Sobrevoar a mesma região que pela qual já tinham passado durante a perseguição enquanto retornavam ao vilarejo tinha um peso completamente diferente de qualquer outra sensação que ele já tivesse tido. Soava quase como o final de uma história de horror, onde no fim os sobreviventes são resgatados pelos oficiais enquanto os corpos são empilhados em contagem. O silêncio que havia entre todos também conferia aquele retorno um tom mais sóbrio, e lá embaixo era possível ver, mesmo sob o céu e a luz noturna, que havia movimentação de várias pessoas.

Já nos portões de Iwagakure, todos foram recebidos por um homem de idade avançada. O mesmo homem parecia conduzir a situação, em um tom que parecia não permitir receber negativas, orientando que as cativas libertas fossem levadas para um lugar onde pudessem se alimentar. "Espero receber o mesmo tratamento", pensava, com uma ameaça de sorriso entre os lábios. Suas expectativas foram frustradas em seguida, quando o homem anunciou que todos seriam levadas a delegacia, e qualquer sinal de alívio que havia em seu rosto desapareceu.

Já na delegacia, todos foram seguindo as instruções dele, decerto um oficial ou investigador importante. Yama não poderia dizer pelos outros, mas foi colocado em uma sala hostil dentro de um prédio hostil, todo em pedra. Depois, permaneceu em uma cadeira desconfortável, observando ao redor e concluindo que não havia nada para ser visto, como o esperado de uma sala de interrogatório. "Não esperava que realmente fosse necessário haver uma sala assim, eu mesmo consigo pensar em maneiras mais efetivas de arrancar um depoimento", refletia. Quando o homem chegou, sentou-se do outro lado e fez uma pergunta objetiva, sem quaisquer rodeios. Também parecia estar atento a qualquer mínimo detalhe, fosse algo expresso ou não. Em sua voz, desde o início, havia um tipo de apatia que denunciava como aquele trabalho já tinha se tornado uma rotina para ele havia muito tempo. "É assim que ataques como esse acontecem, suponho, quando tudo se torna tão rotineiro que os responsáveis nem cogitam haver uma ameaça tão devastadora". Suspirou. Quando o velho tinha entrado pela porta, pôde sentir uma leve lembrança de fumaça, como se ele também fosse fumante ou como se estivesse estado com um. "Chōsō", pensou. No instante seguinte, lembrou-se de que estava parcialmente coberto pelos restos do espadachim capturado em uma prisão de pedra. Antes de responder a pergunta, Yama levou as duas mãos ao rosto e afastou duas mechas de cabelo da fronte, endireitou-se na cadeira e tornou a própria expressão tão inexpressiva quanto poderia.

— Desculpe pelo cheiro, senhor. Suponho que não deva estar sendo agradável, mas eu mesmo quase já me esqueci dele. Bem, vamos aos fatos. Tudo veio abaixo, e até aí você já deve saber, mas em seguida uma figura estranha sobrevoou a arena, e um ataque imenso em quantidade caiu sobre nós, mas graças aos esforços de Chōsō, Garou e Yagura, pudemos sobreviver. Aliás, se não fosse por eles, muitas outras famílias estariam chorando em seus lutos agora mesmo, sem corpos inteiros que pudessem velar. Os explosivos, de um tipo estranho de massa branca, não foram capazes de sobrepujar nossas defesas, e em seguida começamos a perseguição pelas ordens de Daichi, e Chōsō garantiu que alçássemos voo com suas técnicas. Houve algumas ofensivas dos dois lados durante a perseguição, e também um assentamento atacado por ele em meio a tudo, mas em um momento eu pude paralisar uma das asas do terrorista de aparência macabra, já muito longe da própria Pedra Talhada, e a parte mais difícil começou aí. — deu uma pausa para limpar a garganta e olhar diretamente para os olhos do interrogador. — Mais ataques vieram, Tarrlok e Isaak partiram na ofensiva e Chōsō e Garou logo depois. Yagura cuidou das defesas, enquanto Charlotte e eu tentávamos não atrapalhar muito. Chōsō ficou bem ferido, mas de alguma forma estranha ele nem pareceu ser tão afetado assim, e Garou... Bem, ele parece ter uma força monstruosa. Os outros dois também não ficam para trás, mas Tarrlok assassinou um garoto inocente durante o exame, que isso não seja esquecido. Quando Yagura prendeu um dos inimigos e eu pude conseguir alguma coisa dele alterando suas memórias, a cabeça de todos eles explodiu, e foi assim que fiquei coberto por sangue e massa encefálica, e aposto que você já estava curioso sobre isso. Depois pegamos as reféns e voltamos para cá, voando, e aí encontramos um careca e amável investigador. É o suficiente? — perguntava. — Se puder me liberar seria ótimo, gostaria de me lavar e pensar mais sobre tudo que aconteceu. — Depois, Yama apenas iria aguardar ansiosamente pela liberação, retornando a sua casa em seguida, detendo-se ante a porta antes de sair. — Ah, quase ia me esquecendo... Daichi está vivo?

Considerações gerais:

O chuunin retornava a Iwagakure numa das aves de Choso. Pelo caminho, presenciava a beleza térrea do seu país, mas também o terror bélico da Pedra Talhada. Vista de cima, parecia mais os restos do fogo de um churrasco de domingo à tarde do que um sítio onde pessoas viveram, onde pessoas se deliciaram com um Chuunin Shiken cheio de ação e entusiasmo. Refletivo, Yagura passava em replay todos os acontecimentos daquele dia, preparando-se para fazer o habitual briefing, que acabou por ser bem mais sinistro do que o habitual. Tentava juntar as peças, ainda confuso para as razões de Resistência ter feito o que fez. No final da batalha, pôde reparar que Choso e Garou levaram consigo uma mecha de pele com o símbolo de Kirigakure tatuado, símbolo antes visto nas bandanas dos conhecidos Yohma e Chozen. Mas isso apenas o deixou mais confuso.

O sentimento foi de alívio e conforto ao chegar a Iwagakure. Era já de noite, mas antes da sopa quente e uma grande noite de sono, foram recebidos por três indivíduos, um deles um senhor careca cuja postura pedia respeito. Os seus traços faciais estavam gastos, evidenciando uma grande experiência e dificuldade em ser surpreendido. O que deveria ser um relatório informal, passava agora a ganhar os traços de um interrogatório. Todos entraram num corredor sombrio e cada um foi remetido a uma sala. Yagura, sendo o mais velho do grupo, seria o primeiro a ser interrogado.

-Hm então… – a sua testa suava, a voz tremia, a sua cabeça estava um rebuliço, confusa sobre o que dizer àquele velho altamente intrigante de olhar julgador. Precisou de alguns segundos para organizar os pensamentos e começar a debitar. – Para começar, eu e Choso fomos encarregados de acompanhar o Chuunin Shiken da Pedra Talhada, tendo conhecimento que poderiam existir infiltrados. Ele era o único em quem eu podia confiar, ao início. Mas chegámos tarde demais… Através do meu Kanchi, detetei engenhos explosivos espalhados por toda a tribo. Se tivéssemos chegado mais cedo, se eu estivesse lá durante os preparativos, nada disto teria acontecido! – exaltou-se, bateu com o punho na mesa – Desculpe. Esta foi a primeira vaga de explosões, que causou o caos. Os seus causadores não hesitaram em explodir-se ao invés de fornecerem qualquer informação, tal a sua dedicação à causa… A segunda explosão, veio pouco depois. Um homem com asas de aspeto demoníaco deixou cair dos céus centenas de explosivos que eu e outros do grupo - incluindo recém graduados promissores – ajudámos a defender. Mas Daichi, o organizador do evento, ficou às portas da morte com este ataque. Fomos então incubidos de uma perseguição, de fazer justiça por todos os mortos e feridos daquela atrocidade. Ficou claro que podia confiar naquelas ninjas que ajudaram na defesa. Choso seguiu pelo ar com alguns dos elementos enquanto eu segui com Isaak Lee e Garou por terra. Enquanto o grupo aéreo se certificou de atrasar o indivíduo, nós fizemos questão de garantir que o psicopata não deixava um rastro de destruição nos povoamentos por onde passava. – aproveitou alguns segundos para recuperar o fôlego, agora que começou a falar, sentia que tinha muito para dizer, tudo fluía.

- E então, chegámos a um estreito de uma montanha, onde encontrámos os primeiros inimigos, capangas de segunda classe que ajudei a derrubar com os graduados. E por fim, a batalha final em que encontrámos três espadachins e o homem demoníaco com duas reféns. Conseguimos defender e contra-atacar assim como proteger as reféns, que estiveram inconscientes e demasiado traumatizadas para falar até agora. Dos inimigos também não conseguimos extrair nada a não ser um símbolo de Kirigakure tatuado em um deles. Infelizmente, decidiram recorrer ao mesmo método para evitar qualquer deslize de informação. – chegava ao fim de passagem de informações, rebatendo um olhar decidido ao careca. – Senhor, penso que falhámos como vila em não conseguir proteger todos aqueles aldeões. Comprometo-me a chegar à raiz deste problema, de evitar que jamais aconteça novamente! – num sinal de entrega, segurou o punho, fechado e virado para cima, junto ao seu peito.

Findado o interrogatório, Yagura seguiu para o seu merecido descanso. A logística não permitiu que interagisse mais com os restantes que esperavam agora ser interrogados. Mas estava esperançoso de os encontrar no futuro.

HP 1215/1215 [1350]
CH 685/1980 [2200]
STA 04/06

Informações Gerais: