Em um tempo antigo, quando as fronteiras não tinham sido estabelecidos por forças militares presentes atualmente, um clã surgiu no meio da floresta, guiados pelos espíritos dos antigos, escolhendo a reclusão ao se misturarem com os ensinamentos da “modernidade”. Eles, vistos pelo mundo inteiro como Elfos, chamaram a si mesmos de Greys, construindo para si um grande paraíso em meio as florestas, dando a ela o nome de Silvermoon. Conhecidos pela sabedoria milenar e pelo poder que adquirem conforme vão se tornando mais experientes e sobrevivem ao passar das gerações, os Greys se tornaram mais sábios, detentores de conhecimentos ocultos as Grandes Nações, e, com isso, ficaram arrogantes, não se misturando com os outros clãs por acreditarem que eram inferiores.

O castigo dos deuses, se pudesse ser chamado assim, veio após uma jovem do clã oferecer as almas dos seus próprios familiares ao submundo em troca de mais poder. Seu ato ganancioso gerou uma divisão entre os membros dos clã em dois Caminhos: o Caminho da Luz e os das Trevas. Os dois lados passaram a se odiar por gerações, travando uma guerra fria que os impediam de progredir e se espalharem pelo mundo, tornando-se seres introvertidos, inseguros e alienados, até mesmo uns com os outros. O ódio entre os clãs era tão grande que dificilmente eles conseguiam estar sob o mesmo espaço sem que houvesse ofensas ou acusações levianas. Toda essa rixa levava algumas famílias a atos de extremismo, com muitos sendo perseguidos por fazerem parte de um Caminho. Por mais que o governo de Silvermoon ocultasse alguns casos, haviam relatos de linhagens sendo destruídas e até mesmo crianças que eram abandonadas ainda bebês em becos e templos para não serem vítimas desse ciclo de ódio.

Assim começou a história de um bebê que, ao chorar clamando por ajuda no beco em um dia extremamente chuvoso, foi ouvido por uma jovem Elfa que estava voltando para casa. Ela, uma Grey da Luz, não podia dizer de qual caminho ele era, mas para aquela moça, aquilo não importava. Tudo o que ela via era um bebê precisando de amor e cuidado. Decidida a cuidar daquele menino, ela o levou para casa e decidiu adotá-lo como seu filho, por mais que seu marido contrariasse a ideia, pois já tinham um filho. Deu a ele o nome de Nathaniel, cujo nome significa “Presente de Deus”.  Guiados pela oportunidade de crescimento econômico em um país estrangeiro, Solomon e Elleanor Grey se mudaram para Konoha, onde tiveram que se acostumar a viver com o preconceito por serem diferentes, mas para o jovem Nate, sua penitência foi duas vezes pior, pois conforme foi crescendo, ele dava todos os indícios de que trilharia o famigerado Caminho das Trevas.

Para conter a sua verdadeira natureza e evitar expor os seus irmãos ao caminho contrário ao da sua linhagem, Solomon passou a agredir fisicamente Nathaniel toda vez que ele dava indícios de seu comportamento considerado errático, levando-o para o porão e o chicoteando até que os seus braços cansasse. Elleanor não conseguia aceitar isso, mas no final, era oprimida pelo próprio marido, que a condenava por adotar alguém que não compartilhava do mesmo caminho que eles. Como se não bastasse isso, os filhos dos vizinhos o zoava constantemente e o seu irmão adotivo, Abraham, acabou usando-o como bode expiatório para escapar do seu próprio destino. Porém, mesmo oprimido por todas as circunstâncias do mundo, ele prosseguiu no seu caminho, aprendendo a lidar com a sua própria força, ainda que não conseguisse aceitar o seu verdadeiro destino.

Os anos se passaram, e Nathaniel conseguiu, por um longo tempo, suprimir o poder oculto dentro de si, dedicando-se as diversas artes cênicas e a música, desistindo de aprimorar as suas habilidades naturais. Para ele, ser um ninja era como ser uma aberração, e ele queria viver pela paz. Porém, tempos sinistros se abateram sobre as Grandes Nações, desde as guerras entre as nações, como a ascensão do Jashinismo. O mundo passou por uma grande transformação quando metade do planeta foi morto, e as pessoas se tornaram mais duras umas com as outras, e as maiores qualidades de Nathaniel passaram a ser vistas como uma fraqueza: se ele não conseguia proteger a si e aos outros, ele era inútil. Isso fez com que Nathaniel sofresse grandes rejeições, não só da família e amigos, mas de um amor não correspondido que o deixou fragilizado e confuso.

Quando sua vida parecia se encaminhar para um fim trágico, Nathaniel desafiou a si mesmo a evoluir e buscar uma resposta para todas as perguntas que o perseguiram a vida inteira. Ele então passou a treinar incessantemente até tornar-se um shinobi minimamente qualificado para realizar missões ao redor de Konoha. O resultado do seu treino e das experiências adquiridas foi que aumentou a sua determinação em provar o seu valor para si mesmo, fazendo novos amigos e impondo-se diante dos seus desafetos. Conforme a sua reputação ia crescendo aos poucos, Nate ia enfrentando desafios ao redor do mundo, tendo a sua força reconhecida não só pelos companheiros mais próximos, mas também por autoridades de todo o mundo, como Uchiha Yohma e Allannia Grey, sua prima do Caminho da Luz, que no início o odiava, por conta do legado de ódio do clã. Todas essas experiências o fizeram crescer como um homem, o preparando para o momento em que ele cumpriria com o seu destino.

Das várias aventuras vividas por Nathaniel, uma se tornou marcante: o momento em que conheceu seu parente distante Erasmus, do Caminho das Trevas, e, tempos depois, foi até ele através de sua amiga Ravenna. Após um ritual sagrado da sua ramificação, o homem sábio ensinou a Nate o caminho para acessar a Energia do Caos, o poder supremo do clã. A lenda dizia que para atingir esse poder, o Grey deveria encontrar o equilíbrio entre a luz e as trevas. Após uma árdua meditação, onde encontrou-se consigo mesmo, o jovem carteiro conseguiu acessar a sua luz interior, liberando o poder do Caos. A partir dali, ele abraçou a missão de vida de Erasmus de unir os dois caminhos do Clã, uma ideia utópica para aqueles tempos tão sombrios.

Tempos depois ao seu despertar, Azshara Grey, uma figura poderosa e controversa do seu clã, revelou-se e buscou trazer a destruição para esse mundo, usando de todos os seus artifícios e seus exércitos para derrotar qualquer um que entrasse em seu caminho. Uma grande Expedição foi convocada por Hyuuga Angell, Hikari Opus, Uchiha Hakurei, Katsura Grey e Hikari Opus para encontrarem o homem que poderia ajudá-los a derrotar a vilã, e Nathaniel se juntou a esse grupo tão improvável. E foi nos portões de Silvermoon que ele, num ato de extrema coragem, resolveu bater de frente com os oligarcas do seu clã, mesmo sendo julgado como uma mancha no legado do clã, mas tudo o que ouviu foi respostas vazias.

Levado para o mais sombrio campo de batalha, longe de tudo e de todos, Nathaniel se viu diante dos inimigos mais formidáveis que já tinha enfrentado em sua vida, sendo forçado a ir até o limite para provar o seu valor e vencer, junto a aquela grande aliança de shinobis condecorados do mundo inteiro, aqueles seres imortais. O resultado daquela luta foi uma enorme vitória, que gerou consequências gigantescas naquele mundo. Diferente de todas as s missões anteriores, os seus feitos ecoaram por todo o mundo, recebendo uma alcunha que entraria para a história.


O Sol estava se pondo quando um mensageiro entrou correndo em Silvermoon avisando a todos que via pela rua que Nathaniel Grey, o Escolhido, se aproximava dos portões da cidade. Soavam as trombetas, as pessoas batiam de porta em porta para avisarem sobre a chegada do grande guerreiro. Ele, o bebê abandonado em um beco escuro naquelas ruas, aquele que tinha sofrido com as piores mazelas do mundo, traído pelo próprio irmão, aquele que teve o seu coração partido e suas esperanças despedaçadas, agora retornava ao seu antigo lar como um grande herói, rei sobre si mesmo. Em sua mão esquerda, carregava a Seigi no Hanma, símbolo de poder dos Hikaris. As ruas estavam lotadas e todos queriam vê-lo, mas ninguém se aproximava muito, espremendo-se. Cada vez que adentrava na cidade, as pessoas ao redor curvaram os seus troncos em sinal de respeito, enquanto o Grey caminhava em passos lentos, observando o caminho a sua frente se abrir.

A multidão o seguiu até a praça no centro de Silvermoon, onde os oligarcas da vila pareciam aguardá-lo. Ao olhar para a sua esquerda, pode ver os rostos de Erasmus e Ravenna junto aos Greys das Trevas. A garota ruiva estava com os olhos brilhando, e o seu mestre estava incrédulo e orgulhoso ao mesmo tempo. Depois disso, ele virou o rosto para a sua direita, vendo a sua família adotiva reunidos com os elfos do Caminho da Luz. Elleanor chorava de emoção, abraçando a sua irmã, que também estava em lágrimas, enquanto Solomon permanecia com a cara fechada. Abraham parecia respirar de forma ofegante, fechando as mãos. Mesmo não sendo bom com interações, reconhecia a raiva do irmão adotivo, pois já a tinha testemunhado milhares de vezes. Mas nada daquilo importava mais: Nathaniel Grey não tinha mais inimigos. Também viu Anastasia, aquela que ele conheceu em Kiri, mas ela não esboçava reação nenhuma.

Ao olhar nos olhos dos oligarcas, principalmente no homem que dizia que ele tinha maculado o sobrenome do clã, Nathaniel estendeu a Seigi no Hanma, espantando aqueles homens, mantendo com a postura irredutível. Os mais antigos sabiam que aquele martelo pertencia aos Hikaris, e que somente aqueles que, segundo eles, fossem dignos poderiam carregar aquele item. Os oligarcas trocaram olhares por alguns instantes, e então curvaram-se em um gesto respeitoso ao Escolhido, deixando aquele homem de cabelo loiro boquiaberto. Ele virou-se para Nate e o olhou nos olhos por alguns segundos, e então fez o mesmo cumprimento, para o desespero de alguns e a alegria de outros. Com um único gesto com a mão direita, Nathaniel alterou a percepção do espaço entre eles, criando uma grande nuvem no céu que se iluminou com um pássaro de fogo gigante dentro dela batendo as suas asas e produzindo um grande som, desaparecendo subitamente. Ele tinha a atenção de todos.

── Por muitos anos, o ódio que carregamos uns pelos outros gerou muitas perdas desnecessárias. Nós vivemos nos evitando durante anos, nos odiando, tramando armadilhas para nos derrubar. No fim das contas, os únicos que perdem somos nós, vítimas de um sistema que define o que devemos pensar e sentir. Faz uns dias que estive nestes portões, clamando pelo fim deste sistema, mas tudo o que ouvi foram os mesmos discursos conservadores que não deveriam mais existir. Pois eu acredito que nada disso é verdade, e sei que muitos de vocês pensam igual a mim, mesmo não tendo coragem de admitir. Mas vocês podem e devem levantar as suas vozes para dizerem o que pensam! ── ele caminhava de um lado para o outro com passos bem lentos, olhando nos olhos do povo, vez ou outra para os oligarcas. ── Eu fui vítima do ódio que cultivamos uns contra os outros durante minha vida inteira. Meu irmão adotivo tramou muitas coisas ruins contra mim, e meu pai, bem… Ele me punia por eu ser quem eu sou. Eu passei a vida inteira odiando eles, mas hoje… Hoje eu não os odeio mais. ── aquelas palavras fez Elleanor chorar cada vez mais, mas de felicidade. ── Eu não os odeio porque eu entendo que eles foram alienados pelos antigos conceitos dos Greys. Vocês podem achar essa rixa normal, mas eu digo a vocês que minha irmã caçula, Rachel… Ela sempre me amou como o seu irmão mais velho. Sabem por que? Porque não ensinaram ela a odiar, porque esse legado de divisão é uma construção social! Ninguém nasce odiando as pessoas pelo caminho que elas percorrem, pela cor da pele, pela religião, pela orientação sexual! Você aprende isso e toma para si esse sentimento tóxico que contamina você a todos ao seu redor! Eu não julgo os antepassados ou os oligarcas que dizem que as coisas são assim, mas se querem uma prova de que as nossas crenças estão erradas, ela está aqui. ── ele mostrou para todos a Seigi no Hanma na sua mão. ── Esse é o Martelo da Luz, a arma lendária dos Hikaris, forjada em uma estrela, entregue somente aos Hikaris que demonstrem ser dignos de carregá-lo. Essa arma pertenceu a Hikari Opus, depois a Hyuuga Angell, depois Hattori Shion e agora, ela pertence a um Grey. Na primeira vez que tentei carregá-lo para mim, ela não se moveu um centímetro, mas tempos depois, Hattori Shion concedeu ela a mim, com um propósito, aquele que me trouxe até aqui, de trazer uma mensagem ao povo de Silvermoon. ── ele parou e encarou a multidão. ── A divisão entre os Greys deve acabar, e o sistema que nos divide deve ser destruído! Se Katsura estivesse entre nós, eu tenho certeza de que ela pensaria da mesma forma. Eu sei que a revolução não acontecerá da noite para o dia, e que muitos irão resistir a mudança, mas um grande homem me disse que os rótulos impostos pela sociedade não são os que nos definem, e que eles são usados por aqueles que temem a mudança. Mas se você acredita nas minhas palavras, vamos juntos destruir o muro que nos separa e, juntos, construiremos a ponte que unirá os dois caminhos para sempre! ── e assim, ele terminou o seu discurso.

Houve um silêncio que rondou todo aquele ambiente. A mãe de Nathaniel deu o primeiro passo, caminhando em direção a Ravenna, uma Grey das Trevas, atravessando a praça e sendo vista por todas as pessoas ali, ficando na sua frente e segurando as suas mãos, apertando-as, e depois olhando para Erasmus Grey. ── Obrigado por guiarem o meu filho a se tornar um grande homem. ── agradeceu, abraçando a menina, que ficou emocionada. A partir dali, algumas pessoas, independente de qual caminho fossem, passaram a interagir umas com as outras. Nem todos concordavam com as ideias de Nathaniel de primeira, então apenas se retiravam, como Abraham fazia, mas uma parte, principalmente os mais jovens, absorviam a ideia do Escolhido. Naquele dia, usando da influência que tinha adquirido, Nathaniel começava a construir a ponte que uniria os Greys. Rachel, tocada pelas palavras do irmão, correu para abraçá-lo, e ele sorriu ao retribuir o gesto. ── Você foi incrível! ── ela sussurrou, até que Eleanor apareceu na sua frente, segurando o rosto dele com as duas mãos, com os olhos marejados. ── Meu menino se tornou um grande homem. ── disse em lágrimas. ── Graças a senhora. ── o carteiro respondeu, abraçando a mãe.

Por mais que se imaginasse que o rapaz fosse passar um longo tempo em Silvermoon, ele tinha outros planos. Depois de algumas horas conversando com algumas pessoas próximas, Nathaniel retornaria para Konoha com a sua família, ou parte dela.