Foram longas semanas distante das armas, dos selos de mão e das missões... Mas foram semanas boas, em que Yama desfrutou da liberdade para agir como um civil comum — a bem da verdade, a rotina a serviço do vilarejo estava se tornando demasiado desgastante para ele, que ainda não tinha cicatrizado as feridas emocionais que adquiriu durante a infância.

Matriculado em uma academia de artes, ele aprendeu a fazer pinturas e esculturas, a misturar diferentes tipos de tinta e a importância de usar as gramaturas adequadas para cada tipo de trabalho. "Expressar-se vai ajudá-lo a superar tudo o que aconteceu", diziam. Entretanto, não tinha percebido qualquer diferença. Com as horas dando lugar a dias, e os dias a semanas, logo ele poderia contar meses vivendo daquela forma. Com o período de abundância em que o vilarejo entrava, muitas academias, espaços culturais e todo tipo de divertimento abriam pelas ruas do centro comercial.

No seu quarto, onde ele guardava as pinturas e esculturas, não havia nenhum quadro que alguém poderia querer. Às vezes, acordado durante a hora da coruja, ele pincelava como se pudesse ferir o quadro com seu pincel de cerdas macias e tinta rubra como o sangue, e o resultado quase sempre era uma imagem perturbadora que se materializava na tela, saída diretamente dos seus sonhos — quem ouvisse a explicação diria que as imagens só poderiam ter saído dos pesadelos de um homem profundamente atormentado, mas para ele aquela rotina já tinha se tornado normal, e não iria mais lutar contra a própria natureza.

Todas as pinturas contavam com seres, meio humanos e meio qualquer outra coisa, com olhos vermelhos e penetrantes, muitas vezes sangrando. Havia beleza naquilo, ele pensava. Desde que se lembrava, desejava ver como era o corpo humano por dentro e quanto sangue um homem ou uma mulher carregavam consigo. Assim, os resultados eram quase sempre iguais, manchas desfiguradas, com expressões difíceis de serem entendidas, até mesmo por ele que as sonhara.

As esculturas ainda eram um ponto a melhorar, pensava. Gostava de tentar construir pessoas comuns, como as centenas de dezenas que andavam pelas ruas nos dias secos e quentes de Iwagakure. Em seus estudos, não conseguia visualizar perfeitamente o corpo humano, por isso começou a pensar em como poderia melhorar sua percepção da anatomia. Em algumas tardes, preferia se dedicar ao trabalho solitário, reservado, em sua casa. Tirava as roupas e se via no espelho, tentando reproduzir suas proporções para dar sentido às esculturas, mas era muito difícil construir qualquer coisa com apenas uma referência. Precisava estudar mais.

Foi num desses momentos que se deparou com o inevitável: as marcas das feridas que o lembravam das torturas. O peito era liso, sem qualquer marca onde um homem normal teria os mamilos. Aquilo o fez desviar o olhar do espelho, diretamente para um dos cantos do quarto, e, na penumbra, viu a bolsa de armas. Foi com uma lâmina muito parecida com aquelas que tinham ferido o seu corpo incontáveis vezes, até que sangrasse. Aquilo o relembrou do seu propósito, e pensou que poderia voltar a se dedicar às esculturas de gesso durante o tempo livre e durante o trabalho poderia ver como eram os corpos dos seus inimigos, por dentro, e refinar sua arte.

Considerações gerais: