Um único dia de descanso, após voltar da Tribo da Pedra Talhada, foi suficiente para que Yuji revisitasse seus piores pesadelos, envolvendo a trágica morte da própria mãe. Os pesadelos estavam mais palpáveis do que antes. Em resumo, podia escutar, sempre que fechava os olhos, a voz de sua progenitora ecoar sobre a própria mente, como se fosse um chamado, para algo que o jovem imortal sequer entendia.

Dessa vez, conseguiu escutar com clareza o sussurro em sua mente, enquanto ainda dormia. Acordou perdido, olhando de um lado ao outro, acreditando que sua mãe estava ali, viva, ao seu lado, entretanto, sabia que não passava de um pesadelo. — Ir até os arredores do vilarejo? Buscar por Umbral? — Repetiu algumas vezes o que conseguiu decifrar do sussurro. — Qual o significado disso tudo? — Moveu a destra até o peito, agarrando com firmeza a camisa, como se quisesse buscar algum alento em sua fé. — Preciso ao menos ir até lá para tirar esse peso da minha mente. Com certeza foi só um sonho, ou melhor, pesadelo, mas não custa nada ir até lá. — Sussurrou, levantando da cama, buscando colocar sua veste tradicional do vilarejo, assim como guardar seu pincel e pergaminho consigo, além de alocar o grande leque nas costas.

Julgando estar pronto, deixou as imediações de seu apartamento, assim como a parte periférica do vilarejo, indo de encontro, em menos de vinte minutos de caminhada por conhecer bem os atalhos a serem pegos, ao grandioso portão principal.

Quando precisou passar pela guarda, alertou que estaria saindo para investigar algo pessoal, próximo dos arredores do vilarejo. Recém graduado, sequer foi questionado, mostrando que a nova patente trazia, além de responsabilidades, bastante autonomia em certos casos.

O caminho do qual o sussurro lhe contou era diferente do que Yuji conhecia. Apesar das rochas espalhadas por tudo que era lugar que seus olhos conseguiam alcançar, o caminho tortuoso se deu por diferentes ravinas e formações rochosas. Conforme se afastava mais do vilarejo, mais se perguntava se essa foi a melhor escolha; seguir por um caminho desconhecido, do qual um pesadelo lhe informou. — Escolhas duvidosas, Yuji… — Sussurrou, levando um cigarro até a boca, acendendo-o em seguida utilizando um isqueiro metálico com o símbolo de Iwagakure talhado no objeto, em ambos os lados. O primeiro trago durou cerca de cinco segundos, sentindo o vício percorrer seu sangue, trazendo certa calmaria. — Não voltarei agora. Estou próximo, tenho certeza disso. — Vislumbrando o horizonte, começou a caminhar novamente.

Com cerca de quarenta ou cinquenta minutos passados, agora, Yuji conseguia ver uma colossal estrutura a cerca de cem ou duzentos metros de distância. Apesar da imponência, parece, aos olhos leigos do imortal, uma construção perdida no tempo, tão antiga quanto qualquer mito de um falso deus e, com o tempo, a deterioração tornava-se evidente, para qualquer um. Pilastras de mármore destruídas no entorno, buracos no que, provavelmente, antigamente eram paredes tão duras quanto qualquer manipulação de Doton de um Mestre no elemento. Apesar dos pesares, o ar de superioridade do local permanecia, rompendo o tempo. Yuji deu mais um trago, buscando se acalmar novamente. — Não sei o que é Umbral, mas essa construção me parece suspeita. — Disse, tomando coragem para continuar em direção a construção.

Conforme ia se aproximando, a construção parecia aumentar gradativamente, trazendo ainda mais imponência. O portão principal, com cerca de dez ou quinze metros, feito de pedra maciça, estava levemente aberto para dentro, suficiente para que o corpo de Yuji passasse com certa facilidade. Dentro do local, a grandiosidade podia ser observada com maiores detalhes, apesar de, notavelmente, a maioria dos detalhes estarem deteriorados pelo tempo. Algumas pilastras de mármore mantinham-se de pé, trazendo sustentabilidade ao palácio.

O grandioso salão estava vazio, entretanto. Não existia ninguém ali, que não fosse o próprio Yuji e a solidão da penumbra da noite. — Merda… do que se trata tudo isso? — Em algumas paredes, alguns Kanjis espalhados, que não formavam uma palavra sequer, mas a junção deles dizia Palácio Umbral; o lar dos que anseiam em se tornar imortais. — Imortais… — Sussurrou, mas parou ao escutar um som metálico chocando-se contra o mármore do piso. Yuji esgueirou-se para trás de uma pilastra, tentando esconder-se do que quer que estivesse fazendo aquele barulho.

Infelizmente para o imortal, de nada adiantou. Quando o barulho foi tornando-se mais alto, pode decifrar melhor que tratava-se de passos e não outra coisa, mostrando que existia mais alguém dentro do palácio que não somente ele. — Não precisa se esconder, jovem. — A voz arrastada, completamente rouca, invadiu os pensamentos de Yuji, que franziu o cenho em resposta, enquanto saiu da parte de trás da pilastra. Viu a aparência do ser à sua frente, mostrando ser velho como toda Umbral, castigado pelo tempo, mas vivo e imponente como a construção.  

— Não se assuste com um simples velho que está beirando o fim da vida. Me chamo Satō, a propósito. — Ele quebrou o silêncio que se instaurou por meros segundos, levantando a destra, espalmada para frente, na altura da cabeça. O semblante amigável era, de certa forma, reconfortante, mas a aura que aquele senhor exalava fazia com que Yuji mantivesse-se com um pé atrás. Se perguntava se era ele quem havia invadido seus sonhos. — Sim, os sussurros eram meus. — Antes que pudesse indagar, teve sua resposta, como se Satō estivesse lendo a mente do jovem imortal, o que fazia a situação ser ainda mais estranha do que já era. — Mas não se preocupe, Umbral é um lugar pacífico, feito para aqueles que querem entender a complexidade do fio da vida. — Conforme dizia, gesticulava para que Yuji o seguisse e assim fez, ainda cuidadoso para não ser pego em uma armadilha, mas curioso o suficiente para aceitar o convite.

Chegaram num outro salão, tão grande quanto o primeiro, com um enorme trono na extremidade da entrada e uma pequena escadaria feita para que acessem o trono. — Quão frágil é uma vida? — A pergunta ecoou na mente de Yuji como um tiro, sendo necessário de alguns segundos para conseguir responder. Puxou um cigarro, demonstrando seu vício, com intenção de procurar alguma resposta na nicotina. — É tão frágil quanto um sopro, mas, em alguns casos, pode ser tão forte quanto um tornado. — Fazendo referência ao vento, elemento em que é mestre. — E como uma vida se torna tão forte quanto um tornado? — Outra indagação veio à sua procura, enquanto viu o velho sentar-se em seu torno. Yuji levou a canhota até a altura do queixo, mostrando-se outra vez pensativo. — Acredito que existam vários métodos para que uma vida seja forte, mas, fazendo referência aos Kanjis que li na entrada de Umbral, ser imortal deve te deixar a um passo disso. — Concluiu, mostrando inteligência o suficiente para conseguir responder Satō, que não conteve um sorriso de orelha a orelha em sua face enrugada.

Ele se levantou do trono, enquanto observava Yuji dar mais um trago no cigarro. — Jashin deve estar feliz em ter um seguidor como você. — Largar o cigarro foi instintivo, enquanto que a face do imortal demonstrava surpresa. — Eu sei de tudo sobre aqueles que são convidados a estarem em Umbral, garoto. Não demonstre surpresa por algo tão irrelevante. Ser imortal é sim tornar a linha da vida mais forte, em comparação a aqueles que são simples humanos de pouca fé. — Conforme explicava, Yuji podia ver, atrás do velho, uma projeção saindo de suas costas feita de fios enegrecidos, enquanto ele mantinha o sorriso acolhedor sobre o próprio rosto. A projeção formou-se em uma criatura de quase três metros, ligada ao corpo de Satō, e permaneceu parada como um verdadeiro guardião. — Não se importe muito com ele. Digamos que seja um dos guardiões de Umbral e apenas isso. — A criatura conjurada abriu a bocarra, sem proferir um único som, mostrando todos os dentes pontiagudos feitos da linha enegrecida que permanecia ligada ao velho. — Imagino que, por ser um seguidor assíduo de Jashin, partilhe da imortalidade dele. Ainda que a imortalidade provinda da fé nele seja incrível, existem outros métodos de imortalidade através de técnicas e habilidades, como é o caso dessa. — Apontou na direção da criatura. — Os fios entre a vida e a morte; Jiongu. Aqueles que são convidados à Umbral, através do meu sussurro, estão, na maioria das vezes, aptos a aprender essa habilidade que é julgada, por muitos, como algo a ser temido. O que me diz, Yuji? — O velho se aproximou um pouco mais do jovem imortal, esperando por uma resposta dele.    

O desejo de se tornar mais forte, somado a curiosidade de ver uma nova técnica à sua frente, fez com que Yuji esboçasse um sorriso genuíno. Satō demonstrou serenidade em suas palavras e Umbral mostrava-se ser, de fato, um lugar sagrado e imortal, capaz de superar qualquer degradação do tempo. — Temido… — O jovem imortal mostrou-se reflexivo. — Como já citado por você, Jashin me abençoou, a partir da minha fé, com a imortalidade. Como esses fios enegrecidos podem me ajudar? — A dúvida que veio à tona tirou um sorriso do mais velho, que se aproximou mais ainda do jovem, sendo seguido pela criatura de fios. — Já teve algum membro decepado? Lógico, perder um membro, que seja o braço dominante, não será suficiente para te matar, vida sua imortalidade, mas, como faria para reconectar o membro perdido? — O questionamento do velho fez com que Yuji ficasse pensativo mais uma vez. Não sabia responder a aquela indagação e, muito provavelmente, jamais havia pensado naquilo.

Satō entendeu que Yuji não teria como responder aquilo, então, em um rápido movimento, cortou o próprio braço. A cena da parte do membro caindo no solo, trouxe impacto à conversa. Antes que Yuji pudesse fazer qualquer coisa, o velho pegou seu braço de volta, enquanto os fios enegrecidos começavam a aparecer, reconectando o membro. — Viu? — Além da demonstração, mostrava as cicatrizes espalhadas pelo corpo, mais especificamente nas juntas. — Entre outras habilidades, obviamente. Jiongu, em troca da imortalidade, pede ao seu portador que consuma corações, trazendo mais alguns benefícios, como mais reserva de chakra, a criação de criaturas, como esta atrás de mim, através de máscaras que podem utilizar o elemento de afinidade que o mesmo corpo do coração consumido podia utilizar. — Yuji se aproximou mais ainda, fixando seus olhos no braço recentemente decepado e que agora estava no lugar, em perfeito estado. — Como faço para ter essa habilidade? — Foi então que tudo escureceu. Foi atacado pela criatura feita de fios enegrecidos, a mando do velho à sua frente.

Quando acordou, sentiu uma espécie de queimação no corpo, que logo deixou de existir. Estava no solo, deitado, mas não era mais Umbral e sim um lugar qualquer em relento, cercado por rochas. Tudo parecia ter sido um sonho, não fosse pelas cicatrizes em todas as juntas de seu corpo, sendo costuradas com fios enegrecidos. A única certeza é de que sentia-se muito mais poderoso.

No caminho de volta, viu a oportunidade perfeita para refazer a ligação íntima com Jashin, através de um sacrifício. Um homem, beirando a meia idade, deitado sobre uma das incontáveis rochas, como se estivesse na espera por sua morte. Yuji aproximou-se devagar e, com o seu leque, usando a parte metálica do cabo, acertou o rosto do homem sem sequer ser visto. Aproveitou do sangue que escorreu no local onde bateu, para ingerir e realizar o processo de sacrifício, através do Jujutsu: Shiji Hyōketsu. — Um pequeno sacrifício por você, meu senhor. — Disse, acumulando chakra elemental de vento em formato de uma lâmina, que atravessou seu coração, fazendo com que o ferimento fosse replicado no corpo do sacrifício, com a única diferença de que Yuji permanecia vivo, e o sacrifício, não.

Após ter sacrificado mais uma vida em prol de Jashin, restava a Yuji, voltar ao vilarejo para entender melhor sua nova habilidade e assim fez, intencionando ir para sua casa, evitando passar pelo portão principal, mas adentrando ao vilarejo uma vez mais.