A enorme tenda avermelhada se estendia por uma grande região próxima ao campo de treinamento de Iwagakure no Sato. A presença do circo na aldeia chamava muita atenção das crianças, mas principalmente do bolso dos pais. A propaganda que faziam pelos arredores contava sobre os grandes domadores de feras, dos palhaços e do grande artista Hiroki, um exímio desenhista capaz de trazer vida para suas pinturas. Chōsō, como um grande observador, ficava interessado em entender como as apresentações agiam nas pessoas, e por isso foi um dos primeiros a chegar para assistir a primeira apresentação da noite.

Dentro do picadeiro, as inúmeras apresentações corriam, retirando gargalhadas de toda a plateia, mas o imortal permanecia estático, apenas observando e fazendo anotações mentais. Por fim, a grande promessa do show aparecia no centro da tenda, portando um longo pergaminho, o qual apoiava em sua perna direita e o abria quase por inteiro. Com um pincel em suas mãos, o homem realizava traços grossos e lentamente a tinta deixava o papel, tomando a forma de um enorme leão. A fera rugia, imitando a vida real, se movendo como tal, existindo como tal. Em um outro traço, o homem criava uma leoa, e ambas as feras interagiam, com uma música romântica tocando ao fundo. A cena, criando todo um zoológico com sua arte, agradava a todos, até que todas suas criações se desfaziam em tinta, manchando o picadeiro no final da apresentação. A chuva de aplausos correu por todos os cantos, enquanto Chōsō se levantava e discretamente dava a volta na plateia, se aproximando dos fundos onde saberia que o homem iria retornar.

No fim, Hiroki deu de caras com o imortal o esperando, de braços cruzados e com um sorriso em seu rosto. O jovem estava intrigado com aquela arte e curioso o suficiente para ceder o ego e pedir uma explicação.

—— O que você fez foi muito interessante, Hiroki. Será que poderia me explicar o que aconteceu? —— com calma, Chōsō sentou-se em um banco enquanto o outro o observava.
—— Eu percebi que não riu e nem sorriu durante todas as apresentações, jovem. Estava esperando por mim, não é mesmo? A muito tempo não vejo olhos tão curiosos como o seu. Mas por que eu deveria ensiná-lo? Quer roubar minha vaga no circo? É isso? Hahahaha! —— Hiroki questionava em um tom humorado, enquanto guardava seus pincéis e o enorme pergaminho, ainda esperando uma resposta séria do de fios rosados a sua frente.
—— Não. Meu objetivo está longe do picadeiro, Hiroki. Como shinobi, meu dever é com este vilarejo, mas como estudioso, é meu dever desvendar tudo aquilo que me gera curiosidade. —— foi direto em sua resposta. Hiroki sorriu.
—— Como se chama? —— questionou novamente.
—— Meu nome é Chōsō. —— respondeu rápido.
—— Irei mostrar. Aqui, vai precisar disto. —— Hiroki entregou um pergaminho pequeno para Chōsō, e um pincel proporcional ao tamanho do papel.

Hiroki portava seu grande pergaminho.

—— Tudo está na paixão pela arte. Se seus sentimentos não forem verdadeiros, não funcionará. Com esta tinta especial, nosso sentimento deve ser passado para o pincel, junto com a nossa energia, e assim para a tinta, para o papel e para a vida que vai ser gerada. Veja bem. —— Hiroki tocou a tinta com a ponta do pincel e infundindo parte de seu chakra no objeto, a tinta banhou o pergaminho, desenhando um pequeno pardal que, assim que a ponta do pincel deixou o papel, o pardal ganhou vida e sobrevoou o ambiente lentamente.

—— Sentimento... —— Chōsō achava fascinante aquela arte, deixando a questão sentimental com um controle maior. Tentou imitá-lo, mas aperfeiçoar os traços era algo complexo. Em sua primeira tentativa, o pequeno pássaro deixou o papel e no mesmo instante se desfez.
—— Pouco chakra... —— Hiroki corrigia Chōsō, que logo tentava novamente, criando um animal com traços mais grossos e pesados, que mal conseguia voar.
—— Muita tinta, muito chakra, precisa de leveza, equilíbrio. —— corrigiu novamente e demonstrou mais uma vez.

Chōsō tentou, e tentou, somente conseguindo na vigésima vez o alçar do voo de seu pardal. Hiroki, cansado, aplaudiu e sorriu.

—— Você conseguiu... agora basta continuar praticando que será um grande artista. E aqui eu encerro minha dívida com um antigo amigo que um dia me pediu para ensinar qualquer um que quisesse usar essa arte para fins tão nobres quanto os seus. Vá, precisamos partir do vilarejo, haha! —— foi breve em encerrar a aula e já pedir para que o imortal fosse embora. E assim Chōsō o fez, deixando o picadeiro com uma despedida leve, apenas sorrindo e se curvando delicadamente. Iria atrás do pincel, dos pergaminhos e da tinta, e levar a perfeição a arte que havia acabado de aprender.

HP: 000/000 | CH: 2575/2675 | ST: 01/08 | Sakki: 00/50