Minhas ultimas aventuras dentro do hospital de Konohagakure no Sato me trouxeram uma melhor compreensão da rotina médica, além de um grande aprendizado do nosso próprio corpo. A rotina exaustiva me chamou a atenção, ao mesmo tempo que se tornava extremamente gratificante por proporcionar a melhora da saúde de outras pessoas. Ajudar estava no meu sangue. Nesta hora da manhã, meu estomago roncava por uma refeição mais pesada e gordurosa, e não poderia ir atrás de nada menos saboroso do que alguns pasteiszinhos fritos. Me vesti como de costume, levando algumas balas para degustar durante o dia, mas assim que sai de minha casa, uma figura importante e familiar apareceu. — Yuri? Está de saída? — Aquela voz doce e educada me causou um arrepio enquanto eu trancava a porta. Me virei rapidamente e sorri ao ver que era Yuumi, a enfermeira que havia me guiado dentro do hospital. Mas havia algo diferente nela, seus cabelos estavam soltos, e a luz do sol faziam cada fio parecer uma labareda alaranjada, seus olhos levemente rosados, e um curto vestido branco. — Algum problema, viu uma fantasma? Hahaha — Ela brincou, tocando meu ombro. — N-não, é que você está diferente... Er, bom dia! Hahaha — Minhas bochechas estavam mais rubras do que pimenta. — Não achou que eu andava por ai de jaleco e touquinha né? Estou de folga hoje, mas vim trazer um pedido para você. Sei como é bem animado e acho que vai se dar bem nisso. Estamos com estes dois pacientes em um estado depressivo... é diferente dos casos que vimos dentro do hospital, como machucados físicos. Estes são tão grave quanto, até pior. O que acha de fazer uma visita para essas pessoas? Garanto que vai se dar muito bem.  — Yuumi retirou um pergaminho de sua bolsa, e nele continha o nome e o endereço das pessoas.

Ainda timido, aceitei, recolhendo e lendo o pergaminho. — Eu... eu vou ir sim, vai ser muito bom. A-a-apareça mais vezes, Yuumi. — Agora todo meu rosto estava quente e rubro. — Não tenho muitos dias de folga, mas vamos nos falando. — Ela respondeu enquanto se despedia. Aquela resposta me trouxe uma esperança que eu não deveria alimentar, mas era inevitável. — Karin... OK, espero que você goste de pastel, KARIN! — Sorri e caminhei alegremente até a barraca de pasteis no centro do vilarejo. — Fala aê Ling! Me vê três de carne com queijo e dois de frango pro meu café da manhã! Ah, mais dois de carne com queijo para a viagem, por favor. — Me sentei na bancadinha redonda, enquanto observava o pastel ser frito na hora. O cheiro do óleo reutilizado a mais de dois dias era o charme da barraca. Comi até me encher, levando os dois para viagem até a casa da Karin. Toquei a campainha, e a partir daquele momento precisava dar tudo de mim.

Não demorei para chegar na porta da casa de Karin. A grande entrada de madeira era bastante chamativa, e ao julgar pela arquitetura do local sua família deveria ser bastante rica. Eu não conhecia o luxo, apesar de nunca ter passado algum tipo de necessidade, mas sempre me surpreendia com as grandes construções em madeira. — Uooou... — Estava boquiaberto antes de tocar a companhia, e um pouco tímido por trazer algo tão simples como pasteis. A porta se abriu lentamente, sem nenhum tipo de rangido das dobradiças, e um homem elegantemente trajado me atendeu com um sorriso ríspido em seu rosto. — O que deseja? — Seu olhos me olharam do maior fio do meu cabelo até a sola dos pés, retornando como se me analisasse por completo. — E-Eu, eu vim a pedido do hospital para encontrar com a Karin, ela mora aqui não mora? Meu nome é Yuri Akimichi! — Me apresentei, curvando suavemente o tronco em respeito. — Daquela família de gor... Senhorita Karin? Não deveria sair da cama.. — O mordomo olhou por cima de seus ombros ao perceber que Karin havia ido até a porta. — Yuri? Eu estava esperando por você mesmo! Deixe que ele entre logo Kio. — A gentileza no tom de voz da garota era semelhante a doçura de Yuumi, e fazia o semblante ríspido de Kio se quebrar completamente, escondendo seu descontentamento com um sorriso no rosto. — Seja bem-vindo, Yuri. — Ele terminou de abrir a porta por completo e deu espaço para que eu pudesse entrar. — Obrigado, Kio. — Agradeci e dei meus primeiros passos dentro daquela casa enorme.

— K-Karin, eu trouxe algo... assim, eu gosto muito, então pensei que iria gostar também. — Abriu o embrulho nada atrativo, mas o cheiro dos pasteis perfumou o ar e chamou atenção da garota, mas ao mesmo tempo de Kio. — Senhorita Karin, não deveria comer is... — Kio se aproximava tentando tomar o envelope, mas desviei minha mão rapidamente enquanto Karin intervia. — PASTEIS?! Kio nunca me deixou prova-los mas sempre admirei as barraquinhas. Obrigada, Yuri! Vamos experimentar agora! — Karin tomou minha destra e pude sentir a fraqueza em seu punho, mas deixei meu corpo ser levado, caminhando em seu ritmo pra facilitar. Ela provou a iguaria e seus olhos brilharam, mas não comeu muito, devido a limitações de sua saúde. — Muito bom, muito bom! — Ela comemorou e tocou minha mão novamente. — É verdade que você é um Shinobi? Da pra ver pela bandana mas... eu queria ver as coisas que vocês fazem. Pode me mostrar um pouco? — Ela parecia entusiasmada com a minha presença, e isso encheu meu peito de orgulho. — Claro, tem um espaço para eu mostrar? — Perguntei, idealizando o que iria fazer. Karin me puxou até os fundos da casa, com um enorme quintal de grama e uma larga piscina. — Certo, tive uma ideia. Preste atenção! — Respirei fundo e me concentrei, tanto na forma quanto em meu chakra, tocando o solo com gosto e pronunciando o nome da técnica — Doton: Doryūheki! — Uma pequena parede de terra se levantou, fechei meus olhos e me concentrei em detalhes na mesma, formando por toda ela pequenas elevações em forma de pasteis.

Suspirei e observei a formação daquela parede logo a minha frente, abrindo um sorriso de canto ao perceber que os pequenos detalhes em forma de pasteis estava fixo, mesmo que alguns ainda fossem imperfeitos. Com certeza a pratica me deixaria melhor naquilo, mas não era a função principal daquela técnica. Karin estava sorridente, e isso enchia meu coração de orgulho, indo até ela para observar melhor minha obra. — Gostou?! Hahaha, posso fazer um milhão dessas com desenhos diferentes! — Me gabei, aumentando, e muito, a quantia de paredes que conseguia levantar naquele momento, principalmente com a quantidade de desenhos. — Hahaha, então você é muito forte! Consegue fazer... hm... gatos? Eu amo gatos, tenta? Poooooor favooooorzinhooo! — Karin se apoiou em meu ombro, puxando levemente o tecido da minha roupa. Fiquei tímido, com as bochechas rubras e quentes, mas já não iria conseguir desviar o assunto. — Eu nunca tentei, mas não deve ser tão complicado. Vou tentar, me de todo seu apoio! — Suspirei. Levei uma bala até minha boca para deixar meu vicio saciado, ao mesmo tempo que livrava minha mente de quaisquer barreiras. Concentrando minha mente e meu corpo no fluxo do meu chakra e na forma que eu desejava para o meu elemento, bastava cava-lo do solo com o meu poder.

Todos meus músculos, cobertos por uma grossa capa de tecido adiposo, se contraíram quando minhas mãos tocaram o solo e meu olhar se fechou, criando um semblante quase enfurecido. — Vamos lá... gatinhos!! — Gritei, deixando que meu chakra fluísse do meu corpo para a terra, até finalmente a parede se erguer. Minha mente, para os gatos, não era tão fiel ao animal como era fiel para os pasteis. Alguns saiam tortos, outros incompletos, alguns mal conseguiam sair das orelhas. O resultado da técnica era uma clara necessidade de melhorar meu controle sobre o elemento, e melhorar ainda mais minha criatividade e trabalho mental. Mesmo com os erros, o sorriso de Karin estava evidente, seus olhos brilhavam e suas pernas frágeis se moviam para chegar perto da parede. — Uaaaau, ficou lindo! Podemos deixar ai? — Animada, ela perguntou, enquanto segurei seu braço para ajuda-la a se aproximar. — Acho que vai se desfazer... Mas... mas eu posso vir fazer outras quando eu ficar melhor, cada vez mais bonitas. — Sorri de volta. Karin se soltou e se encostou na parede, acariciando as orelhas de uma das figuras de gato. — Mesmo? — Ela não olhou nos meus olhos, tinha um olhar escondido de tristeza. — Mesmo. — Respondi com firmeza.

Kio observava de longe a felicidade de Karin, tentando ignorar o fato de um terceiro estar intervindo para que aquilo ocorresse. Karin aos poucos não conseguia mais esconder o cansaço que tomava seu corpo, devido ao seu atual estado de saúde, o mesmo que havia causado sua depressão. Apoiada na parede, ela me chamou com as mãos. — Yuri... pode me ajudar? — Sua voz soava cansada, então a segurei por baixo de seu braço enquanto caminhávamos para sua casa. Kio acelerou seus passos e também ajudou. — Precisa se deitar um pouco, Senhorita Karin. Irei preparar seus medicamentos e a cama. — Kio tomava o controle, me afastando discretamente com seu corpo. — Yuri, venha com a gente.. — Karin pedia, deixando um sorriso de desgosto sair do rosto de seu mordomo. Por fim, Kio preparou os medicamentos da garota e a deitou na cama. Sentei no pé do móvel, observando o olhar sonolento da mesma. — K-Kio... mamãe e papai tinham alguns livros dos ninjas, não tinham? E-eu me lembro de ter visto alguns... d-de um para o Yuri de presente, por favor. — O efeito dos medicamentos trazia uma enorme sonolência para Karin, que logo caia em um sono profundo. Kio suspirou. — Sim, Senhorita. Me siga, Akimichi. — Me levantei e segui o mordomo até uma grande biblioteca. O homem foi rápido em escolher um dos livros, não fazendo de maneira aleatória. — Faz tempo que Karin não sorri daquele jeito. Por mais que eu reprove vocês shinobis, estou em débito. Com isso estou quitando a divida, obrigado. — Kio retirava um grande livro com o kanji do elemento da terra estampado na capa. — Os pais de Karin eram grandes ninjas, antes de falecerem em combate e a garota adoecer. Sou a única família dela... por isso preciso ter todo cuidado necessário. — Havia tristeza no tom de voz de Kio. — Obrigado, Kio. Eu irei me tornar um grande médico um dia... e vou achar uma cura para a doença da Karin! Cuide dela até lá! — Peguei o livro com um grande sorriso em meu rosto. Fomos até a saída da casa, e pela primeira vez o mordomo sorriu para mim, curvando levemente seu corpo em despedida. Ao cruzar a esquina da mansão, me sentei na calçada para ler novamente o pergaminho entregue por Yuumir. O próximo destino era a casa da Senhora Himiko, uma antiga moradora de Konoha, acometida por uma doença degenerativa que aos poucos a impede de fazer tarefas básicas do dia, e que logo a impossibilitará de sair da própria cama. Meu peito estava apertado ao ler seu caso, precisei suspirar, comer uma de minhas balas e partir dali, rumando para os bairros ao sul do vilarejo enquanto folhava o livro sobre o domínio do Doton.

— Capitulo Três - Pericia Elemental: Controlando o Elemento Terra. É de conhecimento geral no meio shinobi de que o Elemento Terra é um dos mais versáteis elementos para a defesa, com um vasto leque de possibilidades para ser utilizado, sendo até mesmo possível utiliza-lo em forma de lama. Bons usuários deste elemento são capazes de produzi-los sem uma fonte pré-existente no ambiente, por mais vasto que as fontes desse elemento sejam no mundo. Shinobis com um bom controle de seu chakra, e um bom conhecimento a cerca do estudo do ninjutsu, são capazes de realizarem pequenas alterações na forma de utilizar o elemento, não limitando sua utilização através de técnicas com funcionalidades especificas, o manipulando somente com sua criatividade. Desta forma, entende-se que o uso do Elemento Doton vem sendo estudado atraves do tempo para se tornar um dos elementos mais versáteis no meio ninja, tanto para o uso ofensivo, defensivo, e utilitário. Para mais detalhes com seu uso em combate, ler o Capitulo Cinco - Pericia Elemental: O Elemento Terra em Ataque. — Eu não conseguia ler sem me ouvir repetindo as palavras escritas, era a forma que eu julgava ser mais eficiente para memorizar o que estava escrito em livros e pergaminhos. Focado na leitura sobre o Doton, sequer notei que já estava próximo do bairro de Himiko, e o entardecer vinha com o alaranjado dos céus de Konohagakure no Sato. O sumiço do sol abaixava drasticamente a temperatura, fazendo meu corpo começar a sentir os primeiros calafrios e arrepios pela costa, e o gelado tomar a ponta de meus dedos. Por sorte, a casa de Himiko ficava a apenas algumas residências a frente. Me aproximei, batendo na porta com calma enquanto observava uma sombra se aproximar por trás da porta. — Sim? — Uma voz jovial e feminina me atendia. Sorri sem jeito, mostrando o pergaminho entregue por Yuumi. — Sou Akimichi Yuri, o hospital me enviou para passar um tempo com a Senhorita Himiko. — Gentilmente me apresentei, ouvindo uma risada rouca no logo atrás da jovem. — Se-Senhorita? Não me chamam assim tem pelo menos uns vinte anos, Shura. Hihihi, deixe esse garotinho entrar. — Himiko era uma senhora de idade que a muito tempo sofria de uma doença degenerativa, mesmo que o avanço da doença fosse levemente contido pelos medicamentos. O som da cadeira de rodas logo atrás da jovem me chamava atenção e eu entendia ainda melhor meu objetivo ali. Bastava seguir em frente e tornar a noite de Himiko a melhor possível.

Adentrei a casa de Himiko com a permissão da mesma e de sua filha. A pequena senhora de idade já havia perdido grande parte da força de suas pernas, obrigada e se movimentar apenas com uma cadeira de rodas. Dessa forma, estava bastante limitada em suas tarefas diárias, e sua filha não tinha total disponibilidade para ficar em sua casa o tempo todo, precisando sair para trabalhar naquele horário. — Cuide bem dela, ok? — A mais jovem sorriu enquanto saia da casa, me deixando com as chaves da porta. Quando a mesma se foi, Himiko me observava. — Você me lembra meu falecido marido quando éramos jovens. Eu o conheci a sessenta e cinco anos atrás, haha, venha, deixa eu te mostrar umas fotos. — Himiko tocou as rodas da cadeira e se virou, mas eu logo tomei a liberdade de ajuda-la a chegar até o local. Íamos para a sala, onde, em uma gaveta, peguei o álbum de fotos para ela. Sentei ao seu lado em uma cadeira, enquanto a mesma abria e apontava para as fotos. Himiko era uma bela jovem, muito parecida com a sua filha, e entre fotos do casamento, infância, em quase todas o falecido marido estava. — Uau, somos parecidos mesmo! — Sorri com a semelhança, principalmente no formato arredondado do rosto. — Ele era incrível mesmo. — Himiko fechou o álbum. Me levantei tocando em seu ombro. — O que acha de eu fazer um chá para a gente, posso? — Me ofereci para esquentar aquela noite fria. — Seria ótimo, querido. Tenho todo tipo de chá na cozinha, fique a vontade. — Fui até a cozinha com Himiko, que me mostrou uma infinidade de chás. Deixei o livro de estudos na mesa, aberto no próximo capitulo. A mulher, interessada em minha leitura, pegou o livro. — Está estudando? Posso ler para você se quiser. — E então ela começava enquanto eu preparava a bebida. — Capitulo Quatro - Pericia Elemental: Redução de Esforços. O Chakra, energia essencial para as técnicas mais básicas, presente em cada célula do corpo, pode ser moldado das formas mais eficientes possíveis. Shinobis versados no controle do Chakra e no estudo do ninjutsu são capazes de utilizar suas técnicas com um gasto de chakra menor do que o comum, sem perder nenhum potencial de seu. Hahaha, vocês ninjas falam difícil. — Brincou com os termos escritos no livro, mas continuou. — Concentrar-se em seu próprio fluxo de chakra é um tarefa árdua, mas que todos os ninjas devem fazer caso queiram manter suas reservas durante um combate, por exemplo. Estudos revelam que melhorar sua conexão com o elemento em questão fará com que suas técnicas mantenham a força, ou até se elevem, a um custo reduzido de chakra, ou um custo equilibrado. — Ela parou para respirar enquanto eu servia a xícara de chá. — Me conectar melhor com o elemento? Nunca pensei a respeito, mas faz sentido. — Respondi, esquecendo por um segundo que Himiko não era uma kunoichi. — Acredito que isso sirva para tudo em nossa vida... quanto mais nos conectarmos com as pessoas, menos cansativo e mais forte nossos laços se tornam. Hmm o cheiro está ótimo, Yukinho. — Digna de uma poesia, a resposta de Himiko me tirou um largo sorriso.

A servi uma boa xicara de chá quente, e me sentei próximo para tomar também. Enquanto bebericava do chá, fechei o livro por um tempo, para poder lidar melhor com minha responsabilidade naquele momento. Foi então que, ao deixar a xícara na porcelana de descanso, quebrei o breve silencio que se formou. — Me diga, Himiko, o que quer fazer hoje? — Perguntei com um sorriso no rosto, e me surpreendi com a lista de tarefas que Himiko precisaria de ajudar naquela noite. — Jantar, jardim, banho e cama. — Refleti, tentando colocar em ordem a prioridade do que deveria fazer. — Normalmente minha filha me ajuda com isso, mas hoje ela precisou trabalho a noite. — Himiko não pareceu muito contente em precisar de um estranho para ajuda-la, mas eu não retirei meu sorriso do rosto. — Está tudo bem! Pode deixar tudo comigo. — Sorri e me levantei, terminando o chá com uma bala açucarada. Fui para a geladeira e peguei alguns vegetais que eu conhecia, batatas e uma bela carne. Cortando-os, selando a carne, deixei tudo coberto por água e fechei a panela, para preparar um bom ensopado para a noite fria. Suspirei tentando preparar tudo da melhor maneira possível, já que minhas habilidades na cozinha não eram das melhores, sempre preferi estar na posição de quem aguardava o jantar ficar pronto.

Servi a Senhora Himiko, jantando ao seu lado e rindo de suas histórias de romance e infância. Tomei a liberdade de leva-la até a varanda de sua casa, enquanto fui em seu quarto preparar a cama. Estávamos próximos da meia-noite e os olhos dela transmitiam cansaço. A levei para a cama, ajudando-a se deitar, me sentando no canto para olha-la. — Está confortável, Himiko? — Sorri. — Melhor impossível, jovenzinho. Pode descansar se quiser, minha filha deve chegar em breve — Himiko dizia com um tom de voz leve. — Irei para os fundos praticar um pouco, tudo bem? Enquanto eu espero ela chegar. — Me levantei indo para o quintal da grandiosa mansão. Com um vasto campo de grama, retirei meus sapatos e me sentei na mesma, deixando a grama umida de orvalho passar entre meus dedos. Com ambas as mãos, toquei o mesmo solo, sentindo-o como o livro dizia para faze-lo. Me lembrei dos trechos lidos, da conexão com o elemento, e da possibilidade de manipula-lo se minha força fosse grande o suficiente. Fechei meus olhos, concentrando meus sentidos naquilo. Abdicava da visão para minha mente se fortalecer, a audição captava meus dedos se movendo pela grama, o olfato o cheiro do orvalho subindo com o atrito, e o tato a conexão com o elemento. Ergui a destra fechando o punho, como se agarrasse um montante de terra em minhas mãos, tentando deixar meu chakra fluir pelo chão. Um leve tremor se formou, como se um punhado de rocha quisesse se separar. Abri meus olhos, assustado. — E-eu fiz isso?! —

Meu corpo estremeceu de alegria ao notar como o solo se movia após ter me concentrado melhor no ambiente e em meu chakra. Mas não era o suficiente. Fazê-lo tremer era só um indicativo de que estava seguindo pelo caminho certo, mas somente alcançaria de fato o domínio do elemento se ao menos um pedaço de rocha se destacasse do solo. — O livro dizia que eu preciso me conectar com o elemento… mas como eu vou fazer isso? Como? Já estou em contato com ele, já penso nele, eu o sinto… o que mais eu poderia fazer? Daqui a pouco vou precisar comer terra. Ei.. não, Yuki, que ideia maluca, você não vai comer terra! — Bati levemente em meu próprio rosto, me tirando daquele pensamento maluco de começar a ingerir um monte de terra. — Quanto mais nos conectarmos, mais forte será o laço… foi o que você disse Himiko… — Suspirei, passando meus dedos com mais força pela grama, ao ponto de um pequeno volume de terra se erguer sobre a ponta dos meus dedos. Aos poucos, quanto mais eu forçava, minha mão chegava a entrar levemente naquela parte mais fofa de terra, tocando o gelado do solo, sentindo sua umidade, os grãos sujando minha mão. Aquela sensação me confortava e me fez automaticamente fechar meus olhos. A conexão com a terra estava se fortalecendo.

Minhas mãos eram como raízes que se proliferavam pela terra, mantendo a conexão com os nutrientes do solo e promovendo minha concentração com uma força ainda maior. O laço criado com o elemento a partir daquela aproximação fazia meu corpo vibrar, focando no fluxo de chakra pelas minhas mãos, pela ponta de meus dedos até tocar o solo. Suspirei, arrumando a minha postura, abrindo levemente meus olhos e visualizando o ponto exato que eu desejava dominar. A energia pulsava em meu corpo, e a terra respondia, todo o solo se tornava uma extensão da minha consciência. Lentamente, recuei minha destra de dentro da terra, mantendo meus olhos fixos em um ponto, desenhando, com a imaginação, um circulo no chão, a cinco metros de distância. Minha destra se abria naquela direção, fechando lentamente como se apanhasse um punhado naquele local. Aos poucos, meu corpo estremecia enquanto meu chakra fervia, minha canhota ainda conectada com o solo, minha mente imaginava a pedra se movendo lentamente. De repente, o circulo imaginário se tornava real, destacando um punhado de rocha do solo, que aos poucos parecia querer levitar. Mesmo com muito esforço, aquele pedaço caia, mas ao menos estava separado do chão. — Só mais um pouco.... consigo sentir que estou tão perto de conseguir! — Sussurrei sozinho, voltando a me concentrar para mais uma tentativa.

Me senti cansado, mas satisfeito com o treino, e a expansão das minhas habilidades com o Doton. Haviam se passado horas praticando a técnica, tentando aprimorar sua habilidade em controlar a terra ao meu redor, e eu sequer percebi que já estava bastante tarde. Enquanto descansava, refleti sobre o que havia aprendido durante o treino, percebendo que, para manipular o doton com precisão, precisava me concentrar na respiração e manter sua mente focada no objetivo. Além disso, também havia aprendido a importância de praticar regularmente e de me conectar com o ambiente. A manipulação de doton exigia muito esforço e energia, e somente através de treino constante seria capaz de alcançar um alto nível de habilidade. Com essas reflexões em mente, me levantei, olhando rapidamente para trás. A alguns metros da porta da casa, Himiko e sua filha me observavam com um sorriso no rosto. Com o rosto rubro, me aproximei sem jeito, comendo uma bala para tentar me acalmar. — Desculpe a bagunça... — Tentei desviar o olhar em vergonha. — Está tudo bem, fazia tempo que eu não conhecia um jovem tão esforçado como você. Parabéns, Yuri. Aqui, pode retornar para a sua casa, ok? Muito obrigada pela ajuda! — Ambas se despediam de mim, então retornei para minha casa. No dia seguinte iria reportar a missão para os superiores do hospital de Konohagakure no Sato.