Jaqueta, bolsa, luvas. Uma ultima olhada no espelho. "Estou pronto!" Um arrepio na espinha e um suspiro pesado. "Será mesmo que estou?" Um par de batidas na porta e nem preciso olhar para ver que ela entrou antes mesmo de eu responder.

- Esta pronto, querido? - Sua voz doce me acalenta e dispersa um pouco do meu nervosismo. - Sim, mamãe. - Minto. - Então venha, acabei de preparar o seu café da manhã. Fiz tudo o que você mais gosta. - A satisfação em sua voz me faz engolir seco ao recusar. - Acho melhor eu não comer muito, mamãe. Vai que eu fico enjoado ou passo mal durante o... - Engasgo com a ultima palavra, minha vista caindo por cima do pergaminho aberto sobre a minha mesa de cabeceira.

Hoje e o dia do meu teste de iniciação, a ultima etapa que me separa de ser um ninja. Os braços de minha mãe me envolvem de repente e a rigidez do meu corpo se desfaz. - Vai dar tudo certo, meu bem! - Ela diz e eu sorrio após mais um suspiro.

Depois de devorar uma fruta as pressas para não sair de barriga vazia, pois do contrario minha mãe simplesmente não me deixaria ir, saio de casa e me apresso para chegar aos portões da vila. Aos guardas Chunnins mostro o pergaminho que comprova que uma Jonnin me espera nos arredores da vila e eles rapidamente liberam minha passagem. É a primeira vez que saio da vila sem a companhia dos meus pais ou dos professores da academia e a mistura de liberdade e medo deixa minhas mãos suadas e frias.

Ando pela paisagem verde, respirando fundo o aroma das flores e da vegetação que cercam os muros da vila. A visão dos arredores me alegra e relaxa enquanto procuro por aquela que há de me avaliar em breve.

- Senhorita... Fumê? - Pergunto com a voz tímida e trêmula ao ver aquela figura feminina parada em meio a floresta. Ansioso, corrijo minha postura e respiro fundo antes de entoar de forma mais firme e audível. - Senhorita Fumê! Sou Ikki Yamanaka e estou pronto para o teste! - Afirmo, desejando que as palavras que saem da minha boca condigam com o que venham a seguir.

Seu olhar me bombardeia de cima abaixo e minha respiração se torna curta e descompassada. Dúvidas, é o que ela a princípio pergunta se eu possuo. "É claro que eu tenho!" Penso. A maioria delas sobre mim mesmo, mas não é como se pensar sobre isso agora fosse me ajudar em algo.

Ergo o punho cerrado à altura do abdômen em um gesto involuntário e aceno negativamente com a cabeça ao decidir que é melhor eu permanecer o mais calado possível para apenas me atentar a toda instrução que a Jonnin venha a me dar.

A seguir vem a primeira ação de Fumê, que é o que me deixa perceber que o teste já está em andamento e que, por acaso, é algo que me cai como um verdadeiro golpe; quase um soco na boca do estômago. "Qual a minha intenção como ninja?" Repito mentalmente a simples pergunta que a minha avaliadora me lança e que me faz prender a respiração por um instante com a surpresa.

"Não é auto-explicativo?" Pergunto a mim mesmo em pensamento, até que me dou conta de que a resposta é: não! Eu estou a um passo de sair da academia para finalmente trilhar meu caminho como ninja. Não há mais tempo para teorias ou ensaios, daqui pra frente será tudo real. Não é como se uma resposta superficial e auto-explicativa equivalesse à real chama que preciso ter acesa no peito pelo resto da minha vida caso eu queria de fato me tornar um ninja.

Sorrio de canto, achando ter entendido o propósito do questionamento, mas é então que minha certeza quanto à minha prontidão vai diminuindo a cada nova palavra que deixa os lábios da Jonnin.

À medida que Fumê trás à tona os conflitos internos do meu clã e as implicações que isso trás à minha formação como shinobi, sinto meus olhos tornando-se trêmulos e a vontade de balbuciar algo através de meus lábios entreabertos aumenta assim como aumenta a minha pressa por romper o silêncio que paira no ar após tais questionamentos.

Ser o único Yamanaka da minha faixa etária me deixa isolado de muitas questões pertinentes ao meu clã. Não sou mais uma criancinha para permanecer alheio como os outros mais novos, mas também não tenho idade para me envolver com os assuntos dos adultos. "Não! Isso não é desculpa!" Me puno mentalmente.

- Senhorita Fumê... - Minha voz finalmente irrompe pelos meus lábios ao passo que meu olhar encontra o chão. - Eu tenho notado que as coisas não estão exatamente como eram antes, mas os meus pais... Eles sempre me dizem que eu não devo me preocupar, pois Konoha é o nosso lar e desde que permaneçamos juntos, tudo ficará bem. - Ergo a vista à altura dos olhos da kunoichi. - Meu pai é um ninja, um Jonnin assim como você. E quando eu olho para ele, eu me imagino olhando para um espelho que reflete o futuro... Pois tudo o que eu mais quero é ser que nem ele! - Entono com convicção.

- Meu pai e minha mãe sempre me ensinaram o que é ter honra e orgulho pela vila que nos acolhe e o valor que há em lutar para proteger o que nos une como uma grande família. - Cerro meus punhos com força. - A minha intenção como ninja é... Lutar para que a Aldeia da Folha continue sendo o melhor lar que eu poderia um dia desejar! Essa é a vontade do meu pai, e, assim como ele, eu também estou disposto a lutar com lealdade ao Sandaime Hokage! - Meu pai é a pessoa em quem eu mais confio no mundo, então se esse é o julgamento dele em relação ao destino do nosso clã dentro da vila, não há como eu acreditar em algo diferente.

Mantenho meu olhar firme e magnetizado ao de Fumê na expectativa de que ela enxergue o fogo interior que carrego ao ser tão sincero o quanto eu consigo ser no momento. - Ninguém me enganou dizendo que ser um ninja seria algo fácil, senhorita Fumê! Mas é isso que eu quero para a minha vida, e estou disposto a provar caso me dê a chance! - Digo com uma firmeza que nem eu mesmo sabia que possuia, estendendo meu punho cerrado na direção da Jonnin e abrindo um tímido sorriso de canto.

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MOCHILA:

Meu sorriso rapidamente se extingue ao passo que meus lábios se arqueiam para baixo e meus olhos se arregalam em resposta ao novo bombardeio de duras palavras que Fumê me lança com extrema frieza. "Como assim? Como ela pode pensar isso? Isso não faz o mínimo sentido!" Me vejo preso em um looping de questionamentos que me desestabilizam ao ponto em que sinto minha mente se estilhaçando em pedaços.

"Não pode ser! Ela não pode estar falando sério! Isso nunca aconteceria! Não é? Não é?!"

À medida em que a Jonnin começa a caminhar em minha direção eu sinto meu coração pulsar mais rápido, além de minha respiração novamente perder sua cadência e meus joelhos perderem a sua rigidez, o que me desbloqueia o medo de simplesmente desabar aqui e agora na frente de minha avaliadora. Ver a mulher puxar uma kunai é sem duvidas dúvidas o último prego que faltava em meu caixão.

"Pare! Por favor! Apenas pare!"

Minhas súplicas silenciosas inúteis já que sequer tenho forças para vocalizar o quanto suas simples sugestões me atormentam. Nem mesmo consigo definir o que é pior: mentalizar a imagem do meu pai morto ou imaginar um cenário no qual ele seja um traidor, um desviado que haja contra a própria vila que ele mesmo tanto me ensinou a honrar. Fecho os olhos com força e automaticamente vou de encontro à imagem de minha mãe.

"Vai ficar tudo bem!" É o que imagino ela dizer com sua voz doce e reconfortante, o que surpreendentemente me trás uma injeção de motivação.

Abro os olhos e encaro a Jonnin que já está a meio caminho de mim; sua kunai enriste. Pisco os olhos bem rápido ao ter a impressão de ver o meu próprio pai caminhando em minha direção. O devaneio dura apenas um segundo, mas somente a imagem mental de vê-lo sorrir para mim me gera um estalo no fundo mente e tudo volta a fazer sentido.

Fumê não é o verdadeiro inimigo, este na verdade não há. É tudo fruto da situação, do contexto. Ela precisa me testar e é óbvio que eu não posso esperar nada menos dela do que ela pegar pesado comigo, afinal, ela estaria deixando um fraco adentrar as fileiras ninjas de Konoha caso assim não o fizesse. Ela está me dobrando para ver até aonde eu consigo ir sem quebrar.

"Rápido! Tenho que agir logo, ou serei finalizado em um instante!" Ranjo os dentes e respiro fundo, obrigando meus pulmões trabalharem corretamente.

- O risco é iminente, e o luto mais que uma simples opção, senhorita Fumê! - Digo ofegante após a minha tentativa de saltar para trás com o máximo de velocidade com o qual consigo reagir. A ponta da kunai da Jonnin se elevando lentamente na direção do meu pescoço serve como um verdadeiro impulso para que minhas articulações e músculos entrem em trabalho antes que eu assuma posição de combate após me afastar da Jonnin.

- Mas uma vez em missão, a única resposta possível seria: dar tudo pela Folha! - Digo e saco uma kunai da minha bolsa, me preparando para me defender ou me esquivar assim que a Jonnin, que arranca em minha direção, ataque.  

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MOCHILA:

A sua próxima fala me deixa ciente de que eu talvez não esteja caminhando rumo à aprovação, ou pior, talvez minhas respostas tímidas ou minha postura acuada estejam até mesmo dificultando o meu objetivo de ser levado à sério. "Isso não está certo! Chega de hesitar!" Remarco mentalmente, certo de que, embora isto seja apenas um teste, a seriedade deste momento é plena e tudo pelo que eu lutei tanto até chegar até aqui é o que realmente está em jogo.

Firmo meus calcanhares contra o chão e aumento a pressão do meu aperto em torno do cabo da minha kunai à medida em que divido meu olhar entre a feição da Jonnin que se começa a se aproximar e o movimento giratório de sua arma preso por alguma espécie de fio. Ela balança casualmente sua lâmina no ar enquanto me atiça mais uma vez com uma sugestão cruel e eu então inspiro e expiro de forma pesada me esforçando para não cair em um truque mental.

Fumê finalmente reitera a necessidade de que eu responda com clareza aos questionamentos que ela ainda tem como em aberto e tão rápido seus lábios se cerram, sua kunai voa em minha direção. "Que ágil! Não é atoa que ela é uma Jonnin!" Pondero em pensamento após sacudir minha própria kunai no intuito de ricochetear para longe o projetil de Fumê.

- Vou me esforçar para ser claro... - Inicio me esforçando para que minha feição seja condizente com a determinação que emprego em meu tom. - A Folha sempre virá em primeiro lugar, independente do meu amor pela minha família... - Afirmo e elevo a mão com a qual seguro minha kunai até perto da minha boca. - Mesmo assim, embora falhar com a Folha seja algo inaceitável, quem deixa seus companheiros para trás não possui honra alguma! Espero que entenda que eu jamais faria isso! - Acrescento antes de agarrar o cabo da minha kunai entre os dentes para ter ambas as mãos livres por um momento.

"Carneiro! Javali! Touro! Cachorro! Cobra!" Recapitulo silenciosamente enquanto realizo os selos de mãos e olho em volta procurando o melhor subterfugio. Fumê certamente irá me levar até o limite, então cabe somente a mim encontra-la de pé neste extremo.

Kawarimi no Jutsu:

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MOCHILA:

Esta é a primeira vez que tento usar um jutsu sem que o contexto seja apenas exibir para alguém que o sou capaz de fazer. Óbvio, isto ainda é um teste e Fumê ainda é oficialmente a minha avaliadora, mas ela não está aqui para necessariamente checar se aprendi as técnicas básicas da academia. Não, ela está aqui para avaliar se eu sou capaz de fazer bom uso destes conhecimentos em um cenário absolutamente prático que dispensa meras teorias.

"Essa é a hora de mostrar o melhor de mim!" Penso enquanto analiso os arredores para localizar o exato objeto e local da minha substituição. E é então que a Jonnin quebra por completo a minha expectativa ao me relembrar que o seu nível surpassa até mesmo um Gennin, que dirá um ainda aspirante.

- Ah, não! - Exclamo ao notar a kunai de Fumê voando em minha direção novamente e, pior que isso, que a lâmina que me alcançaria mais rápido do que eu talvez consiga terminar meu jutsu de substituição. "Só há uma opção!" Assumo e me preparo para realizar a descarga de chakra necessário para efetuar a técnica de movimentação rápida.

O projétil atravessa a silhueta que deixei para trás um segundo após eu deslizar para longe em alguns metros com minha velocidade ampliada pelo Shunshin no Jutsu realizado quase que sem tempo. Ofegante, sequer me esforço para esconder minha reação de espanto após tal manobra de sorte. Olho para Fumê após a puxar sua arma de volta para si e o que ela diz a seguir me causa ainda mais choque.

- Eu... Passei? - Balbucio incrédulo recomponho minha postura, meus olhos arregalados rumo a Jonnin entrando em ressonância com o largo sorriso que abro ao me tocar que ela estava falando sério.

Meu corpo se enrijece quando ela se aproxima, mas no momento em que ela me ergue uma bandana com o símbolo da folha, o peso de um mundo inteiro deixa minhas costas e tudo o que consigo sentir é o êxtase de estar recebendo aquele objeto que representa tudo pelo que eu mais lutei nos últimos anos.

- Agora eu sou um ninja... - Digo em voz alta, mais para mim mesmo do que para Fumê e, embora me sinta constrangido por um breve instante, acabo por deixar minha vergonha e timidez de lado para agradecer a Jonnin. "Ikki Yamanaka, você agora é um Gennin da Folha!" Digo pra mim mesmo em pensamento enquanto aperto a bandana com força, certo de que minha jornada está apenas - e oficialmente - começando.

Shunshin no Jutsu:

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MOCHILA:

O meu devaneio me trouxe por uma fração de segundo o doce sabor de uma aprovação fácil, mas a quebra de expectativa me trás de volta a realidade bem rápido quando sinto a lâmina da kunai romper minha pele por baixo da minha veste que agora exibe meu ombro sob um corte aberto. "Não consegui usar a substituição e nem mesmo a movimentação rápida! Só me resta uma opção!" Pondero mentalmente ao decidir que é hora de reagir. Ela pede para eu não me segurar, e é nessa ordem que eu foco ao girar meu punho e sacodir meu braço em uma tentativa de arremessar a kunai que seguro em direção a Fumê. Antes mesmo de esperar para ver o final da trajetória do projetil, saco três senbons de minha bolsa e empunho-as entre os dedos com minha mão cerrada como se fossem garras. Armado, arranco para cima de Fumê com o punho fechado em uma tentativa de deferir-lhe um soco e, caso não consiga, seguir com uma tentativa de ataque com as agulhas.            

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