Com as feridas tratadas, após um banho, com os devidos curativos, sigo rumo a “minha residência”, bom, não é bem minha casa de fato, após a morte do velhote, o local ficou largado e abandonado, tornando-se um espécie de casarão para crianças e adolescentes que não possuem lares, como eu. Cheguei lá, falei com o responsável daquela geringonça, um cara gordo e sem pescoço, devido a enorme papa que chegava quase proximo de suas tetas salientes, sem falar a banha da barriga que fica caido para baixo, tampando seja o que tenha no meio das pernas, ainda que se nomeava homem, não dava para saber que sexo aquela coisa é.

― Só vim pegar minhas coisas e passar a noite aqui ao menos - disse ríspido e não abaixando a cabeça, pois diferente do mundinho ninja, hierarquia ali só servia para aqueles que realmente possuem poder, quem não tinha, tem que conquistar seu espaço, seja lá qual forma

― Cara, cai fora! - ele tentou se limitar a dizer apenas aquelas palavras e virar as costas.

― Oh calça de capa de caminhão! - sangue ferveu naquele momento ― Se nunca teve educação, tá na hora de ter! - terminei a frase e partir pra cima dele, mirando meu punho direito cerrado na nuca dele, mas para minha surpresa, nada aconteceu com ele, já comigo… parecia que eu tinha socado uma parede viva, caindo de bunda no chão, me sujeitando a ver aquela aberração de baixo para cima.

― Choko, já disse, cai fora… suas coisas foram jogadas no lixo ontem, se caso o lixeiro não passou, pode ser que esteja lá. - ele disse, me pegou pelo colarinho traseiro da minha camiseta com a mão direita e minha calça, na região do joelho, com a mão esquerda, me conduzindo como uma maleta de viagem e jogado para fora do portão, como um saco de lixo.

Pensou em inumeras coisas se fazer, todas elas envolvia ferir aquele maldito ser inexplicavel, mas a nostalgia de observar aquela casa, me fez recordar do velho Biorona, por um momento, parecia que ele estava do meu lado, sentado comigo no chão e escorado no muro de pedra - como eu - e escutava sua voz ecoando em meus ouvidos — Acredito em salvar o mundo com os ventos do riso e deposito esta tarefa a você Chokora… - sua últimas palavras.

Me levantei e apalpei a traseira, na intenção de limpar a sujeira, prossigo em direção a lixeira e vejo que está vazia, perguntei a um desconhecido o dia e hora e sua resposta me entristeceu, pois faz mais de um dia que o lixeiro passou.

Minha vida durante um mês, se resume em piadas, risos, brigas, mendigar comida, sono e a falta de reconhecimento, ser um ninja parecia ser muito mais difícil que um gangster, naqueles tempos eu tinha credibilidade, eu mandava naquela molecada toda, conversava com peixe grande, agora? Não passo de um genin fedido e que ninguém acredita nos meus feitos, ao menos tirei proveito disso, para ganhar uns trocados em casas de stand-up, ainda que tivesse as missões, eu me abdiquei da vida de ninja por algum tempo, para colocar a cabeça no lugar. Ainda que tivesse um bom senso de humor, as pessoas não sabiam meus reais sentimentos e as consequências de suas ações.

Consegui um quartinho minúsculo para dormir, tinha um colchão no chão surrado, um armário mais antigo que o primeiro Hokage, um banheiro com chuveiro - frio - privada, pia e um espelho pendurado por um prego; ao menos tinha uma televisão, pequena e de tubo? sim; mas ao menos funcionava. A visão da janela, era algo incrível, era o local que adorava de toda aquele espaço, conseguia ver por cima grande parte dos edifícios e das pessoas do centro da vila, um artista ficaria louco com aquela visão, pois conseguia ver o monumento dos Hokages, que se eu me afastasse da janela e escorava na parede atrás, parecia que a janela era um esquadro de um quadro.

― Estes caras realmente deram a vida… mas a que custo? - costumava indagar a mim mesmo e o resultado sempre o mesmo, nenhuma resposta, independente disso, costumava ficar sentado de pernas cruzadas no chão e ficar horas observando aquela paisagem, alguns poderiam cogitar que eu estava encantando com os Kages ao ponto de me querer se tornar um, mas não! Queria tentar compreender que vontade é essa que eles carregam consigo… ao ponto de darem suas vidas, abdicarem de suas vidas, para o bem de uma nação, que vive dando as costas aos seus semelhantes.

Um certo dia, uma semana antes de completar quase dois meses desde o ocorrido com o Hokage no campo de batalha e meu retorno a Konoha, um shinobi mensageiro me entregou uma carta, eu estava caminhando pelo centro da vila, retornando da casa de massagem. O conteúdo da carta se tratava de uma espécie de “advertência”, devido a minha falta de comprometimento como shinobi da vila, confesso que fiquei um pouco irado com aquilo, ao ponto de amassar aquela carta, brevemente cerrando o punho e logo aliviando ― O que estou fazendo? Que mentira é essa? Sabia das minhas obrigações e ainda sim… Velhote… você deve estar decepcionado comigo neste momento, bom, provavelmente contaria uma daquelas suas piadas sarcásticas, hahaha… sinto falta de você. - desamassei a carta e fiquei ali a observando, enquanto as pessoas passavam pelo meus lados, vindo e indo de um lado para o outro ― Não é os feitos que faz de alguém um monstro ou um herói. São as escolhas que elas fazem para suas vidas, que as determinam. - aquela reflexão me levou a um estado de frenesi psicológico, positivo de certa forma, peguei minha bandana do bolso, olhei para ela por um breve momento e em seguida a amarrei na cintura, como um cinto ― Eu sou o único espectador desta rua; se eu deixar de ver, ela morrerá! - pensei e gritei em seguida ― Segura que o Chokochoko ta de volta!