Treinamento Antiquado

I

Os poucos anos que passei na academia ninja serviram para firmar meu compromisso de ser o ninja mais forte desse país, sendo a única coisa que realmente me fez ficar interessado pelo mundo shinobi. No entanto, também sabia que minha idade era um fator que dificultava bastante a minha caminhada, me faltava experiência, tamanho e força bruta que somente um homem adulto é capaz de ter. Para ficar mais forte, sempre contei com apoio de ninjas veteranos, ferramentas úteis para eu conquistar meus objetivos, e a principal peça desse maquinário não poderia ser ninguém menos que Bako sensei, o esquentadinho. A verdade é que esse não era o tipo de apelido que combinava com Bako, mas como não foi algo inventado pelos alunos da academia e sim um colega das antigas, isso se tornou muito mais engraçado. É divertido imaginar como era Bako na juventude antes de se tornar um professor da academia ninja, e parte do processo para descobrir quem era meu sensei, era aceitar seus métodos antiquados de treinamento físico, não sei onde estava com a cabeça ao aceitar que me colocassem pesos nos tornozelos — Isso mesmo Kabane! Se você utilizar esses pesos nos calcanhares para sempre, seu corpo ficará mais forte e mais rápido. Logo você nem mesmo vai se lembrar deles e quando isso acontecer, você ganhará um poder absurdo! Livre-se dos pesos no momento certo e surpreenda seus adversários. — e foi assim que acabei colocando dois pares enormes de pesos enrolados nas minhas pernas.

Voltar para casa depois desse dia de treinamento foi uma das coisas mais complicadas que já fiz, poucas pessoas sabem, mas caminhar nas areias de Suna já é um tipo de obstáculo que todos os aldeões e ninjas desse país é obrigado a se adaptar, mas não é porque estamos acostumados que não é cansativo. Com a combinação de areia nas sandálias, calor e pesos nos tornozelos, eu realmente gostaria de dormir em qualquer lugar que eu me jogasse no chão. Assim foi o meu estado durante todo um dia após treinamento, reclamações constantes no orfanato até que todos começassem a ficar mais distantes, ao menos garanti que Dessa e suas amiguinhas insuportáveis ficassem longe de mim. Dormir foi realmente chato, os pesos esquentavam e passar uma perna para outro lado era um treinamento de resistência custoso para suportar, mas com o tempo tudo aquilo começou a se tornar mais natural, tanto para sobreviver dentro da minha própria casa quanto nos trabalhos como um ninja de Suna.

O segundo dia com os pesos nas pernas foi tão cansativo quanto o primeiro, mas eu já tinha dado início ao treinamento psicológico de tentar esquecer que havia diversos quilos presos as minhas pernas. Ao menos consegui me afastar do banho e a irmã Lily teve que engolir a desculpa do treinamento intensivo do Bako sensei — Mas irmã Lily, como vou poder ficar mais forte se você não quer deixar eu completar o treinamento da maneira correta? Não sabe que aqueles que não seguem as regras acabam se perdendo na vida? Por favor, deixe-me usar os pesos e assim que o treinamento acabar, eu juro, eu juro que os removo e tomo um banho caprichado. — me doeu dizer aquilo, mas promessa é dívida e eu teria que usar xampu e sabonete. E assim eu consegui tornar o desconfortável em algo um pouco mais agradável para mim, nem tudo estava perdido.

Do terceiro dia em diante o meu corpo já não sentia mais as dores de carregar os pesos, mas é claro que eu estava muito mais lento do que o comum. Minhas pernas precisavam carregar três de mim para todos os cantos que eu fosse, tanto em casa quanto nos treinamentos na academia ninja. Foi a partir disso que comecei a compreender o que Bako sensei quis dizer com o surpreendendo seus adversários ao se livrar dos pesos. Eu tinha certeza de que estaria muito mais veloz para fazer qualquer tipo de atividade física se eu me livrasse daquilo. Quis tirar para testar, mas ainda não era hora, respeitei o treinamento para ter certeza de que iria adquirir o poder que Bako sensei me prometeu. Passei mais alguns dias usando os pesos e finalmente comecei a esquecer deles.

Para esquecer por completo dos pesos era necessário preencher a mente com uma novidade ainda mais interessante, e foi nesse momento em que me aprofundei nos assuntos da botânica e as formas de lutar com as flores cortantes. Ficar mais forte de maneiras diferentes também era uma forma de fazer o meu corpo sair da zona de conforto, era fácil esquecer que tinha pesos nos pés quando eu precisava lidar com criminosos na academia e batalhas com flores de cerejeira, um jutsu mais bonito era impossível de existir. Consegui enfrentar um inimigo sem nem mesmo mexer com os pesos, mesmo que ele estivesse bêbado, era um ninja e usava armas perigosas. Os pesos também não me atrapalharam com o trabalho na estufa para a vovó e o treinamento de ninjutsu com Bako sensei, se tornando quase um método viável para ficar mais forte.

Semanas após me acostumar com os pesos nas pernas, comecei a elevar a quantidade de quilos que usava para cada membro, também troquei as tornozeleiras por ferramentas um pouco mais discretas, assim eu poderia realizar qualquer tipo de atividade como sempre, mas sem perder velocidade. Eu estava como antes, livre e forte para realizar qualquer tipo de tarefa como se não estivesse nada me segurando, e ainda tinha o melhor de tudo, remover os pesos iria garantir muito mais velocidade e liberdade em meus movimentos. Para completar essa última fase do treinamento, segui os conselhos de Bako e adotei uma rotina de corrida no deserto durante as primeiras horas matinais, exercícios físicos de baixa intensidade que me ajudavam a fazer com que meu corpo ficasse sempre em atividade, também fiz leituras de pergaminhos dos mais variados tipos em minhas corridas, assim iria fortalecer minha mente ao mesmo tempo em que realizava atividades motoras.

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