Como aquela seria minha primeira missão fora da vila, acabei demorando mais do que esperado para me preparar, principalmente psicologicamente. Seria algo simples de início, uma simples escolta, mas fui alertada de que as coisas poderiam ficar complicadas e eu poderia finalmente entrar em uma batalha real. Precisava estar preparada, a custo de um pouco mais de tempo até chegar ao local combinado. Tentei não parecer tão apressada quando avistei os mineiros, diminuindo o passo e adquirindo uma postura de “Ei, vocês que chegaram cedo demais”.

— Bem, estou aqui, serei sua escolta de hoje. — pendi a cabeça para o lado e abri um sorriso, meu cabelo escorreu sob os ombros quando o vento soprou. Talvez não tenha sido uma boa primeira impressão — pensei.

— Como devemos proceder? — Eles ainda tinham o comando, afinal.

Pude notar aquela ligeira desconfiança que se pairou na troca de olhares entre eles, confesso que me deixou um pouco receosa também, pareciam saber de algo além do meu conhecimento, que colocava minha possível eficiência em dúvida. Mantive uma postura determinada mesmo assim, não podia fraquejar diante deles e acabar manchando de verdade suas expectativas. Quando partimos, eles seguiam na frente e eu ia atrás, me sentindo uma verdadeira estranha dado a intensidade e o tempo em que os três senhores eram amigos. Pude notar de cara que seus laços eram fortes e duradouros, pois compartilhavam de seu rum e histórias com aquele amistoso ar de nostalgia. “Vocês se lembram quando…”, “Vocês se lembram de…”

Era curioso, mas me excluía da conversa mesmo que involuntariamente, dando-me a oportunidade de observar toda a paisagem por onde passávamos. A primeira delas foi um bosque de árvores secas, dado o outono os animais e toda a vida daquele lugar parecia estar parcialmente adormecida. Não era uma paisagem muito bonita, chegando a ser macabra em alguns pontos mais adentro onde a copa das árvores era alta e seus galhos se juntavam fazendo um corredor que tapava parcialmente a luz natural. Não pude não ficar em alerta, mas nada aconteceu.

Quando saímos do bosque demos de cara com um pequeno vilarejo ás margens de um lago. A hospitalidade das pessoas que ali residiam parecia ter alegrado os mineiros, a ponto de comprarem outra garrafa de rum sem ao menos terem terminados a primeira. Não ficou muito claro nas minhas feições que eu desaprovava totalmente aquela atitude, principalmente o descanso forçado ao qual fomos submetidos, atrasando a viagem para prosear com outros trabalhadores das montanhas. Aproveitei a oportunidade para tentar saber mais sobre a região, mas fui fortemente ignorada pelos mais velhos, ficando de fora da roda de conversa. Não estava sendo exatamente como o imaginado. Quando partimos da vila, eles pareciam muito mais determinados do que eu, pensei se haviam adquiridos informações importantes sob a topografia da área.


— Quanto tempo falta para chegarmos até o pé da montanha? — Enchia meu cantil de água em um pequeno riacho que corria, eles estavam sentados sob uma pedra onde haviam estendido um mapa sobre, e avaliavam para chegarem uma conclusão. “Estamos perto, só mais um pouco de caminhada”. Obviamente, pareciam mais cansados do que queriam admitir para eles mesmos. Eu soltei um suspiro, onde foi-se com ele uma tentativa de manter-me menos impaciente.

Não tardou até chegarmos à planície que precedia a mina. Seguíamos por um caminho em meio da relva seca, afastando-se da parte arbórea e entrando em uma paisagem mais montanhosa e cinérea. Por todo local haviam jogados equipamentos quebrados e algumas construções abandonadas, como hastes de tendas e uma pequena torre de sentinela feita de madeira velha. Perto da entrada também haviam grandes pedras irregulares em locais aleatórios, pareciam pequenos dentes que brotavam do chão, como se tivesse sido esculpidos assim de propósito. Como a Mina estava logo à frente, paramos.

— O será que aconteceu aqui... — Disse com um ar de dúvida, sem esperar de fato por uma resposta, só queria poder ressaltar minha indignação e estranheza com todo aquele cenário. Olhei para cima, para a parte mais elevada da montanha onde a mina adentrava. Parecia enorme, e me perguntava se teríamos que entrar muito fundo.

— Está tudo bem? — Perguntei aos mineiros, que pareciam avaliar o local assim como eu. O vento sibilou alto e meu cachecol balançou em resposta. Semicerrei os olhos, não estava quieto demais?

Os homens apareceram tão rápido que em questão de instantes os mineradores já eram seus reféns. Eu entrei em posição de batalha, quando um deles dirigiu a palavra a mim. Eles não aparentavam ser tão intimidadores, escondiam-se atrás de suas vestes e provavelmente agiriam em conjunto. Uma formação típica. Teria primeiro que cuidar para que os mineiros ficassem em segurança, era minha prioridade naquele momento. Abri um risinho de lado, arrumando a echarpe em uma posição mais confortável para um combate.

— Não me subestimem tão rápido assim. — Disse em um tom debochando. Meus olhos reluziram a oportunidade, me fazendo parecer muito confiante.

Agachei por um instante, começando a concentrar chakra em meu punho direito, após isso utilizei o Shunshin no Jutsu para uma aproximação rápida de meia distância, cortando metade da minha posição inicial com eles. Como estavam enquadrados em um canto só, deduzi que meu Genjutsus teria área suficiente para debilitar os três por um momento, abrindo o espaço de poder resgatar os mineiros e entrar em um combate de frente. — Técnica do Aprisionamento na roseira‼ — Exclamei após os selos de mão apropriados. Dentro da ilusão, meu corpo sumiria e vinhas surgiriam do solo seco, agarrando-os. Fora dela, ficariam debilitados tempo suficiente para que os mineiros pudessem escapar e correr para longe. — Rápido, escondam-se!

No Genjutsu, porém, só poderia atacar um deles, então escolheria aquele que aparentasse ser mais forte fisicamente. A rosa abriu enquanto me revelava de dentro dela portando uma Kunai, rapidamente deferindo-lhe um corte na garganta. Provavelmente sairia da ilusão desacordado ou no mínimo bastante desorientado. Dos outros dois eu cuidaria usando o Impacto gigante do coelho rosa, o qual juntava mais carga e já teria força o suficiente para poder finalizar com algum golpe de frente. 

Minha estratégia foi bem-sucedida, quando a fumaça se dissipou e os vi no chão pude suspirar tranquila. Olhei ao redor, mas só o vento soprou gelado. Não tinham mais aliados por perto. Os mineiros pareciam atônitos, um pouco desconcertados dado o susto e a surpresa. No final me provei ser uma ótima escolta afinal. Não conseguiria tirar aquele riso satisfeito do rosto nem tão cedo. Amarrei os bandidos usando suas próprias capas, como forma de prevenção. Mesmo mais confiante da vitória, não queria ter que gastar tempo e energia os enfrentando novamente.


Adentramos à mina escura depois de colocarmos os equipamentos certos, as lanternas presas em nossos capacetes eram a única fonte de luz confiável dentro da montanha. Em algumas partes dela, existiam lagos artificiais e até algumas espécies esquisitas de peixes, os mineiros não pareciam tão surpresos como eu. Portavam um mapa, parecia aquele que conseguiram no vilarejo. Eles pegavam amostras de tudo, e mesmo que sem entender porque eu fui encarregada de levar algumas delas — geralmente as mais pesadas — e o fiz sem pestanejar, embora por dentro não tivesse os ideais de igualdade e respeito tão convictos assim. Foi seguindo aquelas rotas que acabamos achando outra entrada no sopé da montanha, daquele lado as coisas eram um pouco mais verdes embora a paisagem ainda fosse seca e triste.

Arrumei a mochila de amostra nas costas, afinal seria uma longa viagem para casa e infelizmente nenhum daqueles senhores pularia sobre as árvores para acelerar a volta a Kumo. Bem, no final de tudo ao menos houve uma boa notícia; aquele caminho era um atalho. Chegaríamos no mais tardar à noite. Eu abri um risinho satisfeito por baixo da echarpe enquanto caminhávamos para longe dali, não via a hora de chegar em casa e contar aos meus pais sobre aquela pequena aventura [...]