldeão o havia pedido para transportar uma carga de doces até sua loja, mas incapaz de se controlar, o jovem genin devorara toda a mercadoria. Além de ter de pagar o prejuízo com seu próprio dinheiro, ele ainda recebera um sermão de meia hora por parte do velho senhor. Andando através de Kumo sem saber o que fazer, ele se perguntava como poderia agir para curar aquele vício que o prejudicava tanto.

- Droga... - Praguejou ele. - Até parece que vai cair uma resposta do céu.

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Zhao passeava pela vila chutando pedrinhas na rua e remoendo acontecimentos passados. Ele agora era um ninja e não podia mais agir como uma criança.  Independentemente de sua idade real, o genin agora fazia parte do poder militar da vila da nuvem e como tal não poderia mais botar tudo a perder por causa de um vício qualquer, especialmente algo tão infantil quanto... doces. Enquanto estava perdido em pensamentos, seus pés o guiaram até um bairro que não conhecia. Ele deu uma boa olhada em volta, tentando em vão perceber algum ponto familiar, quando deparou-se com algo que chamou sua atenção. Era um mercadinho simples, dotados de diversos tipos de frutas e verduras. O garoto fez um muxoxo enquanto observava as mercadorias. Detestava comida saudável. E foi só então que ele percebeu a placa prometendo ajuda na cura contra vícios. Mesmo achando aquilo suspeito, o shinobi sem alternativas adentrou o estabelecimento.

- Saudações, saudações! - Cumprimentou-lhe uma jovem mulher animada que organizava alguns repolhos nas prateleiras. - O rapazinho veio comprar legumes para sua mã... - E foi então que ela viu a bandana na testa do genin e começou a se desculpar entre risos. - Sinto muito por isso, meu querido, mas parece que vocês genins ficam mais novos a cada ano!

Havia um homem  idoso no canto que simplesmente limitou-se a balançar a cabeça negativamente para a moça e a voltar a encarar o vazio. "Um indivíduo de poucas palavras". Pensou Zhao. "Melhor assim". O garoto deu um passo a frente e começou a pronunciar-se.

- Boa tarde. - Começou ele. - Eu vi o anúncio do lado de fora da loja e pensei que talvez... - Sua voz fraquejou um pouco devido à vergonha, ao passo que um leve tom corado tomava suas bochechas. - ... vocês poderiam me ajudar com um problema que tenho com... - Ele engoliu em seco, quase desistindo da ideia. - ...doces.

Zhao optara por ser franco e direto. Não tinha paciência para enrolar e ansioso como estava era melhor despejar tudo logo de uma vez. Ele se sentia desconfortável com a situação e isso era bem visível. Mas mesmo assim o genin ainda tentava manter uma posição firme enquanto esperava pela resposta dos mercadores.

O senhor fez sinal para que o garoto o acompanhasse e Zhao seguiu atrás dele. Enquanto se deslocavam pelos fundos da loja, o genin imaginava o que esperava por ele. Os dois pararam numa sala pequena, onde havia uma mesa e duas cadeiras. O senhor disse ao jovem para se sentar e em seguida saiu para buscar alguma coisa. Antes mesmo de o homem entrar na sala, Zhao pudera sentir o doce aroma dos doces que ele iria trazer. Sua mente começou a divagar, perdendo rapidamente o foco da missão e imaginando o quão saborosas estariam as iguarias que ele traria. Estava tão distraído que só percebeu o prato de brócolis quando este foi depositado em cima da mesa.

- Mas o que... - Antes que ele começasse a se pronunciar, o senhor o interrompeu e anunciou como funcionaria o procedimento. 

Após as palavras do ancião, Zhao instantaneamente caiu do paraíso do açúcar onde se imaginava estar e foi trazido de volta à dura realidade. Como se não bastasse lhe tirar os doces, agora o velho queria que ele comesse brócolis?! A expressão do genin azedou e se transformou numa careta de dor. A pressão psicológica aumentou a um ponto crítico. O cheiro delicioso dos doces agora se misturava ao odor nauseante daquela... comida saudável. "Argh." Pensou ele. "Com tantas torturas diferentes no mundo tinham que trazer justo essa?!". O genin respirou fundo e avaliou a situação com calma, procurando reorganizar seus pensamentos. De um lado da balança, poderia desistir daquela ideia de reabilitação e devorar os doces, afinal nem conhecia aquelas pessoas e não tinha como saber se seus meios realmente funcionariam. O maldito estava até comendo bombons na frente dele! Por que confiar em gente assim?! Além dos do mais os doces estavam tão perto. Tão perto. Só precisava esticar a mão um pouquinho e...

- Não... NÃO! - Zhao bateu com força as duas mãos na cabeça na tentativa de afastar o desejo extremo que sentia no momento. - O Raikage-Sama já confiou em mim uma vez... E EU PROMETI NÃO DESAPONTÁ-LO!

Impulsionado pela devoção cega que possuía para com a vila, o genin avançou na direção do prato onde estavam os tão odiados brócolis, antes que ficasse tentado novamente. Pegou cinco de uma só vez e os atirou na boca, imediatamente sentido o terrível amargor. "Não posso parar! Não posso parar!" Antes que tivesse a oportunidade de pensar novamente, sua outra mão foi até o prato mais uma vez, logo empurrando mais um amontoado de brócolis em sua boca. O garoto mastigava ferozmente, a fúria em seu olhar lembrando a de um animal selvagem. Sua gargante e o peito ardiam, o alimento caía como chumbo no estômago, mas ele não parava. Devorando desafio após desafio, ele progredia enquanto a pressão psicológica aumentava a um ponto tão grande que começava a afetar seu corpo físico.


- Eu vou vencer! - Gritou ele enquanto continuava a devorava os últimos brócolis.

Fora terrível, mas ele conseguira. Depois de ignorar todos os doces no prato vizinho e devorar apenas os brócolis, Zhao se provara mais forte que o vício. Apesar de estar fazendo uma força tremenda para não vomitar, o garoto sentia que o passo inicial já fora dado, e depois do que o senhor falara ele pudera ter certeza disso. O homem elogiou sua perseverança e ele pôde apenas agradecer com um maneio de cabeça, tendo medo de que se falasse alguma coisa acabaria botando toda aquela refeição para fora. O jovem pegou a sacola que lhe fora entregue, sentindo a determinação queimar em seu interior, ou seriam os brócolis? Bem, de qualquer maneira a única coisa que importava naquele momento era que apesar de a pior parte já ter passado, ele agora tinha a difícil missão de continuar perseverando e provando a si mesmo dia após dia, até que a tentação dos doces já não fosse mais tão forte. "Começou". Pensou ele. "Depois dessa semana, juro que nunca mais minhas missões serão prejudicadas por nenhum tipo de..." Sua mente mente ameaçou divagar novamente, mas ele balançou a cabeça para afastar os pensamentos proibidos "... praga açucarada!".

Nos dias que seguiram o garoto passou um semana difícil. Parecia que quanto mais ele tentava se manter afastado dos doces, o universo acabava sempre trazendo-os para perto dele mais uma vez. Mas apesar de todas as tentações, seu desejo de servir à vila o motivava além dos limites, e quando começava a sentir que lhe faltavam forças, ele se lembrava que que num futuro talvez nem tão distante precisassem dele. Que qualquer tipo de vício, não importava quão pequeno fosse, poderia acabar se colocando entre o shinobi e a defesa de Kumo. E isso era algo que ele não poderia permitir. Quando a comida acabava, Zhao voltava à loja para comprar mais e assim reabastecer seu estoque. A filha do velho senhor acabara se afeiçoando por ele, sempre tratando-o como uma espécie de irmão mais novo. Apesar de não gostar muito de proximidade e sempre se esquiva dela quando a moça começava com aquela mania irritante de querer apertar suas bochechas, ela lhe ensinara como cozinhar, de modo que o genin era grato a ela por isso. Até que finalmente, uma semana inteira se passou.

- Eu consegui... - Dizia Zhao para si mesmo, acordando no dia seguinte ao final do prazo estipulado pelo senhor. - Eu consegui!

Ele estava extremamente animado. Não só conseguira não só vencer o vício que o infernizara por tanto tempo, como tinha também desenvolvido uma reeducação alimentar que com certeza o daria mais energia para a realização de seus treinos e missões. O garoto definitivamente compraria toda a comida que precisava naquele mercadinho, não apenas por seu alto teor saudável, mas porque no final acabara se afeiçoando ao mercadores. Ele olhou para o céu escorando-se na janela do quarto, respirando fundo e com um vigor renovado. "Mais um obstáculo superado em meu caminho para me tornar um grande ninja."

- YOOOSH! - gritou ele para o nada, com uma expressão feroz e determinada, porém feliz. - Pode mandar o próximo!