Em um celeiro caindo aos pedações, que ficava localizado em uma fazenda não muito longe de Iwagakure, um ninja encontrava-se cercado. Sentado em uma cadeira igualmente decrépita e desgastada, via três homens à sua frente. Nenhum deles estava de brincadeira. Com pedaços de cano nas mãos e outros aparatos improvisados, conduziam um interrogatório brutal. Essa era a missão deles, e seriam muito bem pagos por isso.

— Porra!! Por quê?! — irritado, um dos criminosos gritava, não se importando em ser ouvido por terceiros. — Por que você não coopera conosco? Não vê que não vale a pena desperdiçar a sua vida por aquela vila? Não vê que você é apenas mais um, alguém facilmente substituível? Diabos, por quê? Sinceramente, isso não faz o menor sentido. E ainda me chamam de louco, francamente. — Então voltou a bater no ninja. Ao conduzir o interrogatório, usava apenas um pedaço enferrujado de cano, que encontrou próximo a uma goteira.

Os seus dois comparsas, que seguiam acompanhando a cena, sem dizer uma única palavra, ficavam cada vez mais impacientes. Um deles batia o pé no chão incessantemente. Já o outro, que a princípio parecia estar calmo até demais, considerando a situação, agora percorria o ambiente a procura de uma ferramenta mais eficiente. — Precisamos de outra coisa, se quisermos mesmo terminar logo com isso — disse, com o mesmo olhar frio no rosto. — Vejamos... o será que temos aqui — inclinando o corpo na direção de um alicate que estava à sua esquerda e o tirando do chão, continuou. — Mas então, galera, será que ele perde quantas unhas e dentes antes de começar falar? — Por fim, aproximou-se do colega e lhe entregou o objeto frio e empoeirado, mantendo um sorriso sádico no rosto.

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Ethan corria pelas ruas Iwagakure, desesperado. Saltava alguns muros e construções para cortar caminho, esbarrava nas pessoas que caminhavam pelo centro do vilarejo, recebendo diversas queixas e xingamentos no processo; independente do obstáculo, o Hattori continuava seguindo em frente, obstinado. Até aquele momento, tudo não passava de uma questão de tempo. Se não fosse rápido o suficiente, seria responsável pela morte de muitos, pensava consigo mesmo. Se não chegasse a tempo, informações valiosas seriam vazadas. Se não fosse capaz de salvar a única vida que importava, uma filha perderia um pai. O peso era enorme, Ethan sabia, no entanto, via nisso uma oportunidade para crescer e para provar do que era capaz. Com isso em mente, a sua determinação continuava fazendo-o seguir em frente, até finalmente poder esfregar o seu sucesso na cara daquele velho que não queria lhe atribuir tal tarefa.

— Um dia de viajem? Isto é sério? — curioso, o Chunin perguntou.

— Sim, você ouviu direito. Agora repasse a informação, por favor! E lembre-se, não temos muito tempo — o Jonin respondeu, passando a mão sobre os poucos fios sobre a cabeça, inquieto na cadeira e revirando uma pilha de papeis à sua frente.

— Senhor... — abaixando o tom de voz e contraindo o corpo, Ethan contestou a ordem. — Me deixe fazer isso! — Com um grito, levantou a voz e manteve um olhar firme.

— Garoto, por acaso perdeu o juízo? — arregalando os olhos, questionou. — Que parte do “não temos tempo” você não entendeu, hein?!

— Como o senhor mesmo disse, o tempo é vital em uma situação como essa. Então, ao invés de perder tempo procurando o oficial Suzaku, eu posso ir direto até o local. Por favor, deixe-me fazer isso. Eu sei que consigo.

O jonin, desta vez, levou a mão até os olhos, fechando-os. Mesmo querendo discordar do garoto petulante, sabia que ele estava certo. Isso era o pior. Mas, no fim, concordou em enviá-lo. — Normalmente, jamais colocaria a vida dos meus homens nas mãos de uma criança. É importante que esse detalhe fique claro. Mas, sim, pode ir. Agora a missão é sua. — Suspirou, quase como se já estivesse arrependido.

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Depois de seguir por mais algum tempo na mesma direção e atravessar os portões da vila, permaneceu no curso pretendido. Ainda nesse curto espaço de tempo, enquanto corria sem olhar para trás, Ethan sentiu-se diferente, como se estivesse com medo, arrependido. Algo inconcebível, imaginou. Mas, diante de uma tensão tão palpável quanto aquela, que vinha de todas as direções e o sufocava, não estranhou o fato. Assim como qualquer outro no seu lugar, queria cumprir com a sua missão e tinha a determinação necessária, portanto, não era esse o problema. No entanto, subestimar o inimigo não era do seu feitio, o que, consequentemente, acabava gerando uma preocupação excessiva. Afinal, não tinha como imaginar que os tais criminosos eram ladrões comuns que, por acaso, envolveram-se em uma conspiração muito maior do que a recompensa em dinheiro ofertada.

Durante toda a viagem, cauteloso, o Hattori estava atento aos arredores, atento aos detalhes, por menores que fossem. Se algo de estranho acontecesse, na sua concepção, estaria pronto para contra-atacar. Assim, usou cada um dos sentidos para não ser pego com a guarda baixa. Os seus olhos cintilantes mapeavam o caminho à frente. Da mesma forma, os ouvidos e o nariz estavam a postos, prontos para notar as sutilezas que outros não conseguiam.

Enquanto isso, no velho celeiro, gritos de agonia ecoavam por toda a parte. Contudo, não havia ninguém para ouvi-los, o ninja estava só, por conta própria.

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Em meio ao feno e ao sangue, sentindo a poeira formar uma película incomoda nas solas dos seus pés descalços e observando como o gosto metálico do sangue tornava-se cada vez mais presente na sua boca, o ninja já não tinha mais esperanças. Àquela altura, estirado sobre a cadeira, como um saco de batatas, estava apenas esperando o momento em que os sujeitos percebessem que continuar com aquilo era perda de tempo. Afinal, revelar os segredos da vila nunca foi, de fato, uma possibilidade real. Não importava quanto dor fosse infligida, a decisão do homem já tinha sido tomada há muito tempo, no momento em que ele se tornou um ninja, quando ele tocou pela primeira vez a bandana que ostentava na testa e, de certo modo, quando pegou a filha nos braços pela primeira vez, decidindo fazer o impossível para que a pequenina pudesse crescer em segurança atrás dos muros de Iwagakure.

Cada umas das suas unhas foram arrancadas pelos sequestradores da maneira mais brutal que alguém poderia conceber em sua mente perturbada. Mas em resposta, ele devolveu o silencio, frio e mórbido. Em seguida, foi a vez do seu braço direito. Com o mesmo cuidado que todos os prisioneiros de guerra tinham o privilégio de ter, teve o membro forçado contra uma barra de ferro até que os criminosos ouviram um estalo e constataram a fratura. Mas, mesmo depois de horas a finco, e após uma quantidade assustadora de tentativas, a situação continuava a mesma. Ele não aguentava mais, encontrava-se no seu limite, porém, nenhuma informação passou pelos seus lábios.

— Isto não está certo. De jeito nenhum... — após observar cada etapa do interrogatório, um dos criminosos comentou, incrédulo.

— Droga, o cabeção aqui tem razão. Será que temos quanto tempo até virem atrás dele? — posicionado à esquerda, o outro comentou, com o olhar igualmente vidrado no interrogatório.

— Seus idiotas! Se já acabaram de tagarelar, tratem de achar outra coisa para usarmos. Não queria admitir, mas esse cara é durão. — Coçando a bochecha e sujando-a de sangue, olhava em volta. — De qualquer forma, não é para tanto. Fizemos um bom trabalho cobrindo os nossos rastros. — Por fim, ainda esperando uma resposta dos seus comparsas, segurou o ninja pelos cabelos, levantando a sua cabeça e conferindo se o mesmo continuava consciente.  

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Enquanto os criminosos questionavam o cadáver sobre assuntos dos quais ele jamais comentaria, de repente, uma névoa inofensiva rastejou por todas as frestas possíveis, não demorando muito até tomar o celeiro por completo. No entanto, conforme eles permaneciam mergulhados no nevoeiro, notavam que aquele não era o único problema. Não demorou muito tempo até todos serem obrigados a cruzar os braços e se encolherem, sentindo na pele os primeiros sinais de hipotermia. Ainda em meio ao fenômeno climático, cada um se armou com o que conseguiu encontrar no chão.

— Que merda é essa!! — um dos homens comentou, assustado.

— Droga, eu avisei. Eles encontraram a gente.

Tomados pelo medo, o grupo começou a brandir os objetos de maneira aleatória e desengonçada, tentando alcançar o causador daquele caos. Contudo, quando ouviram o estrondo vindo do portão, não tiveram qualquer chance de reagir. Lanças tão frias quanto o beijo da morte foram arremedas em alta velocidade em cada um dos criminosos. Aquele que ficava mais à esquerda, observando a cena, agora tinha a coxa esquerda perfurada, caindo com a força do impacto. Já os outros dois, ambos seriam atingidos na região do abdome, sendo arremessados no chão da mesma forma. No final, após encararem de frente o medo da morte, imploraram pelas suas vidas, com lagrimas cristalizadas caindo pelos olhos.

Ethan não se importou com os “lixos” dispostos no chão, apenas ignorou as lamurias e se aproximou do ninja na cadeira, carregando-o nos ombros. — Senhor, me desculpe pela demora — diria, com a voz carregada de culpa. Depois, sem motivos para continuar ali, deu as costas para o trio e começou a caminhar.

— Espera!!! — O bandido com a lança crava na perna gritou. — Você ganhou. Não temos a menor pretensão de lutar, então vê se tira a gente daqui. — Viu que as suas palavras não surtiram efeito, mas mesmo assim insistiu com a ideia de berrar. — Droga, que merda você pensa que tá fazendo?! Não era pra vocês serem melhor do que nós? Hein?

Em resposta, Ethan cessou os passos e se virou por um momento. — Não entenda errado, por favor. Eu nunca disse que era melhor do que ninguém, e isso jamais passou pela minha cabeça. Enfim, se vocês quiserem mesmo fugir, não vou impedi-los. E como vocês não fazem parte da missão, não dou a mínima. Então façam o que quiserem. De um jeito ou de outro, vocês já estão condenados se continuarem expostos ao frio. — Sem mais nada a acrescentar, virou-se novamente e seguiu rumo à vila.

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A vila da pedra, mesmo depois de tanto tempo, ainda tentava se reerguer do choque que foi perder um líder. Com o tempo, naturalmente, tudo se ajeitava, e isso valia tanto para os conflitos internos entre os ninjas de maior patente quanto para os murmúrios que corriam pelas ruas durantes as noites abafadas. Portanto, não era possível dizer que houve uma pessoa sequer que não sentiu a perda do último Tsuchikage. No entanto, o povo da pedra era perseverante, acima de tudo, sabiam que precisavam seguir em frente se não quisessem que o pânico assumisse o controle das suas mentes. Entretanto, às vezes era mais fácil falar do que fazer, afinal de contas, ninguém poderia negar o mar de incertezas que pairava diante de todos.

Em algum nível, os oficiais de alta patente sabiam melhor do que ninguém o que essa instabilidade significava. Fraqueza, aos olhos dos inimigos, essa palavra estava estampada em um outdoor na entrada do vilarejo. E se houvesse uma hora oportuna para intentar algo contra o vilarejo, a hora era essa. As vilas inimigas, os oficiais da pedra, em resumo, todos sabiam disso. Neste momento tão frágil, bastava apenas uma fagulha para acender os milhares de barris de pólvora que cercavam o vilarejo.

Em mais um dia como qualquer outro, com a mesma tensão palpável no ar, um comunicado repentino foi emitido para a central. De acordo com o mensageiro que correu durante dois dias para repassar a suposta mensagem, um comboio carregado iria cruzar os portões da vila daqui alguns dias. No entanto, quando o Shinobi responsável estava prestes a relaxar os ombros e emitir um comunicado acerca do caso, o mensageiro acrescentou algumas informações preocupantes. Segundo o homem, haviam motivos para acreditar que certas pessoas tentariam impedir o carregamento de chegar ao seu destino. O garoto de recados estava cansado, e por vezes quase se atrapalhou no manuseio das palavras, mas não havia qualquer sombra de dúvida rondando a declaração, sendo o suficiente para que uma força tarefa fosse formada às pressas.

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Em uma manhã como outra qualquer e sem nenhum acontecimento memorável, Ethan caminhava pelo centro de Iwa, indo até o quartel general. Olhando em volta, em um primeiro momento, não precisou de muito para confirmar as suas suspeitas, incrivelmente, tudo estava igual. Com o mesmo sorriso no rosto e uma vontade inabalável, alguns comerciantes abriam as portas, limpavam a faixada e organizavam os produtos no mostruário. Os dias continuavam a passar, um após o outro, mas mesmo assim era como se todas as manhãs fossem exatamente as mesmas, como se estivessem preso em uma simulação de mundo, Ethan pensou. Outro fato interessante era que, independente do dia, a vila não demorava a despertar, também notou. Não importava a hora ou as circunstâncias, era possível flagrar os mesmos rostos em meio a escuridão, quando o sol ainda nem pensava em despontar nos céus.

Depois de passar algum tempo admirando a forma como alguns moradores se dedicavam logo pela manhã, Ethan apressou o passo, afinal de contas, já estava mais do que atrasado para o seu compromisso. Na noite passada, como bem sabia, tinha sido convocado para ir no quartel general antes do nascer do sol e, de acordo com as instruções, atrasos não seriam tolerados. Portanto, no momento em que percebeu os primeiros raios de sol tocando o seu rosto, desesperou-se. Começou, então, a trombar em algumas pessoas pelo caminho e a chamar a atenção para si. E conforme eliminava, apressado, a distância até o seu objetivo, deixava um rastro de pessoas furiosas.

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Saindo das profundezas de algum lugar desconhecido, sombras e vultos trilhavam o seu caminho entre a paisagem acidentada e característica do país da Terra. Aquelas silhuetas não tinham nome, família ou qualquer outro laço para se apegarem; os soldados perfeitos, alguns diziam. Desse modo, o grupo de elite em questão poderia ser inteiramente resumido a um único propósito, concluir o trabalho, destruir a carga transportada pelo comboio.

Assim como as sombras, os homens e mulheres mandados naquela missão não sentiam fome ou medo. Tudo o que faziam era seguir em frente, sem pensar nas consequências. O primeiro desafio foi o clima. Mesmo habituados a mudanças climáticas drásticas, sendo treinados para isto desde crianças, ainda assim sofreram nas primeiras horas. Depois, no segundo dia de viajem, os seus conhecimentos acerca da geografia local foram postos à prova. Não poderiam dizer que estavam perdidos, mas, por algum motivo, não foram capazes de interceptar a caravana. No entanto, também não se desesperaram, eram frios demais para isso. Então, com plena autônima para agirem e após uma reunião acalorada entre os integrantes do pelotão, decidiram atacar o alvo dentro dos muros de Iwagakure. Apesar da demora, a decisão foi unanime, todos pensaram o mesmo: eles abaixariam a guarda a partir do momento em que cruzassem os portões da vila.

Portanto, com a mesma destreza e foco de antes, o grupo seguiu rumo ao seu próximo destino, enfrentando certas defesas naturais pelo caminho e tomando o cuidado para não serem vistos por nenhuma patrulha.

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Assim como tantos outros ninjas, Ethan estava de guarda em um ponto estratégico, aonde o comboio passaria daqui a algumas horas. Ao seu lado, um ninja com nariz de batata, rosto de querubim, com um cabelo castanho volumoso e cacheado. Quanto às suas roupas, orgulhoso, usava um uniforme padrão das forças regulares da vila, no entanto, diferente de tantos outros vestia também um colete marrom com diversos bolsos e rasgos. A dupla de ninjas estava de frente para uma rua conhecida por ser movimentada, porém, agora, ela estava completamente vazia. Era por ali que o comboio passaria.

— Só mais alguns minutos e todo este show vai acabar. — Aik tirou um cantil da bolsa de armas, deu um gole da bebida ardente e comentou com o parceiro.

— É... Você bem que pode ter razão — respondeu Ethan, olhando Aik de relance. — Mas, não sei não, tá cedo demais pra qualquer conclusão precipitada. Até onde sabemos, ainda há pessoas interessadas nessa carga. Mas também isso pode ser só coisa da minha cabeça, não nego. — Enquanto falava, seu olhar sagaz continuava a procura de problemas.

— Olha, garoto, você ainda tem muito o que aprender — deu mais um gole na bebida, fazendo uma careta logo em seguida. — Por exemplo, não é a primeira vez que participo de uma ação coletiva como essa, e geralmente o fim é o mesmo: ficamos parados aqui até os chefões se cansarem e nos liberarem. Sobre as ameaças, também não me preocuparia tanto, afinal de contas, recebemos um monte delas por dia, e a maioria não dá em nada.

— Entendi... — Antes que Ethan tivesse a oportunidade de continuar, as suas palavras foram abafadas por um estrondo. Assustado e temendo o pior, o Hattori ajeitou a postura e começou a usar os sentidos na capacidade máxima.

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Ao fim da primeira explosão, aquela que serviu para alertar todos os ninjas na área, uma voz um tanto familiar alcançou todos, grave e imponente. — Homens!!! Eles caíram na armadilha!!! Agora vão até lá e mostrem do que nós, os ninjas da pedra, somos capazes!!! — Como se tudo até aquele momento tivesse sido friamente calculado, o oficial no comando da operação ordenou.

Quando Ethan se deu conta, ele já estava deslizando pelos telhados atrás daqueles vultos que insistiam em enganar seus sentidos. Sendo apenas mais um no meio de, aproximadamente, 15 ninjas, tentava achar o seu espaço entre homens e mulheres igualmente habilidosos. Nesse ritmo, conforme a perseguição progredia, o centro da vila foi se transformando em um campo de batalha. O caso era que os criminosos, a partir de um determinado ponto, decidiram que fugir não era o bastante, então começaram a lançar diversos explosivos e técnicas no grupo de ninjas.

Cada um se defendeu como pôde. Os mais experientes levantavam defesas utilizando o ambiente, economizando as suas forças e buscando também evitar danos colaterais. Já outros, no desespero, lançavam os seus corpos em uma direção e rezavam pelo melhor. Os civis, por outro lado, não tinham a mesma sorte que a maioria dos soldados. Mesmo correndo pelas suas vidas, em um empurra-empurra infernal, ainda assim alguns acabavam sendo pegos no fogo cruzado. E em meio aos sons de estruturas ruindo e de crianças chorando, Ethan continuou acompanhando o grupo, levantando 2 paredes de água quando foi preciso. Ele não era alguém tão experiente e confiante acerca dos seus movimentos, no entanto, conseguiu evitar cada uma das ofensivas que buscavam retardá-lo.

No fim da operação, depois de muitos ficarem gravemente feridos, o Hattori estava lá quando o grupo de ninjas da pedra conseguiu encurralar os invasores. Os criminosos até tentaram resistir, e, nesse momento, acabaram sendo executados no ato pelos ninjas mais experientes do pelotão. Mas antes que pudessem dar as atividades por encerradas, todos tiveram que ajudar os feridos e fazer um relatório sobre o incidente, logo em seguida, justificando os seus motivos para entrar em combate dentro dos limites do vilarejo.

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Já era de dia quando Ethan acordou. A maioria das pessoas já haviam acordado e, àquela altura, levavam suas vidas normalmente, com a mesma garra de sempre. Assim que se levantou, o garoto foi até o espelho, sonolento, e tirou a faixa dos olhos, tendo um vislumbre da face abatida e repleta de olheiras. Jogou uma água no rosto, mas isso não ajudou muito, o desanimo não escorreu pelas bochechas e simplesmente desapareceu. Se Ethan quisesse mesmo estar apostos para o dia agitado que sabia que teria, primeiro precisava de um banho. E foi o que fez. Despido, sentindo um fluxo constante de água recair sobre o seu corpo, aproveitava o momento para pensar sobre os últimos dias. A sujeira, naturalmente, era levada pela água, entretanto, todo o resto permanecia da mesma forma. Ethan ainda tinha de lidar com às vezes que pensou que iria morrer ou falhar. Infelizmente, não conhecia um método confiável para lavar a alma, pensou.

Depois daqueles minutos de introspecção, que foram acompanhados por um banho demorado, o Hattori vestiu as mesmas roupas encardidas. Então, olhou-se de novo no espelho. Era verdade que não gostava muito do que via, mas, julgando ser o suficiente, saiu de casa mesmo assim. Agora, ciente das obrigações para com a vila e com a devida autorização em mãos, caminhou até os portões de Iwagakure.

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Um dia completo de viagem se passou até Ethan constatar que já estava próximo do ponto de encontro. Sem um mapa ou qualquer pessoa em volta para que pudesse tirar as dúvidas, tudo que pôde fazer foi continuar confiando cegamente nos seus instintos. Por sorte, o calor não era severo, então, até o momento, não contava com nenhuma distração para atrapalhá-lo. Tirando as vezes que se assustou com a presença de alguns animais, onde encarava a situação como uma possível emboscada, não tinha do que reclamar.

Antes de chegar no acampamento levantado de última hora pela caravana, logo sentiu o cheiro da carne assando e viu um sinal espalhafatoso de fumaça nos céus. — Olá! — não conseguindo reprimir por completo o nervosismo, cumprimentou as primeiras pessoas do grupo que viu. Embora tentasse parecer cordial, ninguém ali deixou-se enganar pela apresentação robótica, que provavelmente fora treinada repetidas vezes na frente do espelho.

— Intruso!! — Em reposta à chegada do Hattori, uma comoção teve início. Todos os homens e mulheres aptos para lutar pegaram uma espada e correram na direção do ninja, cercando-o por todos os lados. O restante do grupo, que em sua maioria era composto por mulheres e crianças, procurou se esconder perto das carroças, igualmente assustados.

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— Esperem um momento — vendo a quantidade assustadora de espadas apontadas na sua direção, Ethan pediu calma. No entanto, no breu da noite, confiança era algo que o grupo não poderia se dar ao luxo de ter. — Se vocês não me quiserem mais aqui, tudo bem. Mas, da próxima vez, avisem com antecedência. Não é querendo reclamar, mas poderia ter feito algo melhor com o meu tempo. — O clima continuou hostil, mas agora todos levantaram uma expressão confusa no rosto.

— Não acreditem nele! — um homem na casa dos 30 bradou. — Não veem que isto é um truque? Vamos lá! Vamos acabar com ele antes que o desgraçado peça reforços.

— Por favor, garoto, nos perdoe por isso. — Então uma voz aveludada começou a ecoar por entre os demais. Sua postura era imponente, mas ao mesmo tempo serena. Por fim, aproximou-se da primeira linha de espadas e pediu para que todos largassem as armas. — Por acaso é dessa forma que vocês recebem aquele que vai nos proteger no caminho para casa? — Enquanto observava os rostos confusos dos companheiros, continuou. — Se não acreditam, basta olhar na testa dele. Não sei ao certo, mas creio que todos aqui devem ser capazes de reconhecer o símbolo de Iwa.  

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Após o mal entendido ser resolvido, envergonhados, todos os envolvidos começaram a se desculpar, inclinando os corpos em uma reverência respeitosa. Depois, aquele que parecia ser o líder da comitiva fez questão de apresentar o chunin aos demais, o que incluía a carga que o mesmo teria que proteger no dia seguinte — quando fossem partir rumo à Iwagakure. A princípio, Ethan não notou nada estranho nas pessoas e na estrutura do acampamento. As carroças, utilizadas para o transporte de armas, especiarias, lingotes, tecidos etc, ficavam a alguns metros da fogueira, sendo vigiadas a todo momento. Já a fogueira, posta bem no centro de tudo, criava um show de luzes e sombras dançantes, enquanto protegia todos do frio e servia para preparar o jantar de todos. Na grande maioria, assavam carnes e faziam alguns vegetais na brasa.

— Isto é tudo. Sei que não temos uma estrutura muito aconchegante e segura, mas, por hora, deve servir. — O homem virou-se na direção de um dos sacos de dormir postos no chão e se despediu. — Meu jovem, boa noite. — Foi mancando até a cama improvisada e preparou-a com algumas batidas, eliminando o excesso de poeira.

Mesmo não notando nenhum sinal de perigo iminente com seus sentidos, o Hattori não abaixou a guarda. Posicionou-se ao lado das carroças, apoiando o cotovelo em uma delas, e passou a noite em claro. Viu cada um dos outros guardas adormecerem do seu lado, observou a fogueira se extinguir conforme o tempo corria, constatou a presença de alguns animais nas imediações e, por fim, presenciou mais um nascer do sol com os orbes. Estava exausto, e as suas feições delatavam o fato, no entanto, não tinha tempo para aquilo, pois era naquele momento que a sua missão começaria.

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Assim que amanheceu e os membros do grupo foram acordando, não demorou muito até levantarem acampamento e partirem. Para a viagem, o grupo foi meticulosamente separado. Tanto Ethan quantos os homens mais experientes do grupo iam na frente, garantindo que o restante do pessoal fosse alertado caso algo acontecesse. Logo atrás, bem no meio, ficavam as crianças e os itens de maior valor, na posição mais segura possível. Já na última carroça, ficaria um grupo de pessoas hábeis, garantindo que eles não fossem pegos de surpresa pelas costas. Com a formação, esperavam reduzir ao máximo incidência de possíveis problemas pelo caminho.

Tendo que ser responsáveis por tantas pessoas, Ethan chegava a duvidar de si. Em meio ao galope dos cavalos, dos estalos das rodas de madeira sempre que passavam por cima de alguns pedregulhos, dos risos das crianças e imerso em algumas conversas paralelas, Ethan já esperava o pior. Não podia dizer que tinha certeza daquilo, mas mesmo assim não viu motivos também para relaxar. Independente de qualquer coisa, sabia que em missões a situação podia mudar em um estalar de dedos. Odiava essa realidade, detestava aquele frio na espinha e, acima de tudo, nunca gostou do fardo enorme que colocavam diariamente sobre as suas costas.

Foi depois de 3 horas que as suspeitas de Ethan se concretizaram. Sem mais nem menos homens armados saltaram na estrada pelos lados, cercando-os. No total, deviam ser 10 homens. Mas o que Ethan não sabia era que o pior estava por vir. Um pouco depois dos peões se revelarem, um grandalhão, com cerca de 2,10m de altura, lançou-se nos céus e aterrizou diante do Hattori. Com toda a velocidade e garra, o Chunin cobriu o seu corpo inteiro com uma camada fria, porém, a tentativa não surtiu o efeito desejado, tendo em vista que não desencorajou a investida seguinte.

Ethan não sabia ao certo por qual motivos não conseguiu fugir quando o sujeito se aproximou e o agarrou pelo pescoço. Ele estava apavorado, vendo a vida passar diante dos olhos, sentindo a armadura rachar e o fôlego ser roubado. E ainda por cima, não sabia o motivo que o levou a imaginar a própria morte repetidas vezes. O Hattori não estava sonhando, via claramente a sua vida sendo ceifada pelo grandalhão com uma clareza de detalhes assustadora, e a dor de ter o pescoço quebrado como um graveto não deixava margens para dúvidas.

Enquanto tinha os movimentos restringidos e a mente sequestrada pelo medo, o Chunin jamais pensou em desistir. Mesmo com tudo aquilo, mesmo sem esperanças de vencer, ele manteve uma fagulha acessa que queimou no seu peito quando estava prestes a dar os últimos suspiros. Desse modo, com o restante das forças, lutando para poder se mover de novo, enrolou as pernas ao redor do pescoço do grandalhão e começou a sufoca-lo. Junto disso, usava também a camada pálida à sua volta para congelar cada parte do corpo dele que tocava seu corpo. Assim, antes que tivesse a chance de perceber, viu aquela parede de carne ir ao chão, desacordado — as mãos e o pescoço estavam azuis. Ao fim de tudo, olhando para os lados, Ethan ficou feliz em ver que os membros da caravana também triunfaram diante dos outros criminosos.

Depois do episódio, a caravana continuou em frente. Enfrentaram inúmeros desafio pelo caminho, como, por exemplo, pedras enormes na estrada, a fome, o cansaço, alguns animais selvagens, mas mesmo assim só precisaram de um dia de viagem até chegarem nos portões de Iwagakure em segurança.

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