O sol queimava forte no deserto. As ruínas de um antigo complexo, que há muito tempo havia sido engolido pelas areias e pela história, agora serviam de campo de treinamento para uma jovem e promissora kunoichi. Biskka, recém-promovida a Chuunin, se encontrava no centro de um vasto espaço, cercada por colunas quebradas e muros esburacados. Ao longe, dunas de areia se elevavam como ondas petrificadas, e o calor distorcia o ar, tornando o horizonte um borrão oscilante. O silêncio do deserto era profundo, interrompido apenas pelo som abafado de sua respiração controlada e pelos ecos dos passos firmes da kunoichi, enquanto se movia em meio aos destroços. Seus olhos percorriam o ambiente, avaliando cada obstáculo, cada superfície irregular, e cada possível ponto de apoio. Era um lugar perfeito para treinar. A ausência de vida ali fazia do local uma arena desolada, propícia para testar o limite de sua Kekkei Genkai sem medo de destruir nada de valor… além de si mesma. Ela respirou fundo, sentindo o ar seco preencher seus pulmões, e então fechou os olhos. O calor, o isolamento, e até mesmo a sensação de desolação… tudo isso desapareceu. Restava apenas a conexão com seu chakra. Um fluxo intenso, vibrante, quente. Suas mãos começaram a se mover, dedos traçando padrões no ar como uma dança silenciosa.

"Serpente, carneiro, macaco, cavalo, tigre." Os selos fluíam sem interrupções, e cada movimento parecia mais rápido do que o anterior. Sentia o chakra correr por seu corpo, incandescente, como lava prestes a romper a superfície. Com um último movimento, concentrou a energia na sola dos pés e disparou para frente, o chão rachando sob a pressão súbita. Em um instante, seu corpo atravessou o campo de ruínas, desviando de pilastras caídas e muros quebrados. Ela se movia com velocidade crescente, os músculos das pernas se tensionando e relaxando em uma sincronia perfeita. Cada passo era um desafio imposto a si mesma, testando os reflexos, a agilidade e a precisão. Mas velocidade não era o único objetivo. Enquanto corria, as mãos voltaram a se mover.

"Serpente, rato, pássaro!" Os dedos formavam cada selo com perfeição, mas não com a rapidez que desejava. Uma pequena hesitação aqui, um movimento desajeitado ali… Ela franziu o cenho e forçou o ritmo. Antes que pudesse completar a sequência, saltou para cima de uma coluna partida, a areia se desfazendo sob seus pés. O corpo girou no ar, e ela aterrissou de frente para outra coluna, desta vez com os dedos terminando o último selo.

— Yōton: Funkyūgan no Jutsu! — gritou.

Seus lábios se abriram, e uma bola de lava incandescente começou a se formar em sua boca. A substância viscosa e flamejante fervia como se tivesse vida própria, crescendo a cada segundo que ela mantinha o chakra concentrado. Ela inclinou a cabeça para frente e expeliu o projétil. O projétil de lava avançou com velocidade, transformando o ar à sua frente em ondas distorcidas de calor. O som da rocha derretida cortando o ambiente era como um rugido abafado, e a esfera colidiu com a coluna oposta, desfazendo-a em uma explosão de fragmentos e fagulhas. A lava espalhou-se como um fluido incandescente, derretendo tudo em seu caminho até solidificar ao tocar a areia. Biskka observou o resultado, respirando com força. Aquilo ainda não era o bastante. O projétil era potente, mas precisava ser mais rápido. Precisava ser ainda mais destrutivo. Pousou as mãos nos joelhos, controlando a respiração, e então ergueu a cabeça, um brilho determinado nos olhos.

— De novo. — Ela se lançou em direção ao solo, desta vez dando passos largos e saltos, alternando a direção de seus movimentos. A velocidade crescente criava pequenos redemoinhos de areia ao seu redor, que eram dispersos pela energia intensa que emanava de seu corpo. Parou repentinamente, os dedos em um turbilhão de selos.

"Serpente, macaco, boi, tigre."
O chakra fluiu mais denso desta vez, pulsante e feroz. Sentiu o calor se acumular na garganta, queimando como uma chama viva prestes a ser liberada. Com um movimento brusco, expeliu mais uma vez a bola de lava, que cresceu até dobrar de tamanho antes de ser disparada. A esfera gigante atravessou o campo de destroços como um cometa, seus contornos ondulantes e incandescentes iluminando o ambiente. Ela não parou para ver o impacto. Suas pernas já a moviam para frente, as mãos formando novos selos, ainda mais rápidas. "Rato, macaco, cavalo!" O chakra dançava entre seus dedos, e girou o corpo, lançando uma nova sequência de esferas menores de lava, cada uma atingindo alvos diferentes. As explosões de lava ressoaram por toda a extensão das ruínas, preenchendo o ar com um cheiro pungente de rocha derretida e um brilho avermelhado. Deslizou para o lado, os pés escorregando brevemente na areia. Concentrou mais chakra e, em um único impulso, disparou em direção ao centro do campo. Cada pilar, cada bloco de pedra quebrada… todos os obstáculos que antes limitavam seus movimentos se tornaram ferramentas de apoio. Saltava de um para outro, mantendo o fluxo dos selos ininterrupto. A rapidez com que alternava entre corridas, saltos e a execução de jutsus transformava o treinamento em uma coreografia frenética. Quando finalmente parou, o suor escorria pelo rosto, e as mãos tremiam levemente. Sentia o cansaço começando a pesar, mas não cederia. Não ainda. Mais uma vez, ergueu os braços e começou outra sequência de selos.

— Não posso parar agora… — murmurou para si mesma.

Ao completar os últimos selos, o chão ao redor de Biskka estalou, e rachaduras começaram a se espalhar em padrões aleatórios. A areia e as pedras vibraram, e em seguida, lava escorreu das fissuras abertas. A rocha derretida subiu à superfície, envolvendo o solo ao redor. A garota estendeu a mão para baixo, tocando o chão com a palma aberta. O calor subiu imediatamente pelo braço, mas ela não recuou.

— Yōton: Akaoka! — gritou, e a lava ao seu redor se expandiu.

A área ao redor dela se transformou em um lago de magma incandescente, e pequenas explosões enviavam respingos incandescentes para o alto. Ela sorriu enquanto observava o resultado. Conseguia sentir a energia da lava fluir sob seu comando, obedecendo cada impulso, cada comando mental. Mas aquilo exigia mais dela do que previra. O calor, a intensidade do chakra necessário para manter a lava sob controle… Era um desafio extremo. Mesmo assim, ela se forçou a manter a técnica ativa, movendo a lava ao seu redor com movimentos dos braços e das pernas. A substância flamejante serpenteava pelo campo, moldando formas sinuosas que ela comandava com um simples aceno de mão. Cada segundo que passava aumentava a pressão, mas também a certeza de que estava evoluindo. Ao final do que pareciam ser horas – ou talvez dias – de treinamento incessante, Biskka parou, o peito subindo e descendo com dificuldade. A lava ao redor lentamente solidificou e apagou-se, restando apenas blocos negros e quebradiços espalhados pelo chão. Sentia o corpo inteiro pesado, a exaustão profunda atingindo até o âmago de seus ossos. A pele estava coberta de poeira e fuligem, as roupas manchadas e desgastadas pelo calor. Mas os olhos de Biskka brilhavam com a satisfação de quem ultrapassou mais um obstáculo. Passou a mão pelo rosto suado, limpando parte da sujeira, e deu uma última olhada ao seu redor.

— É suficiente por hoje — murmurou, mais para si mesma do que para qualquer outro.

Com um suspiro profundo, voltou a caminhar em direção ao vilarejo, sentindo a areia fofa sob os pés. Havia perdido a noção de quantos dias passara ali, sozinha, lutando contra seus próprios limites. Mas agora sentia que, ao menos por enquanto, estava pronta para retornar.

Considerações: