Era um período de luto para o chuunin, após a sua queda em Otogakure. Sempre esteve ciente que estava num patamar muito abaixo dos ninjas mais fortes, mas agora, era confrontado com o choque dessa realidade, apercebendo-se que apesar do seu contributo positivo para a batalha, ”Eu não fui suficiente…” e agora, era altura de trabalhar para o ser. Para ser mais forte. Para expandir seus limites, hesitar menos, agir mais. Para dar início ao seu arco de redenção contra a maldade existente no mundo.

Era um final de tarde de temperatura amena, considerado frio para alguns conterrâneos, fresco para outros. Yagura tinha passado os últimos dias em casa, em repouso a tentar recuperar tanto física como mentalmente, compensando os pensamentos derrotistas com planos para o futuro. Hoje ele, por fim, sentia-se pronto para retomar as atividades ninja no dia seguinte, mas…

- Yagura! – um ninja apareceu, a cabeça a espreitar de uma janela entreaberta, ignorando por completo a invasão de privacidade que não só surpreendeu, mas também desconfortou o loiro. - Um dos oficiais da vila, Ichiguko… Ninguém sabe dele desde a sua visita a uma das aldeias na fronteira com Hoshigakure. Havia rumores de dissidências, e que os nossos oficiais não eram lá bem vindos… Mas ele foi na mesma. – disse, com pesar da voz, talvez o conhecesse – Infelizmente, os aldeões já estão familiarizados com as nossas caras. Terás que ser tu. Infiltra-te para descobrir o que se passa! – afirmou, deixando um pergaminho com informações acerca do local e principais suspeitos  – Contamos contigo! -desapareceu, num vulto, pelas sombras.

Yagura preparou a suas vestimentas e saiu pelos portões da vila durante a noite, a melhor altura para passar despercebido. Por entre vales e montanhas percorreu o trajeto. Quando faltavam apenas alguns quilómetros colocou-se no ponto mais alto que conseguiu encontrar, garantindo uma boa visão para a aldeia em causa. "Existem alguns focos de luz, deverão ser os locais com mais movimento" analisava, sendo visível não só os focos, mas também a delineação das ruas da aldeia, que dispunham de uma leve iluminação. ”Mas… O que é aquilo?” parecia um pirilampo. Um pequeno ponto de luz no meio da escuridão parecia deslocar-se lá em baixo, em direção ao mesmo destino "Talvez seja a minha oportunidade…" – desabafou, com mais medo de ir interagir socialmente do que combater temíveis inimigos.

Pela sombra, tentou aproximar-se daquele pequeno foco de luz. Pelas horas tardias, ele pararam a meio do caminho, acendendo uma fogueira para servir de quente, rodeada por 6 indivíduos. O chuunin, observando de um local desobstruído, poderia finalmente perceber o que aquilo se tratava. Era uma caravana de artistas.

Trupe da Algazarra – estava escrito a letras grandes numa carruagem puxada por dois cavalos, agora em repouso. À volta da fogueira, um guitarrista tocava uma melodia animada, cantando como se estivesse a contar uma história.

"Pelos campos divinos, bravos ninjas se enfrentaram,
Mas diante da deusa rabugenta, todos eles tombaram e dançaram"  

Aquelas palavras, talvez por coincidência e surpresa, tocavam o coração do chuunin de uma forma que ele não esperava. As memórias que ressurgiam não eram as melhores, mas a melodia animada dava-lhe uma nova perspetiva sobre a situação. Não querendo interromper o momento, mas sendo necessário, escondeu a sua bandana de chuunin e aproximou-se do grupo.

- Lamento interromper… Sou Yagura – disse, com voz tímida e baixa, tentando não os assustar. - a vossa música é muito boa! – disse, tentando relaxar a trupe, mas acabava por fazer o contrário. Todos olhavam-no ”O que é que este quer!?” – Sou um ninja de Iwagakure, e vim fazer-vos um pedido… Podem ajudar-me a entrar na aldeia? – disse, erguendo a mão sobre o peito, mostrando-se ao dispor daquele grupo.

- Depende… – disse o guitarrista, uma voz amigável, mas incisiva - Estamos a precisar de um pandeireiro para o próximo concerto. Consegues ajudar? – a pergunta apanhou o chuunin de surpresa. Nunca antes havia-se imaginado numa banda, a percorrer o mundo tocando na sua pandeireta com um grupo de uma folclore animada? Naquele momento da sua vida, a ideia era desconfortável, mas não era assim tão reboscada.

- S…S… Sim – disse, com a maior das relutâncias e bochechas rosadas.

- Ótimo!! Temos um novo membro da Trupe da Algazarra!! – todos festejaram com o novo membro, e passaram o resto da noite em cantigas animadas, com o chuunin a afeiçoar-se ao bater da pandeireta. Foi bom, Yagura sentiu-se como já não se sentia à muito tempo. Uma espécie de liberdade, de poder ser o que ele quisesse. Podes dormir por aqui, e amanhã começamos os ensaios, o guarda-roupa é ali – disse o guitarrista, lançando um pequeno sorriso.
Nos dias seguintes, com vestimentas dignas de um membro da trupe, Yagura acompanhou o grupo, tocando na sua pandeireta e fazendo todo o esforço para encaixar no ritmo das músicas. Durante o dia, circulavam os mercados e os locais movimentados para se publicitarem, e ensaiavam para o grande concerto que ocorreria daí a alguns dias. Sempre com um olho atento, o chuunin apercebia-se aos poucos de uma espécie de máfia local, capangas musculados e carrancudos que correspondiam às informações do pergaminho e que cobravam os mercadores pela sua proteção desnecessária. Muito provavelmente seria junto deles que encontraria Ichigaku. Algumas noites animadas na taberna local deram-lhe informações suficientes para formular o seu plano, que ocorreria não só no dia do concerto, mas durante o mesmo.

E então chegou, o Dia do concerto. O Palco? As Ruas da aldeia. Pessoas de aldeias vizinhas reuniam-se nos corredores apertados, fazendo a enchente e a total algazarra. O cheiro a álcool, o ambiente festivo, a música animada desde o primeiro acorde faziam a população delirar de emoção que contrariava na perfeição todas as dificuldades de viver naquele mundo ninja. A trupe tocava, cantava, atravessava as ruas por entre a população. Por estranho que fosse, e apesar de estar apenas a bater numa simples pandeireta dentro do ritmo, Yagura sentia-se feliz a fazer algo totalmente diferente do normal, quase esquecendo-se que estava numa missão…

Mas estava numa missão. Com a cooperação da trupe e do chuunin, o roteiro do concerto tinha sido detalhadamente planeado. No final do concerto, toda a população iria reunir-se perto de uma das entradas da base de operações dos capangas. Num movimento ousado, o guitarrista aproximar-se-ia da entrada - Venham! A próxima rodada será por conta dos vossos protetores!! – a população, num ato descontrolado, adentrar-se-ia dentro da base dos capangas em extâse, provocando um avalanche que os deixou sem reação possível.

No meio de toda a confusão, isto abriu uma brecha para Yagura se adentrar por um dos corredores. - Henge no Jutsu! – escondeu-se no meio da multidão e transformou-se num dos capangas, um dos que a meio do concerto já não conseguia abrir os olhos de tão bêbado. Tentou manter a compostura enquanto procurava pelo oficial da sua vila, para o caso de se atravessar com outros. Mas o caminho estava desimpedido com toda a confusão. Apesar do alvoroço, conseguiu notar o som daquilo que pareciam gritos abafados por um pedaço de tecido. Aproximou-se, e era mesmo, Ichigaku.

- Ichigaku-san… Não se preocupe, estou aqui para o salvar – disse, ainda mantendo a transformação e desprendendo o oficial das suas amarras dos pés, mãos e boca. - Vamos aproveitar o alvoroço para sair daqui! – e então, Yagura arrebentaria uma bomba de fumaça que colocaria o caminho até à porta envolto numa densa fumaça.

- Fuga de gás! – gritaria anonimamente, provocando uma ainda maior confusão que permitiria os dois saírem dali a são e salvo. Após isso e saindo da transformação, os dois correram para fora daquela aldeia.

”Obrigado, Trupe da Algazarra, não vos esquecerei” – escreveu no chão junto da caravana, recorrendo a uma kunai, tanta era a pena de os deixar. Mas teria que prosseguir com os seus afazeres ninja, levar Ichigaku de volta para Iwagakure, onde estaria em segurança. O oficial estava visilmente transtornado com todos os acontecimentos, mas feliz por ter sido salvo.

- Muitas vezes, os nossos esforços diplomáticos de nada servem… Mas eu vi a força daquela música, daquela algazarrada, maior do que qualquer acordo bilateral. Talvez um dia, possamos usar isso para chegar à paz, neste mundo ninja que tem tantos confrontos – disse o diplomata, já perto da chegada, um pouco mais relaxado.

Ichigaku foi entregue no hospital, para as suas feridas serem tratadas. Yagura aproveitou o resto da noite para vaguear por Iwagakure, imaginando como seria a sua vida se se juntasse à trupe algazarra indefinidamente. A sensação de escape à realidade era como nenhuma outra. Viver todos os dias aqueles momentos alegres e divertidos, partilhá-los com quem precisa... Fugir à responsabilidade ninja que por vezes parecia prendê-lo como um enorme peso. Mas esse não era o seu caminho. Proteger os indefesos. Combater a maldade. Esses eram os seus objetivos. E por mais que a música fosse uma força extraordinária e tenha ajudado o chuunin quando ele mais precisava, a Trupe Algazarra tinha o seu objetivo. Yagura, tinha outro: de se tornar o protetor da sua vila, e de todo o mundo ninja!

HP 1000/1000
CH 2075/2075
STA 00/06

Informações Gerais: