[Cena] — Adumbração

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Luna

Meishu Mizukage

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4/6/2023, 14:17

Mei escrevia em uma folha em branco. A caneta riscava o papel em símbolos bem caligrafados, formando conjuntos de palavras e frases que mais tarde seriam despachados. Era rotina, apenas mais um dia de trabalho. Ou, deveria ser. Naquele dia a ponta da caneta afundava cada vez mais no papel, a tinta engrossava com a pressão a medida que a folha vertia o líquido.
E então, crack.

Com um olhar apático para o objeto quebrado, a morena o jogou no lixo ao seu lado, onde já era possível ver algumas dezenas iguais a aquela. Abriu a gaveta e tateou em busca de uma nova, mas não encontrou. Fitou a mesa e a folha sobre ela, destruída por uma mancha enorme da tinta que vazou quando o instrumento se partiu. Então, em um gesto brusco e inesperado, Ogosho golpeou a mesa com a canhota, partindo o móvel ao meio ao exagerar na força. — DROGA! — Urrou, quase sem perceber o que fizera. A raiva corria veemente como um rio indomável em sua alma, um turbilhão de sentimentos sombrios que ecoava pelas profundezas de seu ser. Mei se sentia envolta em um manto de sombras, uma escuridão emocional da qual não conseguia se desvencilhar. Ela se sentia traidora, a guardiã que falhou.

Nesse momento a porta se abriu e, calmamente, uma figura se introduziu na sala em passos lentos e voz suave. — Senhora Assistente? — Era Shalltear que a chamava, a jovem auxiliar do gabinete, quem já há um tempo vinha operando como sua própria assistente. — Devo mandar buscar uma nova mesa? — Perguntou, seu olhar alternando apenas por alguns instantes entre a tábua partida e a mais velha.

— Seria ótimo — Mei respondeu, puxando fôlego. Olhou uma última vez para os destroços e sentiu uma nova pontada aguda de ódio. — Estou de saída — disse, em despedida, contornando os restos da mesa em direção a porta. A mais nova apenas deu um passo ao lado para liberar o caminho e curvou a cabeça em sinal de respeito enquanto a superior passava por ela.

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Luna

Meishu Mizukage

4/6/2023, 16:26

Seu destino era a floresta, um santuário verde e vivo que agora iria testemunhar a tempestade que crescia dentro de si. Era tarde, o Sol ainda ostentava seu brilho fulgente no firmamento. Os murmúrios dos ventos pareciam falar sobre seus pesares, as folhas dançavam ao sabor de suas angústias. Os troncos das árvores, retorcidos, pareciam entender sua dor, eles que também já haviam enfrentado tempestades e sobrevivido para contar histórias.

A culpa se enroscava em seu peito como uma serpente venenosa, suas presas cravadas em seu coração. Ela, que jurou o proteger, que jurou se manter ao lado dele como uma guardiã incansável, não estava lá quando ele mais precisou. A frustração se transformava em fúria, uma fúria tão incandescente que queimava seu interior. Ela caminhou, sem descanso, por horas a fio, sua mente repleta de imagens daquela inquietante revelação.

O peso em seu peito aumentava com cada passo, o ambiente ao redor tornando-se um reflexo de seu tumulto interior. Os raios solares perfuravam a copa das árvores, desenhando formas difusas e sombrias no solo coberto de folhas. Por quanto tempo estava caminhando? Não mais se lembrava. As roupas já estavam maculadas por suor e lama, rasgadas em diversas partes ao encontro de galhos.

De repente, um som quebrou o silêncio da floresta, um grunhido baixo e ameaçador. No limite de sua visão, uma forma corpulenta se movia. Um urso, grande e intimidante, maior que qualquer um que já havia testemunhado, emergiu das sombras, seus olhos ferozes encontrando os dela. Por um momento, o mundo pareceu parar. Ela podia ouvir o vento sussurrando entre as folhas, podia sentir o próprio coração pulsando violentamente em seu peito: embora nada tivesse a ver com medo.

O urso rugiu, um som ensurdecedor que ecoou por todo o vale. Avançou na direção dela, seu corpo imenso movendo-se com uma velocidade surpreendente para o tamanho. Seu olhar estava fixo no dela, a ameaça em seus olhos era palpável. Mas, ao invés de recuar, ela permaneceu imovél. O momento parecia esticado, como se cada segundo fosse uma eternidade.

Como um vulcão adormecido despertando, o poder de Shukaku começou a despertar dentro dela, ressoando com sua raiva primitiva, ainda em forma parcial, mas perceptível. Seu corpo começou a mudar, o areal começou a surgir ao redor dela, formando uma carapaça de proteção. Toda a metade direita de seu corpo havia sido tomada, coberta pela areia e pelas marcas do juinjutsu da Besta.

O urso estava perto agora, sua forma preenchendo completamente a visão de Mei. O grito que escapou de seus lábios era tudo, menos humano. Feral. O urso avançava, e ela fez o mesmo, golpeando-o com a destra transmutada, acertando o animal em cheio no rosto. As longas garras de areia rasgaram a carne, dilacerando-o da face até o final do quadril, expondo todo o conteúdo viscoso de carne, gordura e o que mais havia ali dentro. O cheiro de sangue chegava até suas narinas e a embevecia. Um novo rugido para a carcaça morta, e a areia se alastrava mais para a metade esquerda de seu semblante. Como já ocorreu várias vezes antes, a confluência dos sentimentos negativos de ambos se misturavam, tornando Ogosho Mei e Shukaku uma só mente.

Então, um movimento às suas costas. Instintivamente a Besta golpeou com a cauda materializada, acertando alguma coisa que se aproximava e que gritou ao impacto. Virou-se, encontrando a garota que fora jogada violentamente contra o tronco de uma das árvores. — M-Mei-sama…? — Shalltear a chamou, sua voz adulterada pela dor. Sangue escorria pela sua cabeça. A Besta a fitou, seus olhos metade humano, metade Demônio.

Então atacou.

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Meishu Mizukage

4/6/2023, 18:34

No exato instante em que Mei avançava, pronta para desferir um golpe mortal contra a garota, que por sua vez fechou os olhos à espera da sentença, sentiu algo se enroscar ao redor do seu corpo, impedindo seu avanço. Olhou para baixo e viu faixas fortes e resistentes, agarrando-se a ela, puxando-a para trás. Seu olhar seguiu as mesmas até um homem alto e corpulento, envolto em um longo manto com um capuz que escondia sua face. A surpresa durou apenas um instante, logo substituída pela fúria. Fúria por ser interrompida, por ser impedida. Não estava mais pensando como Ogosho Mei. Queria apenas golpear tudo que estava ao alcance de suas garras, dilacerar qualquer coisa que se aproximasse.

Sem perder tempo, a criatura virou-se para o estranho, a ira pulsando em seus olhos. Em resposta, ele puxou as faixas, aprofundando seu aperto, puxando-a para mais longe de Shalltear. Mas a Besta resistiu, a areia ao redor dela fervendo, quase brilhando com a intensidade de sua raiva. E assim, a batalha começou.

Avançou em direção ao estranho, as garras de areia estendidas, prontas para atacar. Mas o homem se manteve firme, as faixas, também engenhosamente enroladas nas árvores, se contraindo ao redor dela, puxando-a para trás, apenas para serem rompidas pelo golpe feroz da garota.

As árvores ao redor se transformaram em um campo de batalha, cada uma sendo usada como plataforma, escudo e arma conforme a luta se desenrolava. Saltavam de galho em galho, os golpes de Mei fazendo a madeira tremer e estalar, as faixas do homem se enrolando em troncos e galhos, buscando puxar Mei de volta a cada investida. Por vezes a besta se libertava, e outras, o homem se esquivava dos ataques ferozes.

O dano ao ambiente era extenso, árvores tombando, a vegetação sendo pisoteada, a terra se tornando um campo de guerra em miniatura. Cada impacto, cada golpe, acentuava a destruição ao redor, a floresta tornando-se uma testemunha silenciosa da batalha.

E então, algo mudou. Com cada movimento, cada golpe trocado, Mei podia sentir seu corpo se desgastando. A exaustão se infiltrava, um veneno sutil que roubava a força de suas pernas, a agilidade de seus movimentos. Mas sua raiva se manteve inabalável, mesmo quando a areia em volta dela começou a se soltar, revelando mais de sua forma humana. Seu corpo chegava ao limite, e mesmo assim ela ia além. Alimentada pela raiva e angústia que sentia, seu corpo se recusava a desistir.

Eventualmente, Mei estava exausta. Seus ataques eram mais lentos, seus movimentos menos coordenados. Mas ela não desistiu. Com um último suspiro de fúria, avançou contra o homem, empurrando-o contra uma árvore. Ele estava encurralado, mas, estranhamente, ela não podia ver surpresa ou medo em seus olhos.
Na verdade, o que ela viu foi um brilho rubro-negro refletindo seu rosto betial.

Nesse momento, o capuz dele caiu, revelando sua identidade. O Demônio ficou imóvel, o choque se sobrepondo à sua fúria. A areia começou a se soltar de seu corpo, caindo no chão em um fluxo contínuo. Seus olhos ardiam como se estivessme queimando em brasa. A expressão em seu rosto era de pura incredulidade quando ela murmurou, quase inaudível: — Eu matei você...

O homem olhou para ela, um sorriso cansado e satisfeito em seus lábios. — É, eu acho que matou. Olá, filha.

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Luna

Meishu Mizukage

4/6/2023, 21:07

Com um brado, um novo pico de raiva acometeu Mei, canalizando-se em um soco poderoso dirigido ao rosto de Yhwach. O punho dela se movia com a fúria de um meteoro, mas antes que pudesse atingir o alvo, a mão grande e forte dele agarrou o punho dela no ar, detendo o avanço. Os olhos dos dois se encontraram em um embate silencioso, ele exalando uma calma profunda em contraste com a tempestade de fúria que rugia nos olhos de Mei. Ela continuou a forçar, indo além dos limites da própria resistência, empurrando contra a mão de Yhwach, que resistia com a mesma intensidade. Sob a pressão de sua luta, o chão entre eles começou a vibrar, tremendo como se a própria terra estivesse sentindo o peso da tensão que existia ali.

A raiva que brotava em Mei era como um vulcão em erupção, alimentada pelos segredos obscuros que Yhwach manteve ocultos por tanto tempo - a verdadeira identidade do Clã Ogosho, o legado Uchiha que lhes pertencia, e o fato dele estar vivo todos aqueles anos e manter isso também em segredo. O Sharingan, agora totalmente despertado e resplandecente em seus olhos, refletia todo o turbilhão de emoções em seu interior. Mesmo com o despertar completo do doujutsu, ativado pela visão de Yhwach, a intensidade do conflito não diminuiu - pelo contrário, a raiva de Mei se intensificou. Porém, a tensão foi rompida pela voz calma e serena de Yhwach. — Podemos continuar com isso o tempo que preferir, filha, mas eu acho que a garota não vai durar muito tempo sem tratamento — Ele fez uma pausa, olhando na direção de Shalltear, que estava desamparada e machucada. O comentário fez a raiva de Mei vacilar, a preocupação pela garota emergindo no meio do caos.

A menção a Shalltear abriu a comporta para um fluxo de culpa em Mei. O furor que uma vez governou cada fibra de seu ser era agora substituído pela angústia de suas ações impensadas. Imagens vívidas de seu ataque à jovem assistente inundaram sua mente, tornando difícil respirar. Ela se virou para Shalltear, a expressão antes feroz agora banhada em preocupação. Suas pernas a moveram quase que automaticamente em direção à garota, ajoelhando-se ao seu lado, os olhos ansiosos analisando o quão grave eram seus ferimentos.

Havia ossos quebrados, um fluxo constante de sangue que manchava a lateral do rosto da menor, mas a perícia médica de Mei era insuficiente. Sentia-se impotente, e esse sentimento a rasgava por dentro. Foi quando Yhwach se aproximou, o semblante calmo como a superfície de um lago. Ele se ajoelhou ao lado de Shalltear, colocando a mão sobre a testa dela. Em um instante, um brilho suave irradiou de suas mãos, o fluxo de chakra médico aliviando o sofrimento da garota.

Mei observava, o alívio e a gratidão misturados ao remorso que ainda persistia. Eles ficaram em silêncio por um tempo, apenas o som dos pássaros e do vento preenchendo o espaço entre eles enquanto o homem trabalhava.

— Eu matei você — a repetição escorregou pelos lábios de Mei, a voz baixa quase se perdendo na brisa.

Yhwach suspirou, seus olhos ainda estavam focados em Shalltear. — Se quer saber como eu estou aqui, eu também não sei. Só sei que morri naquele dia, disso tenho certeza.

— E quando foi que você… voltou? — O tom era suave, mais triste do que furioso.

Yhwach não respondeu de imediato, apenas deixando um silêncio pesar entre eles. — Três anos — disse por fim, em tom calculado. Os olhos de Mei primeiro se arregalaram, então voltaram a se estreitar.

— E só agora resolveu aparecer? — Rosnou. A raiva voltava a crescer em si. E os olhos de Yhwach não ajudavam em nada para amenizar o que sentia. — E nunca pensou em me contar sobre isso durante a primeira vida? — Falou, apontando para os próprios. Eram graças a eles que ela sabia que aquele era seu pai, e não um impostor.

— Não até que estivesse pronta — falou, simplesmente.

— E quem é você para decidir quando eu estou pronta para alguma coisa?! — Ficou em pé, fechando os punhos. A areia voltava a se agitar ao seu redor.

Yhwach suspirou, ainda sem tirar os olhos de sua paciente. — Eu sou seu pai, Mei. E só queria fazer o que achava que era melhor para você. — Havia uma sinceridade em sua voz, protegida sob uma melodia triste, mas, para Mei, só parecia outro segredo escondido. Ela abriu a boca para retomar a fala, mas neste momento a pequena gemeu com uma pontada de dor. Sua respiração havia normalizado, mas ainda estava desacordada. — É o máximo que posso fazer aqui. Leve-a de volta a Kirigakure, direto para o hospital. É uma viagem bastante longa, principalmente após tudo que ocorreu. Acha que consegue?

Ela recebeu a pergunta quase como um insulto.
— Obviamente. Ademais, sinto como se meu corpo tivesse muito mais energia. E quanto a você?

— Me encontre daqui três dias. Há uma antiga cabana de caça não muito longe dos muros. Estarei lá te esperando.

Ela permaneceu o encarando. Não tinha certeza de suas palavras. Não tinha certeza se podia confiar nele. E como poderia? Mas seu olhar recaiu novamente sobre Shalltear, a culpa voltando a apertar seu coração. Lançou um último olhar para Yhwach e um aceno positivo que aceitava o acordo, então recolheu a garota com cuidado em seus braços e partiu de volta para a vila o mais rápido que suas pernas permitiam.

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Moderador

4/6/2023, 21:27

doneAprovado

Resistente igual um elefante despertando o sharingan.

Aquisição da qualidade Grande Durabilidade (02) e despertar do Sharingan

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