Biskka observava o deserto vasto e implacável estendendo-se diante de seus olhos, o olhar fixo no horizonte como se buscasse alguma resposta perdida na imensidão de areia. O sol poente tingia o céu de um laranja quente, e a silhueta das dunas que circundavam Sunagakure parecia formar um último obstáculo que precisava superar. Aquele era o lugar onde nascera e crescera, onde seu suor e sangue haviam sido derramados por inúmeras missões, e onde ela se tornara uma kunoichi forte e determinada. Mas agora, aquele mesmo lugar parecia sufocá-la, limitando-a em cada passo que dava. A verdade era dolorosa de encarar: Sunagakure não era mais o lar que ela uma vez imaginara que seria. A vila estava comprometida com prioridades que pareciam ignorar seus anseios mais profundos. Suas habilidades e suas metas se chocavam constantemente com as ordens superiores e com a política do Kazekage. Ela sentia que tudo o que fazia era seguir um ciclo sem fim de missões que não a levavam a lugar algum, uma eterna rotina que obscurecia seu potencial real. Durante muito tempo, ela tentou suprimir essa inquietação, convencendo a si mesma de que estava no caminho certo. Porém, uma sucessão de desentendimentos recentes deixara claro que sua visão de futuro não se alinhava com a de Sunagakure. Seu pai, um shinobi veterano da vila, a treinara desde pequena para dominar o Yōton, a Kekkei Genkai herdada de sua linhagem. No entanto, até mesmo ele, um homem que sempre a incentivara a dar o melhor de si e desafiar os próprios limites, parecia ter se conformado com a realidade da vila. Ele sabia que a relação de sua filha com a vila estava se deteriorando, mas ainda assim, suas palavras eram de resignação e cautela.

— Você deve ter paciência, Biskka. As coisas não mudam do dia para a noite — ele dissera durante uma de suas últimas conversas, sua voz calma contrastando com a paixão ardente nos olhos da filha.

Mas Biskka sabia que não se tratava de impaciência. Não era uma questão de esperar que Sunagakure finalmente reconhecesse suas capacidades e necessidades. Era a constatação de que, se continuasse ali, jamais se tornaria quem deveria ser. Havia mais nela do que apenas uma ferramenta para missões de infiltração ou resgate de reféns. Ela tinha um poder que clamava por um propósito maior, e aquele propósito não seria alcançado enquanto permanecesse amarrada às correntes de decisões alheias. Foi então que sua mente se voltou para uma ideia que vinha ganhando força a cada missão falha, a cada vez que sua frustração aumentava: deixar Sunagakure e buscar uma nova jornada em Iwagakure, no País da Terra. Desde cedo, sempre teve uma afinidade natural com as transformações de terra e fogo, elementos fundamentais em seu controle do Yōton. Em Iwagakure, a terra era respeitada e o fogo aproveitado com precisão. Era lá que ela acreditava que poderia finalmente afiar suas técnicas e desenvolver seu verdadeiro potencial. Mas como alguém simplesmente abandona sua vila? Como lidar com a traição velada que tal ato significava? Esses pensamentos a atormentaram por noites e noites, deixando-a inquieta enquanto olhava para o teto de seu quarto, o silêncio da noite pesada como uma carga. Mesmo assim, não pôde negar que a decisão se formava com cada suspiro exasperado e cada punho cerrado em frustração. Sabia que partir era a única maneira de finalmente libertar sua verdadeira força.

Finalmente, ela tomou a decisão em uma manhã quente e abafada, enquanto treinava sozinha na área isolada dos arredores de Sunagakure. O suor escorria pelo seu rosto, e as rajadas de vento quente pareciam zombar de sua determinação. Ao seu redor, as rochas derretidas pelo Yōton eram testemunhas silenciosas de seu conflito interno. Ali, naquele campo de treinamento solitário, ela percebeu que não poderia mais ignorar o chamado em seu coração. Seus punhos estavam fechados, os nós dos dedos brancos de tanta força.

— Eu vou embora. Vou para o País da Terra — pensou, suas palavras ganhando uma convicção crescente.

Não contou a ninguém de imediato. Era um segredo que carregava consigo, um fardo pesado e ao mesmo tempo libertador. Sabia que precisaria partir sem alarde, sem despedidas longas. Havia também a questão dos pais, seu único vínculo de afeto verdadeiro em Sunagakure. Eles não poderiam permanecer na vila se ela se tornasse uma renegada. A retaliação contra aqueles que permaneciam ligados a desertores era uma realidade cruel e implacável. Mas ao mesmo tempo, não poderia permitir que seu destino arrastasse os dois para a desgraça. Quando finalmente revelou sua decisão a eles, foi como arrancar uma parte de si mesma. Seu pai e sua mãe ficaram em silêncio por um longo tempo, trocando olhares pesados que diziam mais do que qualquer palavra poderia expressar. O peso da escolha se abateu sobre eles, mas, surpreendentemente, não houve raiva. Em vez disso, havia tristeza e compreensão.

— Sempre soubemos que você não se contentaria com menos do que tudo aquilo que pode alcançar — disse seu pai, após um longo suspiro. — Eu não vou mentir e dizer que estou feliz com isso, mas... a gente sabia que esse dia chegaria.

Sua mãe, com os olhos marejados, não disse nada. Apenas a abraçou com força, um abraço que transmitia a dor de uma despedida e a esperança silenciosa de que ela encontrasse o que buscava.

— Partiremos para longe, então. Talvez um vilarejo pequeno no País do Fogo ou em outro país neutro. Estaremos bem — disse ela, finalmente. — Só prometa que vai encontrar sua força e que nunca vai se arrepender.

Biskka assentiu, incapaz de falar. Sua garganta parecia apertada demais, e o medo de desmoronar naquele momento a fez soltar-se dos braços da mãe e dar alguns passos para trás.

— Eu prometo. Vocês não vão ouvir falar de mim por um tempo, mas... eu vou encontrar o meu lugar.

E assim, numa madrugada silenciosa, Biskka deixou Sunagakure. O manto da noite a envolveu enquanto ela se movia furtivamente pelas ruas vazias, evitando qualquer interação que pudesse chamar atenção. A areia rangia baixo sob seus pés enquanto fazia o percurso que a levaria para fora da vila pela última vez. Não foi difícil sair dos limites da Vila, uma vez que desde pequena sabia alguns macetes e passagens secretas, ademais, ela era uma Shinobi e ostentava orgulhosa a bandana da Vila - não teve problemas quanto a isto. Mas ainda assim, não olhou para trás quando as altas muralhas começaram a desaparecer no horizonte. Não permitiu a si mesma aquele último olhar que poderia fazê-la hesitar. Seguiu em direção ao norte, em direção às terras rochosas que antecediam o País da Terra. A jornada era exaustiva e solitária, e mais de uma vez se pegou refletindo sobre as consequências de sua decisão. Sentia falta do calor de Sunagakure, mas também sabia que, em Iwagakure, poderia explorar ao máximo suas habilidades. Se houvesse um lugar onde poderia dominar a terra e o fogo de uma forma mais eficaz, era lá. Ao chegar às fronteiras do País da Terra, foi recebida com desconfiança. A deserção de uma kunoichi de uma vila oculta não era um evento a ser tratado com leveza. No entanto, sua determinação em explicar suas intenções e a forma clara como descreveu seu desejo de se aliar a Iwagakure, convenceram os shinobis que patrulhavam as fronteiras a levá-la para a vila.

No Quartel General, suas palavras foram medidas cuidadosamente. A autoridade de um Jönin mais experiente, ali à sua frente era alguém que conhecia o valor de uma aliada poderosa, mas que também entendia os riscos de confiar em alguém que abandonara sua vila natal. Durante a audiência, ela sentiu o peso do olhar avaliativo do mais velho. Não desviou o olhar, sustentando com firmeza a honestidade em seu pedido.

— Você diz que quer se tornar mais forte, que quer trabalhar conosco — o Jönin começou, a voz grave ecoando na sala quase vazia. — Mas o que nos garante que não fará o mesmo com Iwagakure no futuro?

— Sunagakure não era o lugar onde eu poderia crescer — respondeu ela, tentando transmitir cada fragmento de sua sinceridade. — Mas Iwagakure... aqui, minhas habilidades podem ser treinadas e refinadas como nunca antes. Se quisesse prejudicar a vila, não viria de cabeça erguida. Quero um lugar onde possa ser desafiada e onde eu possa fazer a diferença. O homem a estudou por mais alguns momentos, o silêncio se arrastando como um peso invisível. Por fim, assentiu.

— Você terá sua chance. Mas lembre-se: confiança é algo que se ganha, não algo que se exige.

E assim, Biskka encontrou um novo caminho. As montanhas e vales rochosos de Iwagakure tornaram-se seu novo lar. A terra tremeu sob seus pés conforme ela se adaptava às novas técnicas que aprendia. Cada dia trazia um novo desafio, uma nova oportunidade de superar seus próprios limites. E a cada batalha travada, sentia sua convicção se fortalecer: havia tomado a decisão certa. Sunagakure se tornara uma lembrança distante, um passado que deixara para trás. Agora, em Iwagakure, ela estava finalmente livre para explorar toda a extensão de seu poder.

Considerações: