Diariamente, muitos boatos corriam pelas ruas de Iwagakure. Alguns eram bobos e inofensivos, muita das vezes sendo usados para puxar conversa. Por outro lado, havia também muitos comentários maldosos que não serviam para nada, senão para causar discórdia, intrigas e para difamar terceiros. Por último, mas não menos importante, havia também fofocas que tinham um caráter mais informativo, servindo para atualizar os moradores a respeito da situação política e militar da vila. Independente do que motivava esses tipos de comentários, para o bem ou para o mal, era inegável a influência e importância que eles tinham em um cenário mais amplo, podendo até mesmo ter reexecuções desproporcionais.

— Ficou sabendo? Ouvi dizer que a força militar da vila vem passando por alguns problemas. Pode acreditar! Eu conheço um cara que me contou que por conta disso a atual gerencia está sendo obrigada a mandar ninjas inexperientes em missões dificílimas. Mas, quer saber, isso não me surpreende, afinal. É só ver como o governo do antigo Kage acabou e ligar os pontos, é simples assim. Deus, me pergunto se ainda estamos seguros atrás desses muros, se a vontade da pedra ainda arde nos corações dessa nova geração de ninjas — alguns curiosos comentavam. Assim como toda a conversa envolvendo o atual cenário politico da vila, o assunto sempre voltava para o mesmo lugar, em como o governo do antigo Kage acabou de forma desastrosa.

Ethan, mesmo não integrando a força militar da vila a muito tempo, sentia na pele essa instabilidade, afinal de contas, era ele que tinha que trabalhar o dobro para suprir a falta de pessoal. E, naquela manhã não foi diferente. Ao se reunir às pressas com um grupo diversificado de ninjas em uma pequena sala do quartel general, ouvindo as explicações e entendo a urgência da sua próxima missão, não podia deixar de pensar em como tudo seria diferente se Iwa voltasse a prosperar. Mas, sendo obrigado a deixar esses pensamentos de lado por hora, terminou de ouvir as instruções repassada para o grupo recém formado, enquanto se preparava mentalmente para os desafios que poderia vir a encarar.

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Depois que todos os preparativos haviam terminado e o grupo cruzou os portões do vilarejo, a missão estava oficialmente em curso. E assim que isso aconteceu, o menor não pensou duas vezes antes de limpar a mente, se livrando de pensamentos que não o ajudariam naquele momento tenso e crucial. Como havia sido informado minutos antes, a missão não seria nada fácil, ela o levaria até o limite. Em condições normais, ninjas de patentes mais baixas jamais seriam convocados para servirem de apoio em uma missão como essa, assim eles disseram. Mas como os boatos mesmo diziam, a vila sofria com a falta de pessoal, o que acabava sobrecarregando aqueles que restavam.

— Sinceramente, não acho que vamos chegar a tempo. Afinal, já fazem mais de 48 horas que este sujeito fugiu das instalações onde estava sendo mantido. E grande parte do problema foi justamente essa demora para mobilizar uma equipe de busca. Que saco! Para piorar, se a inteligência da vila estiver certa, não vamos ter muito tempo para encontrá-lo, já que ele está quase cruzando a fronteira — um jonin se queixava com um dos seus amigos.

O grupo de ninjas, então, seguiu viagem por meio dia até se aproximarem do desfiladeiro onde o fugitivo supostamente estava se escondendo.

Com vários pontos de acesso, o vale, com as suas paredes íngremes e corredores estreitos, se estendia por vários quilômetros. Para pessoas comuns, o acidente geográfico, repleto de picos rochosos, era um excelente ponto turístico, que valia cada segundo do seu tempo. No entanto, para aqueles com treinamento, não existia um cenário pior. O fato era que eles, provavelmente, estavam entrando por vontade própria em uma armadilha, podendo sofrer uma emboscada a qualquer momento. E para piorar, teriam que se separar para cobrir uma área maior e economizar tempo.

Sem terem para onde fugir, depois de se agruparem novamente para discutir os últimos detalhes acerca da abordagem que assumiriam, o grupo — agora separado —, entrava naquele labirinto rochoso.

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Embora nunca tivesse passado por uma situação parecida, Ethan sabia exatamente o que precisava fazer para continuar vivo. Ele não tinha meios para rastrear e nem para capturar o fugitivo, era verdade, mas mesmo assim não deixou que isso abalasse a sua moral. Em momento algum esperava ser capaz de resolver todo o problema por conta própria, principalmente conhecendo os seus limites. Por isso, se contentou em fazer o que conseguia. Com o olhar atento aos mínimos detalhes a sua volta, Ethan tentava encontrar algum rastro, por menor que fosse. Afinal, acreditava cegamente que, se utilizasse a sua percepção privilegiada e seus dons cognitivos, poderia ser útil para o time de busca.

Cerca de 1 hora tinha se passado desde que o genin começou a procurar pistas naquele lugar inóspito, e como já era de se esperar, continuava sem nenhuma pista. Era como se os seus esforços não valessem de nada. Conforme o tempo passava, a sua frustração com a falta de resultados crescia, mas ainda assim Ethan continuava centrado, com um único objetivo em mente. Se fosse qualquer um em seu lugar, não demoraria muito para jogar a toalha, dada as atuais circunstâncias; no entanto, Ethan não era como os outros, ele era cabeça dura demais para aceitar a derrota, aceitar que tinha falhado no que se propusera a fazer.

Foi então que tudo mudou. Como se alguma divindade resolvesse atender às suas preces, aquele criminoso cruzou o seu caminho. Sem mais nem menos, quando estava com a guarda baixa, Ethan sentiu algo pesado repousar sobre as suas costas. Com isso, não demorou muito até o menor cair de barriga no chão. O impacto causou uma dor tremenda, mas, em contrapartida, a surpresa e a confusão ganhavam esse cabo de guerra, deixando o Hattori desnorteado. Então uma mão recaiu sobre os seus ombros e o virou, fazendo com que ele encarasse o seu algoz nos olhos. Aquele olhar vidrado e aquele sorriso de canto não eram normais, foi o que Ethan pensou, vendo aquelas mãos ásperas envolvendo o seu pescoço. Para o garoto, o pior de tudo não era nem morrer daquela forma, mas sim morrer sem conseguir lutar. E essa era a situação na qual se encontrava. Sem forças para livrar-se do aperto que rouba aos poucos a sua vida, tudo o que conseguia fazer era se debater no chão.

Naquele momento, estando à beira da morte, tudo ficou claro. Ethan nunca tinha conseguido se sentir completo, ele sempre teve a impressão de que estava vazio por dentro. No fim, tudo fez sentido. Ver a vida toda passar diante dos olhos preencheu cada uma das lacunas que assombravam o seu passado. Ainda que existissem arrependimentos, nada mais importava, afinal a morte é o fim de tudo, inclusive dos problemas. Com esse sentimento de plenitude tomando conta de cada célula do seu corpo, Ethan não faria mais questão de lutar. Àquela altura, só lhe restava mais alguns segundos de vida, e o genin queria aproveita-los ao máximo, sem o medo rondando os últimos pensamentos que teria.

Para a sorte de Ethan, os seus companheiros não seriam tão descuidados. Percorrendo o desfiladeiro em blocos, com o auxílio de técnicas impressionantes, apostavam tudo na velocidade e na força bruta, usando esses atributos durante a busca. Por coincidência, o mais alto deles, e também o mais forte, acabou encontrando Ethan e o fugitivo. Ao presenciar aquela cena, sem pensar duas vezes, correu até eles e deu um soco no rosto do bandido, sendo mais do que o suficiente para arremessa-lo por vários metros.

No fim, mesmo tendo sido salvo, tudo o que restou para o Hattori foi a vergonha, que, por sinal, o perseguiria como uma sombra. Junto de toda essa vergonha, um cansaço incomum se abateu sobre ele. No início, não desconfiou que os seus olhos, agora com um brilho único, estariam roubando aos poucos as suas reservas de energia. Mas, depois de chegar em casa e se olhar no espelho, entendia que as mudanças que sofrera estavam muito além do que poderia imaginar.

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