A tradicional vila da folha, como muitos sabem, é um lugar deslumbrante. Lar de muitos heróis e até mesmo de Lendas Ninja que dispensam apresentações, uma verdadeira escola de gênios. Sempre encantou a todos sem muito esforço. É aquele típico lugar que se vende fácil. Turistas, curiosos, Shinobis, comerciantes; não importa de onde você vem e nem as belezas que já presenciou, esse vilarejo conseguirá arrancar-te um longo e profundo suspiro.

No entanto, para aqueles com um olhar mais perspicaz, existiam detalhes implícitos, principalmente para os turistas. Konoha, assim como qualquer outro lugar, possuía um lado obscuro. Um lado que todos ali preferem ignorar. Um exemplo claro daquela velha sujeira que constantemente é varrida pra debaixo do tapete. E essa história é justamente sobre essa mancha, o Submundo de Konoha.

A vila da folha, como poucos sabem, é um lugar muito hostil e intimidador. Para os desajustados e aqueles que não fazem muita questão de usar sua bússola moral, é o lugar perfeito para chamar de lar. Lar não só desses encrenqueiros, mas também de diversas atividades e organizações criminosas. Alguns, mais bem instruídos que outros, pensam muito bem antes de pisar no famigerado vilarejo. Claro, existem também aqueles que veem nela a oportunidade de uma vida. Porém, esse lugar não é composto apenas de pessoas de índole duvidosa, existem aqueles que apenas vivem à margem da sociedade por falta de opções. Sem muitas perspectivas, tentam sobreviver em um lugar que tenta, a todo momento, matá-los. Um lugar em que a vida não se prolifera. Essa é a vila da folha que poucos conhecem.

Assim como muitos outros faziam, Ethan chamava aquele local de lar. Não vendo muitas opções ao sair de casa, devido a motivos de força maior — a morte da mãe —, essa acabou sendo a sua única escolha. Nas áreas periféricas ao centro do vilarejo, onde a maior parte dos olhares não alcançam, existia uma rua sem saída onde o mal crescia. E foi lá, na raiz de todo esse mal, que Ethan buscou abrigo.

Ser um ninja não significava nada ali. Na verdade, isso significava que os desafios de Ethan seriam mais severos, graças àquela bandana que carregava no braço. Primeiro: significava que tentariam rouba-lo diariamente. Segundo: queria dizer que levaria várias surras de figuras carimbadas do lugar.

Depois de um tempo, ele já se acostumara com a situação. Ethan não fazia mais questão de lutar pela sua vida. Tudo o que ele tinha se foi junto com mãe. Sua alegria, vontade de viver, todos os sonhos que já teve, sua inocência. Não restou nada para aquele garoto órfão se apegar. No entanto, por incrível que pareça, a única coisa que ainda matinha consigo, e jamais poderiam tirar dele, era um sonho bobo de liberdade.

Quanto a seus cuidados mais básico, esses eram escassos ou inexistentes. Ethan, por sorte, tinha alguém que o ajudava com esse tipo de coisa. Se tratava de uma senhora muito rica e simpática, na casa dos 60 anos de idade. Ele não entendia o porquê daquilo, mas era ela quem alimentava as pessoas na mesma situação que a sua. Embora não pensasse muito sobre o assunto, as vezes questionava o fato daquela mulher poder andar tão livremente num lugar perigoso como aquele. Se levar em conta a quantidade de crimes que o genin presenciava diariamente, era um milagre ela não ter até a própria roupa surrupiada. Tomar banho ou fazer a higiene bucal era luxo. Por consequência, andava com as roupas encardidas, com um odor forte e um sorriso amarelado. Não só ele, mas essa era a realidade de muitos à sua volta. Entretanto, nas vielas mais escuras, isso não queria dizer nada.

Os poderosos, os agentes da lei, a força militar e qualquer outro símbolo de autoridade não tinham qualquer relevância naquele mundo. Os seus bolsos estavam cheios. Era isso o que importava. Afinal, o que poderiam fazer? Se cortassem uma cabeça, 5 cresceriam no lugar. E nos ouvidos daqueles que poderiam fazer algo a respeito, os ruídos vindos dessa outra realidade eram abafados até se tornarem imperceptíveis. O sistema que se formou em torno de toda aquela corrupção era perfeito. Nem em mil anos alguém desmantelaria toda a operação criminosa que já era parte fundamental do vilarejo.

No epicentro de tudo estava Ethan, vivendo seus dias sentado em alguma sarjeta ou viela. Sentido piedade de si mesmo, remoendo a culpa pela morte da mãe, aos trapos. Se importando cada vez menos com as atrocidades que presenciava, ele foi ficando tão podre quanto aqueles à sua volta. Vivendo dessa maneira, o genin passou a encarar as normas como correntes que restringiam a liberdade de todos. Dentre todas as sensações que já sentirá, essa sensação, a de perder sua liberdade, fazia com que ele sentisse como se a sua pele estivesse sendo rasgada. Lentamente. De forma visceral. Sem piedade. Talvez nem a morte da mãe doera tanto.

Convivendo diariamente com todo tipo possível de crueldade, percebeu que todos escondem algo. As pessoas, para ele, apenas ocultavam a sua verdadeira natureza. Mas, assim que se sentissem seguras, libertariam seu demônio interior. Sedentos por inúmeros tipos de perversidade, deixando incontáveis vítimas pelo caminho. Essa foi a lição mais valiosa que aprendera vivendo à mercê da sociedade. Contudo, quando uma garota peculiar de cabelo castanho escuro cruzou seu caminho, as crenças do jovem não resistiram por muito tempo.

Como um raio cortando os céus em um dia chuvoso, Keiko entrou na vida de Ethan. Ela foi como um feixe de sol que invadia um dia chuvoso. Até mesmo a comida voltaria a ter gosto. Depois dela, nada mais voltaria a ser como era antigamente.

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