O sol tomava seu espaço no meio do céu, horário que as pessoas paravam suas atividades para descansar e se alimentar, aproveitando o clima agradável que a virada de estação proporcionava, e não era diferente na residência de Aoi. As panelas quentes exalavam um cheiro agradável que se espalhava por toda a casa, um fenômeno comum que servia pra alertar que logo a comida seria servida. O ruivo desceu as escadas que davam acesso à sala quase que ritmicamente, anunciando sua chegada com o barulho dos passos altos — Eu arrumo a mesa! — anunciou, passando pelos cômodos como um furacão, prontamente pegando os pratos e talheres dos armários para leva-los para mesa enquanto cantarolava uma melodia aleatória. O mais velho, percebendo que só tinha pares de pratos talheres nas mãos do menino, chamou sua atenção antes que saísse com um assovio — Sua mãe vem comer hoje, pegue mais um — o garoto abriu um sorriso e rapidamente cumpriu o pedido.

Enquanto colocava os pratos em cima do móvel, ouviu a porta se abrindo e, quando virou-se, viu a figura materna aparecendo detrás dela. Com semblante cansado, a mulher adentrou sua casa e, assim que viu os outros dois, um sorriso de alívio se formou em seu rosto. — Cheguei a tempo, pelo visto — o filho abraçou a mãe, e recebeu um beijo na cabeça em resposta. Agora que estava mais perto, percebeu que a mulher carregava um envelope em uma das mãos — Deixaram pra você, Aoi. Pediram pra entregar aqui — ela estendeu a carta na direção do garoto, este que rapidamente pegou e rompeu o lacre do invólucro, revelando o interior.

Considerações:

A carta era de autoria de Shizui, figura recente na vida do jovem Aoi. Na última semana ele teve a oportunidade de se juntar a um time, organizado pelo próprio Hokage, e, mesmo passado esse tempo, ainda ficava animado com qualquer tipo de movimentação do grupo. As notícias, porém, não eram as melhores. Desde o incidente do País das Ondas, Reiji e Sebastian permaneceram hospitalizados, incapacitados de cumprir suas funções como shinobis. O Sensei, por outro lado, se ausentaria pelos próprios motivos. O ruivo leu a carta atentamente, deixando escapar um suspiro quando comprovou a assinatura do remetente. — Como estão os meninos, mãe? — ele questionou a mãe enquanto pousou o envelope a carta em cima do móvel próxima à entrada, onde as correspondências abertas ficavam. Ela trabalhava no hospital e regularmente trazia noticias dos companheiros de Aoi — Estáveis, logo devem estar de volta à ativa — a mulher afagou os cabelos do filho e pousou as mãos em seus ombros — Mas vamos, temos um almoço pra comer, depois conversamos mais — por fim, guiou o menino casa adentro até a mesa de jantar, onde se sentaram, afinal, odiava falar sobre o trabalho em casa.

"Como posso surpreender o Sensei?" a pergunta rodeava a mente do gennin entre porções de comida enquanto as conversas o atravessavam na mesa de jantar. Entre as mensagens na carta escrita por Shizui, a ordem para que se fortalecesse martelava mais alto que qualquer coisa. Estava determinado em provar que poderia avançar sozinho sem a presença do seu superior. Assim que terminou a refeição, se levantou da mesa rapidamente, anunciando — Estou de saída! — num impulso de energia, saiu correndo para seu quarto, deixando seus pais terminando de comer. Acostumados com o tipo de atitude, os dois sabiam que provavelmente era algo importante pro filho, então não protestaram.

Considerações:

Não demorou muito para que Aoi descesse novamente as escadas no mesmo ímpeto que subira, agora vestindo novas roupas limpas e portando seus equipamentos. — Tchau pai, tchau mãe! — despediu-se enquanto corria em direção à porta sem nem virar o rosto na direção dos dois. Ouviu a resposta já do lado de fora enquanto era aquecido pelos raios solares. Aos poucos os comércios reabriam e as pessoas voltavam aos seus lugares, mas aquele era um dia tranquilo, e as ruas estavam com um fluxo menor que o normal.

Aoi seguiu seu caminho pelas ruas da Folha no próprio ritmo, aproveitando a brisa fresca que passava de tempo em tempo, enquanto pensava nos seus próximos passos. Ele tinha certeza de um ponto que deveria melhorar: seu taijutsu. O mais básico dos movimentos já era um verdadeiro desafio para o menino, mas seria inútil tentar melhorar essa área sozinho "Talvez eu possa pedir ajuda nisso.... algum dia....". Por outro lado, sua família se especializava em técnicas ilusórias, e aquele com certeza era um dos seus pontos mais fortes "Eu também não consigo avançar sozinho, mas por um motivo diferente, não sei como". Das opções restantes, e que o animava muito, era o seu estilo água.

Apesar de recentemente ter aprendido um jutsu potencialmente poderoso, o nível da sua transformação não chegava perto de seu pai, que era muito habilidoso com o elemento. Claramente lembrava-se de ser atingido por uma trompa d'água durante seus treinos sem ter notado a realização de selo ou jutsu algum. "Ele tinha dito o que mesmo?" parou sua caminhada por um momento, tentando forçar a memória "Que precisava ter uma certa intimidade com o elemento, né?" aos poucos, as cenas voltaram, e Aoi conseguiu lembrar de parte do que foi dito.

Enquanto devaneava no que aquilo deveria significar, os olhos do ruivo cruzaram com um balde de água no canto de um estabelecimento. Com um sorriso travesso, tendo certeza que ninguém mais o veria, se agachou para ficar mais próximo e tentou replicar o feito de seu pai. Ele concentrou seu chakra, de forma a tentar influir na água à sua frente, e assim fazer qualquer alteração no elemento. Alguns segundos se passaram e nada aconteceu. O Chinoike olhou frustrado para a água estática e, quando tentaria de novo, uma mulher idosa o interrompeu — Algum problema, querido? — ela questionou gentilmente o menino que olhava fixamente para seu balde de água. A face de Aoi imediamente tornou-se vermelha e, num salto, levantou-se e prontamente começou a se afastar — Nada senhora tenha uma boa tarde desculpa por qualquer coisa até mais — atropelou-se nas próprias palavras enquanto voltava ao seu caminho original, agora andando mais rápido que antes, torcendo para desaparecer da visão da senhora o mais rápido possível.

Aoi finalmente chegou no seu objetivo, um pouco mais rápido que o esperado depois do episódio vergonhoso, e prontamente foi até o balcão verificar as missões disponíveis. — Aqui. — o rapaz que estava detrás do balcão entregou um pergaminho — É simples, tem uma casa precisando de pintura e eles tão pagando. — Aoi suspirou, talvez estava ficando farto de missões simples, mas qualquer ajuda à vila ele aceitaria — Termine rápido e talvez tenha outra quando voltar, garoto — o ruivo pegou o pergaminho para si e girou o corpo, caminhando em direção à saída.

Considerações:

Aoi retornou às ruas da Folha, agora em direção ao local onde deveria cumprir sua missão recém recebida. O garoto, porém, não poderia estar mais alheio ao que acontecia ao seu redor. Preso na própria mente enquanto tentava racionalizar um meio de reproduzir o feito de seu pai. "Talvez se eu manter um fluxo constante..." ele tentava imaginar a figura do chakra permeando a água e permitindo seu controle "... então talvez eu possa influenciar na sua forma" pensar nas hipóteses do que poderia ser feito era, de certa forma, muito mais fácil do que botar na prática. Mesmo com um controle de chakra invejável para sua idade, fazer as coisas acontecerem sem alguém o guiando complicavam as coisas além do necessário. Isso, porém, era escolha própria do ruivo. Ele queria descobrir até onde conseguia avançar sem pedir ajuda de terceiros, portanto não se deixava abater fácil quando as coisas não iam como planejado.

Todo esse devaneio, apesar de não fazer o gennin desviar de seu objetivo, o distraiu o bastante para não perceber que as ruas começaram a ser familiares depois de um tempo. Aos poucos, Aoi se aproximava de uma casa igualmente familiar, mas só conseguiu descobrir quando ouviu a voz da senhora de mais cedo — Rapazinho, por aqui de novo? — o ruivo coçou a parte detrás da cabeça, sorrindo vergonhosamente — Será que você que veio me ajudar? — ela continuou antes mesmo de receber a resposta para a pergunta anterior. Olhando através da idosa, era possível perceber que a casa tinha sinais do grande tempo de existência e a pintura parecia já desgastada pela ação da luz solar.

— Acho que sim, senhora! — Aoi finalmente respondeu, conferindo o pergaminho que tinha em mãos — É pra pintar a sua casa, né? — ela sorriu, acenando a cabeça positivamente — Sim, sim, mas tem muito trabalho! A gente tá com uma infiltraçãozinha, sabe.... — o ruivo olhou na direção que a mulher estava apontando e não conseguiu disfarçar a surpresa. Na grama uma grande poça de água umedeceu parte da estrutura da casa, permitindo que musgo e mofo crescesse naquela área. Aoi percebeu que talvez fosse mais complicado do que pensava e provavelmente gastaria o dia ali. Naquele momento sua boca começou a secar, aquela quebra de expectativa foi o bastante para deixar o gennin mais desanimado. Talvez fosse um bom momento pra abrir um de seus pirulitos — Sim, é bem pequena mesmo — ironizou com um sorriso amarelo no rosto enquanto a mulher ria sem graça, tentando amenizar a situação — Vou tentar resolver — ela bateu algumas palminhas, satisfeita — Ótimo, ótimo, muito obrigada rapazinho. As ferramentas estão ali na oficina — finalizou apontando na direção de um pequeno casebre antes de se retirar para dentro da residência.

Considerações:

Aoi, antes de qualquer coisa, alcançou um de seus pirulitos nos bolsos e o colocou na boca. O doce causou reação imediata nas papilas gustativas do menino, se antes estava tenso e sem vontade nenhuma de fazer o trabalho, agora poderia fazer o que tinha pra fazer enquanto se distraía com outra coisa. O ruivo foi até o casebre, onde a idosa tinha indicado que acharia alguma ferramentas, e constatou que lá tinha tudo. Desde equipamentos de jardinagem até ferramentas pra reparos em geral, inclusive algumas que não reconhecia para que serviam. O gennin separou algumas lixas, rolos e tintas e deixou do lado de fora para quando fosse usar, mas antes tinha um problema maior que deveria ser resolvido.

"De onde tá vindo essa água toda?" se questionou, olhando a poça. Alguns segundos se passaram e Aoi achou um outro propósito para aquele montante de água "Hmm porque não aproveitar e tentar aquilo de novo um pouquinho?" sorriu travesso enquanto se aproximava da área úmida, deixando a missão de lado por um tempo. A primeira vista, a poça parecia estática, sem nenhuma corrente de água passando. Olhando melhor, ele pode comprovar que não tinha sinal de onde aquele depósito de água pode ter se originado, muito menos por que ficou parado ali. Satisfeito com as observações, Aoi se ajoelhou para se aproximar da fonte de água e voltou a testar suas hipóteses quanto ao controle do elemento.

Formando o selo do carneiro, concentrando-se de olhos fechados, o ruivo tentou projetar seu chakra de forma a imbuir a água à sua frente. Dessa forma, ao moldar seu próprio chakra, o líquido seguiria como se estivesse confinado em um recipiente. Algumas tentativas depois, porém, mostraram que só teria falha, já não houve qualquer movimentação causada pelo gennin. Ele levantou do lugar, intrigado com aquela questão. Por ora, deixaria aquilo de lado e voltaria ao seu objetivo principal ali. — Talvez eu precise de mais chakra? Ou eu to fazendo isso de um jeito errado? —sse para si mesmo enquanto se afastava para pegar um balde pra tirar aquela água dali, dessa forma talvez descobriria de onde estava fluindo. Antes que pudesse começar o experimento, porém, ouviu um barulho alto enquanto ainda estava de costas. Aoi virou o corpo instintivamente com um dos braços na frente do corpo, preparado pra interceptar algo que poderia vir em sua direção, mas o que viu não foi nada do que esperava. Talvez o trabalho realmente fosse pior do que Aoi imaginava.

Considerações:

Um grande buraco no jardim daquele terreno se formou depois de uma massa de água ser expelida com alta pressão de dentro da terra, arremessando tudo o que tinha em volta. Como resultado, parte da estrutura da casa que Aoi deveria arrumar cedeu depois da árvore presente ali tombar em cima do telhado. Algumas decorações do jardim também projetaram e caíam nas casas vizinhas, danificando outros telhados e janelas. Em meio a tudo isso, ainda, a água não cessava e jorrava forte, molhando tudo em volta. Paralisado por alguns segundos enquanto tentava assimilar o ocorrido, o ruivo olhava pra situação sem acreditar o que tinha acontecido. O torpor durou até ele se lembrar que dentro da casa tinham idosos, não podia ficar ali parado. Aoi correu até dentro da residência, onde pode comprovar que a água já começava a se acumular em algum dos cômodos — Ei, senhora! Tá tudo bem?! — gritou enquanto entrava casa adentro, procurando pela mulher que viu mais cedo — Estamos aqui! — ao reconhecer a voz, rapidamente o Chinoike correu para o final do corredor, onde encontrou um casal de idosos e uma garotinha mais nova.

— O que aconteceu? A gente só ouviu o barulho — o homem questionou enquanto cobria a esposa e a garotinha em um abraço protetor — Alguma coisa aconteceu no quintal onde tinha água. Venham, vou levar vocês pra fora — o gennin guiou a família até o lado de fora, tomando cuidado para ajudar os mais velhos a atravessarem a parte molhada sem problemas, e aos poucos um pequeno grupo de pessoas se juntavam pra ver o que tinha acontecido. Até então o único shinobi ali, a responsabilidade de arrumar aquilo caía no seu colo. Aoi foi até a torrente de água para ver se encontrava alguma coisa e se aproximou o máximo que era possível. Por baixo da lama que se formou, os olhos do ruivo perceberam algo metálico que refletia a luz do sol — Um cano estourou — anunciou para os demais em um tom alto para que ouvissem. Os indivíduos ali comentaram algo entre si, mas a atenção de Aoi estava voltava pra outra coisa "Seria mais fácil parar isso se eu soubesse fazer o que papai faz" pensou frustrado, tentando imaginar alguma coisa pra parar aquilo.

Não demorou para mais alguém aparecer. Um shinobi aparentemente mais velho e mais experiente se aproximou e, vendo a situação, compartilhou seus pensamentos com o menino — Você sabe usar técnicas de água? — Aoi concordou com a cabeça, ainda sem entender — Preciso que diminua a pressão da água pra eu poder fechar o buraco — a solução parecia simples, mas tinha um problema — Eu não sei como — o ruivo respondeu, envergonhado. O shinobi em sua frente, porém, não parecia se importar — Então trate de aprender, por que isso precisa ser feito agora — ele disse rispidamente, pressionando o gennin.

Considerações:

Claramente a solução para o problema era simples e estava nas mãos de Aoi ajudar o outro shinobi. O garoto estava frente à um dos seus medos naquele momento. Outra pessoa depositou expectativas no gennin que o próprio não sabia se conseguia cumprir e isso foi o suficiente pra fazer seu sangue gelar. Aoi respirou fundo, recuperando o controle do próprio corpo vagarosamente enquanto o outro shinobi estava à sua frente, esperando algo ser feito. O ruivo permaneceu em silêncio, procurando em seu interior alguma resposta pra suas perguntas "Deveria ser tão difícil assim?" ele olhou pra água jorrando do cano e coçou a cabeça, ainda meio zonzo. Aos poucos, novas ideias surgiram à mente do gennin, até que uma pareceu razoável "E se ao invés de tentar mexer na forma em si, não tento fazer a água seguir um fluxo que já existe?" o brilho voltou ao olhos do menino e estava pronto pra tentar mais uma vez.

Focou seu chakra novamente, realizando o mesmo selo de mais cedo, e dessa vez tentou fazê-lo fluir como a água fluiria no cano fechado, antes de se romper. No processo, focaria em tentar arrastar o líquido que estava vazando por esse fluxo e, dessa forma, pelo menos diminuir a vazão da água para que o outro fizesse o que tinha que ser feito. Alguns minutos se passaram até que qualquer avanço pudesse ser visto. Aoi mal percebeu pois manteve os olhos fechados durante todo o processo e o outro homem não sinalizou nada, mas a quantidade de água que jorrava diminuía gradativamente, mesmo que lentamente.

Depois de mais uns minutos, quando a água já estava com muito menos força, o mais velho fez um selo e a terra ao redor do cano começou a envolver a rachadura, selando por completo o vazamento depois de um tempo. Percebendo que estava tudo seguro e que o remendo que fez seguraria por um tempo, finalmente falou com Aoi — Já tá feito — o ruivo só percebeu naquele momento que a água tinha parado de cair nos arredores, tamanha concentração que foi necessária, e olhou surpreso pro cano enterrado — Que?! Eu consegui?! — ele disse sorrindo, procurando aprovação do outro — É, ainda precisa melhorar. Mas tá indo pelo caminho certo — Aoi aceitou aquele elogio disfarçado e comemorou de maneira contida, mantendo o sorriso no rosto.

— O que eu fiz foi uma forma mais refinada do que você tentou fazer. — o outro shinobi cruzou os braços, claramente ele não gostava de estar naquela posição de tutor, mas estava fazendo para recompensar o esforço que presenciou — O próximo passo agora é melhorar a interação do seu chakra com o seu elemento e tornar tudo mais eficiente — Aoi prestou atenção nas palavras e começou a assimilar o que ele queria dizer. Enquanto isso, o mais velho conferiu novamente o buraco e, tendo certeza que a barreira aguentaria mais um pouco, finalizou — Já devem estar fechando a válvula de água e logo devem vir arrumar essa bagunça. Até mais. — e, num movimento rápido, o homem despareceu sem deixar rastros.

Aoi olhou em volta e a visão não era nada animadora. A casa do terreno do acidente estava com parte do telhado e parede caídos e água entrou por toda a cozinha e sala, formando uma camada suficiente para afundar parte dos pés. Nos terrenos vizinhos, o cenário era parecido, apesar de menos grave. Apesar do problema ter resolvido, ainda tinham coisas a serem feitas.

Considerações:

Agora que o desastre havia sido controlado, o pequeno grupo de pessoas que estava do lado de fora começou a se aproximar para averiguar o acontecido e os danos que foram causados. Todos pareciam atônitos com a cena, principalmente os donos daquele terreno. O casal ficou contemplando com um semblante triste a destruição parcial do seu lar, igualmente a criança que os acompanhava parecia cabisbaixa, segurando as vestes da idosa. Aoi não sabia o que dizer nem como agir perante aquela situação, palavras reconfortantes não eram seu forte, mas se sentiu na obrigação de falar alguma coisa — Pelo menos a infiltração foi resolvida — e instantaneamente se arrependeu quando o homem lançou um olhar irritado em sua direção — Mas pelo o que eu ouvi falar eles vão vir arrumar tudo! — informou a eles, o que diminuiu a tensão que havia se criado, mas não mudou o humor geral de ninguém.

— É... bem... porque vocês não esperam um pouco e eu vou ver o que consigo adiantar antes da equipe da construção chegar? — Aoi sorriu, tentando melhorar a situação com atitudes dessa vez. A idosa se aproximou do gennin, claramente segurando as lágrimas para que não escorressem pelo rosto, e botou umas nas mãos no ombro do rapaz — Você é um rapazinho muito gentil — ela disse com um sorriso não exatamente feliz — Me lembra muito do meu filho — os olhos dela marejaram ainda mais, mas a mulher limpou antes que o inevitável acontecesse — Vou aceitar sua ajuda sim, faça o que conseguir, por favor — o ruivo se limitou a acenar positivamente com a cabeça enquanto seu rosto expressava uma seriedade que era rara de se ver.

Enquanto a família se retirou novamente, indo se abrigar na casa de um vizinho enquanto esperava as coisas se ajeitarem, Aoi adentrou a casa para verificar qual teriam sido os prejuízos da explosão. Além do telhados e paredes quebradas, alguns móveis foram encharcados e o próprio chão ainda tinha uma grossa camada de água. "Tirar a água daqui de dentro ajudaria demais" ele pensou enquanto seus pés afundavam na água "E talvez eu ainda consiga fazer isso com aquilo que o cara tinha dito" a possibilidade de poder ajudar enquanto melhorava seu estilo água o animou, afinal, era pra isso que Aoi se esforçava tanto. Ser alguém útil para Konoha, mesmo que para ajudar os moradores com tarefas básicas, era uma das coisas que o impulsionavam para frente. E reforçaria essa vontade dominando aquela nova habilidade ali.

Considerações:

Com o sucesso de mais cedo, Aoi estava determinado a descobrir como deixar seu controle elemental mais preciso, afinal, ter acesso a esse tipo de técnica abriria novas possibilidades para o shinobi. Olhando pra toda aquela água, reparou que não havia para onde escoar de maneira simples, provavelmente teria que usar panos e baldes pra secar, e seria uma atividade que exigiria muito tempo "Melhor usar o tempo pra procurar um meio mais eficiente" concluiu enquanto abria outro de seus pirulitos, levando o doce à boca antes começar o que planejava fazer.

De início, tentaria reproduzir o que fez com a torrente de água. O que entendeu com o acontecido e a fala do outro shinobi foi que seu chakra deveria fluir de forma natural, como a própria água, e talvez assim a manipulação fosse mais refinada. Fazer isso com uma corrente natural exigiu muito do ruivo, então só podia imaginar o tamanho do esforço para criar uma correnteza do zero. — Só vou saber quando começar, eu acho — ele esticou os braços, se alongando, e respirou fundo antes de dar início àquele treino muito do peculiar.

Repetiu o selo que fez mais cedo e concentrou seu chakra na água ao seu redor, mantendo um fluxo constante, tentando criar uma correnteza oposta ao seu corpo, de forma que a água se afastasse. Demorou longos minutos até que o garoto percebesse que a água deixava de ser estática e pequenas ondas formavam-se na superfície do líquido. Aumentou a dose de chakra e a correnteza se tornou mais forte e a massa de água em volta de seu corpo começou a diminuir, migrando para outras direções, criando uma área de chão seco.

Aoi se animou com os primeiros sinais de sucesso e passou mais um tempo reforçando a técnica, de forma tornou-se reprodutível depois de um número de repetições. O ruivo, porém, sabia que, apesar de estar perto, não havia chegado lá. Seu pai conseguia criar torrentes de água e usar o líquido das mais variadas formas. — Pelo menos eu já entendi o que tem que ser feito — ele falou para si mesmo, olhando para os pés já dentro da água de novo — Ai, mexer com técnicas ilusórias parece ser tão mais fácil — ele riu da própria situação, contemplando a dificuldade que era aperfeiçoar o próprio elemento "Será que todos passam por isso?" questionou-se por fim, antes de continuar tentando manipular o elemento. A resposta era óbvia: não. Mas Aoi tinha consciência que não poderia fazer nada além de enfrentar aquela dificuldade para avançar como shinobi.

Considerações:

Seu próximo objetivo era simples e claro: tirar toda a água que se infiltrou para dentro da residência. Para isso, manipularia o elemento com seu chakra até fora da casa. Os cômodos que tinham maiores quantidades de água estava perto da entrada da casa, então talvez seria melhor fazer a água escoar para o quintal por lá. O gennin já tinha sucedido em fazer uma correnteza, mesmo que em pequena escala, agora tinha que expandir para uma parte maior e guiar a água até a porta. Sem hesitar, o ruivo começou a concentrar seu chakra e expandi-lo de forma a alcançar todo líquido presente num raio de 5 metros a partir dele. O próximo passo era mover toda aquela massa líquida e criar uma corrente até a porta à sua frente. Aoi respirou fundo e tentou fazer a energia fluir e arrastar a água junto com ela. Essa nova etapa se mostrou um desafio e demorou alguns minutos pra qualquer alteração ser observada, mas o barulho da água se movendo aos poucos ia sobrepondo o silêncio da cozinha que estava. Finalmente sentiu que conseguiu descobrir como fazer aquilo, talvez agora conseguiria ir além e, depois de um pouco mais de treino, conseguiria ser tão versátil no controle quanto seu pai.

— Ei isso é legal! — uma voz ecoou vindo do lado de fora, o que fez com que o ruivo perdesse a concentração e, aos poucos, a água voltava a ficar estática. Olhando na direção do barulho, percebeu que era a menininha que estava com os idosos — Opa, foi mal! — se desculpou, percebendo que tinha atrapalhado alguma coisa. Aoi deu uma risada, ignorando o que acabara de acontecer, e se aproximou da porta que dava para o quintal — Você achou? Eu tô tentando fazer isso desde cedo — ele se abaixou para ficar na altura da garota que tinha provavelmente um pouco mais da metade da sua idade — Noooooossa, deve ser difícil então! — ela comentou com os olhos arregalados, genuinamente surpresa — Eu vim ajudar! — ela disse com um sorriso no rosto, olhando fixamente para Aoi, que ficou sem saber como reagir inicialmente.

— E aí o que eu faço?! — ela tentou olhar por detrás do gennin, tentando ver como estava dentro da casa. "As pessoas sabem que ela tá aqui?" pensou sozinho antes de falar com a menina — Porque você não termina de secar os cômodos dos fundos, então? — sugeriu, sabendo que era a parte mais segura e com menos trabalho a ser feito. A menina abriu um sorriso e aparentou ficar mais animada que antes — Siiim, eu posso fazer isso, eu ajudo vovó direto com a limpeza!! Já até sei onde tão as coisas! — e num movimento tão rápido quanto uma criança poderia fazer, ela saiu correndo pelo quintal, contornando a casa para entrar pela outra porta que dava na área de serviço. Depois de alguns barulhos de armários se abrindo e plástico se chocando contra algumas superfícies, ela apareceu alguns panos e balde, e começou a secar o assoalho. Aliviado que a situação estava controlada, sabendo que a menina não corria nenhum perigo ali, agora era hora de colocar seu treinamento à prova.

Considerações:

Aoi retornou à cozinha alagada, na mesma posição de anteriormente, e voltou a tentar manipular o líquido abundante ao seu redor. Depois de tentar realizar a mesma coisa o dia inteiro, dessa vez não demorou muito para que as coisas começassem a funcionar. Em pouco tempo, a água se agitou e seguiu a vontade do ruivo, formando uma correnteza na direção do quintal, escoando-se para a terra. O menino presenciou a cena animado e orgulhoso, esboçando um grande sorriso, mal poderia esperar para mostrar ao seus pais e seu time a nova habilidade que adquiriu. Não demorou muito para que a maior parte da água do espaço fosse removida e, deixando no lugar apenas uma fina camada que poderia ser seca com um pano ou naturalmente.

Olhando para dentro da construção, percebeu que grande parte da água tinha sido removida, restando algumas poças. Ele foi até a garotinha, que passava pano fervorosamente pela sala onde estava — Consegue me arrumar um desses, mocinha? — ela virou na direção de Aoi, ainda agachada — Claro!! Peraí — ela largou o que estava fazendo e saiu correndo para a área de serviço, voltando pouco tempo depois com um pano em cada mão — Aqui, achei mais dois! — ela entregou para o ruivo e retornou a sua função sem nem ao menos esperar por um agradecimento. O Chinoike riu baixo e pegou um dos panos pra tirar o resto da água dos cômodos perto da entrada.

Considerações:

Aoi mal percebeu a passagem do tempo, mas a tarde já estava chegando ao fim quando terminou secar a infiltração. Despejou pelo ralo o último balde de água quando escutou ao longe uma pequena comoção que julgou ser na rua devido à direção do som. Foi até lá fora, onde viu um grupo de pessoas se juntando à algumas pessoas uniformizadas, aparentemente aquelas seriam responsáveis por arrumar toda aquela destruição. Aoi se aproximou e, atrás dele, a garotinha também foi até chegar nos proprietários daquele terreno. — Fiz o que pude pra ajudar — ele disse, visualmente desgastado, com algumas gotas de suor caindo pela testa. A idosa sorriu, estava mais tranquila que da última vez que se falaram — Muito obrigada rapazinho, esses rapazes vão terminar de consertar tudo — Aoi olhou para o grupo de homens, estes que começavam a se organizar pra começar o trabalho. — Eu vou indo agora, tenho que explicar o que aconteceu aqui — o ruivo começou a se despedir, trocaram alguns sorrisos e, por fim, ele se afastou. Ao longe, ouviu a voz da garotinha uma última vez — Vovó, você tinha que ver, parecia mágica! — o ruivo soltou uma risada e apressou o passo para chegar no posto de missões.

Já no local, Aoi reportou tudo o que aconteceu e, depois de uma breve conversa, pegou a sua recompensa e foi até sua casa enquanto saboreava mais um de seus pirulitos. Precisava descansar depois de um dia animador, mas conturbado.

Considerações:

Correção (mais uma, foi mal):

Alguns dias se passaram desde a última missão de Aoi, o que deu tempo dele atualizar seu pai das suas novas habilidades e até demonstrar para ele em uma luta de treinamento. No dia anterior, porém, o homem anunciou que ensinaria uma coisa nova para o gennin. Animado, mas sem saber ao certo o que era, o ruivo tirou o tempo para descansar e guardar energias para o que viria. Quando chegou a tarde do novo dia, durante à tarde, o homem chamou o menino para os fundos da casa, onde ficava o quintal do terreno.

O homem sentou-se no chão e o menino o acompanhou, sentando-se alguns metros à sua frente. — Bem, você começou o caminho pra dominar o Suiton — um tom orgulhoso vinha acompanhando a fala dele, que aumentou a animação do ruivo — Então acho que está na hora de expandir pra outros elementos — Aoi mudou sua expressão para uma curiosa, nunca tinha parado pra pensar nisso antes, mas ainda focado no que ele tinha pra dizer — Além da sua afinidade, é possível desenvolver outros elementos e usar suas técnicas — o homem apontou para o filho, que ficou confuso de início — Você nasceu com afinidade com o Suiton, mas isso foi herdado de sua mãe — ele dobrou o braço e agora apontava para si mesmo — Eu nasci com afinidade em Doton, apesar de escolher não desenvolver o elemento até o fim — ele sorriu e Aoi aos poucos percebia onde ele queria chegar.

— Então talvez a minha segunda natureza também seja Doton? — disse sem confiança, mas percebeu que estava correto quando o homem a sua frente acenou positivamente com a cabeça — É claro que há exceções, mas há grandes chances! — enquanto dizia isso, colocou as mãos dentro do bolso das vestes e tirou um bolo de papeis peculiares — Bem, tente infundir esse papel com seu chakra, mas tome cuidado pra não botar chakra Suiton nele. — Aoi pegou um dos papeis e, a primeira vista, não parecia nada especial.

O ruivo concentrou seu chakra sem muito cuidado e quase que instantaneamente o papel se encharcou de água, pingando em sua mão — É um papel sensível, você tem que tentar de verdade, Aoi... — o gennin concordou e pegou outro papel. Dessa vez, concentraria seu chakra puro, evitando aplicar qualquer transformação de natureza de água. Após um tempo, o papel umedeceu de novo. Talvez aquilo demoraria um pouco mais do que achava.

Passou-se longos minutos de várias tentativas frustradas. Quando estava perto de desistir, o homem incentivou que Aoi continuasse — Não é uma coisa simples, se não conseguir hoje vai ter que tentar amanhã de novo — o que parecia uma ameaça, na verdade, funcionava como incentivo para Aoi. Entendia que era uma coisa inevitável, que deveria passar agora ou depois. O ruivo acenou com a cabeça determinado e voltou a fazer concentrar no papel. Dessa vez, depois de alguns minutos sem qualquer alteração, o papel começou a rachar e, em poucos segundos, esfarelou-se na mão do menino. Como esperado, sua segunda natureza era Doton.

Os parentes se cumprimentaram com um toque de mãos e se levantaram da grama — Que tal sairmos pra comer hoje pra comemorar? — Aoi sorriu diante a proposta — Vamos naquele lugar com o bolo de limão! — o pai concordou enquanto ambos caminhavam para fora de casa.

Considerações: