Batsuki estava caminhando nas ruas da vila, patrulhando mesmo sem ordem alguma. Havia começado com aquele costume após ser promovido, embora não fosse efetivamente uma missão. Sentia-se mais confortável fazendo algumas rondas diariamente, a maioria próximas do local de trabalho da mãe e na própria casa ao anoitecer. Naquela tarde, porém, foi surpreendido por um mensageiro com um pergaminho com o selo da nova liderança da vila. Enfiou-se num beco e leu, não conseguindo evitar abrir um sorriso eufórico; estava novamente ligado ao cientista Hanamaki, embora não fosse vê-lo, a princípio.

Estava de volta no caso do ataque ao cientista, mas dessa vez ele precisaria investigar diretamente os suspeitos dos últimos atentados. Tratava-se de uma missão de nível B, indicado aos ninjas de sua graduação. Sabia, porém, que isso também significava dificuldades maiores e confrontos diretos. Se antes havia uma mínima chance, agora Batsuki tinha certeza que aconteceria. Aquela seria também sua primeira missão no novo cargo, uma forma de ele mesmo testar se era mesmo merecedor daquela promoção obtida no meio de tanto sangue inocente derramado. Acenou para a mãe, na porta do trabalho dela, e ela sorriu de volta. Depois, nublando aquela expressão infantil, ele seguiu ao Quartel General para começarem a organização estratégica da missão que, de acordo com o pergaminho, não envolvia apenas o adolescente, mas ele seria de grande importância na tarefa.

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Quando entrou no Quartel General os olhares foram sinistros. Muitos ali o conheciam desde os tempos da academia ninja e tinham motivos para não achá-lo compatível ao cargo recebido. Alguns eram conhecidos do pai, pessoas que ele viu em vários momentos acompanhando seu genitor e, portanto, o culpavam corretamente pelo assassinato do homem. Por mais que a vila não o julgasse e tratasse o episódio como acidente, eles sempre o encaravam como se soubessem a versão verdadeira. Uma onde o menino perdia o controle dos poderes e engolia o pai numa explosão que destruiu também a própria casa e matou a figura paterna. Ainda assim, o líder que concedera a ele aquela promoção o recebeu tranquilamente, ignorando as expressões alheias; era isso que um líder devia fazer.

—— Parabéns, você está de volta neste caso —— disse-lhe.
—— Obrigado, senhor.
—— Na verdade, você é o único que pode concluir nosso plano, por isso foi chamado.

Batsuki apertou as sobrancelhas, confuso. Ainda era inexperiente demais para certas coisas. Não achava que uma missão tão grande só podia ser concluída por ele. Conseguiria fazer a diferença, isso ele não duvidava mais, mas ser o único capaz de fazê-la? Curioso, manteve-se quieto, aguardando novas informações.

—— Os Abutres são um grupo de criminosos que se formou na nossa vila recentemente, pelos relatórios eles operam em pequenos grupos e um deles pode estar por trás do ataque ao pesquisador Kurotsuchi Hanamaki. Precisamos que alguém se infiltre e descubra o máximo de informações possíveis e você será esta pessoa.
—— Sim, senhor, mas por que eu? Há algum motivo especial?
—— Você entenderá. O plano é bastante simples: armaremos uma emboscada a um dos membros dessa célula dos Abutres, mas será falsa. Você irá defendê-lo e se disfarçar de Nukenin. Isso deverá ajudar a fazê-lo entrar no grupo.

Batsuki sacudiu a cabeça para os lados. Ele teria que fingir ser um criminoso? Alguns risos abafados ecoaram na sala. Pelos olhares, eles achavam condizente com sua existência, mas ele era diferente. Nunca se tornaria um criminoso como aqueles que ostentavam recompensas por suas cabeças. Mordiscou a bochecha por dentro, incomodado, mas não quis falar mais nada. Descobriria as coisas melhor quando se infiltrasse, pois se não desse certo daquele jeito, ele acharia outra forma antes de planejarem outro absurdo.

—— Sim, senhor —— disse e tirou a bandana do pescoço, colocando-a na mesa de madeira entre eles. —— Se é necessário para o bem da vila, estou disposto a fazê-lo.
—— Ótimo, então vamos começar.

O sorriso no rosto do líder era… assustador.  

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Era estranho fazer uma missão sem um símbolo da vila. Batsuki nunca se imaginou andando assim, por entre as sombras, escondido num manto surrado e preto sem o direito de exibir-se como ninja da vila em que nasceu e cresceu. Mas ali estava, esperando movimentando-se como um verdadeiro criminoso para se posicionar, juntamente dos demais ninjas, para iniciarem a operação. Depois de certo ponto, separou-se do time de shinobis que exibiam orgulhosamente o símbolo da rocha nas testas marcadas pelo ferro das bandanas. Tomou um caminho misterioso que lhe permitiria invadir a cena e ajudar os criminosos à contragosto; ele não queria ficar contaminado com o cheiro dos crimes deles, por que era a segunda vez que tinha de ficar próximo de alguém tão imundo?

Talvez fosse o carma. Ele acreditava um pouco nessas coisas. Tinha assassinado o próprio pai, alguma punição divina devia cair sobre ele em algum momento, por mais estranha que ela fosse. Endireitou-se na posição indicada nos planos da missão e observou atrás de uma casa, nos arredores da vila. Coberto naquele manto, seus cabelos loiros chamavam atenção, por isso escondeu-os com o capuz. A mão direita estava dentro de uma das bolsas, pronta para iniciar a ação. Os demais estavam posicionados aguardando a saída do membro dos Abutres, mas ele não via ninguém. Aquela era a segunda etapa oficial da missão e ele não sabia quanto tempo demoraria até um dos membros dos Abutres surgir.

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Cerca de duas horas haviam passado em completo silêncio. Batsuki estava se entediando com a missão, mas era treinado. Na Academia fez alguns treinamentos longe das salas de aulas, em espécies de acampamentos, para serem ensinados a paciência necessária a um shinobi. Na época, porém, ele sempre acabava se incomodando com alguma coisa boba e explodindo de raiva. Parecia que aquilo era distante demais da sua versão presente, mas, na verdade, havia se formado na Academia há meio ano. Estava mais próximo dos alunos do que dos superiores que ordenavam as missões. Mesmo assim, ele estava ali. Convocado para trabalhar numa missão importante, cercado de ninjas habilidosos. Ainda mais importante, sendo creditado como a peça mais relevante de toda a missão.

Um movimento aconteceu; um som quebrando o silêncio do anoitecer. Batsuki pressionou o cabo da kunai com mais firmeza. Uma porta de ferro se abriu e um dos membros saiu coberto num manto escuro, semelhante ao dele. Os ninjas saltaram, cercando-o na saída do estabelecimento. Portando mantos brancos, eles sacaram espadas e outras armas na direção do homem, dando ordem de prisão; aquele era também o sinal para Batsuki agir. E, após respirar fundo, ele não titubeou em saltar fazendo o manto sacudir no ar. Atirou três kunais ao redor do alvo — elas brilharam vermelhas e provocaram pequenas explosões graças ao chakra adicionado nelas. Desceu do céu, como um anjo negro, e agarrou o homem colocando-o no ombro, usando toda a sua força no processo. Depois, saltou pelas casas, afastando-se da arapuca criada pelos ninjas até que soltou o malfeitor, sentindo-se imundo.

—— Você?!
—— Continue correndo se quiser ficar vivo e livre —— Batsuki ordenou e ele concordou.

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Após alguns minutos avançando, caíram numa floresta próxima. Infiltrados por entre árvores e arbustos, os dois notaram como os ninjas da vila não estavam mais tão próximos. Tinham se perdido, ao menos era isso que aparentava. Batsuki sabia que haviam apenas deixado o plano seguir. Não precisavam criar uma cena de combate contra o adolescente — embora algumas pessoas com certeza ficariam felizes com a oportunidade. Depois disso, aliviaram a velocidade dos passos, para felicidade do criminoso ofegante que se encostou numa árvore logo depois. Batsuki girou com o manto balançando e o encarou a alguns metros de distância.

—— Obrigado pela ajuda, Cara-Queimada.
—— De nada… do que me chamou?
—— Cara-Queimada —— o homem riu tirando os cabelos pretos que caíam na testa graças ao suor. —— É assim que você ficou conhecido.
—— Conhecido?
—— Você é o ninja que explodiu as montanhas, não é?

Batsuki tentou manter a expressão serena, mas aquilo o irritou e ele teve de morder a parte interna da bochecha. Por isso ele me queria na missão, deduziu, porque os desgraçados acham que eu sou um criminoso também. Assim que passou a raiva, aproximou-se do homem que não tinha nenhum jeito de ser ninja. Observou atrás, fingindo se importar se perseguiam eles ou não, pois sabia a resposta. Afastou-se novamente, os cabelos balançando a cada passo.

—— Sim, você pode me chamar de Kisuke.
—— Prazer, me chamo Qi-ral.

O adolescente voltou a olhar aos arredores, mas dessa vez fingindo que não estava mordendo a boca inteira por dentro de tanta raiva. Quem teve aquela ideia? Seria a Tsuchikage nova em exercício? Queria explodir aquele homem diante dele após recolher dele toda informação necessária; mas ir ao esconderijo sozinho era o mesmo que dar a missão como uma falha completa. Portanto, ele engoliu a raiva.

—— Por que os ninjas estavam atrás de você?
—— Eu não sei se devia contar isso a você…
—— Já estou fugindo desses infelizes há um mês, desde aquela explosão. Mais de quatrocentas pessoas morreram naquele episódio. Se eles me pegarem, terei a cabeça enfiada numa estaca. Estamos do mesmo lado.

O homem suspirou, dando de ombros. Esticou o braço direito e levantou o manto, revelando uma tatuagem no dorso da mão, uma ave de rapina escura dentro de um losango. Guardou o símbolo, olhando para os lados, e sorriu, eufórico. Batsuki nunca havia visto o símbolo antes.

—— Faço parte de uma organização chamada Abutres (禿鷹).
—— Perdão, mas nunca ouvi falar de vocês.
—— Tudo bem. Somos novos. Ao menos ao grande público. Temos algumas cidades menores sob nosso domínio dentro do país. Isso incomoda o Senhor Feudal.
—— Por isso estão sendo caçados. —— Batsuki pontuou e Qi-ral concordou. —— Então você tem um lugar seguro para ficar?
—— Claro. Não fica muito longe daqui. Na verdade, você devia vir também. Acho que o chefe vai gostar de te conhecer, Cara-Queimada.

Qi-ral tocou no ombro do garoto, tomando a frente da jornada. Batsuki olhou para o próprio ombro com desdém, sem deixar o criminoso notar. Em silêncio, odiando o apelido recebido, ele seguiu o bobalhão com a mão sobre uma kunai, a última do seu arsenal, para caso fosse necessário enfrentá-lo.

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Caminharam durante mais de uma hora. Por sorte, ele estava preparado. Enquanto o manto batia no ar de outono e seus cabelos dançavam conforme os ventos, ele controlava a respiração para não cansar demais. Apesar do apelido recebido — e detestado — e da forma como Qi-ral não demonstrava maldade, ele ainda era um criminoso. Uma pessoa que, em outra situação, ele não teria problema algum em exterminar usando seus poderes explosivos. Tinha aprendido isso após sua última missão: ele estava mesmo disposto a cometer atrocidades em nome do que julgava necessário e importante.

Qi-ral, no entanto, não estava mentindo. Levou-o até uma construção robusta, com entrada oval e subterrânea, no meio dos rochedos afastado da vila. Lamparinas brilhavam em amarelo e laranja. O malfeitor chamou sua atenção, guiando-o para o esconderijo dos Abutres. Batsuki não entendia muito de aves, mas tinha a leve impressão de que elas não viveriam ali. Ainda assim, quanto mais andavam, mais escutava barulhos humanos; conversas, risadas, talheres batendo.

—— Lang-Yi vai adorar conhecê-lo, Kisuke-san.
—— Lang-Yi?
—— É o nosso chefe, ele é um cara legal, mas não comente nada sobre o olho.
—— Olho?
—— Você entenderá.

Qi-ral tomou a frente com passos mais rápidos e abraçou outro homem, um careca coberto de cicatrizes. Todos vestiam mantos pretos, mas coletes azuis por debaixo, mostrando certa uniformidade. Batsuki se aproximou tímido, tirando a mão da bolsa de armas ao notar que não teria como vencê-los com meras armas; ele estava dentro de um saguão com cerca de doze outros homens e mulheres, todos adultos e mal-encarados.

—— Por acaso esse é…? —— o homem abraçado em Qi-ral perguntou, notando a presença do adolescente. —— Você é o Cara-Queimada?!

Embora não tenha gostado do apelido, ele confirmou. Aos poucos, as demais pessoas foram se reunindo ao seu redor. Olhavam curiosas, cochichando sobre o incidente dentro das montanhas. Batsuki achava que aquilo nunca sairia ao público, não compreendia como eles sabia daquilo, mas, naquele momento, era uma vantagem. Cercado, ele aceitou que se tentassem alguma coisa acabaria morto, a menos que fossem todos muito inexperientes em batalha.

—— Que confusão é essa? —— uma voz cortou o momento e todos gelaram. Das sombras, um homem se aproximou coberto com um manto preto de penas, seus cabelos, castanho-claros, presos num rabo-de-cavalo caíam em duas madeixas na frente dos olhos… do olho. Ele tinha apenas um deles, o direito, pois o esquerdo era nada além de um oco deformado.
—— É o Cara-Queimada! —— Qi-ral falou. —— Ele me ajudou a escapar dos ninjas.
—— Com qual propósito?
—— Apenas ajudar uma pessoa na mesma situação que eu —— Batsuki mentiu, mantendo-se firme. Qualquer deslize acabaria com o disfarce. —— Você é Lang-Yi?

As pessoas abriram alas para ele passar. Ficou cara-a-cara com Batsuki, uma cabeça mais alto que o adolescente. Tinha uma estrutura física diferente, parecendo ser relativamente forte. Batsuki tinha a impressão de que ele saberia lutar. Mesmo assim, não abaixou a cabeça. Permaneceu sério, com os cabelos loiros caídos nas ondulações, escondendo parcialmente a cicatriz de queimadura. Lang-Yi tocou uma mecha, retirando-a da frente. Analisou o ferimento e Batsuki, irritado, olhou diretamente ao buraco no rosto dele. Um confronto silencioso, que muitos ali não notariam. Lang-Yi largou os cabelos do menino e botou as mãos atrás do corpo, a postura ereta era indicativo de um soldado.

—— Arrumem uma cama para ele —— avisou aos demais presentes, aproximou-se do ouvido do Chunin e sussurrou: —— Depois, iremos conversar melhor.

Lang-Yi deu as costas e acenou, desaparecendo nas sombras.

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Batsuki foi levado até uma espécie de quarto compartilhado, se é que podia chamar assim o enorme espaço oco dentro da caverna com várias camas improvisadas espalhadas no chão. Qi-ral o levou animado, falando mais sobre si. Não parecia suspeitar de forma alguma as reais intenções do menino. Durante aquela turnê, descobriu que o homem tinha problemas de saúde e usava uma espécie de bomba no coração, mas ele não sabia explicar muito bem como funcionava, mas mostrou a enorme cicatriz deixada no centro do peito. Havia sido um presente de um grupo conhecido como Pombos (鳩), um nome que ficou na cabeça de Batsuki quando uma mulher chamou a todos para jantar, incluindo o menino.

Sentado na mesa com os criminosos, ele viu a vida precária que levavam. Comiam ensopado com cheiro horrível, mas sorriam devorando cada colherada. Entre eles as conversas eram intermináveis. A única pessoa que não falava uma só palavra era o líder, sentado no centro da mesa, observando a todos com seu único olho, mas agora usando um tapa-olho para ocultar o vazio deixado na cavidade ocular. Batsuki não falava muito também, apenas gesticulava aos assuntos de Qi-ral. Depois de comer, retiraram as armas do ninja antes de todos irem dormir. Qi-ral explicou que era uma ordem de Lang-Yi e, apesar de temeroso, Batsuki não fez alarde, porém, não dormiu naquela noite com medo de ser pego desprevenido.

Os dias passaram com ele ansioso por uma conversa com o líder. Dormia e acordava usando as mesmas roupas, ocultando-se sempre naquele manto escuro, e mal conseguia pregar os olhos na maioria das noites. Quaisquer ruídos, roncos ou risadinhas tiravam ele do sono; estava em estado de alerta. Após uma semana, carregando uma expressão cansada, ele foi visitado por Lang-Yi quando estava descansando sozinho no quarto.

—— Por que você está aqui?
—— Só quis ajudar uma pessoa, não há nada além disso.
—— Não. Isso é mentira. Sempre há alguma coisa. Conheço muito bem os ninjas de Iwagakure no Sato.
—— Como?

Lang-Yi sorriu; o menino mordeu a isca.

—— Já estive muito próximo deles. Na verdade, meu olho é fruto deles. Deles e dos Pombos.
—— Ouvi muito esse nome essa semana, mas nunca ouvi antes. Quem são eles?
—— Os Pombos? São criminosos de verdade. Pessoas que usam a medicina e a ciência, a pesquisa, como armadura para cometer atrocidades. Foram eles que arrancaram meu olho e me consideraram uma experiência falha.
—— E o que eles tem a ver com Iwagakure?
—— Kisuke-kun, se é que esse é seu verdadeiro nome… você acha mesmo que alguma coisa ocorre nesse país sem que o Tsuchikage e seus fiéis soldadinhos tenham conhecimento?

Batsuki não teve nenhuma resposta. Depois da última missão, não conseguia nem mesmo acreditar totalmente na inocência da vila. Lang-Yi foi em direção a saída do quarto, mas Batsuki chamou seu nome o interrompendo. Ele não soube porque fez aquilo.

—— Quando vamos acabar com os Pombos?
—— Em breve, garoto —— Lang-Yi olhou de canto, sorrindo, e foi embora, deixando-o descansar.

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Os dias continuaram passando. Batsuki não voltou a ter contato com Iwagakure. Contudo, sabia que estava sendo vigiado de certa forma. A missão envolvia um ninja sensor analisando a rota feita por ele para estar próximo caso houvesse a necessidade…, ele só não tinha certeza se mesmo observado alguém ajudaria ele. Ainda mais depois da última missão. Por isso, conviveu com criminosos como se estivesse realmente se entrosando em uma nova família. Qi-ral foi o primeiro a fazer aquilo ser mais fácil, apegando-se ao adolescente com facilidade, fosse pela sua estupidez ou apenas bondade. Outros também foram se aproximando dele, expondo suas histórias de vidas e medos — todos ali tinham um passado em comum, um experimento feito com seus corpos por aqueles chamados de Pombos.

Qi-ral, no entanto, foi o mais próximo que ele chegaria de uma amizade. Contava absolutamente tudo ao ninja disfarçado. Dos pais, mortos em um conflito shinobi, da namorada morta numa operação de Iwa contra os Abutres alguns meses antes e também sobre seus sonhos, tão simples que o coração de Batsuki vacilou em vê-lo como um criminoso; o sonho dele era ter comida na mesa todos os dias sem precisar cometer mais crimes. Batsuki encontrou naquele homem uma figura de esperança, alguém que não havia sucumbido totalmente à escuridão. Ele ainda tinha salvação, poderia ir com ele para a vila quando terminasse de investigar o suficiente e tentar recomeçar a vida como um cidadão comum. Ajudaria se necessário e o pensamento deixava o menino flutuando em nuvens de esperança.

Isto, porém, acabou numa noite em que Lang-Yi anunciou o próximo movimento dos Abutres na mesa de jantar, em mais um dos ensopados gosmentos.

—— Iremos destruir o Centro Botânico da Pedra de uma vez por todas em uma semana. Temos quase todos os materiais necessários e usaremos os próximos dias para treinamento militar. Vocês irão acender as chamas da revolução no país! —— Lang-Yi contou erguendo o punho e todos seguiram eufóricos, inclusive Qi-ral. Batsuki não demonstrou felicidade alguma, apenas encarou o líder que ficou o encarando de volta.

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Batsuki não podia deixar o atentado acontecer. Saber disso, porém, não tornou nada mais fácil. Primeiro, pois ainda tinha de escapar de fininho, durante os preparativos militares dos Abutres; segundo, pois sabia que não seria fácil se livrar de Qi-ral sem assassiná-lo. O terrorista não saía de sua cola e desde o anúncio do líder, Lang-Yi, havia enroscado um braço ao redor de seu pescoço comemorando que as coisas finalmente estavam se encaminhando. Ele não tinha notado, porém, como Batsuki possuía zero interesse naquele atentado — menos ainda a magnitude daquele golpe. Derrubar o Centro Botânico significava também danos a medicina local, além do assassinato de inocentes, como Mana, a assistente de Hanamaki. Lembrar dela fez Batsuki esmiuçar um sorriso, o que deu ainda mais munição para Qi-ral.

—— Era isso que eu queria ver!
—— Preciso mijar —— Batsuki disse em resposta, dando uma batidinha no ombro de Qi-ral. —— Volto já.

Saiu da mesa e tentou não chamar atenção, o manto passava no ar como uma lufada sombria no meio da caverna. Perto da saída, batendo as mãos nos ombros, tirando a poeira acumulada dos dias ali dentro. Era noite, mas isso não fez seus olhos doerem menos ao receber um feixe prateado diretamente da lua. Teve de colocar a mão sobre os olhos para protegê-los. Vasculhou os arredores, esperando que alguém de rosto conhecido surgisse, mas ninguém veio.

—— Idiotas, assim fica difícil concluir a missão —— resmungou baixinho e aquele foi o seu maior erro. Ao virar-se, encontrou o rosto abismado de Qi-ral logo atrás. O adolescente também expressou-se assustado. Não esperava ter sido seguido, mas agora… não podia voltar atrás. —— Espere, Qi-ral. Você não entendeu.
—— Mentiroso. Você é um shinobi da vila ainda.

Qi-ral sacou uma espada curta, a única arma que sabia manusear, e apontou para Batsuki com os olhos vermelhos, as lágrimas ameaçando cair.

—— Abaixe essa arma, Qi-ral. Podemos conversar sobre isso…
—— Mentiroso! Você veio nos matar. Lang-Yi tinha razão em desconfiar de você.
—— Por favor, Qi-ral, você não quer lutar comigo.

Qi-ral avançar com as lágrimas caindo e desferiu uma estocada na direção do rosto de Batsuki que, apesar de ser mais veloz, não reagiu com a mesma precisão e teve um corte superficial feito na bochecha, uma mecha pequena de cabelo também caiu e desapareceu com uma lufada de vento outonal. Batsuki deu dois passos para trás, o sangue verteu quente sobre a pele. Sacou uma kunai da bolsa de armas que havia recuperado no mesmo dia em que lhe retiraram. Girou-a no dedo, abaixando o rosto suficiente para os cabelos esconderem a expressão.

—— Última chance, Qi-ral. Se vier comigo posso te ajudar a recomeçar.
—— VAI PRO INFERNO, MENTIROSO!

Mais um avanço, dessa vez, porém, o corte não foi no rosto de Batsuki — sequer se aproximou de feri-lo. A lâmina curta, empunhada por um ninja, penetrou na carne e músculos, com nenhuma perícia sobre isso, mas forte o suficiente para, num segundo, derramar órgãos e deixar uma poça de sangue e vísceras no chão. Qi-ral derrubou a espada e pôs as mãos nos ombros do garoto, o vermelho debaixo dele o fez ver tudo turvo. Ergueu o rosto com sangue nos lábios e, antes de apagar, disse ao ninja:

—— Traidor.

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A caverna havia sido deixada para trás há muito tempo. Parte do caminho estava manchada de sangue, mas isso não durou muito. Seria difícil rastreá-lo, exceto se os Abutres tivessem também as habilidades das aves que usavam de título, pois o cadáver ainda fresco nas suas costas começava a cheirar mal. Mas ele não podia apenas abandonar o cadáver de Qi-ral depois de tudo. Ele não tinha culpa de estar naquela situação, isso era um problema muito maior do que eles. Qi-ral não estava morto por atentar contra vidas humanas, mas por estar preso num ciclo terrível ao qual ele perpetuava todos os dias exercendo sua profissão como ninja. Derrubou o corpo, colocando-o encostado numa árvore, o sangue cobria o manto preto, escurecendo-o ainda mais. Com manchas vermelhas no rosto, ele encarou a vítima. Teve raiva, mas também uma dose melancólica.

—— Por que você carregou o corpo? —— uma voz surgiu atrás dele, mas era de um shinobi da vila.
—— Você demorou.
—— Estava trocando o turno —— disse, mas o menino não acreditou. —— Por que trouxe esse corpo? Ele tem informações?

O ninja se aproximou do corpo e esticou a mão para tocá-lo, mas Batsuki segurou antes.

—— Ele não tem mais nada a fornecer a vila. Trouxe-o para tentar despistar os Abutres…, ao menos um pouco —— Batsuki mentiu, soltando a mão do ninja que se levantou e se afastou do corpo. —— Irei enterrá-lo aqui mesmo, se não se importar.
—— Me importo, temos que voltar e reportar tudo.
—— Os Abutres planejam atacar o Centro Botânico em uma semana —— Batsuki comentou, agachado na frente de Qi-ral cujos olhos eram orbes vazias e sem alma, diferente de toda euforia costumeira nele. Batsuki apertou os olhos, baixando a cabeça… aquilo era mesmo correto? —— Eles fariam treinamentos militares, mas, provavelmente, irão reforçar as seguranças agora, talvez até me caçar. Ainda tem detalhes que preciso relatar, mas antes irei enterrar esse corpo.

O homem estalou a língua, mas concordou. A missão, afinal, havia sido um sucesso. Um maldito sucesso.

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Batsuki olhava a própria mão direita quando o shinobi que o acompanhava entrou no quarto com um pergaminho. Não olhou imediatamente para o ninja, ainda estava flutuando dentro de seus pensamentos. Aquela mesma mão, pálida e magra, tinha manchado as unhas com o sangue derramado de Qi-ral através da lâmina da kunai repousada em sua bolsa de equipamentos. Por que era tão diferente a sensação de matá-lo se comparada à decisão de deixar Orquídea para trás? Eles eram dois criminosos. No fundo, ele sabia disso, então, por que? Fechou o punho e os olhos, incomodado. Alguma coisa se revirava dentro dele, uma dor, um medo, uma tristeza, alguma coisa terrível; um demônio rastejante que tentava devorar seu coração.

O pergaminho foi deixado ao seu lado e o shinobi foi embora, deixando-o só naquele minúsculo quarto de pousada. Decidiram não retornar à vila até receberem novas informações após realizar um relatório e enviar através do ninja que o acompanhava. Descansou o suficiente para se preparar, pois imaginava os próximos passos de Iwagakure: ele teria que exterminar o resto dos Abutres. Mesmo que nem todas as pessoas envolvidas fossem completamente más — e cada vez mais ele duvidava da existência de pessoas assim.

Leu o conteúdo do pergaminho, comprovando sua hipótese. Precisava acabar com todos os terroristas, como a vila os chamava, e retornar à vila para mais informações. Suspirando, ele deixou o pergaminho de lado e sentou na cama. A mão direita estava fisicamente limpa; mas emocionalmente destroçada.

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Como uma missão é considerada um sucesso? Batsuki tinha encontrado evidências de uma traição e isso deu a ele o título de Chunin, porém, centenas de pessoas foram mortas brutalmente no caminho. Não diretamente por ele, mas certas decisões acabaram colidindo contra as tais vidas e as ceifadas. Ainda assim, ali estava, atrás do vidro de uma janela barata observando o céu cinzento de outono, prestes a cumprir novas ordens do alto escalão da vila e ceifar mais dezenas de vidas. Vidas que ele sabia, mais do que ninguém, que não eram puramente maléficas. Pessoas cujos caminhos foram desviados por inúmeros motivos — uma espécie que ele mesmo poderia ter se tornado após a morte do pai.

Suspirando, ele saiu do quarto e tomou um novo manto do cabide, um branco com as linhas da gola em cor vermelha. O símbolo de um arauto da paz, brincavam os professores na Academia, pois, somente os párias usavam mantos pretos. Aquela coloração alva era deixada aos ninjas bondosos. Batsuki sempre soube que era tudo uma enorme estupidez, mas a certeza agora era ainda maior. Descendo as escadas, preparava-se mentalmente para realizar a Justiça da Pedra. Havia sido escolhido por ter obtido mais informações da planta do ambiente — e concordava com a decisão. Conhecia também um pouco dos membros e isso era uma vantagem em combate, porém, isso também era o motivo de não ver necessidade de alardes.

A única pessoa realmente perigosa aos ninjas era Lang-Yi. Quanto mais pensava a respeito, mais notava que era nele que a culpa da morte deles ficaria. Um líder revolucionário recrutando civis. Ele claramente tinha habilidades, mas suas escolhas seriam a ruína daquele grupo. Quando chegou à porta, sabia que não estava indo assassinar terroristas; ele estava indo pegar a cabeça do verdadeiro culpado daquelas pessoas serem consideradas assim.

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Batsuki foi sozinho. O outro shinobi falou que estaria nos arredores, cuidando das coisas. Evitando a chegada de outras pessoas e servindo de suporte caso notasse alguma dificuldade. No fundo, porém, o jovem sabia que estava sozinho. Que aquele shinobi inventaria uma desculpa para não aparecer. Porque sabia também que o experiente ninja o acompanhando não ia com a cara dele, e o sentimento era mútuo. Detestava-o na mesma intensidade. Além do mais, era melhor para ele lutar sozinho, pois, suas habilidades não eram muito eficazes em grandes grupos. Era impossível controlar certas coisas e as explosões eram uma delas. Facilmente poderia acabar ferindo o companheiro e ser acusado de insubordinação.

Quanto mais próximo ficava do esconderijo, mais ele tentava conter a raiva. Qi-ral deveria estar vivo e ter a chance de melhorar de vida. Todos eles mereciam isso, a chance de mudar, de melhorar. Lang-Yi havia retirado isso deles no momento em que envolveu todos aqueles civis em uma tentativa de revolução. Sem treinamento, sem entendimento sobre tantas coisas. Qi-ral teria morrido em qualquer operação, fosse naquele momento por causa da missão ou na própria invasão ao Centro Botânico. Somente o líder deles era um risco; por isso ele os usava de escudos humanos.

Batsuki mordeu o lábio inferior, furioso. Aproximando-se mais do esconderijo, ele respirou fundo e deixou sua raiva exalar como um bafo de dragão. Embora tivesse o dever de matar todos os remanescentes do grupo, ele só tinha verdadeiro interesse naquele que chamavam de líder. Se conseguisse matá-lo, os outros não teriam que continuar se sujeitando àquilo; se matasse-o, o Centro Botânico estaria mais seguro, Mana estaria mais segura, Hanamaki estaria mais seguro.

Ele alcançou as redondezas do esconderijo e viu uma mulher fazendo ronda, provavelmente a mando de Lang-Yi. O manto escuro e o rosto fechado eram muito familiares a ele. Devia ter jantado com ela alguma vez naquelas duas semanas, mas distante não tinha certeza. Só sabia, no entanto, que era um dos Abutres; e uma que tentaria afastá-lo de seu objetivo final.

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Ele não quis prolongar o momento, pois não tinha prazer algum em fazer aquilo. Aguardou até a mulher estar numa posição ideal e saltou, fazendo selos dentro do manto, até cair ao lado dela. Botou a mão esquerda aberta na direção do rosto da mulher, criando faíscas com o chakra para mostrar sua seriedade. A mulher não conseguiu ter uma reação àquilo e estacou onde estava.

—— Não se mova —— ele avisou, baixinho, com o rosto baixo e os cabelos loiros escondendo sua expressão. —— Lang-Yi ainda está lá dentro?
—— Você teve coragem de voltar?!
—— Por favor, apenas me responda.

A mulher não quis continuar a conversa e moveu a mão direita, para trás do corpo. Provavelmente buscava uma arma, fosse uma espada ou uma kunai. Batsuki não esperou ter certeza do que ela estava fazendo. Antes que o movimento fosse concluído todo o chakra canalizado na mão foi emitido numa única explosão alaranjada que envolveu a cabeça da mulher e a despedaçou, borrifando sangue no ar, no rosto e no manto branco do menino. O corpo caiu sem vida, sem cabeça. Batsuki se endireitou, passando os nós dos dedos no rosto para limpar o sangue. Escondido dentro do manto cada vez menos pálido, ele direcionou-se ao esconderijo e passou por cima do cadáver como se ele não fosse nada; e, naquele momento, não era.

Naquele momento, era apenas um obstáculo para o alvo de sua vingança.

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De cabeça erguida e suja de sangue, Batsuki continuou. O manto sacudia com odor de morte. O corpo deixado para trás atrairia verdadeiros corvos e abutres em breve, decapitada com os poderes explosivos do adolescente que, cada vez mais, se distanciava da expressão infantil. Aqueles olhos sombrios, de cabeça levemente abaixada, assemelhavam-se ao de seu pai, não do menino que sonhava em ser Tsuchikage um dia; este sonho era uma besteira para o Batsuki que seguia se aproximando da caverna onde uma carnificina ocorreria. A liderança da vila era irrelevante, ser forte, o mais forte, era irrelevante. Se ele queria evitar que aquelas coisas, aquelas barbáries continuassem acontecendo, ele precisava mudar tudo. Simplesmente tudo.

—— O Cara-Queimada voltou! —— uma pessoa berrou na entrada da caverna e se voltou para trás.

Quando virou o rosto para encará-lo sentiu uma lâmina rasgar seu pescoço, uma shuriken disparada contra ele com precisão pelo ninja que não interrompeu sua caminhada rumo ao interior da caverna, mesmo sabendo como as coisas seriam complicadas uma vez que estivesse num espaço fechado. No entanto, mal entrou e recebeu a ofensiva de outras duas pessoas; os mantos dançaram com o ataque, o branco-avermelhado do shinobi foi mais rápido, assim como seus punhos atingido as nucas para deixá-los inconscientes como aprendera na academia.

Seguindo, ele ouviu mais passos — a batalha ficaria cada vez pior.

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Mais pessoas escondidas em mantos surgiram na frente dele após alguns metros percorridos. Batsuki parou no corredor rochoso, aguardando-os. Eles avançaram, chamando-o de traidor. A mesma coisa que Qi-ral havia dito antes de morrer. Eles realmente não viam o verdadeiro vilão da história? Lang-Yi os usava como escudos humanos. Nenhum deles tinha a menor chance contra um shinobi treinado e ele reconhecia isso, por isso enviava-os. Num movimento brusco, ele agarrou o manto de um dos defensores e girou o corpo, acertando-o em outro. Os dois caíram embolados, batendo as cabeças nas pedras laterais, desmaiando na hora. Ainda no giro, ele se agachou em alta velocidade e acertou um soco no estômago do terceiro defensor, tirando-o de combate.

Ao se levantar um quarto saltou com uma espada curta, semelhante àquela usada por Qi-ral. Batsuki sacou a kunai, a mesma que fora usada para matar o homem anteriormente, e bloqueou o ataque, empurrando-o para trás. Moveu a arma na mão, colocando-a rente ao antebraço, para trás. Avançou contra o homem, o manto alvo-rubro dançou como um prenúncio de morte, seus cabelos loiros sacudiram. Conseguindo chegar antes da resposta do homem, fez um corte de do umbigo ao pescoço do inimigo, fazendo o sangue jorrar sobre seus dedos, enquanto o defensor caía derrubando a espada.

Batsuki girou a arma na mão, sacudindo-a para o lado, e o sangue fugiu da lâmina antes de ele colocá-la dentro da bolsa de armas novamente. Ainda faltava muito para ser explorado, mas o número de defensores estava altamente reduzido. Não era, porém, uma vitória orgulhosa, pois, aquelas pessoas sequer sabiam lutar. Estavam sendo vítimas das circunstâncias criadas por Lang-Yi, o verdadeiro culpado de tudo estar acontecendo.

Com o coração incendiado de raiva, ele continuou em frente.

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A raiva continuava fervendo dentro do menino. Não encontrou mais defensores nos cômodos principais. Ainda devia ter uma dúzia deles, no mínimo, mas estavam escondidos em algum lugar desconhecido para ele. Parou no meio da cozinha, observando o salão onde fez várias refeições ao lado de Qi-ral, do homem que ele precisou matar por causa do terrorismo promovido por Lang-Yi. Mordeu o lábio, com dificuldades para não explodir de ódio. Baixou a cabeça, pensando no cheiro de sangue, na textura das vísceras de Qi-ral em suas mãos, no som da carne sendo rasgada e naquele olhar final de vítima. Levantou o queixo com o chakra emanando numa explosão desenfreada; os cabelos espetaram para cima como uma explosão e seus olhos mudaram de forma. Faíscas dançaram ao redor dele, fluindo como se ele fosse explodir a qualquer momento.

Buscou a sala de Lang-Yi, mas ninguém estava lá. Eles não tinham como ter escapado. Notou um rastro no chão, como uma passagem secreta, e se aproximou da parede, encostando a mão. As faíscas se concentraram na mão que emitiu uma explosão poderosa fazendo a parede cair e levantar poeira. Ouviu os murmúrios pesarosos, encontrando os remanescentes. Quando a poeira baixou, encontrou um cenário grotesco. Ao menos seis pessoas lidavam com corpos de crianças, desmembrados, sendo usados de experimentos sem nenhum respeito. Batsuki arregalou os olhos, encontrando a porta da escuridão aberta e entrou por ela.

Tudo que foi possível ouvir foram gritos e explosões, provocadas por técnicas e tarjas explosivas.

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Coberto de sangue e poeira, ele continuou em frente, ignorando os inúmeros cadáveres deixados para trás. Se ele parasse naquele momento, nunca poderia se considerar shinobi. Muito menos poderia falar que fez todo esforço do mundo para resolver a situação da melhor maneira possível. Porque, depois daquela cena, ele não achava mais que era apenas Lang-Yi que precisava ser morto, mas todos. Por isso, atrás dele havia uma sala repleta de corpos despedaçados. Faria o mesmo com Lang-Yi e os demais sobreviventes que estivessem com ele. E, continuando em frente, não foi custoso achá-los. Estavam na frente do líder sentado num trono, segurando em espadas, mesmo que seus olhos tivessem submersos em medo. Batsuki cessou a caminhada a alguns metros deles, o manto estava mais vermelho do que branco.

—— Essa é sua verdadeira forma? —— Lang-Yi questionou.
—— Estão todos mortos. Entreguem-se ou morrerão.
—— Livrem-se dele.

Os dois saltaram na direção do menino. Achava que teria uma luta fácil, semelhante a todas até então. No entanto, eles eram rápidos. Muito rápidos. Um movimento quase acertou o braço esquerdo do garoto, que desviou por instinto. De olhos arregalados, notou como Lang-Yi observava do trono, sorrindo. Um covarde, ele pensou, um verdadeiro covarde. Seus movimentos, porém, eram mais rápidos. Em um golpe combinado ele saltou por entre os dois, aplicando suas últimas tarjas explosivas nas mãos deles, explodindo-as. Caíram de joelhos, as armas cravaram as paredes manchadas de sangue.

—— Eu vim matá-lo, Lang-Yi, não eles.
—— E eles não vão deixar isso acontecer, certo?

Batsuki olhou para trás e viu os dois avançando mesmo sem uma das mãos. Desviou, acertando uma rasteira em ambos. Eles caíram batendo as cabeças, desacordando, com os tocos sangrando. Ao virar-se, porém, Lang-Yi não estava mais no trono. Assustado, ele não teve reação quando sentiu o soco acertar a bochecha, jogando-o alguns metros distante, rolando pelo chão, mas conseguiu se erguer ainda na queda, ralando apenas um pouco os cotovelos.

—— Vamos lá, Kisuke —— Lang-Yi gesticulou com a mão para provocá-lo.
—— Meu nome é Batsuki —— corrigiu, erguendo-se e limpando o sangue nos lábios.

O objetivo dele estava diante de seus olhos.

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Os dois chocaram-se no meio da sala, batendo os antebraços. O sorriso no rosto de Lang-Yi era assustador, mas a expressão do shinobi não era muito diferente. Ambos sentiam a adrenalina do combate percorrer cada célula do corpo, o coração agitado ressoava em uma canção única, a musicalidade de uma batalha. Aquilo era completamente diferente de outros combates vividos pelo menino. Assim que se distanciaram novamente ele teve certeza. Lang-Yi avançou, buscando acertá-lo com variações de socos e chutes, as quais ele desviou bem, pois a velocidade deles assemelhava-se. Precisava, no entanto, finalizar a batalha o quanto antes. Não aguentaria lutar durante muito mais tempo, apesar de tudo. Aqueles dois dias não serviram para descansá-lo de verdade.

Ainda assim, eles não se encostaram durante muito tempo. Batsuki ainda não era habilidoso o suficiente para combinar tantos ataques, portanto, a troca de golpes demonstrava a diferença de experiência em combate de rua. Batsuki, no entanto, buscava uma brecha para usar suas habilidades explosivas, mas não podia simplesmente fazê-la a qualquer momento, do contrário seria enterrado vivo. Entre essas confabulações, Lang-Yi acertou um soco no estômago dele, seguido de um potente de direita no queixo, lançando-o para trás. Cambaleou, resistindo, e ouviu o raspar da lâmina escapando da bainha. Baixou a mão na direção da lâmina, Lang-Yi sorriu achando que arrancaria um membro do ninja, mas a verdade foi apenas a explosão produzida empurrando a espada para trás, deslocando o ombro do espadachim.

—— Desgraçado —— reclamou, derrubando a espada. —— Você não é um ninja comum.

Batsuki não respondeu, apenas avançou. Fez um selo de mão e abriu a palma direita, criando faíscas prestes a explodir. Lang-Yi arregalou os olhos, entendendo a situação. Acabaria morrendo se não desviasse. Assustado, ele não se moveu. Batsuki se aproximou e estocou com o braço contra o rosto dele. Lang-Yi bateu a mão no antebraço do shinobi e desviou o golpe, mas ele ainda se encerrou em seu corpo, acertando sua coxa esquerda com uma explosão que espalhou sangue para todos os lados, derrubando-o numa poça de sangue.

—— FILHO DA PUTA, MINHA PERNA! MINHA PERNA!
—— Isso é pouco pela vida de Qi-ral.
—— A vida que você ceifou?
—— Só fiz aquilo porque você o transformou em um terrorista!

Batsuki encarou o homem derrotado, o sangue vertendo acabaria matando-o.

—— Eu dei uma chance para todas essas pessoas lutarem contra os verdadeiros monstros. Vocês, ninjas da vila, não percebem, mas o Senhor Feudal está nos explorando. A vila está se aproveitando dos pobres para fazer experimentos. Não transformei ninguém em terrorista, vocês fizeram isso. —— Lang-Yi bateu a mão no chão, urrando de dor. —— Se acha assim tão correto, mas assassinou centenas de pessoas explodindo as montanhas, não foi? Porque é isso que o sistema militar faz: soldados sem alma dispostos a tudo.
—— Tudo pelo certo.
—— MATAR QI-RAL FOI CERTO?

Lang-Yi berrou, mas logo perdeu as forças. O sangue continuava vertendo, ele não sobreviveria mesmo se Batsuki tentasse levá-lo dali — mas ele não tentaria. Ao vê-lo desmaiar, deu as costas e saiu da caverna, disposto a explodi-la e enterrar todos os erros daqueles terroristas de uma vez por todas.

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Os corredores pareciam mais sombrios com os corpos deixados para trás. Batsuki evitou encará-los, pois, se pensasse demais sobre as pessoas ali, talvez não tivesse coragem de concluir a missão. Saio da caverna e encostou a mão na entrada, manipulando seu chakra explosivo numa cor escarlate que ressonou explodindo e enterrando todos os corpos que jaziam no interior. Lang-Yi não sobreviveria, assim como aquelas crianças teriam, finalmente, algum descanso.

Seu corpo, porém, não suportava mais nada. Assim que terminou sua parte na missão, caiu de costas no chão rochoso da entrada do esconderijo, ofegante, com os cabelos caídos outra vez e o manto antes tão branco, totalmente coberto de vermelho. O companheiro de missão surgiu minutos depois, colocando-o nas costas para levá-lo embora dali. Permitiu-se descansar neste momento, pois a missão estava terminada. Havia feito o serviço sujo da aldeia, exterminando aqueles que eram perigosos… porque, então, ainda se sentia tão contrário ao correto?

Na vila, acordou no Quartel General, mas dessa vez não estava preso. Apenas deitado, descansando. O líder deu-lhe os parabéns por concluir com êxito a missão. Batsuki agradeceu e foi embora, prestes a voltar à sua casa. Durante o caminho, porém, relembrou dos dias dentro da organização criminosa e do fim de todas aquelas, aparentemente, pessoas inocentes. Assim como as palavras ditas por Lang-Yi — aquelas nunca iriam embora de verdade de dentro dele.

No fim, por quem ele estava realmente lutando?

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