Batsuki estava estranho desde o retorno para casa, a mãe notou rápido. Mal falava, comia pouco e parecia distante o tempo inteiro. Continuou fazendo rondas, tentando encontrar coisas que não via com os olhos, treinando seus sentidos espirituais, buscando formas de se conectar com a energia ao redor dele. Tentando, de alguma maneira, tornar-se alguém mais preparado. Fez isso todas as noites e, naquele fim de tarde, estava prestes a sair para fazer o mesmo quando recebeu uma convocação, desviando sua rota normal e indo ao Quartel General. Tudo sem, em momento algum, deixar de tentar encontrar as flutuações espirituais no ambiente — sem sucesso. Encontrou um gato e um cachorro em vielas diferentes. Passou por pessoas, velhas, novas, casais. Famílias inteiras, voltando para casa dos empregos chatos, aproveitando, mesmo que pouco, o fim de tarde outonal. E nada daquilo foi notado espiritualmente por ele, conforme diziam os livros da biblioteca que lera sobre o funcionamento das técnicas sensoriais. Ele ainda estava longe de aprender a usar aquela habilidade.

Encontrou os shinobis reunidos e conversando e não chamou atenção. Levaram minutos até notarem o menino coberto num manto branco. Durante aquele tempo, escutou falaram sobre os Abutres e também sobre o Centro Botânico da Pedra, entretanto, ainda não sentia nada de diferente no ar. Talvez fosse impossível desenvolver habilidades tão diferenciadas no mundo, ele pensou, mas não desistiria, precisava achar uma forma de evoluir e sabia que as técnicas sensoriais seriam de extrema ajuda; teria evitado problemas na missão anterior e poderia precaver os cenários mais terríveis imagináveis; e, principalmente, os mais inimagináveis. Estava disposto a qualquer coisa por isso.

—— Você foi bem na última missão —— falou um dos superiores, mas ele não se importava com os elogios. Tinha provocado um massacre, não era difícil fazê-lo enfrentando meros civis. —— Por isso, achamos melhor te colocar de novo nessa história toda da Rosa Negra, diretamente.
—— Hanamaki-sensei obrigou vocês, né?

Os ninjas engoliram em seco, olhando uns para os outros. Batsuki baixou a cabeça, suspirando, e voltou a encará-los. Conhecia o pesquisador melhor que a maioria presente naquela sala e sabia muito bem como ele podia ser muito persuasivo e… irritante. O superior se endireitou, aliviando os ombros, a roupa vermelha de colete marrom combinava com ele, tão enfileirado nas regras simplistas do militarismo do vilarejo.

—— Não importa, você está de volta. Não está feliz?
—— Qual é a missão? —— indagou, não dando muita bola, pois, não sabia exatamente como estavam enxergando-o. Era considerado um ninja ou um mercenário?
—— Hanamaki irá numa saída de campo e precisa de um guarda-costas.
—— Entendo. Isso é nostálgico —— comentou, sorrindo. —— Mas não é exagero colocar essa missão no nível B?
—— Não, as coisas estão perigosas. Após a morte da célula dos Abutres, eles podem estar preparando um novo atentado ou retaliação. Precisamos mantê-lo seguro.
—— Seguro ou vigiado?

Não houve resposta e ele mesmo não esperou. Dando as costas, ele saiu com o manto balançando no ar e foi embora do Quartel, rumo ao objetivo da missão.

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O vento frio assoprava os cabelos e o manto do adolescente, enquanto ele se dirigia aos portões da vila. Em seu olhar, a seriedade de um verdadeiro ninja, como se o adolescente formado na academia seis meses antes não existisse mais — e, dentro dele, não existia mais por completo. Dentro dele, como bem observava, existia um incômodo, ondas que iam e vinham, quebravam e deixavam a espuma da hipocrisia espalhada no coração. Estava indo servir como guarda-costas de uma pessoa, entretanto, a vila estava mesmo interessada em vigiá-la, como uma criminosa. O cientista não era um criminoso. Não tinha como ser. Tudo o que queria era a possibilidade de pesquisar coisas importantes, assim como a assistente, Mana.

Pensar na assistente fez o coração dele balançar agitado. Jamais admitiria, mas encontrá-la sempre o deixava assim, um pouco deslocado. A expressão dura até se aliviou um pouco, mas logo foi nublada outra vez. Acenou aos ninjas na guarnição, deviam ter recebido a ordem de permitir sua ida ao Centro Botânico. Assim que atravessou os portões, parou de caminhar por um instante, observando atrás dele a imensidão da entrada da vila. No passado, quando ainda sonhava em ser o maior shinobi da vila, aquilo representava glória; a magnitude e a soberania dos ninjas do vilarejo. No entanto, agora, ele não conseguia deixar de notar como tudo aquilo aparentava empoeirado e velho.

Baixou a cabeça, os cabelos esconderam parcialmente o rosto, e seguiu viagem. Procurou retomar o treinamento silencioso que fazia. A técnica sensorial era uma maneira de encontrar chakra, ou seja, o espírito. Sabendo disso, ele continuava buscando maneiras eficazes de se conectar a espiritualidade dos arredores. De olhos fechados, respirou fundo, absorvendo todo sabor do frio outonal do país, embora, em geral, o clima fosse seco. Soltou tudo devagar, aliviando os ombros, conectando-se lentamente ao seu próprio espírito, ao chakra. Continuou a jornada, com o manto balançando com as lufadas de ar. Sentia-as nos cabelos, nas bochechas, e também, infelizmente, na cicatriz no olho. Tudo que era palpável, de alguma forma, dentro do mundo físico, ele estava sentindo… por que não ocorria o mesmo com o que se encontrava no plano espiritual?

Apesar da frustração, ele continuou em frente. O vento assoprando suas bochechas, diferente de muita coisa, não era irritante. Era até… aconchegante. Fazia-o se sentir mais leve, mais conectado consigo mesmo e, para ele, aquilo também o permitiria encontrar outros resquícios espirituais. No entanto, era difícil não se distrair com os pensamentos e ansiedade de conseguir usar aquela habilidade logo, para assim, provavelmente, conseguir evitar tragédias maiores ao ter uma precisão maior em encontrar os riscos. Pina havia demonstrado a ele o quão eficiente aquela habilidade tornava-se em combates reais e situação desesperadoras, não podia deixar de encontrar uma forma de usá-la. Não depois de tudo.

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Conhecia o caminho como a palma da mão. Tinha feito boa parte de suas missões enquanto Genin no Centro Botânico, ou resolvendo questão envolvendo-o. Por isso, conseguiu se dar o direito de permanecer apurando os sentidos espirituais durante a caminhada; o manto sacudia com o vento, seu espírito balançava com as vibrações ecoantes no mundo. Ou assim ele tentava fazê-lo. Porque, conforme ia ficando mais próximo do destino, ia também se sentindo mais frustrado pela incapacidade de encontrar um ponto de equilíbrio para sentir as coisas ao seu redor. Sabia, porém, que chakra não era assim tão raro no mundo, menos ainda na natureza, então tudo que podia imaginar era que, indiferente aos esforços, talvez ele não fosse um ninja com habilidades sensoriais nem no presente, nem no futuro — e isso, somado aos encaminhamentos da vida, só o deixavam ainda mais incomodado consigo mesmo e com o mundo. Quando se deu conta, estava com o Centro Botânico da Pedra se destacando no horizonte. As pessoas passavam ao redor dele, assim como o vento e alguns animais pequenos, mas ele não sentia nada, por mais que se concentrasse buscando um fio que conectasse-o ao resto do mundo espiritual… era como se ele continuasse no escuro.

Nas portas do Centro, porém, o contratante aguardava o menino. Hanamaki estava igual, embora fizesse mais de um mês que não se viam, ainda usando o jaleco, escondendo os lábios no bigode grosso e os olhos em óculos de lentes grossas, mostrando a dificuldade que tinha de enxergar sem eles. Acenou, mal tirando a mão de dentro do manto, e abaixou rapidamente ao notar também a presença de Mana, a assistente, logo atrás, com as lindas madeixas ruivas. Sentiu-se intimidado, por mais que ela não demonstrasse risco algum. Aproximou-se, mantendo a postura, para aparentar ser mais ninja que eles podiam esperar.

—— Parece que você cresceu, moleque.
—— Já sou considerado um ninja de elite, não mais um novato.
—— Isso não foi rápido demais, Batsuki-kun?
—— Acho até que ele demorou demais, Mana-chan.

Os dois cientistas riram juntos, mas ela não deixou de dar uma espiada na expressão tímida do adolescente diante dela. Mana era dois anos mais velha, mas eles se conectavam bem quando ficavam próximos. Batsuki esperou-os terminar as risadas.

—— Estão com tudo pronto?
—— Sim, Mana-chan acabou de me trazer isso —— Hanamaki disse e revelou, por debaixo de um pano, um vidro para transporte, igual ao usado na primeira missão que ele teve ao lado do pesquisador. —— Vamos recolher outra rosa e nossa pesquisa irá acelerar em ao menos três vezes.
—— Isso é bom…, né?
—— É sim, Batsuki-kun.

Ele deu as costas para os cientistas, não querendo mostrar como estava vermelho por ter passado vergonha na frente dela, mas isso logo passou e ele aliviou os ombros. Ficando ao lado deles, tudo parecia mais simples, mas isso duraria até quando?

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Sair em viagem era sempre reconfortante. Sentir os ventos acertando as bochechas, os cabelos fazendo leves ondulações no ar, até o manto sacudindo gentilmente, escondendo uma parte do corpo ao revelar outra. Batsuki gostava da sensação de liberdade que viajar, a pé, dava-lhe. Andar com pessoas que ele gostava deixava a jornada ainda mais prazerosa. Hanamaki e Mana não eram exatamente amigos dele, sabia disso muito bem. Eram contratantes dos seus serviços como shinobi. Ele não estaria sendo convocado todas as vezes que precisassem, assim como aconteceu antes, por causa de seu baixo nível como ninja. Ainda assim, tinha se apegado aos pesquisadores, então permitia-se sentir o conforto de estar caminhando pelo país acompanhado deles — embora, de forma alguma, isso fizesse-o baixar a guarda, precisava concluir seu trabalho de protegê-los a todo custo.

Por isso, ele não conversou com os dois por um longo período. A viagem tinha três horas a pé, no mínimo, e a primeira ele ficou calado. Ouvia-os conversarem sobre assuntos científicos dos quais ele não entendia nada, portanto, não armazenava informação nenhuma. Alguma coisa sobre separar materiais, reforçar doses, e outros palavreados científicos que não faziam sentido algum aos ouvidos despreparados do shinobi que, se um dia sonhou em se envolver na ciência, agora sabia que não era o melhor caminho a seguir.

Aproveitou que não tinha motivos para entrar na conversa para seguir seu treinamento silencioso atrás de uma conexão espiritual maior. Ouviu pássaros piando, como se fizesse alguma diferença. Também escutou arbustos farfalhando pelo vento frio de outono que insistia em percorrer todo o ambiente por onde passavam, deixando suas peles geladas e avermelhadas. Mana estava com a pontinha do nariz ficando avermelhado, como uma rena, e ele achou aquilo tão fofo que, por um instante, se esqueceu totalmente de focar-se no espírito; sacudiu a cabeça e tentou retornar ao objetivo real de estar tão calado, mas era difícil. Focar-se no mundo interior era complexo quando tudo o que queria era colidir com o mundo externo bem diante dele; ainda assim, no fundo, ele sabia que aquilo ia ser muito valioso no futuro, inclusive se tivesse mesmo interesse em vê-la bem.

Porque, de certo modo, nenhuma de suas novas técnicas e habilidades eram treinadas com o intuito de deixá-lo mais forte apenas para si; ele sempre tinha alguém nos pensamentos ao fortificar-se. Mana era uma delas, embora isso, às vezes, como no momento, o atrapalhasse a ficar totalmente focado no que realmente deveria. Coçou a garganta, distanciando-se das vozes dos dois, embora não tenha saído de perto dos dois, e voltou a se concentrar após respirar fundo. A viagem ainda tinha duas horas… precisava usá-las muito bem.

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—— Chunin, hein? —— Hanamaki comentou despretensiosamente.
—— Sim, em breve subirei ainda mais.
—— Você está mesmo indo com tudo.

Batsuki concordou, lembrando-se da primeira vez que se encontraram. Não fazia assim tanto tempo, na verdade, mas parecia uma eternidade. Porque o menino irritadiço estava desaparecido, havia dado lugar a um adolescente muito mais racional, controlado e focado. O pesquisador tinha uma parcela de culpa naquilo, mesmo que Batsuki nunca tivesse dito coisa alguma ou sequer agradecido. Olhando para trás, encontrou os dois cientistas caminhando com expressões serenas. Continuaria escondendo a responsabilidade do cientista. Estava orgulhoso demais para começar a atribuir glórias aos outros — algumas coisas ainda não haviam mudado.

—— Como está sendo?
—— Diferente —— admitiu. —— Recentemente estive numa missão muito… perturbadora. Já ouviu falar nos Abutres?
—— Oh, claro que sim —— a expressão de Hanamaki mudou e Mana desviou o rosto, escondiam alguma coisa, mas ele não notou de imediato. —— Eles acham que são vítimas das circunstâncias e o motivo de eu precisar de guarda-costas.
—— Enfrentei alguns deles recentemente.

Aquilo era uma mentira. Havia provocado uma carnificina. Mana não precisava saber dos detalhes, ficaria com medo dele. Hanamaki, por outro lado, soltou um risinho anasalado meio debochado, sem contextualizá-lo depois. Batsuki também não questionou. Preferiu apenas continuar em frente, ainda faltava cerca de uma hora de caminhada até o destino deles, de acordo com o mapa.

Mantendo-se quieto, pois os dois voltaram a conversar entre si, ele também retornou silenciosamente ao treinamento. Prestar atenção nas coisas era mais difícil do que parecia. Conectar-se a elas, ainda mais. Precisava, porém, se quisesse ser ainda melhor. Mais forte. Mais completo. As rondas feitas diariamente poderiam acabar, substituídas pela habilidade de sentir o chakra alheio ao redor da casa, sem a necessidade de conjurar um dragão toda vez. Isso também o ajudaria em batalha, ganhando independência. Não conhecia, porém, nenhum ninja que pudesse ajudá-lo com aquilo, nenhum professor havia sinalizado alguma habilidade semelhante nos tempos de academia.

—— Algum de vocês sabe algo sobre técnicas sensoriais?
—— Só que alguns ninjas as utilizam —— Mana falou, botando um dedo no queixo e fazendo os olhos rolarem para os lados, pensativa.
—— É uma habilidade interessante, mas usar o chakra não é minha especialidade, garoto —— Hanamaki respondeu de volta.

Suspirou, frustrado, ele não teria nenhuma ajuda ali. Já esperava, claro, mas não custava nada questioná-los. Talvez tivesse alguma informação pertinente no caderno deixado pelo pai antes de morrer, embora nunca tivesse visto-o usando nada semelhante àquela habilidade. Ergueu o queixo, fingindo estar bem com aquilo e continuaram a jornada em silêncio, ainda tentando se conectar ao menos aos espíritos das pessoas que o acompanhavam na caminhada.

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A fachada da loja, destino dos viajantes, era horrível. Manchada pelo tempo, tinha a caligrafia antiga marcando seu nome. Batsuki mal compreendeu que o nome era Éden, levou algumas várias olhadas até compreender. Ao redor também não era exatamente uma beleza. Muitas rochas, árvores mortas e poeira levantada. Estavam distantes do Centro Botânico da Pedra, e ainda mais da vila. O shinobi reconhecia a localização de acordo com seus conhecimentos geográficos, mas, ainda assim, tinha a impressão de estarem num lugar em que não deveriam estar.

Hanamaki tomou a frente assim que ficaram próximos da loja, quase deixando-os para trás. No entanto, eles não deixaram. Apressaram os passos para acompanhá-lo e, juntos, entraram na lojinha que tinha um aspecto ainda mais sombrio por dentro. Diversas plantas espalhadas, algumas murchas, outras em vasos rachados, com bastante terra derramada no chão. Hanamaki foi ao balcão, animado, e os dois continuaram um pouco mais atrás, observando as coisas.

—— Como ele soube dessa rosa?
—— Através de cartas. Ele tem muitos amigos no ramo, por isso, sempre que alguma coisa nova aparece ele recebe cartas de vários lugares do mundo —— Mana falou, aproximando-se de uma rosa vermelha.
—— Ele é assim tão importante?

Mana deu uma risadinha, escondendo os dentes com a mão. Batsuki sentiu as bochechas esquentarem e desviou o rosto, mexendo numa das plantas.

—— Sim, ele é.
—— Entendi, então ele é…

Hanamaki deu um aperto de mão forte no homem por trás do balcão, que parecia tão velho quanto o pesquisador. Batsuki aliviou um pouco os ombros, buscando uma maneira de conectar-se a eles. Sabia, por exemplo, como a técnica sensorial seria capaz de indicar os níveis de poder das pessoas, de certo modo, por causa da capacidade de compreender a elevação de chakra de um indivíduo. Ainda assim, precisava saber na prática como aquilo funcionava ou não adiantaria de nada. Mana saiu de perto, indo ao outro lado da lojinha, observar outras espécies de flores, pois entendia do assunto, e o menino aproveitou para fechar os olhos e se concentrar, averiguando se achava uma corda para se conectar aos espíritos presentes no ambiente.

A única coisa que achou de imediato, porém, foi a voz baixa de Hanamaki citando os Pombos como se os conhecesse. Aquilo foi suficiente para tirar a concentração do adolescente que ergueu o queixo, os olhos e as sobrancelhas, mirando nos dois homens. O dono da loja notou, acenou a ele e mudou de assunto. Batsuki voltou a encarar a rosa e tocou nela, respirando fundo, achando um ponto de equilíbrio para descobrir se as plantas tinham espírito também — e não descobriu mais nada, nem sobre como usar as técnicas sensoriais, nem sobre os Pombos citado pelo cientista.

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O homem atrás do balcão foi para o interior da loja e lá ficou durante alguns minutos. Batsuki observou de longe, calado. Hanamaki parecia tranquilo e Mana não dava atenção aos fatos. Estava mais ocupada analisando todas as formas de plantas espalhadas no espaço. Alguns minutos depois, o dono da loja retornou com uma amostra da Rosa Negra, a flor tão semelhante a uma rosa comum, mas coberta da coloração escura até o caule, com espinhos salientes em toda a sua extensão, com exceção das pétalas. Ainda que não fosse importante para a ciência, como o pesquisador alegava, ela tinha uma aparência mística demais para ser ignorada no mundo. Batsuki notava isso mesmo não entendendo nada do mundo das plantas ou mesmo da ciência.

Hanamaki colocou a rosa no compartimento e apertou a mão do dono da loja, porém, passando os dedos indicador e mínimo por cima da outra mão. Um gesto incomum, porém, ao qual Batsuki não deu muita atenção. Não havia notado aquilo como um verdadeiro problema, apenas uma forma de expressão entre amigos — como eles supostamente eram. Hanamaki agarrou-se àquela amostra e ordenou que partissem, voltando ao Centro Botânico imediatamente. Batsuki concordou, mantendo-se escondido dentro do manto branco e empoeirado; estar ali dentro começava a fazer o nariz coçar.

O shinobi tomou a frente como um bom guarda-costas, os cabelos loiros quicaram no movimento brusco. Saíram da loja com algum raio de sol ainda brilhando. Batsuki percebeu como não ter alcançado o sucesso no treinamento poderia acabar fazendo toda a viagem de volta ser um problema e se detestou por isso. Respirou fundo, aliviando os ombros e seguiu viagem. Tentava manter sua atenção entre a própria alma, o espírito pulsante dentro dele, e nos cientistas que devia proteger como parte da missão. Hanamaki e Mana ficaram conversando atrás dele, falando em tons amenos, cochichando sobre aplicações científicas como se ele pudesse entender algo e se transformar numa ameaça aos propósitos deles. Batsuki não tinha esse poder, e notando como não conseguia se conectar ao chakra de ninguém para encontrá-los, a frustração começava a fazê-lo achar que não tinha poder algum.

Ainda que frustrado, porém, continuou buscando uma forma de usar aquele poder; precisava dele, sabia disso. Após quase uma hora de caminhada, ele começou a perceber como a chama espiritual dentro dele dançava de uma forma específica e entendeu que as almas das pessoas poderiam ter dançar diferentes; se isso fosse verdade significava que ele estava apenas errando o ritmo para encontrá-las… ele sorriu, animado com a descoberta.

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Batsuki estava mesmo empenhado no treinamento. Durante mais de uma hora, enquanto os civis conversavam atrás dele, manteve-se atento aos arredores com um foco diferenciado no próprio chakra e como ele ressonava. Após ter notado como ele emitia um sinal, uma espécie de dança própria, como uma chama bruxuleando no interior dele, decidiu dar mais atenção a si mesmo antes de achar uma corda que unificasse os seres vivos a ele. De nada adiantaria tentar encontrar os outros se não fosse capaz de encontrar a si mesmo.

Ouviu então as ondas do próprio espírito, a flutuação de energia emanando do centro do seu corpo, fluindo através de si, construindo um emaranhado de chakra e vontade em cada célula do corpo. Deu mais atenção ao som dos próprios passos, do impacto causado na sola do pé que ressonava até os joelhos, coxas e quadris. Cuidou do balançar suave dos braços em marcha, de como até mesmo ali, tão sutilmente, sua energia espiritual dançava, criando uma assinatura própria, uma marca que ele acreditava ser o verdadeiro ninja debaixo de toda aquela carne; a verdadeira alma emitindo um forte sinal de que existia, apesar de todas as tentativas do mundo em exterminá-la. Ainda não sentia mais ninguém, mas sabia que era possível, pois conseguia ouvir a si próprio.

—— Você está muito concentrado hoje, Batsuki-kun —— a voz de Mana lhe arrancou dos pensamentos filosóficos aos quais estava prestes a cair. —— Está tudo bem? Preocupado com alguma coisa?
—— Isso faz parte do meu treinamento —— falou, sem dar mais detalhes.
—— Sobre técnicas sensoriais?

Batsuki assentiu e só então notou como a moça estava ao seu lado, não mais atrás. Colocou o braço à frente dela, como uma ordem que ela prontamente entendeu e reposicionou-se próxima do cientista. Sendo apenas ele a cuidar da segurança de ambos, ele não podia arriscar deixá-los afastados um do outro. Era uma estratégia bastante simplória, mas que esperava ser eficaz caso ocorresse algum problema no meio da estrada. Por sorte, nada disso aconteceria, mas ele não andava mais acreditando na existência de algo tão positivo assim.

—— Por que não técnicas medicinais?
—— Oh, você conhece isso?
—— Li alguma coisa na biblioteca.
—— É uma arte bastante interessante, confesso, mas não combina comigo.
—— Não mesmo —— Mana disse e escondeu um risinho atrás da mão.

Um calor avassalador se apoderou do rosto do shinobi cujas bochechas avermelharam. Firmou mais os ombros para seguir em frente tentando não demonstrar seus sentimentos, ainda mais no meio do nada, correndo o risco de estarem sendo observados. Eles apenas seguiram em frente, sem notarem a sombra que se aproximava nas árvores.

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Se tivesse dominado a habilidade sensorial antes, aquilo teria sido evitado, seria o pensamento dele nas próximas semanas. Pois, se tivesse a habilidade, ele saberia exatamente como as sombras se aproximavam pelos poucos tufos de arbustos espalhados nos arredores deles durante a viagem. Quando se deu conta, faltando menos de uma hora para alcançarem o destino, foram cercados por duas pessoas trajando mantos pretos, com tatuagens nas mãos idênticas as usadas pelos membros dos Abutres que ele se infiltrara. Usavam máscaras com bicos pronunciados que se assemelhava ao pássaro cujo nome usavam na organização criminosa.

Batsuki encarou-os e lembrou das vítimas naquela caverna. Eles não deviam ser nenhuma daquelas pessoas, mas membros de uma outra célula terrorista. Provavelmente de outro esconderijo que a vila ainda não sabia. Os vultos avançaram contra eles, mirando especialmente o cientista e o exemplar da rosa que ele tinha, tornando uma defesa mais fácil. Era para momentos assim que o shinobi havia melhorado suas habilidades em taijutsu. Saltou na direção do cientista também, dançando o manto branco no ar, e chutou o queixo de ambos malfeitores num movimento preciso e veloz. As figuras sombrias caíram para trás, equilibrando-se, provando que não eram meros civis e Batsuki, ao tocar os pés no chão, abriu o braço esquerdo formando um escudo na frente de Hanamaki, mantendo a expressão dura.

Perceberam logo que não teriam chance, ele não era um ninja fraco afinal de contas. Ajustando as máscaras no rosto, evitando-as de caírem, as duas figuras foram lentamente se afastando prestes a fugir. Batsuki soube que era arriscado deixá-los correr. Tinham uma informação importante em mãos — a localização da rosa negra —, mas não achava correto ir atrás deles e correr o risco de deixar os civis desprotegidos ainda que por pouco tempo; os dois não sobreviveriam a um ataque. Incomodado, assistiu-os sumindo no meio dos arbustos, ainda sem senti-los. Baixou o braço, escondendo-se dentro do manto outra vez, aliviado em não precisar continuar uma batalha naquele momento.

—— Não é melhor ir atrás deles? —— Mana indagou e Batsuki balançou a cabeça.
—— Eles não são ninjas. Se fossem perigosos teriam desviado do meu ataque facilmente. Por enquanto, apenas vamos tomar mais cuidado e voltar ao Centro Botânico. Lá vocês estarão seguros e eu poderei emitir um relatório da missão.
—— Até parece mais velho, moleque.

Batsuki assentiu. Também não se reconhecia falando daquele jeito, era como se lentamente estivesse ganhando tanta experiência que começava a ser digno de ser chamado de shinobi. Mas aquilo não importava no momento, apenas a segurança de ambos e a conclusão da missão, portanto, seguiram viagem sem falar mais nada.

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Por mais que tivesse vencido, um gosto amargo estava nos lábios de Batsuki. Novamente sendo pego de surpresa, embora tivesse um novo título, uma nova graduação ninja, ainda se sentia a mesma criança recém-formada na Academia, sentindo-se tão distante do objetivo final de vida que, na medida em que foram se aproximando mais do Centro Botânico da Pedra, menos ele queria ser recompensado com aquela missão. Tinha feito exatamente o que lhe fora ordenado, mas não era suficiente. Ele ainda não era o suficiente. Ter dimensão desse fato é que deixava o momento tão pesaroso, apesar do sucesso; porque ele sabia que podia ser maior e melhor do que aquilo, apenas não estava conseguindo.

Chegaram no destino sem maiores problemas ou conversas. Após a luta, o silêncio instalou-se entre os três. Batsuki estava atento a tudo, temendo acabar em outra armadilha e os dois civis não tinham interesse algum em correrem mais riscos desnecessários ao ficar conversando e chamando atenção. Quando chegaram no Centro Botânico, ele despediu-se, acenando e curvando-se ligeiramente, quase num pedido de desculpas formal mesmo tendo feito tudo corretamente. Escolheu um dos salões vazios dentro do centro de pesquisa para escrever um relatório ao vilarejo e depois foi encontrar uma pousada para descansar antes de viajar. A viagem havia cansado bastante tanto seu corpo quanto sua mente, mas a missão estava concluída.

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Batsuki estava menos frustrado após uma noite de sono. Tinha organizado melhor os pensamentos, assim como refletido sobre o treinamento. Ainda tinha muita estrada diante dele e, por mais que desejasse já estar forte, conseguiu se acalmar sobre os degraus percorridos até aquele momento. Ele não tinha muito tempo de experiência, não formal ao menos. Ainda teria de enfrentar muitos obstáculos. Seu pai costumava falar sobre isso, sobre como ele teria muita coisa pela frente e por isso tinha que se preparar com ele. Talvez fosse apenas uma desculpa para todos os abusos físicos e psicológicos promovidos ao longo dos anos, mas também era uma verdade difícil de contestar, afinal, quanto mais ele avançava no caminho ninja, mais ele notava que absolutamente nada percorre fácil. Todo mundo sofre perdas em algum momento. Todos se sentem fracos e impotentes em algum momento.

Saiu do hotel, prestes a começar sua jornada de retorno, mas, ao lado da porta, encostado a parede, estava um mensageiro da vila. Coberto num manto branco, balançando com o vento da manhã, ele entregou ao garoto um pergaminho e desapareceu em alta velocidade. Batsuki respirou fundo, abrindo-o, botando as mãos para fora do próprio manto. Mais uma missão envolvendo o cientista, após o relatório ter sido entregue pelo mensageiro que ele enviou antes de dormir, eles decidiram colocá-lo na segurança do cientista mais uma vez. Levantou o queixo, adiando sua viagem e voltou ao quarto, para queimar o pergaminho e começar a missão.

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O ninja não achou relevante informar aos cientistas sobre sua nova missão. Isto, pois, diferente de antes, eles não eram os contratantes, embora não soubesse quem exatamente estava colocando-o naquela posição, cuidando tão de perto dos dois, vigiando-os enquanto cuidava deles. Porque sabia mais do que ninguém que todas aquelas missões de proteção eram apenas uma forma de manter um olhar do exército sobre as pesquisas feitas com a espécie rara. E por mais que ele não visse a necessidade, também não estava disposto a permitir que escondessem algo dele, portanto, decidiu que começaria a missão levantando o mínimo de suspeitas possíveis sobre a segurança deles.

Trajando o manto branco, passou boa parte do dia no topo do edifício observando os acontecimentos cotidianos nos arredores; as crianças brincando de ninja, os adultos conversando numa mesa de bar, as mães levando compras em sacolas de pano. Exatamente como acontecia dentro da aldeia. As coisas não eram assim tão diferenciadas, mas ali elas não temiam o tempo inteiro por uma invasão ninja, pela traição de membros do alto-escalão botando a vida de todos em risco. Talvez nem mesmo na vila… só na cabeça de Batsuki.

Assim, o primeiro dia foi de mais puro tédio. Um tédio que ele não se incomodava em existir. Significava que a paz estava reinando e ele torcia para que isso nunca fosse mudado — mas sabia que eventualmente seria.

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Continuou mantendo-se afastado no segundo dia. Cuidando de longe do que ocorria no Centro Botânico da Pedra, evitando ser descoberto pelos civis com quem viajara dias antes. No entanto, as rondas eram monótonas demais. Lembravam a missão que realizara na vila com a guarnição à noite, quando descobriu mais sobre o pai ao conversar com um shinobi de patente mais alta. Percorria os arredores com o capuz ocultando seu rosto apesar do vento quente e seco que corrompia o país naquela estação do ano. Passava os olhos sobre o rosto de cada pessoa que ia e vinha buscando algum sinal de maldade nelas, bem como atrás de marcas no corpo que revelassem afiliações malignas. Não tinha certeza se descobriria alguma coisa — e a missão não era sobre investigar de verdade —, mas não conseguia tirar aquela sensação do coração.

—— Você não devia ter voltado à vila? —— Mana disse atrás dele num fim de tarde, encontrando-o perto do laboratório. Assustado e um pouco envergonhado, ele sorriu amarelado com as bochechas avermelhadas. —— Eles te mandaram ficar para uma missão, né?
—— É a vida de um ninja.
—— Estão nos vigiando ou nos protegendo?

Batsuki fechou o sorriso. Ele não sabia como responder àquela pergunta, não tinha certeza absoluta dos interesses da vila. Deu de ombros e ela soltou uma risada escondida atrás da mão. Tocou no ombro dele, despedindo-se, e foi embora com ele assistindo até ela sumir no horizonte, quando foi também descansar.

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Os arredores do Centro Botânico da Pedra eram tranquilos… até demais. Fazer as rondas na vila era uma tarefa monótona, como bem havia aprendido, mas estar ali, cercado de civis e pesquisadores, com nenhuma ameaça sequer no horizonte, como estaria sentindo-se ao vivenciar as rondas da vila. Bocejava vez ou outra, no topo do enorme edifício em que as pesquisas ocorriam, não por não dar valor àquilo, mas simplesmente porque era chato. Viu algumas crianças brincando de Kagome, Kagome e aquilo o fez lembrar dos tempos de escola. Ele nunca participou dos jogos com colegas, mas sempre foi tratado como um oni entre elas por causa de suas péssimas capacidades sociais e controle de impulsos.


Ele sentiu o vento assoprando os cabelos, a cantiga avançou nos dois versos seguintes. Risadas inundaram o espaço entre eles. Abriu novamente os olhos, encarando-as do alto, com um brilho do sol acertando diretamente os rostos infantis. Acabou escapando um sorriso do rosto dele. Diferente dos dilemas e dramas adultos, o mundo das crianças ainda valia a pena. Respirou fundo, endireitando os ombros. Precisava fazer até as coisas chatas não apenas para ser mais forte, mas para proteger as coisas que considerava importante; aquelas crianças, mesmo sem saberem, eram uma dessas coisas.

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O dia seguinte amanheceu com um ar diferente. Uma chuva de outono estava se formando no horizonte. As nuvens cinzentas e carregadas não eram uma ameaça, entretanto, ele sabia que eram momentos assim que coisas ruins costumavam acontecer. Ao menos, na Academia Ninja, aprendera como tempestades eram vantajosas em certos contextos militares. Quando saiu do hotel, coberto no manto branco com o capuz escondendo o rosto, ele soube que não seria mais um dia monótono; todo seu corpo ressonava em alerta. Preferiu, então, não fazer a ronda costumeira cujos pontos eram os menos prováveis de sofrerem ataques. Foi diretamente ao laboratório pela rua principal, escondendo-se da chuva com suas vestimentas pesadas enquanto as pessoas se protegiam abaixo dos telhados e toldos de panos na entrada de estabelecimentos.

Uma mulher berrou alarmando a todos, incluindo o shinobi. Virou-se depressa, incomodado em não ter notado nada antes. Se tivesse dominado as técnicas sensoriais…, mas era inútil pensar naquilo. Viu um homem correr com roupas escuras, mas de pouca proteção num dia chuvoso. Sentiu-se confortável para usar suas habilidades ninjas para resolver o problema o mais breve possível, então fez um dos selos de mãos costumeiros, ainda por debaixo do manto, pois não precisava dar os maiores sinais assim, tão descaradamente, e aplicou o chakra nas solas dos pés movendo-se um pouco mais rápido do que seu normal, mas o suficiente para puxar a blusa do assaltante e derrubá-lo.

Após recuperar o objeto roubado, deixou-o partir. Era um ladrão magro, com uma aparência doente. Além disso, agora que os moradores sabiam que um ninja estava entre eles, dificilmente tentaria sair da linha. Ainda mais sendo ele da vila, como comprovaram ao vê-lo erguer o rosto com o símbolo da vila no pescoço.

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Infelizmente, o fator surpresa desapareceu após a demonstração de poder com o assaltante na cidade. Passou o dia ouvindo cochichos sobre um ninja presente na cidade. Algumas pessoas preocupadas, outras achando que ele estava apenas aproveitando um período de descanso. Dois dias após aquele evento, as pessoas continuavam falando a respeito, como se aquilo significasse alguma coisa completamente diferente do verdadeiro: que ele estava ali cumprindo ordens. Isso, contudo, o fez refletir sobre a missão e as ordens que obedecia, normalmente, não pensando muito a respeito; sabia que assim que pensasse o perigo rondaria sua cabeça, apontando para ele como uma espada. Isto, pois, ele não concordava totalmente com os objetivos da vila — e só de pensar nisso poderia ser considerado traidor como Ito.

Mordeu o próprio lábio, irritado. Lembrar daquele homem causava sensações estranhas. Além de trair a vila, havia arriscado a vida de inúmeros inocentes e as centenas de mortes nos ombros de Batsuki deviam estar também nos dele, mas duvidava que ele sentia remorso por qualquer uma de suas ações. Mesmo assim, inevitavelmente, se tornava um pouco mais como aquele homem todas as vezes que questionava mentalmente as ordens recebidas; como a de vigiar Hanamaki, como se ele apresentasse algum risco aos interesses da vila. Afinal, quais eram esses interesses? Ele não entendia. A única coisa que compreendia era que fazer aquelas missões o ajudavam a continuar subindo até o momento que tivesse condições de realizar mudanças de verdade, ao menos na vila.

Por sorte, nada ocorreu naquele dia de ronda, pois seus pensamentos tão distantes talvez fossem atrapalhá-lo se acontecesse. Ainda mais quando, subitamente, se entendeu como um possível pária; e encheu-se de uma dúvida ainda mais perigosa: deveria visitar Ito na cadeia e entender seu lado?

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Não havia visto os cientistas há alguns dias. Ele não estava tentando fazer contato, porém, ele ficava até duas horas mais tarde que o horário comum de funcionamento, mas ainda assim não via saírem nem entrarem na manhã seguinte. Hanamaki era compreensível; o velho não descansava um momento sequer. Mana, no entanto, levantava muitas dúvidas. Apesar de tudo, ela não parecia tão submersa nesse universo. Uma assistente comum, fazendo um trabalho e aprendendo, mas não exatamente como o professor. Por um lado, no entanto, até que era bom eles não deixarem o recinto, assim era mais difícil serem alvejados por atentados terroristas.

Terrorismo, ele repetiu a palavra mentalmente. Era um termo estranho. Implicava realizar um ato de terror. Assistindo o movimento daquela cidadezinha, ele se perguntava o que eram atos de terror. Quando Iwa ordenava que ninjas ficassem cercando as cidades como uma proteção isso não era assustador? Seria isso uma atitude terrorista? Um exército de prontidão para a guerra, financiado pelo Daimyo, dispostos a tudo para defender seus interesses, independente dos problemas que causariam aos civis… isso não era assustador? Filhos assistindo os pais saírem em missões sem certeza que retornarão para casa com vida não era um terror? Ainda assim, o terrorismo ficava nas costas de apenas algumas pessoas, por quê?

Estava pensando demais — e sabia como isso era perigoso. Preferiu voltar a fazer rondas. Movimentar-se, esticar as pernas, sentir o ar seco no rosto. Qualquer coisa capaz de afastá-los daqueles pensamentos caóticos que o levavam sempre aos problemas na Academia ou com o pai, nas poucas vezes que ousou contrariá-lo. Problemas não eram necessários naquele momento.

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A caminhada não serviu completamente ao seu propósito. Durante a ronda, se distraiu nos minutos iniciais, mas bastou assistir mais crianças brincando para voltar a se submeter àqueles pensamentos complicados. Ele não tinha respostas claras aos pensamentos sombrios que rondavam sua mente a respeito do sistema militar. Isso deixava tudo muito estranho dentro dele; por mais que não estivesse totalmente de acordo, ele fazia parte daquilo. Perpetuava o sistema militar pelo simples fato de carregar o símbolo da vila no pescoço. Nunca abandonaria a vila, pois isso seria um terrorismo na vida da mãe — e ele nunca a machucaria de propósito. Por isso, aquele conflito era apenas uma massa de problemas dentro dele. Precisava achar uma maneira, mesmo que forçada, de lidar com o incômodo que era viver naquele militarismo.

Parou de frente para o enorme Centro Botânico da Pedra, observando a grandeza daquele espaço em que tantas pesquisas ocorriam simultaneamente, sendo a de Hanamaki apenas uma delas. Estava ali para uma missão, mas com desvios que solicitavam outra. Queria muito uma vigia constante sobre o cientista, mas ele não achava relevante. A forma mais fácil de resolver aquilo era apelar para a mentira; escreveria relatórios rasos sobre a observação e consistentes sobre a parte da segurança. Faria o mínimo do que detestava, mesmo que isso fosse errado e considerado antiético — afinal, existia alguma ética em servir um rico que não se interessa por nada além de suas terras?

Assentiu consigo mesmo e um brilho surgiu na frente do seu rosto. Num instante, uma enorme explosão acometeu o miolo do centro de pesquisas, explodindo várias janelas, fazendo cacos de vidros voarem em diversas direções. O capuz foi para trás, o rosto assustado de Batsuki foi revelado, assim como parte de seu corpo com o balanço do manto para trás. Um atentado estava em curso e só havia ele para defender as vidas inocentes.

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“Um bom ninja é aquele que cumpre sua missão a qualquer custo”, era o que ele escutava nos tempos de Academia Ninja. Isso desconsiderava uma série de fatores, mas era o modelo tradicional shinobi. Sacrifícios eram bem vistos naquele mundo, especialmente se isso fizesse os cofres do vilarejo ficarem mais gordos. Por isso, os shinobis eram chamados de ferramentas e ensinados a evitarem sentimentalismo durante a carreira; uma tarefa bastante difícil de ocorrer. Batsuki entendia bem, ainda sendo uma pessoa atípica no contexto sentimental. Após o susto momentâneo, ele invadiu o Centro Botânico sem pensar nos riscos. Não por causa da missão de se assegurar que o cientista ficasse vivo, mas porque seus sentimentos gritaram dentro dele.

Dentro do saguão principal, viu muito fogo espalhado. Conhecia bem o funcionamento das explosões, considerava-se perito nelas, mas nunca havia visto o resultado tão claramente. Notou a movimentação de vultos escuros, lembrando em muito as vestimentas dos membros dos Abutres; o plano explosivo também era muito semelhante. Vincou as sobrancelhas com raiva. Ele não deixaria que fizessem mal àquelas pessoas importantes para ele. Por isso, continuou avançando, ignorando as pessoas que não eram relevantes para ele. A recepcionista desacordada debaixo de escombros não era ninguém importante. Assim como um homem de jaleco com um braço em falta. Aquelas não eram pessoas que ele conhecia e se importava, eram apenas pessoas.

Com toda sua velocidade, alcançou o laboratório de Hanamaki e encontrou-o no chão com Mana. Ela estava desacordada, mas ainda respirava. O velho estava consciente, com a mão esticada na direção da estufa. Batsuki se agachou entre os dois e olhou dentro da estufa; havia uma terceira pessoa, trajada em negro, com o símbolo dos Abutres na mão que segurava a amostra da Rosa Negra. Ouviu o velho cientista amaldiçoar o momento e sabia que ele preferia ter a amostra resgatada do que a vida, mas ele não. Batsuki preferia mantê-lo vivo — e, por sorte, sua missão também.

O invasor virou-se na direção deles com o rosto escondido numa máscara preta. Hanamaki esticou mais o braço na direção dele, as lágrimas escorrendo pelas bochechas. Era o trabalho de uma vida sendo levado embora. Batsuki entendia o sofrimento, mas não tinha uma forma saudável de resolver aquilo. As chamas continuavam avançando por entre os destroços, Mana estava desacordada e ele mesmo não suportaria muito tempo; uma luta naquele lugar seria trágico, ainda mais com os poderes dele envolvendo ainda mais explosões. Resignado, agarrou os dois e saiu correndo do laboratório, salvando a vida deles para completar sua missão.

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—— Volte lá! Impeça-o! —— Hanamaki gritava na medida em que se afastavam do laboratório. Tentava bater as mãos e pernas no jovem ninja, mas estava fraco demais e, após alguns minutos, acabou desmaiando pela falta de oxigênio. Batsuki olhou diversas vezes com medo de ele ter morrido, mas continuava respirando.

Deixou o Centro Botânico da Pedra, onde uma pequena multidão se acumulava para assistir o incêndio. Deixou os dois no chão, agachando-se ao lado deles, e voltou-se aos focos de chamas espalhados. Ofegante após engolir tanta fumaça, ele ficou imaginando se havia alguma coisa que poderia fazer naquela situação. Não demorou, porém, para um corpo de bombeiros improvisado chegar no ambiente e começar a extinguir as chamas. Ele permaneceu assistindo, impotente demais apesar de seus conhecimentos ninja. Sabia muito bem como usar suas habilidades de formas ofensivas e defensivas, suas naturezas de chakra eram úteis, mas notou uma falta de força no momento de servir como um suporte também. Ainda assim, olhou para os dois resgatados e teve a certeza de que a missão estava concluída.


Ninguém encontrou vestígios do invasor. O atentado foi um sucesso. A missão de proteger a vida de Hanamaki, também. Ninguém poderia tirar dele aquilo. Havia realmente feito como a vila ordenara. Em seus relatórios disse tudo, todos os dias de rondas, a falta de suspeitas e como ainda não sabiam como a invasão ocorrera, mas deduzia ter sido um infiltrado. Apesar do sucesso, no entanto, ele sabia que teria conseguido evitar aquilo se tivesse mais habilidades, então não comemorou, não ficou feliz muito menos sorriu. Batsuki recebeu a comprovação do sucesso da missão mantendo uma expressão neutra e foi embora de volta ao lar onde o peso do travesseiro suavizava um pouco os pensamentos.

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