— Hora de descansar... — Murmuraria, bocejando e com bastante sono antes de remover meus equipamentos pesados do corpo e deitar sob a cama da morada de Yami, meu mentor. Tão logo me deitei, me vi imerso em um sono profundo. Em um instante, estava no, e no outro, abri os olhos para um ambiente etéreo. Observando o ambiente ao redor com meus orbes celestes, percebi que o mundo é feito de névoa, brilhos suaves e cores pálidas que parecem se misturar e fluir. A sensação? Surreal, mas ao mesmo tempo estranhamente familiar. É como se eu já tivesse estado aqui antes. Um pouco "Perdido", comecei a andar, sentindo o chão etéreo sob meus pés. As cores mudam suavemente a cada passo, criando um espetáculo visual que parece uma dança de luzes.

Lembrei-me de um corredor de pedras antigas, onde um riacho cristalino flui, e o som da água correndo é calmante. Parece me chamar. Caminhei em sua direção, o som da água crescendo mais alto a cada passo. O riacho está aqui, exatamente como eu me lembro. Suas águas brilham com uma luz interior, refletindo um céu inexistente. — É, realmente o paraíso. As vezes eu acho que morri. — Brincaria comigo mesmo. Após, continuaria andando, sentindo-me cada vez mais confortável, como revisitar um velho amigo, cada canto do ambiente preenchendo-me com uma sensação de paz e nostalgia. Árvores gigantes com folhas douradas surgiram à minha frente, suas copas criando um teto natural que filtra a luz suave do ambiente. Uma visão privilegiada, de fato. Em seguida, atravessei um arco de pedra coberto por musgo, e do outro lado, encontrei um lago sereno. A superfície do lago é tão calma que parece um espelho, refletindo o ambiente etéreo em detalhes perfeitos. Me aproximei da beira e me abaixei, tocando a superfície com a ponta dos dedos. Ondulações suaves se espalharam, distorcendo o reflexo por um momento antes de se acalmarem novamente. — E se eu... largasse as lutas, o sangue, as guerras... e virasse um camponês? Não me parece ruim a possibilidade de ter essa bela visão todos os dias. — Faria um monólogo interno, pensando a respeito.

Levantaria, avistando uma colina distante, coroada por um templo de arquitetura antiga. Senti uma atração por aquele lugar, como se fosse o destino final de minha jornada etérea. Por conta disso, caminharia até lá. O vento soprou suavemente, carregando consigo o perfume das flores que crescem ao longo do caminho. Subi a colina com facilidade, chegando finalmente ao templo. Suas portas estavam abertas, convidando-me a entrar. O interior é iluminado por uma luz dourada, e o ar está preenchido com uma serenidade sem tamanho. No centro do templo, um pedestal sustenta um cristal brilhante, pulsando com uma luz suave. Aproximei-me do cristal, sentindo uma conexão profunda com ele. Ao tocar sua superfície lisa, uma onda de energia percorreu meu corpo, e de repente, fui inundado por memórias esquecidas e fragmentos de sonhos passados, como se o cristal estivesse revelando partes ocultas da minha própria mente. No meio de toda essa conexão e redescoberta entre corpo, alma e mente, mesmo com meus olhos focalizados no cristal, veria uma silhueta. Silhueta essa bem conhecida por mim e... se aproxima cada vez mais.

Sem me virar, deixaria um sorriso escapar. — Já faz um bom tempo, Shibai. — Pausadamente, exclamaria.

Diante do Deus-Rei, Todo Poderoso e Fundador do Clã Ōtsutsuki, me veria com sentimentos de saudade, haja vista seu sacrifício para que eu possa viver durante a Batalha da Lua Minguante contra Soramaru. Quando o conheci por meio de Jova Ōtsutsuki, meu ancestral, o via como alguém a ser evitado, embora inevitável por eu portar sua maldição. Conforme fui evoluindo meu Kāma, convivendo dia após dia com Shibai, conhecendo mais segredos sobre meu clã e afins, criei uma espécie de vínculo para com o Deus. Para ele, talvez eu seja apenas um hospedeiro perfeito e ao mesmo tempo sua prisão que consegue contê-lo de forma espontânea e deixá-lo tomar conta quando eu bem quiser ou em momentos bem específicos; embora, no fundo, eu acredite que ele goste de mim de certa forma e não quer que eu vá a falecer tão cedo. Para mim, ele é meu melhor amigo.

— Muita coisa aconteceu desde então, pivete. Vejo que ficou mais poderoso, maduro e cuidadoso. — Emitiu em tom uníssono a silhueta símile a mim, sendo seu diferencial apenas as marcas espalhadas pelo seu corpo — fazendo algo que não é de seu feitio: Me elogiar. — Ownnn, que fofo! Assim eu vou chorar. — Debocharia do Rei, gesticulando com as mãos ao redor dos olhos como se fosse uma criança, logo após virar-me para fitá-lo. Seria respondido com um sorriso de canto. — Os olhos de Nezuko combinaram com você. A propósito, eles sabem? — Shibai indagaria, curioso. — Nah, acho que não. Provavelmente o Nari deve ter percebido quando lutei contra o picolé. Você tava assistindo, não tava? — Elucidaria, lançando uma dúvida pro ar na última sentença, elevando meu indicador esquerdo ao queixo. — Infelizmente eu vi você deixando o inimigo fugir ao invés de expurgá-lo da existência. Peidão. — Ele me zoaria, mostrando algo raramente demonstrado pelo Fundador: Seu senso de humor.

— Vamos indo. — Ele ordenou, começando a caminhar e esperando que eu o fizesse, e não hesitaria em fazê-lo, tentando acompanhá-lo sem ficar para trás. O ambiente circundante — Vulgo minha mente — reagiria aos nossos passos, os ecos profundos reverberando no cenário luminoso e celeste, como gotas de água nas folhas de um carvalho. — Diga-me, Hakari. Você sabe para que veio ao mundo e o nosso propósito como Ōtsutsuki's, correto? — Ele indagou, fitando-me de soslaio e em tom sério, aguardando uma resposta, no mínimo, satisfatória. — Para aprendermos todos os segredos da cultura desse mundo e conquistar. — De imediato, responderia, relembrando o Ōtsutsuki no Ishi em número e grau.

Shibai parece... satisfeito com a resposta.

Caminharíamos lado a lado, Shibai e eu, pelo ambiente etéreo que muda suavemente a cada passo. As cores se misturam em um padrão hipnótico, e o "chão" sob nossos pés parece formado de névoa e luz. O lugar em si é pacato sereno, como se estivéssemos fora do tempo e do espaço, flutuando em um mar de tranquilidade. Nossos passos provocam ondulações no ar, como se estivéssemos caminhando sobre a superfície de um lago cósmico. — Está um pouco certo. Você já se perguntou sobre a razão da nossa existência? — Indagou Shibai, sua voz ecoando suavemente pelo ambiente. Refleti por um momento, observando as ondas de cor que se espalham ao nosso redor. — Sim, muitas vezes. Mas cada vez que penso ter encontrado uma resposta, novas perguntas surgem. Parece um ciclo interminável. Eu realmente não sei onde quero chegar e isso... me deixa um pouco angustiado, admito. — Emitiria, esboçando nitidamente um ar mais cabisbaixo enquanto degustaria um chocolate para, talvez, melhorar o humor. Dos lábios do Rei, o vocativo "Hm" ecoaria.

Em silêncio após minha fala, continuaríamos a caminhar, passando por árvores cujas folhas brilham como esmeraldas, e riachos que correm com água feita de estrelas líquidas. O ambiente muda constantemente, refletindo nossas conversas e pensamentos. As árvores sussurram segredos antigos, e as estrelas no riacho parecem contar histórias de eras passadas. — Você... acredita que há um propósito maior? — Quebraria o silêncio. Shibai parou por um momento, observando o horizonte etéreo. — Propósito é algo que nós mesmos criamos. Alguns buscam poder, outros buscam paz. Alguns encontram significado em ajudar os outros, enquanto outros se perdem em suas próprias ambições. Mas no fim, o que importa é a jornada e como escolhemos vivê-la. É ser forte para aguentar os desafios e conseguir esmagar os obstáculos. — Aconselharia o Fundador Ōtsutsuki, mostrando uma faceta nunca antes demonstrada pra mim, sentindo um pouco de referência ao nosso clã, apesar de saber seu interesse em dominar mundos e se apossar do meu corpo em algum momento. Talvez o tempo comigo o amoleceu? — O que é "ser forte", Shibai? — Curioso, perguntaria.

Ele fitaria-me rapidamente, seus orbes celestes brilhando com uma luz que parece conter universos inteiros. Ao mesmo tempo, o ambiente ao nosso redor começou a se transformar novamente. Agora, estamos em um campo vasto e tranquilo, onde flores etéreas desabrocham ao nosso redor, suas pétalas emanando um brilho suave. O aroma dessas flores enche o ar, trazendo uma sensação de paz e nostalgia, como se eu estivesse lembrando de algo importante que havia esquecido. — Você ainda não chegou lá. — Murmuraria ele em tom uníssono e autoritário. — Lá aonde? — Levantaria uma nova dúvida, um pouco confuso com o que o Deus-Rei está tentando me dizer. — Você... vai saber quando chegar sua vez. — Finalizaria ele, a cada palavra seu corpo se dispersando mais e mais em pétalas, até simplesmente sumir, me deixando com várias e várias dúvidas não respondidas.

O silêncio pairaria no ar, e eu me veria... com objetivos e anseios novos em minha mente. — Eu... quero descobrir o meu lugar no mundo e o significado de "Ser forte". Obrigado, Shibai. — Murmuraria, pondo ambas as mãos sob meu peito e fechando os olhos, tendo como última visão do sonho as flores etéreas começando a se transformar em borboletas luminosas que voam graciosamente, suas asas brilhando com todas as cores do arco-íris, me relembrando de como Nobara é livre e da elegância de Naritoshi.

Para mais além disso, a expectativa de um novo encontro com o meu verdadeiro Deus.