—— Como assim eu não sei usar o fogo? Claro que sei, seu idiota. Sou um Sarutobi, PORRA! —— Gritava de forma estridente em direção ao meu pai, que, do outro lado da fogueira, gargalhava como se fosse morrer por falta de ar a qualquer segundo. Estávamos em uma clareira, cercado por incontáveis pinheiros. A neve fazia-se presente para onde quer que olhássemos, transformando tudo em uma branquidão silenciosa e, por certas vezes, intimidadora. —— Vir aqui já virou um ritual para nós, né, Enjin? —— Comentava Gol D. Roger, enquanto preocupava-se em alimentar as chamas da fogueira, administrando as lenhas que eu havia recolhido mais cedo. —— É bom quando o senhor tira um tempo pra ficar com seu filho, né? Essas missões estão te sufocando cada vez mais. Tenho certeza que em breve conquistará o lugar do qual jamais deveria ter saído, velhote. —— As palavras que saiam da minha boca ressoavam por todo o lugar ao nosso entorno, ecoando para além do que poderia imaginar. —— Quem sabe um dia? Mas quer saber? Não me importo mais com isso. O que passou, passou. Só quero retornar a nossa casa um dia, vê-lo crescer, beber muitos vinhos e, principalmente, lhe ensinar as coisas boas da vida. —— Não pude deixar de arquear ambas as sobrancelhas em resposta às falas de meu pai. Sabia que, em seu âmago, voltar a ser considerado um ninja de elite faria bem a ele, entretanto, não estávamos ali para discutir qualquer que fosse o assunto, mas sim passar um tempo juntos.

O farfalhar das flores na copa das árvores, dos arbustos e o crepitar das chamas da fogueira criavam um ambiente reconfortante. De fato, estávamos criando um ritual só nosso. Ainda assim, sabia que o homem à minha frente escondia algo a mais em seu semblante. —— Dá logo o papo… —— O tom de voz saiu quase que em um sussurro inaudível, não fosse pelo ambiente ao nosso redor, D. Roger não conseguiria escutar, tenho certeza. Entretanto, os lábios arquearam desproporcionalmente em um sorriso fervoroso. Era possível perceber a alma dele transformando-se em um fogo vívido. —— Quero te ensinar algo. Não ficou óbvio? —— Ele se aproveitou do pequeno galho que estava utilizando para manter a fogueira em seu ápice, levando a ponta do objeto até a neve ao lado, começando a desenhar algo disforme que, com o tempo, tornou-se evidente. —— Sente falta de casa? Nossa morada foi usurpada por homens que não a merecem, Enjin. Familiares… entes queridos… amigos próximos… todos os Kumonin perderam algo. Nós, Sarutobis, perdemos a razão pela qual acordamos todos os dias. Sem a Nuvem, a Vontade do Relâmpago tornou-se algo defasado, portanto, precisamos treinar, melhorar nossas habilidades, galgar novos cargos, obter novos poderes para, um dia, retornarmos a Kumogakure para permanecermos devotos a nossa vontade; ao nosso próprio sangue. —— O monólogo do velhote me fez relembrar do passado, de como éramos felizes dentro dos portões da Nuvem. Meneei a cabeça de forma positiva involuntariamente, concordando com cada palavra que saiu da boca dele. —— Dito isso, vou te ensinar a refinar o trato com o fogo, assim como nossos ancestrais me ensinaram. —— Pela primeira vez sorri genuinamente. “Finalmente algo de útil, velhote.” Pensei, encarando os olhos acinzentados dele.

—— Vejo que ficou animado! —— D.Roger gritou, espantando todos os animais que pudesse estar por perto, com a voz rouca dele reverberando por boa parte da floresta. —— E como não ficar? Quero aprender mais sobre nossa linhagem e, óbvio, ficar mais forte para defender meus ideais. —— Enquanto ele escutava minhas palavras, brotou, sobre a face enrugada, um sorriso genuíno. —— Então preste atenção nisso. —— Exclamou de volta. O fogo próximo de nós começou a se agitar conforme as mãos do meu pai se mexiam, como se ele fosse capaz de manipular as chamas em perfeita harmonia. Não obstante, em um movimento brusco, parte delas se juntou em uma bola brilhante de não mais que trinta centímetros de diâmetro, ao qual ele fez questão de levar até mim, pairando na altura do meu peito, com quase um metro de distância de mim. —— Como bem sabe, para conseguir manipular o próprio fogo, ou o fogo que estiver no ambiente, próximo de si, é necessário que haja um bom refino no trato com o elemento. Pra mim, obviamente, é a mesma coisa que respirar, ou caminhar. Você, por outro lado, precisa deixar de engatinhar. Evoluir, sabe? E como fazer isso? Bom… comece praticando com as chamas dessa fogueira. Leve seu chakra até elas, imagine uma forma, movimente os braços se necessário, enfim, tente. —— As instruções dele invadiram minha mente como em um soco, me atordoando por bons segundos.

”Preciso me conectar com as chamas… acho que o caminho é esse.” Aproveitei dos momentos de silêncio para conectar as ideias exteriorizadas por meu pai. Um longo suspiro quebrou o clima. O sopro foi suficiente para exteriorizar um pouco de fumaça através da boca, graças ao frio intenso dos arredores da pequena colônia. —— Vamos lá!! —— Gritei empolgado, sentindo a adrenalina percorrer por mim, enquanto começava a acumular chakra e o exteriorizar ao meio, focado na fogueira a um metro e meio à minha frente.

De início, podia ver com meus próprios olhos as chamas reagirem levemente ao chakra, ainda que não fosse possível manipulálas em diversas tentativas com as mãos. D. Roger parecia observar atentamente, com um sorriso amarelado sobre o rosto, muito provavelmente por conta deu não conseguir atingir o ponto necessário para manipular o fogo. —— Adicione mais chakra, mas de forma controlada. Mentalize como irá manipular o elemento, colocando em prática em seguida. Não adianta fazer nas coxas, por mais que seja um Sarutobi, tornar-se perito no uso do Katon demanda esforço e não somente talento natural. —— Consenti com a cabeça, levando a destra ao queixo em um momento pensativo. —— Mais controle, né? Beleza. —— Diria para mim mesmo, vendo meu pai se afastar mais um pouco, deixando que eu fosse o centro da clareira, junto a fogueira.