Era manhã quando Kaen recebeu uma visita inesperada em seu pequeno apartamento, improvisado no andar imediatamente acima de uma pequena loja de doces no centro comercial do vilarejo. "É inacreditável que você queira mesmo morar aqui, Kaen. Mas se quiser mesmo, pode ficar com o lugar", dissera o dono da loja. "É claro que sim, não teria no mundo inteiro outro lugar melhor para eu morar do que aqui! E, mais importante do que tudo, eu vou estar muito mais perto da loja sempre que precisar comprar mais doces", respondeu Kaen ao dono do estabelecimento, ao que sugeriu mudar-se para o sótão desocupado do imóvel. O lugar não era de todo ruim, apesar da poeira e de quase nenhuma luz natural, além do piso de madeira velha. Contudo, ele chamaria aquilo de casa por algum tempo, depois de abandonar o orfanato, a única moradia de que se lembrava antes de se mudar para o andar superior do estabelecimento. Naquele dia, ele estava apenas de cuecas, andando de um lado para o outro mesmo dentro daquele espaço restrito, com o indicador e o polegar levados ao queixo enquanto refletia no que faria nos próximos dias — o que ele não sabia era que o dever se apresentaria, e não o contrário. Seu planejamento caiu por terra quando uma figura se materializou diante dele, que ficou estarrecido.

— C-como entrou aqui?! D-desculpe, eu não estava esperando nenhuma visita, eu... — tropeçando nos próprios pés, Kaen saiu cambaleando pelos cantos do apartamento à procura de uma roupa, reconhecendo que se tratava de algum oficial do vilarejo, envergonhado por estar com uma cueca velha e despreparado para a chegada do homem.

— Temos uma missão para você, tudo de que precisa saber está no pergaminho. Como esta será a sua primeira missão, tenha muito cuidado, não queremos mais baixas entre as fileiras. Esperamos que retorne com vida e comunicando o sucesso da operação.

Kaen tinha caído sobre o apoio de um sofá velho e cinza, sem que desse para saber se aquela era a cor do tecido ou se era uma cobertura de poeira, mas tão rapidamente quanto apareceu, a mesma figura deixou o lugar sem nenhum ruído e o menino voltou a ficar sozinho, com um rolo de pergaminho sobre uma mesa que compunha a pobre decoração do lugar escuro.

"Tem uma criatura assustadora expulsando os comerciantes e viajantes que atravessam as montanhas ao redor do vilarejo. Que desastre!", pensou ao ver o que diziam as letras miúdas escritas a caneta tinteiro preta como piche. "Espero que esse bicho seja dos grandes!", sedento por aventura, ele sorriu com aqueles dentes que ainda sobravam, correndo para se preparar e vestir seu uniforme, além de posicionar suas armas à cintura antes de sair para cumprir sua primeira missão pelo vilarejo.

considerações:

O curso do dia seguia, com o sol da manhã cedendo lugar às nuvens que cobriam os raios de luz, impedindo-os de tocar o solo rochoso e acidentado das montanhas. Seria um lugar frio, desafiador para a maioria das pessoas. Contudo, para aqueles acostumados ao terreno das montanhas que circundavam o vilarejo de Iwagakure no Sato, não era nada muito diferente do que já conheciam. O garoto seguiu do seu apartamento em direção aos portões, onde apresentou o pergaminho que conferia permissão para deixar os arredores internos.

Quando se deu conta de que estava fora da segurança do vilarejo, Kaen imediatamente levou as mãos aos bolsos para se certificar de que havia chiclete que pudesse mascar durante o período em missão. Com sorte, ele sempre deixava um pacote ou dois nos bolsos, assim nunca ficaria sem. Puxou um deles da embalagem colorida e chamativa, descobriu o objeto de sua fissura e colocou-o na boca, descartando o papel em seguida. Como sempre, o momento de morder e sentir a doçura da goma de mascar sendo lançada pouco a pouco sobre os seus receptores gustativos fazia-o ter um verdadeiro êxtase gustativo. Mastigou, mastigou e mastigou.

"Caramba... O que eu acabei de fazer?!", pensou. "Isso de jogar lixo pelas montanhas não é nada ninja da minha parte...", reconheceu. A bem da verdade, ele nem sabia muito bem por onde estava indo, já que ficou tão distraído saboreando o chiclete de morango. Correu na direção contrária, retornando pelo mesmo caminho de que tinha vindo, procurando o papel que tinha jogado a esmo quando desembalou o chiclete que colocou na boca em seguida. Agachado sobre os próprios calcanhares, ele quase se arrastava pelo chão pedregoso em busca da embalagem.

Passaram-se alguns minutos antes que se desse conta de algumas pegadas com formato estranhamente grande, animalescas, cravadas sobre a pedra. Era mais estranho ainda que, dadas as características do terreno, as marcas estivessem tão bem demarcadas, afinal o território era de rochas, pedras e vegetação rasteira, esparsa. "São marcas de garras!"

considerações:

Ainda de cócoras, Kaen tocava as marcas de garras, tateando enquanto buscava entender em que direção aquelas pegadas apontavam. Àquela altura, o chiclete em sua boca já não tinha qualquer gosto e até começava a ficar um pouco duro demais para ser mastigado, mas ele não se importava, continuava a mascar com afinco. A procura pelo papel também ficou de lado — ele estava no rastro da criatura que motivava sua busca. "Caramba, eu não imaginava que seria tão fácil!"

Respirando pesadamente, ele ficava mais tenso à medida em que continuava a seguir a trilha de marcas. Cada vez mais, Kaen se dava conta de que se tratava de uma criatura com unhas afiadíssimas, embora, pelo tamanho das patas, não fosse das grandes. Também observou que, enquanto caminhava, uma ou duas penas tinham ficado para trás, como se pertencessem a uma ave. Contudo, depois de avaliar com mais cuidado, não parecia se tratar de alguma criatura comum, mas de um animal selvagem, provavelmente. Naquela região, era provável que encontrasse animais cujo habitat fosse aquele território rochoso.

Kaen seguiu, mas a cada metro parecia haver menos marcas. A cada passo, ele também se via mais distante da região onde tinha se acostumado a explorar, ainda que estivesse dentro dos arredores do vilarejo. Esperava conseguir encontrar o animal que buscava logo, ou teria que voltar para a segurança de Iwagakure...

A poucos metros, havia algumas árvores secas e outonais. O clima do País da Terra não era mesmo dos mais propícios para galhos frondosos e pesados, com frutos abundantes. Ainda assim, uma pequena criatura bamboleava por ali, sacudindo-se de vez em quando. Era pequena, e não parecia oferecer nenhum perigo, além de estar sozinha. Fazia um som estridente, grasnando como o crocitar de um corvo.
Kaen aproximou-se devagar, esperando não assustá-la. Colocou-se numa posição mais baixa e próxima da altura dela, apoiando-se ao mesmo tempo nos cotovelos e nos joelhos.

— Ei, calma. Vem cá, eu sou seu amigo! — Kaen estendeu a mão direita, como se fosse acarinhar aquele estranho animal que acabara de encontrar. Em resposta, o pequeno virou-se de volta e revelou um bico comprido e com uma ponta afiada, brilhante. Como em uma reação rápida, bicou a destra do menino em resposta, dando a ele um corte fino, mas que ardia muito. Um pequeno fio de sangue escorreu da abertura, embora fosse em quantidade desprezível.

considerações:

— Ai! Você me machucou! — gritou, retirando a mão imediatamente após a agressão do animal. Era uma criatura esquisita, com a estrutura de uma galinha, embora fosse consideravelmente maior. As penas que cobriam o seu corpo eram de cores diferentes, com uma grande faixa de vermelho escuro, quase marrom, e uma parte azul-turquesa. Suas patas tinham quatro garras compridas, em formato de foice, além de uma cauda curta, que parecia rígida. O animal crocitou mais uma vez em reação à expressão de dor de Kaen e agitou-se, dando alguns passos para trás. Ela estava se sentindo acuada, sozinha e indefesa diante de uma figura humana tão diferente dela. Naturalmente, Kaen se afastou.

"Parece um filhote... Não pode ser esta a criatura que descreveram na missão", refletiu. De fato, aquele animal não podia ser um exemplar maduro da própria espécie, recuando daquela forma indefesa. Não era nem mesmo maior do que Kaen! Pelo contrário, era cerca de vinte centímetros menor do que ele em altura. Também parecia assustada. O que poderia ter acontecido àquela pequena ave? Uma coisa estava clara — ela estava longe da própria espécie, talvez longe do seu ninho ou de qualquer lugar onde ela pudesse encontrar segurança.

"Talvez tenham mais como ela perdidas pelas montanhas!", pensou. "É claro! Alguma coisa aconteceu e outros filhotes devem estar perdidos, e talvez a criatura adulta daquela espécie estivesse procurando as pequenas crias, assustando as pessoas que passavam pela região nos dias anteriores. As pessoas, sem saber do que está acontecendo, também devem ter sido hostis ao cruzarem com os animais..." A teoria começou a se desenhar na mente do garoto. Ele se levantou da posição, voltando a se colocar em pé. Com uma das mãos no queixo, ele pensava sobre como poderia garantir que o filhote ficasse em segurança até que ele pudesse devolvê-lo para sua espécie, que ainda precisava encontrar através do extenso território rochoso, cheio de cavernas e lugares onde poderiam estar escondidas outras galinhas monstruosas como aquela. Virou-se, dando as costas ao filhote, e observou os arredores.

considerações:

Quando observou com atenção, viu que aquele pequeno pedaço de terra era uma clareira que contava com três árvores secas, no alto de um pequeno elevado, de onde poderia descer um pouco mais e continuar a seguir pelo terreno acidentado de rochas quase que completamente nuas, exceto por alguma vegetação aqui ou ali crescendo através das rachaduras. Entre as árvores existiam algumas folhas, gravetos e pedras, que não poderiam ter ido parar ali ao acaso. A disposição daqueles elementos poderia significar que ali havia sido uma espécie de ninho, ou pelo menos um refúgio para um animal qualquer, como aquela estranha espécie de galinha, que, como tal, não deveria ter seus ninhos nas alturas, já que provavelmente não teria capacidade de alçar voo.

Todas aquelas conclusões tinham sido fáceis, mas Kaen ainda precisava pensar em como encontrar os outros animais, já que os relatos descreviam uma criatura monstruosa e assustadora, capaz de afastar viajantes da região, prejudicando o vilarejo. Aquele filhote não era condizente com os relatos de modo algum, nem parecia ser capaz de fazer muito mais do que machucar quem tentasse chegar perto demais, assim como ele tinha feito e conseguido apenas um corte que ardia na polpa digital do indicador direito. "Preciso me aproximar primeiro, então... Tenho uma ideia.", pensou. "De que outra forma vou conseguir que essa criatura não se sinta afugentada por mim?"

Cuspiu seu chiclete duro no chão a esquerda, e com um movimento dos punhos e dedos, ele produziu três selos em sequência e em velocidade razoável [cão, javali, bode, 4s/s] para se transformar com o Henge no Jutsu em um exemplar parecido com aquele que ele tinha por perto. A princípio, parecia uma ideia ridícula, que não teria sido necessária se ele tivesse mais experiência ou habilidade como militar, mas não tinha outra opção, já que o seu arsenal era muito limitado, não era rápido ou tão forte, e, principalmente, não queria assustar ainda mais um animal indefeso e apavorado. Por isso, transformou-se em uma criatura a semelhança dela — não era uma cópia perfeita, é claro. Algumas penas azuis estavam entre as vermelhas, que eram de um tom mais vivo do que as penas que via na galinha, repleta de cores mais escuras. O bico também não tinha um formato perfeito, mas deveria servir. Não sabia com aquela técnica o seu cheiro iria se aproximar do animal que tinha como modelo, mas esperava que o resultado da transformação fosse o suficiente para fazê-lo confiar nele e conseguir se aproximar sem assustar ainda mais a ave. Era estranho para ele se movimentar e estar naquela forma, mas estava curioso para saber se sua ideia teria sido boa ou só uma tentativa boba de continuar sua missão.

Moveu-se com cautela, e a ave que estava a alguns metros de Kaen não reagiu senão por um crocitar de desconfiança, sem nenhum sinal de agressividade. Deu mais alguns passos e tentou reproduzir o mesmo som, esperando que o animal o reconhecesse como igual. "Deu certo!", pensou com alegria, e se pôs a andar a passos mais rápidos em direção à galinha, emitindo os mesmos sons, como que em comemoração.

considerações:

Qual não foi a surpresa de Kaen ao que, quando ele se aproximou da espécie selvagem de ave, uma rede entrelaçada de cordas com pesos em cada uma das suas pontas foi lançada contra ele, transfigurado em uma cópia à semelhança da galinha que ele observava, e contra o próprio animal. Sem que ele pudesse perceber, aproximaram-se dois garotos de pele escura, de aspecto enegrecido do tipo que foi exposto ao sol por vários dias. Vestiam chapéus de palha, simples e grosseiros, mas movimentam-se com agilidade. Uma coisa era certa — a dupla não tinha observado por tempo suficiente, do contrário não teriam prendido em sua rede o gennin de Iwagakure junto do animal.

Sorrateiros, os dois trajavam vestes azuis, sem qualquer símbolo que os caracterizasse. Também não ostentavam protetores metálicos como o de Kaen e nem pareciam carregar consigo armas ou objetos que indicassem um perigo iminente. Talvez fossem apenas duas crianças que procuravam a própria subsistência, mas situação que se desenhava ali era clara: aqueles dois garotos queriam capturar a ave, e talvez tivessem alguma relação com os relatos de animais perigosos rondando a região. Kaen teria começado a suar, não fosse pela transformação que ele mantinha em curso. A dificuldade de lidar com aquilo era enorme, e ele já não sabia se conseguiria manter a técnica ativa por mais tempo, mas seriam os dois captores perigosos? Kaen tinha recebido instruções para lidar com as instruções de criaturas hostis em meio a região de montanhas ao redor do vilarejo, não para se envolver em conflitos, quaisquer que fossem eles... "E... mesmo que eu lutasse.. não sei se eu ganharia..." Ele quase tremia ao pensar no desenrolar que aquilo poderia ter. Sua dúvida se encerrou quando, ao se aproximarem para carregar as duas presas capturadas — Kaen e a espécie de galinha —, disseram:

— Acabamos de garantir nossa recompensa e mais um pouco. Só faltava um, mas conseguimos mais dois!

— Mas, Konami... O que eles vão fazer com essas coisas feias? — respondeu de volta o que ainda se mantinha em silêncio; pelas vozes, este era mais novo, apesar da aparência tão próxima entre eles.

— Eu sei lá! Que se danem... Mas devem usar a pele, as penas ou qualquer parte deles para alguma coisa cara. Não viu como eles se vestiam?! Esses esquisitões e seu jeito estranho de gastar dinheiro!

— Sim, é verdade. O que estamos fazendo não deve ser... proibido?

— E quem liga?! As coisas por aqui estão cada vez mais fáceis, e isso aqui, meu irmão, é dinheiro fácil. Agora não reclama e anda logo!

considerações:

Com o sacolejar dos modos descuidados dos dois raptores de animais selvagens, a galinha exótica começou a se agitar, sacudindo as asas curtas e empurrando Kaen, transfigurado naquela estranha forma, em várias direções, todas elas contra as cordas enredadas em uma verdadeira malha. Manter a técnica em atividade era difícil, exigia um controle de chakra muito preciso, constante e refinado. Não obstante, era necessário ter muita clareza na própria mente da aparência que ele precisava manter — com tudo acontecendo rápido demais, não passou mais do que dez metros sendo carregado dentro da rede mantendo aquela forma. Suas características retornaram a ser as de um garoto de doze anos como ele era. Em uma confusão maior ainda, a ave exótica começou a se agitar mais e mais, ainda contida na rede, agora com uma criança junto dela. O raptor dos dois gritou, assustado, e largou a rede, deixando escapar Kaen e o animal.

— Mas que porra é essa? — um deles vociferava, olhando para todos os lados, tentando manter em vista a ave, o provável inimigo e seu aliado.

— Ele é do vilarejo, cara! Olha só a bandana — respondeu, gritando, o outro. — Cai fora daqui!

Kaen estava a uma distância de apenas seis metros dos dois quando eles se deram conta de que ele era de Iwagakure no Sato. Com um movimento rápido das mãos, ele teceu um dos selos básicos, o do carneiro, para executar o Shunshin no Jutsu. Deu tempo apenas para aqueles dois correrem por mais vinte metros, mas por mais que eles tentassem ser tão velozes quanto Kaen, ele poderia superá-los usando sua técnica, que permitia a ele alcançar 18 m/s. Durante a movimentação que o levou a alcançar os seus inimigos por ocasião, ele levou o membro superior direito a sacar com a destra uma kunai da bolsa de armas que ele carregava presa à cintura.

"Eles não são páreo para mim... Parecem ser crianças pobres, não traficantes de animais exóticos", pensou, contendo-se ao alcançá-los, soltando de novo a lâmina dentro da bolsa, e pegou mais um chiclete ao invés disso, levando a goma até a boca, e em lugar de atacá-los ele se aproximou por trás e levou os braços ao redor do pescoço dos dois, que corriam lado a lado, como se estivesse abraçando. Segurou com bastante força, impedindo que eles continuassem a correr ou tentassem se soltar dos seus braços.

— Escutem, vamos conversar, beleza?! Não quero machucar ninguém. — mascando chiclete, ele fez uma bola com a goma de mascar que estourou com um ploc audível.

considerações:

— Sai pra lá, maluco! — Em resposta à tentativa de conversar com aqueles dois, o que desde o início parecia ser mais falante afastou-se com uma cotovelada em Kaen, enquanto o outro apenas suava frio, com os dentes cerrados e medo demais para tentar fugir ou começar a lutar. Como estavam os dois correndo no instante em que Kaen os impediu brevemente de continuar, os chapéus que vestiam voaram para trás, revelando seus cabelos raspados. Somado às suas roupas e modos grosseiros, eles pareciam mesmo ser apenas crianças pobres ou criminosos de baixo nível. — Corre, Yuto!
Kaen deixou que o garoto escapasse, virando seu rosto para a direita, onde ainda tinha o outro preso.
— Eu não tentaria o mesmo, se fosse você. — Kaen estava calmo, mascando seu chiclete de morango entre cada palavra. — Sabe que não podem capturar animais assim, não é? Eles ficam agitados e podem acabar atacando as pessoas por aí, quando vocês os assustam para tentar pegá-los. — A tranquilidade que ostentava se deu após entender que não eram inimigos perigosos, ou que nem sequer eram adversários. Mascou mais um pouco, e fez outra bola com a goma. — E isso não é nada legal, parceiro. Onde vocês estão prendendo os animais?
— N-numa caverna, com algumas gaiolas. P-perto daqui.
— Ótimo, me leve até lá, então. São apenas vocês dois nisso?
— S-sim... Apenas Kubuki e eu... — o garoto parecia excessivamente assustado, como se não fosse mesmo o tipo de criminoso muito experiente. "O outro pelo menos fugiu..."
— Apenas Kubuki e você, hein?! Você vai me mostrar onde é o lugar, sem gracinhas. — "Vou libertar todos, sinto muito pelos trocados que vai perder, parceiro."
Kaen tirou o braço direito que ainda o mantinha agarrado ao outro, e começou a andar na mesma direção que ele. Esperava não ser enganado, ou levado para uma armadilha. "Talvez eu esteja confiando demais nele... Mas também acho que ele é bundão demais para tentar qualquer coisa contra mim", suspirou. Continuava mascando avidamente, ansioso por terminar logo aquela missão. Não esperava encontrar outras pessoas envolvidas nos aparecimentos das criaturas monstruosas dos relatos que circulavam pelo vilarejo. Os dois caminhavam havia pelo menos um quarto de hora, e Kaen mantinha a atenção redobrada aos arredores, pois o garoto que Yuto chamou de Kubuki tinha desaparecido, sem voltar para ver se o parceiro estava em apuros.
Yuto caminhava chutando para longe as pedras que encontrava pelo caminho, com as mãos afundadas nos bolsos e o olhar voltado para baixo.
— Como é?
— Hum? Como é o quê? — Kaen tinha os dedos entrelaçados atrás da cabeça, com os braços levantados. Estava relaxado, mas algum barulho que parecia distante começou a incomodá-lo.
— Ser um militar, um ninja, cara. Como é a sensação? Lidar com ladrões, assassinos, criminosos... Gente como eu e Kubuki. — Havia uma consternação na voz dele que Kaen não conseguiu ignorar. Olhou com estranheza para o outro, e reconheceu nele apenas um menino de idade muito próxima da sua e que não parecia carregar muita felicidade ou esperança. De repente, Yuto também pareceu ouvir o som de batidas que ribombavam em algum lugar perto dali.
— Ah, nem é tão legal quanto parece. Sabe, você carrega suas armas por aí, e usa esse protetor metálico irado, e várias outras coisas também.
A bem da verdade, Kaen não tinha muito mais o que relatar, já que ele era verde como uma fruta no pé, e aquela era sua primeira missão a serviço do vilarejo, mas ele não diria isso a Yuto. A interação não continuou por mais tempo, pois segundos depois um grito acompanhou os sons de batidas, e sentiram o chão tremer levemente, aumentando em intensidade rapidamente. Era um grito de desespero.
— Kubuki! — Yuto apontou para o horizonte, de onde uma figura vinha correndo, trazendo consigo uma forma com pelo menos quatro metros e cores escuras, grasnando. "É a mãe daqueles filhotes!"
— Me ajuda! — Kubuki se aproximou, escondendo-se atrás dos dois que vinham na direção contrária.

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Kaen não tinha muito tempo para pensar, ou seriam os três atingidos pelo animal enfurecido, já que Kubuki atraíra a fera diretamente para a direção em que ele e Yuto caminhavam. Realizou o selo do carneiro antes de envolver os dois em seus braços, disparando do ponto em que seriam pisoteados pela ave monstruosa e indo dez metros para a esquerda a 18 m/s através do Shunshin no Jutsu. Ali, a região era rochosa, cheia de pedregulhos, então deslocou-se junto dos outros dois para trás de uma pedra que pudesse escondê-los por alguns segundos.
— Cadê a caverna, Yuto?! — Sua calma o havia abandonado; ele falava baixo, ofegante, esperando que o monstro não os alcançasse tão rápido, mas os barulhos dos passos já ressoavam mais uma vez, e ele sabia que seriam encontrados novamente em pouco tempo. — Precisamos devolver os filhotes dela!
(KUBUKI) — DEVOLVER OS FILHOTES? VAMOS SAIR DAQUI, CARA! — Kubuki gritava, nervoso, e assim conseguiu atrair a atenção da criatura exatamente para o abrigo que tinham encontrado.
— Cala a boca, parceiro! Olha o que você fez! — Kaen deu um tapa no rosto de Kubuki, que apenas atrapalhava todo o plano desde o início. Eles tinham apenas alguns segundos antes de escapar dali para não serem atacados pela galinha.
(YUTO) — É a-ali, naquela direção...
— Kubuki, corre e distrai a mamãe galinha. Eu e o Yuto vamos soltar os filhotes dela. Vem!
Kaen usou um tom que não admitiria mais contestações. Quando terminou de falar, o monstro já estava tão próximo deles que, com um golpe do corpo agigantado, moveu o pedregulho que serviu para escondê-los, rachando a pedra em vários pedaços menores e empurrando o que sobrou para o lado. Kubuki voltou a gritar e a correr, mas, a essa altura, Kaen já estava carregando Yuto mais uma vez, usando o Shunshin no Jutsu após canalizar seu chakra através do selo do carneiro para se mover com mais agilidade, a 18 m/s, e resolver logo a situação. Deslocaram-se 22 metros a partir do ponto onde teriam sido atingidos até chegarem na caverna. "Kubuki é um grande covarde, e muito estúpido também, até para um ladrão tão baixo... Mas não quero que ele se machuque", pensou.
Movendo-se na direção que Yuto tinha apontado, Kaen e ele se viram diante de uma pequena caverna, onde alguns pedaços de madeira descansavam uns sobre os outros, quase totalmente incinerados após terem servido como uma fogueira. Logo atrás do amontoado de madeira e galhos, estava uma gaiola improvisada, que mal podia conter todos os animais.
— Vocês pegaram mesmo todos os filhotes dela... — Constatar aquilo era decepcionante para o gennin, embora ele já soubesse que os dois garotos tinham feito aquilo. Eram quase uma dúzia.
(YUTO) — To-todos não... Faltou aquele que você viu correr de nós quando te encontramos.
"Droga, é mesmo... Ainda preciso encontrar o outro filhote."
— Para de gaguejar igual um covarde e desmonta essa gaiola. Vamos devolver os filhotes dela. Rápido!
Como a estrutura de madeira era muito ruim e demasiadamente pequena para todos os animais, foi muito fácil desmantelar a prisão. Contudo, conter os pequenos filhotes não era tarefa fácil. Eles corriam e se agitavam o tempo inteiro, além de bicar a cada segundo. Por sorte, eram pequenos, nada comparados à fêmea adulta que perseguia Kubuki do lado de fora.
— Precisamos correr até aquela clareira onde vocês emboscaram o último filhote. Com sorte, ele ainda estará lá.
(YUTO) — E s-se ele não estiver, o que faremos? — A hesitação de Yuto começava a dar nos nervos de Kaen, que ouvia os gritos do lado de fora da distração que eles usavam para resgatar os filhotes.
— Vou encher os dois de penas e deixar para serem criados pela galinha, seu frango maldito! Precisamos tentar alguma coisa, oras!
Kaen correu para o exterior da caverna e gritou bem alto para que a criatura prestasse atenção nele:
— Aqui, mamãe! — Imediatamente, o monstro pareceu ouvir não apenas seu chamado, mas também os sons que seus filhotes emitiam, e parou bruscamente de correr atrás de Kubuki para lançar um olhar na direção de Kaen.

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— Yuto, CORRE! — Kaen gritou, esperando que aquilo estivesse finalmente chegando ao seu final feliz. Ele carregava consigo três filhotes embaixo de cada braço, segurando firme para que eles não se soltassem e corressem em todas as direções, por mais que fosse mais provável que eles procurassem a mamãe. Esperava alcançar a clareira que tinha encontrado mais cedo e deixar todos os animais ali, reunidos e distantes das passagens mais movimentadas que levavam a Iwagakure no Sato. Com a enorme monstruosidade que os perseguia bem naquele instante de volta à companhia da sua prole, esperava conseguir resolver o problema — desde que ninguém mais voltasse a sequestrar os filhotes da criatura.

— Yuto, tá comigo? — Kaen gritou, sem tempo para olhar se o outro garoto estava mesmo acompanhando a sua velocidade, 14m/s. Por mais que ele não fosse treinado ou contasse com uma preparação física, corria como se a vida dependesse disso — e dependia.

No horizonte, a imagem da clareira com as árvores secas e feias tomava forma, e ele começava a sentir um verdadeiro alívio por estar chegando, apesar do incômodo causado pelas feridas que os animais faziam em seus braços. "Só mais um pouco, e..." Ele semicerrava os olhos, procurando algum sinal de que o último filhote estava lá.

— AE! — gritou, comemorando. O último filhote ainda estava no mesmo lugar, como se esperasse que os demais da sua espécie retornassem ao último lugar onde estiveram juntos. A mamãe-galinha-monstro grasnou atrás deles, emitindo um som ensurdecedor capaz de eriçar todos os pelos do seu corpo.

Correu mais alguns metros e alcançou a clareira, e aquela tinha sido a parte mais simples da missão, felizmente. Abaixou-se e largou os filhotes próximo do que esperava, e todos começaram a se agitar, pois a fêmea enorme estava quase se aproximando.

(YUTO) — C-cara, ela tá chegando perto... O-o que vamos fazer?
— Larga os filhotes aqui, e sai correndo. AGORA! — Kaen ordenou uma última vez o que o garoto devia fazer, esperando que ele obedecesse sem questionar novamente. Era a única coisa razoável a ser feita àquela altura. Também esperava não precisar ver aquele covarde tão cedo.

Yuto obedeceu e correu com tanta pressa que Kaen mal poderia dizer em que direção ele foi depois de ouvir a instrução que deu. A monstruosidade que causara todos os problemas com os viajantes e moradores da região se aproximou e diminuiu a velocidade, como se avaliasse o que iria fazer, visto que seus filhotes estavam próximos demais para que ela atacasse Kaen com toda sua força. Os filhotes já estavam livres, circulando pelo chão ao redor dele, e correram em direção à sua versão agigantada. Kaen ergueu os braços com as palmas viradas para frente, como se dissesse que não iria mais fazer mal a elas. Moveu-se lentamente, andando para trás e afastando-se do local. Ao tomar uma distância de quinze metros, abaixou os membros superiores, ainda caminhando para trás fitando os animais para ter certeza de que não voltaria a ser perseguido. E não foi.

"Acabou, finalmente", pensou. Ele já não estava ofegando da corrida, mas suava bastante. O chiclete em sua boca já estava duro e sem sabor, por isso cuspiu em uma direção qualquer. Estava cansado, mas feliz por ter encerrado sua primeira missão, e livre para retornar a Iwagakure, a poucos minutos de distância dali.

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