Enquanto ainda estava se habituando com todas as mudanças em sua vida, Ethan seria surpreendido com outra missão. Ao contrário do que acontecia na maioria das vezes, ele não precisaria sair da vila para conclui-la. De acordo com as instruções, ele apenas teria que acompanhar um Shinobi em seu treinamento, tendo em vista os perigos envolvidos na tarefa. A princípio, pensou em maneiras de fugir do trabalho, mas todas as suas ideias, provavelmente, dariam mais trabalho que a missão em si. Por isso, a contragosto, se arrumou e partiu para o local indicado.

No caminho, o Uzumaki optou por parar em uma loja de conveniência que ficava no caminho, onde comprou uma água e um pacote de doces. Agora, preparado pelo que estava por vir, não tinha mais motivos para adiar a chegada no ponto de encontro. Mesmo estando relativamente focado, usaria parte do seu tempo olhando os arredores, contemplando a paisagem, as pessoas, as construções da vila, afinal de contas, não achou que havia problema em se atrasar alguns minutos.

Assim que chegou naquele campo aberto, coberto por uma grama verde e volumosa, não demorou para encontrar quem procurava. Afinal, só tinha uma pessoa ali. O velho de cabelos grisalhos, beirando os 70 anos, andava de um lado para o outro. Com a cara emburrada, fazia com que seus passos deformassem o gramado onde pisava. Levando em conta o estado a baixo dos seus pés, Ethan concluiu que já estava naquela caminhada impaciente a algum tempo. E logo que percebeu a presença do Uzumaki, se aproximou e acertou o topo da sua com o punho fechado. — Idiota! Quem diabos você pensa que é, me fazendo esperar por 2 horas?

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No momento em que aquele golpe o acertou em cheio, Ethan foi ao chão, caindo de bunda. O Uzumaki, a princípio, se irritou com a ousadia do velho, no entanto, não recriminou a atitude, pois sabia que talvez havia exagerado. Então uma estranha sensação percorreu o corpo de Ethan. Não sabia explicar o que era, apenas que sentiu um arrepio na espinha. E enquanto lidava com os efeitos da ofensiva do homem, também teria que lidar com uma sensação de desorientação. O garoto tentou se apoiar no gramada com ambas as mãos, mas, no fim, acabou desabando.

— Minha cabeça... — Ethan pedia ajuda, temendo que sua situação piorasse, porém, o velho fez uma careta e virou o rosto.

— Certo, você ainda está vivo e consciente. Otimo! Nesse caso, você é digno de me acompanhar. — Então, uma pausa. — Bom, vou te explicar qual a sua missão, moleque. Já tem alguns anos que conduzo pesquisas a serviço do vilarejo, onde, inevitavelmente, sempre acabo me deparando com conceitos obscuros e perigosos. O maior perigo que enfrento diariamente é justamente a falta de informações. Nem sempre consigo atestar os reais efeitos de algo apenas com estudos teóricos. É justamente aí que você entra, me acompanhando e intervindo caso algo dê errado. Simples, não? — Após resumir a situação para o mais novo, se sentou no gramado.

— Merda... minha cabeça tá me matando... — Ethan continuou agonizando enquanto o homem falava.

— Se já acabou de chorar, vamos começar. — Retrucou.

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— Ótimo. Agora vou te explicar o que faremos a seguir, e qual o foco do nosso experimento. — Vendo Ethan recobrar a compostura, o velho deu mais uma das suas explicações. — A nossa volta existe um tipo único de energia, que em casos raros pode ser captada por nós, a energia natural. Durante meus estudo sobre essa peculiaridade, descobrir alguns fatos curiosos sobre ela, por exemplo, como... Quer saber, ao invés de te explicar, vou te mostrar. E também não é como se você fosse entender algo, mesmo. — O homem então sentou na posição de lotus, fechando os olhos e mantendo a respiração controlada. — Agora, é só calar a boca e esperar a “magia” acontecer. — Por fim, ordenou.

— Isso é sério? Será que você não pode chamar outro?

— Não! E é melhor se apressar, temos um longo caminho pela frente. Mas antes de começarmos, queria esclarecer algo. Eu não espero que você consiga realizar essa proeza, seu papel aqui é ser o meu grupo de controle da experiência.

Embora não estivesse animado com a tarefa, Ethan não tinha do que reclamar, afinal o seu trabalho seria ficar parado, sem fazer absolutamente nada. O maior problema que enfrentaria naquele lugar era o tédio. Portanto, criaria uma missão secundaria para cumprir ao passo da primeira: se esforçaria para não dormir enquanto mantinha os olhos fechados. Com um objetivo claro e palpável em mente, começou a respirar profundamente, se concentrando, principalmente, no chiado da sua respiração. Se tivesse sorte, detalhes supérfluos como aquele o manteriam entretido, o fazendo refletir sobre uma infinidade de outras besteiras sem importância.

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Nos primeiros minutos, Ethan pensou que seria fácil suportar aquela provação. Mas, conforme o tempo passava a perspectiva do Uzumaki também mudaria, evoluiria. Ele descobriu da pior forma possível que não tinha o que era preciso para a tarefa. Já nos primeiros 10 minutos, o seu corpo se contorcia apenas com a ideia de passar horas a finco ali, parado, sem poder fazer nada. Era como se cada célula do seu corpo rejeitasse, veementemente, a ideia. No entanto, apesar de tudo, não podia fazer nada a respeito. Independentemente de como se sentia, aquilo ainda era uma missão, e não queria sofrer represálias por causa de reclamações a seu respeito.

Mesmo não gostando da ideia, o garoto resolveu tirar algum proveito da situação indesejada. Foi nesse momento que se lembrou dos treinos com o avô. Naquela época, no auge dos seus 6 anos de idade, os dois também passavam boa parte do tempo se concentrando em atividades igualmente chatas, onde aperfeiçoavam o controle de chakra do mais novo. Como sempre, o seu avô exigia nada menos que a perfeição, não importava em que, o neto tinha que ser capaz de suprir as altas expectativas de Oliver.

Ethan, se deixando levar pela nostalgia, lembrou do seu antigo método de treino. Primeiro, imaginou o chakra, a sua energia, como se fosse água. A energia era fluída e volátil, de uma forma que se curvava às vontades dele. Depois, começaria a guia-la pelo seu corpo, imaginando que a preparação para dar vida aos jutsus gerasse uma correnteza selvagem em seu interior. Desse modo, todo o fluxo seria direcionado para as margens, no caso, a sua pele. Assim que isso acontecesse, uma falsa ilusão de controle tomaria conta, fazendo que o Uzumaki fizesse o que bem entendesse com aquele fluxo selvagem. Por fim, apenas precisava dosar a força com que influenciava a energia no seu interior, sempre se adequando a técnica pretendida.

Enquanto meditava na mesma posição de antes, Ethan acabou sentindo uma sensação reconfortante. Era como se uma energia delineasse o seu corpo, criando uma fina camada entre ele e o mundo exterior, aquecendo o seu corpo no processo. À medida que o Uzumaki se afundava nas próprias memórias, a energia foi ficando cada vez mais intensa. Cada memória singela, mas significativa, fazia aquele abraço disforme o envolver cada vez mais, como se o mundo à sua volta reagisse aos seus sentimentos.

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— Tsc... — Ainda sem resultados, reclamou — Parece que cometi alguns erros de cálculo. Ei, garoto, pode se levantar. Acabou! Você está dispensado. No fim, apenas perdemos nosso tempo aqui. — Sem obter nenhum avanço na sua pesquisa, o velho se deu por vencido, se levantando e arrumando seus pertences.

— Que seja. — O garoto respondeu, sem esboçar qualquer tipo de reação à constatação.

Diferente do homem, Ethan não diria que todas as 8 horas que passaram ali foram em vão. De alguma forma, que ainda não conseguia explicar, havia criado um vinculo com a sensação proporcionada pela energia. “Energia natural... Que interessante”, pensou, levantando as próprias conclusões. Nesse momento, assim como aconteceu no passado, um monstro crescia dentro do Uzumaki. A criatura tinha uma fome insaciável, e faria o que fosse preciso para sacia-la. Mais uma vez o garoto era refém da sua curiosidade.

No dia seguinte, logo pela manhã, o Tokujo iria até a biblioteca do vilarejo, tentando achar algumas informações sobre a energia natural e como ela poderia ser capitada, ou quem sabe, usada. No entanto, como havia previsto, não obteve nenhuma das informações que procurava. Ele não fora capaz de encontrar nem uma mençãozinha sequer. Portanto, tudo que envolvia aquele conceito continuava um completo mistérios para ele.

Ethan, apesar de não ser muito obstinado, não desistia fácil das coisas, era cabeça dura. Por isso, não havia desistido de tentar sentir aquela sensação novamente. Dia após dia, mantendo uma rotina fixa, ele voltava naquele mesmo campo de treinamento, onde conseguiu todo o progresso até então. Chegando lá, antes de qualquer coisa, sempre tomava um tempo para apreciar a paisagem, agradecendo por viver em um lugar como aquele. Depois, se sentava no chão, na posição mais confortável que encontrasse, e começava a meditar. Assim como das outras vezes, ele não tinha a intensão de absorver a energia da natureza, apenas se pegava pensando sobre a vida, seus problemas e as maluquices que acontecia no seu cotidiano.

Aos poucos, ele foi notando o progresso que fazia. Sem se deixar afetar pelos fracassos iniciais, ele persistiu, até reduzir, e muito, o tempo que levava para sentir aquela sensação única invadindo seu corpo. O Uzumaki nunca foi considerado um gênio pelos outros, e também nunca tinha buscado demonstrar habilidades que lhe conferissem esse título, mas quando queria, era implacável. Mesmo desconhecendo por completo os conceitos que envolviam a energia natural, ele, por conta própria, aperfeiçoou suas habilidades ao ponto que conseguisse absorver a manifestação. No entanto, o preço pago não foi barato, pois perdeu horas valiosas do seu dia durante semanas, até ser capaz daquilo.

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