A porta rangeu asperamente até fechar-se, dando um breve estalido. Era Jack Lee, que retornava a sua casa ao amanhecer, após pernoitar treinando na rua. Estava amuado.

— De novo, meu filho! — disse sua mãe, aflita — Por que você não treina de manhã como todo mundo?... Que é isso? Está mancando?!
— Eu estou bem... — respondeu Jack, com a voz baixa.
— O que eu falei? — perguntou secamente o pai.

Depois, fez-se silêncio, apenas interrompido pelo crepitar da lenha do fogão e pelos suspiros da mãe. Ninguém dormia durante o dia nessa casa, essa era a regra combinada.

— Está cansado? — perguntou o pai, olhando-o impassivelmente.
— Não...
— Ótimo, o treino começa agora... Vá para os campos...

Jack Lee adoraria uma boa refeição e uma boa cama, mas isso era uma impossibilidade. Ele acatou, olhando-o com a fisionomia fechada, e tornou a sair pela mesma porta que tinha entrado. A mãe olhou descontente para o pai.

— Ele é forte, querida... — respondeu o pai com olhos de ternura — Mas é teimoso igual uma mula.

Quando os dois reencontraram-se, já nos campos de treinamento da Folha, fizeram alguns exercícios de aquecimento, sem trocar palavras e, depois, começaram a lutar com a naturalidade de quem faz piquenique no parque. A troca de golpes prolongou-se para mais de uma hora, com murros e sopapos bem colocados e plásticos. Jack estava todo compenetrado, e quem passasse pela região escutaria a voz do seu pai a gritar, esporadicamente, palavras e frases repetidas como: “Ajeita o quadril!”, “olha a cabeça!”, “sincronia!”, “solta o ar com o golpe!”, “isso!”...

A certa altura, uma mão mais pesada encaixou na face de Jack, que balançou, tonto. Em seguida, num movimento único e fluido, o pai fintou um soco de esquerda, fazendo o filho esquivar-se para o lado oposto, e finalizou com um chute lateral com a perna direita, que o acertou precisamente. A dor que Jack sentiu o fez lembrar de um coice de touro recebido a um tempo atrás.

— Qualquer distração será punida! — disse o pai, espirituosamente, e rindo-se enquanto oferecia a mão para levantar o filho.

Nesse ponto o cansaço do garoto era multiplicado, e cada parte do seu corpo fraquejava por falta de energia. Ergueu-se com relativa desenvoltura, porém ofegante; arfava-lhe o peito violentamente. Foi-lhe concedida a duração necessária para recompor-se, e ao fim de poucos minutos estavam os dois às margens de um rio de caudalosas corredeiras. O estrondo poderoso daquelas águas só permitia que se comunicassem por olhares e gestos. Caminharam até o lugar onde a correnteza indicava a máxima impetuosidade, e mergulharam. As gotículas suspensas na atmosfera tornava o ambiente fantástico, e a gélida água era como um ritual de coragem. O jovem Lee nadou como nunca, e fatigou-se ao extremo. O enorme corpo d’água engoliu-os em suas espumas brancas, e com muita atenção alguém observaria, talvez espantado, os dois indivíduos numa insana peleja contra a infinita correnteza.

Lá pelo anoitecer Jack Lee voltou para casa com o pai, ganhou uma deliciosa refeição, de peixe assado ao molho de raiz forte, especialidade de sua mãe, e dormiu como um anjo, ou, para ser mais exato, desfaleceu. Nos dias seguintes, persistiu o rapaz com todas as forças à natação de resistência no rio, e ficou dentro de três dias capaz de vencer poderosas correntezas.

Considerações:

Equipamentos (20/45):

Técnicas: