Era uma noite alegre e com um toque de romance em Konoha. Em um bar de alto padrão localizado no centro do vilarejo, vários casais de várias faixas de idade se reuniam para celebrar a manutenção dos seus relacionamentos, comemorando em um local diferente do usual. Alguns sentavam-se a mesa com outros casais, enquanto outros iam para a pista no centro do bar, dançando colados músicas lentas e românticas que tocavam durante toda a noite, iluminados por uma luz fraca, que tornava o clima do local ainda mais propício para resgatar velhas memórias, e construir novas. Até mesmo algumas pessoas solteiras estavam ali, arriscando-se para, quem sabe, conhecer o amor da sua vida naquela noite tão calorosa.

E também havia Nathaniel Grey, sentado sozinho em uma mesa no fundo do bar, sem nem mesmo a companhia de sua Kumorineko, que permanecia no templo, de costas para a pista de dança e alheio a datas comemorativas e eventos românticos, segurando um cigarro aceso entre os seus dedos canhotos e um copo de whisky na sua mão direita, encarando a parede ao lado dos banheiros, ouvindo a música que tocava, ainda que um pouco mais baixa, e cantando-a sem que sua voz fosse ouvida. ── Every day I wake up, then I start to break up, lonely is a man without love. Every day I start out, then I cry my heart out, lonely is a man without love! Every day I wake up, then I start to break up, knowing that it's cloudy above! Every day I start out, then I cry my heart out, lonely is a man without love! ── depois que terminou de cantar o refrão, ele levou o copo de whisky até a boca, bebendo todo o líquido.


── Por que não chama alguma moça para dançar? Tenho certeza que elas adorariam. Qualquer coisa é melhor do que ver você lamentando nessa mesa, sozinho. ── sugeriu Matatabi, a única companhia no qual não poderia se afastar, enquanto o elfo fumava um pouco do cigarro que tinha na mão. ── Eu não estou lamentando, e o que elas querem na noite de hoje, eu não tenho para oferecer a elas. ── sussurrou, sabendo que a bijuu lhe ouviria. ── E o que acha que elas querem? ── questionou-o. ── Um grande amor. Eu não tenho amor para dar para ninguém, não esse tipo de amor. ── voltou a fumar mais um pouco, fazendo um sinal para um garçom que estava passando e pedindo por uma porção de batata-frita, que viesse com pedaços de bacon por cima. Seu plano era comer e beber até não aguentar mais, e ir para casa.

Após uma nova golada de whisky, Nathaniel pegou a garrafa em cima da mesa e encheu mais um pouco. A partir da última dose, os pensamentos intrusivos foram silenciados, dando lugar a uma paz que vinha da solidão. Não estava embriagado, pois estava acostumado a beber, mas as dores emocionais eram amenizadas por um tempo. Não sairia dali para dançar ou coisa do tipo, apenas aproveitaria o silêncio em sua cabeça… Ou não.

Seu momento foi interrompido pela presença de uma figura curiosa, mas que Nathaniel conhecia de nome, mesmo nunca tendo o visto, pedindo para se sentar com ele na sua mesa. O Grey o encarou por uns três segundos, até que um garçom interrompeu o contato visual, chegando calmamente com uma bandeja de batatas-fritas com pedaços de bacon, servindo o líder da vila e se retirando com pressa. ── Por favor… ── apontou com a mão esquerda para a cadeira na frente dele, esperando que o viajante se acomodasse.

── Você é o Karma. ── começou com a afirmação mais óbvia, olhando para ele. Depois empurrou um pouco a bandeja de batata para o centro da mesa, ficando entre os dois. ── Você pode pegar um pouco, se quiser. Deve ter sido uma longa viagem até aqui. ── ofereceu para ele, levando três batatas com alguns cubinhos de bacon até a sua boca, mastigando devagar, esperando para ver se Karma aceitaria comer um pouco ou não. Tentaria analisar cada fala e ação daquele homem misterioso a partir dali. ── Eu não sabia que havia uma ocasião para se comemorar hoje até que notei que haviam mais casais aqui do que pessoas solteiras. A realidade é que não vivemos no mesmo mundo que eles.. ── pegou mais um pouco de batata, mas antes de levá-las a boca, olhou para o homem na sua frente. ── Por que está aqui, Karma? ── questionou-o, esperando por respostas sinceras a partir dali.

Ao oferecer a batata para Karma, o Yondaime esperava, bem lá no fundo, que ele as recusasse, uma vez que tinha planejado comer tudo sozinho ao pedir o item, porém não esperava ouvir os motivos da recusa dele. ── Um homem devoto, algo raro de se ver. ── sussurrou, puxando a bandeja com batatas para si, bebendo um pouco de whisky e olhando para o homem com tapa-olho. Os Greys tinham muitas tradições nas quais ele não fazia nenhuma questão de seguir, tendo vivido em Konoha quase a vida toda, também não fazendo questão de absorver a cultura e os costumes de lá. No fundo, ele sentia-se deslocado nas duas terras. Quando Karma começou a falar, Nathaniel curvou-se um pouco para frente, apoiando o cotovelo esquerdo na mesa, apoiando levemente o queixo no punho semi fechado, prestando atenção no que ele queria dizer.

── Uma mensagem? Ele não veio aqui só para pedir meus serviços como carteiro, não é? Não, claro que não… ── questionou-se mentalmente, mas parecia muito óbvio que o seu objetivo era muito maior do que aquele. Ouviu então suas palavras sobre um povo oprimido que clamava por ajuda, algo que lhe despertou o interesse. Sua pergunta fez com que Nathaniel pensasse um pouco no assunto. Invadir e colonizar vilas nunca foi do seu real interesse como Hokage. Muito pelo contrário: se pudesse, iria na contramão das lideranças e brigaria para que todas as vilas colonizadas fossem livres… Mas não era assim que o mundo funcionava. ── Sinceramente, eu nunca pensei nisso. Falar de Kumogakure para mim é um assunto… Delicado. ── mesmo não sóbrio, lembrou-se da sua missão como carteiro em Kumogakure, uma que gerou muita polêmica na época, sendo cogitado até uma declaração de guerra da parte da capital do País do Relâmpago. Mesmo assim, forçou-se um pouco a formar uma teoria.

── Em primeiro lugar, me perdoe se eu demorar um pouco mais se, por um acaso, eu demorar para acompanhar o seu raciocínio. A vida de Hokage pode ser bem exaustiva, e quando se embriaga uma mente cansada e entristecida com álcool… ── ele mostrou o copo em sua mão destra com menos de um dedo de whisky, tomando todo o líquido e colocando o copo na mesa, enchendo mais um pouco da bebida. ── Mas respondendo a sua pergunta, o único motivo no qual senhores feudais se negam a irem atrás de mais terras, ainda mais nessa situação, é porque a recompensa não vale os riscos e investimentos numa operação desse calibre, ou… Por que alguém, ou algumas pessoas disseram a elas para não invadirem ou tomarem as suas colônias. ── opinou, ficando com a coluna ereta e cruzando os braços. ── Sua religião também o proíbe de beber, Karma? Talvez devesse beber um pouco, enquanto me diz qual é a sua relação com Kumogakure e tudo mais que eu precise saber. ── empurrou levemente a garrafa na direção dele, oferecendo-lhe algo para libertar as possívels amarras da sua mente, observando-o e tratando-o com o respeito que lhe era merecido, comendo suas batatas pouco a pouco.

Podia-se dizer que, ao contrário de Nathaniel, Karma era um homem mais prudente em suas atitudes, evitando beber na ausência de comida em seu estômago, algo que não passou pela cabeça do Grey, que já estava no quinto (ou sexto) copo. Um homem precavido… Enquanto o viajante falava sobre o sistema de colônias e como o País do Fogo e da Água obtiveram benefício delas, Nathaniel mantinha-se silencioso, comendo mais batatas do que o comum, buscando forrar o estômago antes que os efeitos do álcool se tornassem mais severos. Mesmo que não estivesse sóbrio, ele foi capaz de entender o que realmente estava acontecendo: alguém estava influenciando os Senhores Feudais, deixando eles acuados. Com certeza não eram ninjas regulares.

Enquanto viu Karma pedir uma porção de batata-frita sem bacon, Nathaniel deixou que ele desse mais detalhes sobre o que estava realizando mundo a fora, revelando ter contato com pessoas de dentro de Kumo, e que essas estavam sendo oprimidos pelo grupo conhecido como Bōryokudan. O viajante usava palavras que só ouvia da própria boca, contando sobre um povo que sofria pela ganância dos mais ricos. ”A história de todos os povos, alguns mais, outros menos”, refletiu, olhando para os lados e ouvindo o seu pedido de ajuda, e para enviar uma mensagem para os Senhores Feudais. Era um pedido muito difícil, e os riscos eram altíssimos.

── Você está pedindo demais, Karma. ── ele pegou mais um cigarro, colocando o maço na mesa e acendendo-o com um isqueiro, fumando. ── Algumas pessoas em Konoha me querem deposto do cargo de Hokage, outras querem a minha morte. No momento em que eu enviar soldados para ajudar a libertar Kumogakure, o Senhor Feudal irá unir essas pessoas contra mim. A mensagem do Daimyo será de que eu não posso passar por cima da sua autoridade… ── soltou a fumaça pela boca, mantendo a ponta do cigarro para cima. ── ... E a minha mensagem será que ele e todos os Senhores Feudais podem ir se foder. Os shinobis devem servir ao povo, e não ao dinheiro. ── revelou, colocando um sorriso no rosto, o sorriso de um revolucionário pronto para ir contra os opressores desse mundo.

── Mas… ── esticou o dedo indicador canhoto para cima. ── Tem uma condição. ── ele afastou levemente a bandeja com algumas poucas batatas e bacon para o lado direita, apoiando os dois cotovelos na mesa e olhando para Karma. O sorriso se desfez imediatamente, revelando uma expressão mais séria, alguém que buscava a verdade, por mais difícil e dolorosa que fosse. ── Me conte tudo o que eu preciso saber sobre a organização Bōryokudan. Seus membros, suas atividades, objetivos… E também o que realmente aconteceu em Suna durante a batalha que matou Senju Chokorabu. Eu quero saber de tudo, não só o que saiu nos jornais. ── fez um único pedido, uma única condição para aceitar finalmente ajudar Kumogakure. Tudo o que sabia eram notícias que circulavam entre os shinobis de maior graduação, não obtendo algo mais concreto.

Nathaniel esperou que as suas condições fossem atendidas, acreditando que necessitava de mais informações vindas de Karma, afinal estava afim também Não podia afirmar, porém, se aquilo deixava o viajante desconfortável ou não. Por mais que se esforçasse para entender as emoções e as preocupações humanas, muitas vezes acabava falhando em compreender as interações e tradições sociais.

Porém, quando estava esperando por respostas, Karma de repente mostrou a sua língua para ele, revelando alguns selamentos no músculo, levando Nathaniel a fazer uma careta imediata. No fim, ele não revelou muita coisa sobre a organização que tramava por trás dos bastidores, somente que eles operavam a bastante tempo, e viviam em um local distante, tal como o clã Grey.

Porém, ao falar mais sobre a missão em Suna, onde um sujeito conhecido como Soramaru foi pego fazendo experimentos em pessoas, todas elas inocentes, Karma fez um último comentário sobre pessoas lutando sozinhas em nome de suas nações. Normalmente, Nathaniel era pouco familiarizado com as convenções sociais, algumas vezes acabando por dizer coisas que não deveria ou não entendendo quando alguém fazia uma piada. Mas se tinha uma coisa que entendia era quando alguém lhe acusava de algo.

Demorou, mas quando Karma intercalou a missão em Suna com a morte de Chokorabu, ele entendeu que o viajante estava falando do fato dele não ter estado ao lado do antigo Hokage, compreensão que o fez enrijecer o corpo, olhando atentamente para aquele homem. ”Onde você estava quando Chokorabu precisou de voce?”, talvez fosse uma pergunta que muitos possuiam, mas ninguém tinha coragem de perguntar pessoalmente ao Grey. “Lutando minhas próprias batalhas, longe de Konoha”, era o que responderia.

Mas, bem lá no fundo, Nathaniel acreditava que não precisava dar satisfações a ninguém.

O Yondaime observou como o viajante comia sua batata, e quando falou sobre como alguns homens não poderiam se deliciar com elas por medo do que lhes poderia acontecer, o elfo apenas semicerrou os olhos, virando o rosto levemente para o lado destro, mas apesar do desconforto, não sentiu aquelas palavras como uma ofensa, permanecendo em silêncio o tempo inteiro e deixando que a ausência de palavras falasse por si. Quando ele terminou avisando que falaria com os Senhores Feudais e então, somente naquele momento, torceria pelo apoio do Grey, ele meneou a cabeça algumas vezes positivamente.

── E você terá o meu apoio… Pelo bem do povo oprimido de Kumogakure. Obrigado por compartilhar tudo o que sabe comigo. ── respondeu de forma formal e educada, permanecendo em silêncio por alguns segundos, esperando por mais alguma pergunta ou mais algum pedido.

Nathaniel esperou por alguma resposta de Karma após a sua afirmativa quanto ao seu apoio no momento em que Kumogakure precisasse de forças militares para reaver o vilarejo das forças sombrias da Boryukodan, e o homem com tapa-olho fez um reverência para o Yondaime, pronto para partir. Por fim, o homem se despediu, dizendo que havia sido uma boa conversa e que precisava partir dali. ── Boa sorte em sua viagem, Karma. ── respondeu, deixando que o homem fosse embora, acenando para o mesmo de acordo com as suas últimas palavras, ficando ali sozinho e enchendo mais um pouco do seu copo de whisky. ── Sujeito enigmático esse Karma. Você confia nele? ── perguntou a bijuu de duas caudas, que havia permanecido em silêncio durante o tempo todo. ── Claro que não, e acredito que ele não confia totalmente em mim. ── se levantou lentamente, deixando algumas notas de Ryous em cima da mesa. ── Você percebeu que ele o acusou indiretamente de ter deixado Chokorabu lutar sozinho em Suna por medo, não é? ── questionou Matatabi, enquanto o Grey fumava mais um pouco do seu cigarro, olhando para os casais dançando na pista. ── Eu fui acusado de muitas coisas a minha vida inteira, Matatabi, e vou continuar sendo. Chega uma hora que você simplesmente não dá mais a mínima. ── sussurrou, saindo pela porta dos fundos daquele bar, não querendo cruzar o caminho daqueles casais.